• Nenhum resultado encontrado

Como visto no decorrer deste capítulo, o SEB passou por várias alterações e correções de rumos até atingir o estágio atual. A Tabela 2.2 possibilita traçar um paralelo entre os modelos pré-existentes e o modelo atual. As mudanças que ocorreram no decorrer de aproximadamente uma década resultaram em transformações nos papéis e atividades de agentes do setor, além de terem ocasionado alterações significativas em diversos aspectos relacionados ao planejamento e operação do SIN.

Ainda com a intenção de proporcionar uma visão sistêmica das complexas mudanças ocorridas, é apresentada a Figura 2.21, na qