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Do século XX ao XXI: influências da Psicologia Positiva sobre a Literatura de Autoajuda

Capítulo 3: A GÊNESE DA LITERATURA DE AUTOAJUDA, SEU DESENVOLVIMENTO COMO LIVRO

3.1. Características e origens da Literatura de Autoajuda

3.1.2. Do século XX ao XXI: influências da Psicologia Positiva sobre a Literatura de Autoajuda

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O movimento científico denominado Psicologia Positiva surgiu somente em 1898, quando psicólogos como Martin Seligman, Mihaly Csikszentmihalyi, Ray Fowler e amigos se reuniram para sistematizar estudos de quase três décadas, que tinham por foco essencialmente o otimismo, e contrapunham as emoções positivas ao prejuízo herdado das emoções negativas.

A essência inicial da Psicologia Positiva pode ser exemplificada através de pesquisas desses e outros pioneiros (Terman, Jung, Watson), que, na década de 1930, publicaram estudos que tratavam de superdotação; sucesso no casamento e paternidade efetiva, estudando casos em que houve realizações humanas positivas (GRAZIANO, 2005).

Dessa maneira, o Site Oficial do Centro de Psicologia Positiva define que “A Psicologia Positiva é o estudo científico das forças e virtudes que capacitam pessoas e comunidades a terem sucessos” (BESSA, 2008, p. 83). A autora mostra que essa definição aproxima-se muito da proposta da literatura de autoajuda, mas diferencia-se por se pautarem em pesquisas realizadas com grandes amostras, que são sistematizadas e analisadas cientificamente. Já a literatura de autoajuda, tende a apresentar dados mais sucintos e menos sistematizados, baseando-se em relato de uma ou poucas pessoas.

Graziano (2005) mostra que a Psicologia Positiva resgata estudos científicos relativos às virtudes do indivíduo, levando os psicólogos a se atentarem ao potencial, às motivações e às capacidades humanas. Isso possibilita focar sentimentos, emoções, instituições e comportamentos positivos que tem visam promover a felicidade do indivíduo. A autora também busca diferenciar a Psicologia Positiva da literatura de autoajuda, mas ressalta a importância dos temas desenvolvidos por tal literatura:

Acredito caber à Psicologia o papel de orientar o homem quanto aos possíveis caminhos que levam à felicidade. Mas, para que isso aconteça, é preciso que nós, psicólogos, tenhamos coragem para voltar nosso olhar científico para um tema que até agora tem sido explorado quase que exclusivamente pela literatura de autoajuda (GRAZIANO, 2005, p. 18).

Larson (2000) enfatiza o valor da Psicologia Positiva ao destacar que a Psicologia, de modo em geral, tem colocado em segundo plano o objeto positivo de seu estudo, pois a maioria das pesquisas em psicologia foca em problemas, como o alcoolismo, as drogas, a gravidez na adolescência, entre outros. Dessa forma, a Psicologia Positiva abre espaço para aperfeiçoar a compreensão sobre felicidade, suas causas, as estratégias e as trajetórias que possibilitam se chegar até ela (GRAZIANO, 2005).

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Entretanto, apesar do movimento da Psicologia Positiva ter algumas características semelhantes à literatura de autoajuda, o termo Psicologia Positiva precede ao movimento, sendo que, a partir do final da década de 1940, já começou a influenciar os livros e matérias produzidos acerca da literatura de autoajuda, do self-made help.

Segundo Bessa (2008), o termo faz um contraponto com a psicologia clássica, que focava no caráter curativo e psicopatológico, não havendo muito espaço (ou conhecimento) para lidar com o tratamento e a prevenção de doenças.

Em 1947, a partir da criação do Instituto Nacional de Saúde Mental, nos Estados Unidos, as pesquisas sobre doenças mentais foram alavancadas, o que possibilitou melhor conhecer as causas, efeitos e tratamentos para uma série de patologias. Dentro disso, abre-se espaço para uma nova escola psicológica, que trabalha, sobretudo, com a prevenção (BESSA, 2008).

A autora coloca que os novos estudos possibilitaram novos olhares, que visavam levar as pessoas a lidarem com suas próprias forças para superar crises; a enfocarem a vida positivamente como um caráter preventivo; a aprimorar a resiliência e o bem-estar para combater os impactos negativos. A Psicologia Positiva não deveria ser considerada um novo campo do conhecimento, mas sim uma mudança nos principais interesses da psicologia, que não apenas teria o interesse de retificar as piores situações da vida, mas também procuraria ajudar a construir qualidade de vida.

Desse modo, Rüdiger (1996) coloca que essas novas contribuições da Psicologia começam a gerar influências sobre os livros de autoajuda que vinham sendo produzidos na segunda metade do século XX, gerando novas transformações no significado que envolve a ideia de autoajuda. Bessa (2008) demonstra que a Psicologia Positiva exerceu influências à literatura de autoajuda até o século XXI, sendo que destaca o caráter emocional e os valores positivos, como elementos que perpassam as obras dessa época.

Rüdiger (1996) elenca quatro principais mudanças nos modos de subjetivação atrelados à literatura de autoajuda, que se deram em decorrência do contexto histórico e da influência exercida pela Psicologia Positiva:

“1) A preocupação em formar o caráter cedeu passo ao objetivo de transformar o

indivíduo em pessoa de sucesso” (p. 90, grifos do autor). O autor destaca que as pessoas

passaram a contar com a possibilidade de desenvolver sua individualidade, praticando a liberdade e desenvolvendo a personalidade. Junto a essas possibilidades, a concorrência e a competição aumentavam em detrimento dos avanços da indústria e do capitalismo, o que

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levou os homens a concorrer uns com os outros, buscando mobilidade social e, junto a essa, segurança, saúde, conforto e bem-estar.

Logo, o sucesso e o bem-estar, que antigamente eram vistos como recompensas às pessoas virtuosas, passaram a ser tidos como direitos de todo ser humanos, que podem recorrer à prática de autoajuda e ao desenvolvimento da personalidade para obtê-los.

“2) O comprometimento com o cumprimento dos deveres foi substituído pela

preocupação em satisfazer os desejos através da prática da autossugestão” (p. 92, grifos do

autor).

Enquanto a ideia de autoajuda iniciada com Smiles mostrava que o indivíduo tinha deveres e desejos, devendo se autoajudar a cumprir os primeiros a fim de controlar os segundos; agora a proposta veiculada é que todos os indivíduos são igualmente livres para escolherem qual concepção de caráter e de bem lhes é mais adequada e favorável.

Nessa concepção, todos os indivíduos devem desejar progredir, tornar-se mais eficientes e mais capazes, cultivando as qualidades positivas e anulando as que são negativas.

“3) O fundamento da condução da vida transferiu-se do plano dos costumes para a

dimensão do poder da mente” (p. 93, grifos do autor).

O autor mostra que na modernidade os desejos privados são legitimados, o que leva a um esvaziamento de princípios morais, como foi apontado anteriormente, mas ele resssalta que isso também levou à desvalorização da força de vontade, que foi substituída por técnicas de indução de estados mentais, visando atrair prosperidade, bem estar e poder à personalidade.

“4) As valorações que distinguiam moralmente o caráter cederam lugar às valorações

supramorais que devem constituir o poder e a harmonia da personalidade” (RÜDIGER,

1996, p. 95, grifos do autor).

Para o autor houve uma conversão do modelo de ação moral, pois não é mais o foco submeter-se a todas as necessidades do caráter, já que a nova psicologia foca a construção de um poder individual e a superação de problemas interiores, também gerados pelas incertezas que marcam a Era Moderna.

Outra característica que começa a fazer parte da prática de autoajuda é o pressuposto que homens e mulheres desejam atrair a outros, pois a atração gera poder, influência, riqueza e êxitos aos homens, enquanto traz prestígio social, satisfação, popularidade e amor às mulheres.

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Ao conhecer alguns aspectos e fundamentos da Psicologia Positiva, como foram enunciados acima, não é difícil perceber aproximações com a literatura de autoajuda, especialmente quando Rüdiger (1996) nos mostra que essa literatura começou a se nortear por valores que visavam à felicidade, ao sucesso e ao bem-estar pessoal, utilizando para isso, exercícios mentais e a valorização de pensamentos positivos.

O trecho abaixo escrito por Seligman (2004) ilustra algumas dessas características que marcam a Psicologia Positiva e também se fazem presentes nos livros de autoajuda:

A vida agradável [...] está integrada à busca bem-sucedida de sentimentos positivos, completada pela habilidade de amplificar nossas emoções. A vida boa [...] está impregnada da utilização bem-sucedida das forças pessoais, para alcançar gratificação genuína e abundante. A vida significativa tem um recurso adicional: o emprego das forças pessoais a serviço de alguma coisa maior que nós mesmos (SELIGMAN, 2004, p. 272).

Apesar de tal aproximação, os estudiosos da Psicologia Positiva procuram marcar a diferenciação entre esses dois movimentos, enfatizando que a Psicologia Positiva é norteada por pressupostos empíricos e exatidão, enquanto o pensamento positivo, que permeia a literatura de autoajuda, baseia-se na crença em frases falsas. Mas Graziano (2005) reconhece que essa Psicologia, ao lidar com o estudo de problemas e necessidades humanas, pode ter apresentado um desequilíbrio em sua área de estudo e uma distorção em seu objeto. Ela também acredita que a grande proliferação da literatura de autoajuda neste século possa ser uma consequência do desenvolvimento da Psicologia Positiva.

Bessa (2008) indica que outra diferença enfatizada pelos autores é que apesar da Psicologia Positiva incentivar a felicidade e o sucesso humano, ela reconhece que a infelicidade e o fracasso também façam parte da vida humana, algo que nem sempre é levado em consideração em livros de autoajuda, que focam o bem-estar como direito de todos, em todos os momentos.

No caso da Literatura de Autoajuda, o próprio Rüdiger (1996) mostra que determinados autores a viam como um grande auxílio para o homem moderno, dotado de liberdade e de muitas escolhas a fazer, podendo auxiliá-lo em suas crises e na superação de dificuldades; enquanto outros ressaltam o caráter atrelado aos bem financeiros e à ascensão social, reduzindo a essência dos livros a uma receita para se obter sucesso e vencer na vida.

Assim, críticas positivas e negativas vão sendo construídas, tanto à Psicologia Positiva, quanto à Literatura de Autoajuda. Enquanto alguns acreditam que a Psicologia Positiva possibilitou a descoberta de características positivas que, ao serem cultivadas, ajudam

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as pessoas a curar sofrimentos do passado e a lidar melhor com as dificuldades do presente (VITZ, 2005); outros julgam que a Psicologia Positiva assume somente o caráter de autoajuda, pois veicula um conceito de felicidade duradoura e extrema (DEMO, 2005).

Críticas e elogios à parte, o fato é que os primeiros porta-vozes da autoajuda trouxeram à tona uma personalidade nervosa, irritada, inquieta, impulsiva e doentia que se associava às transformações geradas a partir do capitalismo e da sociedade industrial (RÜDIGER, 1996). O autor destaca que por piores que fossem tais características, pareciam ser inevitáveis no desenrolar do século XX, de modo que:

A literatura de auto-ajuda floresce num contexto em que a construção do sujeito pelo próprio sujeito, através da exploração do poder pessoal, passa por profundas modificações, mas ao mesmo tempo se descobre um crescente mal-estar com o próprio eu, que atravessa as diversas classes sociais, chegando às camadas populares da sociedade (RÜDIGER, 1996, P. 96).

Surgindo na sociedade em pleno desenvolvimento industrial do século XIX, a literatura de autoajuda percorreu os últimos séculos sofrendo interferências de diferentes movimentos e correntes de pensamentos, sendo que autoajuda pôde assumir significados distintos de acordo com o local e o autor que assume esse conceito.

Essa literatura sofreu também interferências dos contextos históricos e sociais que a envolveram, sendo que, em diferentes épocas, ela buscou responder a anseios e dificuldades humanos, buscou propiciar meios para que o indivíduo fosse capaz de ajudar a si próprio, de por si só superar suas crises e realizar as escolhas proporcionadas pela liberdade que emergiu na modernidade.

Porém, ao chamar a atenção para os dias de hoje, Rüdiger (1996) explica que a situação em que o indivíduo se encontra torna-se cada vez mais complexa, pois atualmente o indivíduo privado não conta com a tradição, que em outrora guiava suas ações e seu posicionamento. Os princípios e a dimensão moral que regiam as sociedades tradicionais, pré- modernas, já não são tão claros atualmente, podendo ser questionados e colocados à prova. Assim, o homem se vê na necessidade de se monitorar e se atualizar continuamente, pois caso contrário poderá afetar não somente sua condição de agente social autônomo, mas, também, sua individualidade:

[...] A categoria do indivíduo representa [...] uma figura que tende, em nosso mundo, a se libertar das representações coletivas que outrora lhes engessavam a identidade e prescreviam-lhe um conceito com pretensão de validade para toda a vida. Ao mesmo tempo, porém, participa de sistemas de ação cada vez mais complexos, distintos e númerosos, que tendem a desintegrar profundamente a personalidade, conforme progride a modernidade (RUDIGER, 1996, p. 14).

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Desse modo, a literatura de autoajuda apresenta-se como um espaço no qual as pessoas procuram formas de refletir ou gerenciar recursos subjetivos, na tentativa de superar os problemas trazidos pela modernidade.

Por vivermos em uma sociedade cada vez mais complexa, na qual o ser humano convive com rupturas e dificuldades que perpassam os dias de hoje, os livros de autoajuda continuam a ganhar espaço no mercado, estando entre um dos gêneros mais vendidos no Brasil (PICANÇO, 2013).

O fato é que os autores pontuam que essa literatura nasce relacionada à modernidade, época em que o indivíduo também ganha destaque em função da nova organização social. As referências legitimadas pela tradição deixam de ser responsáveis pela ordem social, enquanto o mercado e o sistema fabril tornam-se cada vez mais potentes, valorizando novos modos de vida, de organização, de pensamento, novos valores.

Até os dias de hoje essas condições foram se fortalecendo, e o desenvolvimento do neoliberalismo, do capitalismo e da globalização continuam a influenciar o mundo em que vivemos hoje. Mas as condições oriundas do século XIX se intensificam em novos formatos, de modo que nos vemos em um mundo pautado pela força do mercado; pela redução de distâncias gerada pela internet, exigindo maior eficiência e agilidade do indivíduo; pela competição e pela meritocracia acirradas nos contextos econômico, empresarial, financeiro e, inclusive, na produção científica.

Para Maués (2003), as mudanças mundiais se intensificaram a partir da década de 1970. Ela mostra que o fenômeno da globalização e as transformações nas relações de trabalho foram cruciais para promover impactos em caráter mundial, como o aumento nas trocas de mercadorias e serviços; a consequente intensificação no fluxo capital; a desregulamentação da economia; a expansão do poder dos países desenvolvidos sobre os demais.

Aliado à globalização e ao capitalismo, o neoliberalismo pode ser considerado como uma estratégia de organização da vida social que substituiu o keynesianismo, pois para superar as crises que surgiram no capitalismo, uma das respostas foi fazer com que o Estado interferisse menos na economia, deixando com que as relações sociais e econômicas fossem subordinadas ao mercado (MAUÉS, 2003).

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Todos esses fatores que geraram novas exigências e novas regras à organização das nações acabaram também recaindo sobre o indivíduo, sendo que as requisições da lógica mercantil não mais coincidiam com o sistema fabril que marcou o indício do capitalismo:

As mudanças que ocorreram na estrutura da sociedade, principalmente no processo de trabalho, com a introdução de novas tecnologias e com o esgotamento do fordismo, que dominou o mundo por um século, passaram a exigir a formação de um outro trabalhador, mais flexível, eficiente e polivalente. A escola que preparou o trabalhador para um processo de trabalho assentado no paradigma industrial – o fordismo –, com a rígida separação entre a concepção do trabalho e a execução padronizada das tarefas, deixou de atender às demandas de uma nova etapa do capital (MAUÉS, 2003, p. 91, grifos nossos).

Desse modo, diferentes autores entendem que as exigências com relação ao indivíduo aumentaram, ao mesmo tempo em que as certezas sobre o que é certo e errado, sobre quais estratégias utilizar, diminuíram (MAUÉS, 2003; FACCI, 2004; BAUMAN, 2007). A eficiência também deve ser continuamente desenvolvida, pois os processos existentes na sociedade globalizada e virtual exigem respostas cada vez mais rápidas. Com isso Sá (2013) indica que o termo e a ideia de inovação ganham grande valor nesse contexto, repercutindo no campo empresarial e mercadológico e, mais recentemente, também no campo educacional. Bauman (2007) corrobora com a compreensão de tais impactos sobre o indivíduo, ressaltando que:

A exposição dos indivíduos aos caprichos dos mercados de mão-de-obra e de mercadorias inspira e promove a divisão e não a unidade. Incentiva as atitudes competitivas, ao mesmo tempo em que rebaixa a colaboração e o trabalho em equipe à condição de estratagemas temporários que precisam ser suspensos ou concluídos no momento em que se esgotarem seus benefícios. A “sociedade” é cada vez mais vista e tratada como uma “rede” em vez de uma “estrutura” (para não falar em uma “totalidade sólida”): ela é percebida e encarada como uma matriz de conexões e desconexões aleatórias e de um volume essencialmente infinito de permutações possíveis (p. 09).

Como se vê, o caráter da competição que já era destacado na sociedade do final do século XIX e do início do século XX é retomado com força ainda maior, além do que, Bauman (2007), assim como Rüdiger (1996), entende que a gama de possibilidades oferecida ao indivíduo em função de seu grau de liberdade crescente gerou dificuldades em constituir uma unidade, em desenvolver uma personalidade e identidade sólidas.

Esses aspectos, como já afirmado anteriormente podem recair sobre o indivíduo em forma de mal estar, de desafios sobre a constituição de seu próprio eu. Com isso, a literatura

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de autoajuda continua a desenvolver-se em torno do indivíduo, buscando auxiliá-los nas crises e desafios perpetuados na modernidade ou, agora, na pós-modernidade:

Os movimentos de autoajuda impulsionados a partir da década de 90 fazem parte de um fenômeno que transformou os saberes sobre a personalidade e o self, disseminando-os de forma massificada, como tecnologia de aprimoramento do eu. Popularizados e inseridos na rede midiática de autoajuda, os livros nessa classificação produzem e vendem conhecimentos que, consumidos como verdades, estimulam as práticas de cultivo de si. A mídia foi se encarregando de reproduzir o discurso do poder da mente e da energia positiva, reproduzindo-o largamente (SÁ, 2013, p. 73).

Para além dos desafios enfrentados no mundo pós-moderno, Asbahr (2005) retoma aspectos oriundos da Psicologia Positiva e demonstra que o cultivo de si é destacado, pois hoje se entende que ser feliz é um direito, o que fomenta a busca por um material que ajude a conquistar tal felicidade.

Severiano (2001), sobre os dias de hoje, ressalta que podemos estar vivendo em uma ‘cultura do narcismo’, na qual:

[...] a beleza, a juventude, a felicidade, o sucesso pessoal, etc. são cada vez mais reivindicados pela indústria cultural como bens a serem adquiridos através do consumo. Uma enorme gama de novos produtos e serviços passa a ser “ofertada” pela publicidade, a um público cada vez mais segmentado, passando isso a significar: “liberdade”, “pluralidade” e “democracia” (SEVERIANO, 2001, p. 19).

Como se vê, os produtos e serviços que estão vinculados à felicidade, prazer e bem estar pessoal ganham destaque atualmente, de modo que muitos livros de autoajuda conciliam as duas facetas apontadas até então, pois ao mesmo tempo em que apresentam formas de

superar determinadas dificuldades e crises vivenciadas pelo indivíduo, propõem maneiras de ser feliz:

[...] a auto-ajuda seria uma maneira de oferecer um certo referencial ético, em meio a um contexto de descrença em ideais políticos coletivos, ao leitor que buscaria por essa via soluções particularistas ao seus problemas, encontrando na proposta dessa produção promessas de como conquistar o homem amado, como educar os filhos, lidar com a depressão, etc. (ASBAHR, 2005, p. 29).

Para além desses e outros motivos que marcam os dias de hoje e fomentam o consumo dessa literatura, o fato é que ela tem tido grande sucesso em muitos países, entre eles no Brasil. Sá (2013) afirma que em nosso país a difusão começou a crescer na década de 1980, quando autores como Lair Ribeiro e Lauro Trevisan tornaram-se conhecidos em função da grande quantidade de livros vendidos. Atualmente, Augusto Cury adentra essa lista de sucesso, pois possui mais de 18 milhões de livros vendidos.

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Picanço (2013) demonstra que vários grupos sociais possuem um interesse em difundir esses livros, sendo que muitos outros fatores contribuem para o grande sucesso desse gênero textual: a mídia, que oferece grande difusão dos lançamentos e dos conteúdos desses livros; anúncios e palestras que envolvem temáticas relacionadas; gurus da literatura de autoajuda, que buscam estratégias para que ela continue sempre em alta e ganhe reputação; a força do mercado editorial, que deseja continuar a receber as recompensas atreladas ao grande número de livros vendidos; entre outros (PICANÇO, 2013).

Além de tantas estratégias mercadológicas e publicitárias, a literatura de autoajuda foi desdobrando-se em diferentes áreas e versões, procurando apresentar respostas não apenas a problemas relacionados às finanças ou ao mercado de trabalho, mas também à vida familiar, aos relacionamentos humanos, ao modo de cuidar do corpo e da saúde, ao relacionamento conjugal, ao desenvolvimento da fé ou da espiritualidade, à superação de perdas, ao contexto educacional, entre outros. O fato das temáticas se multiplicarem certamente contribuiu para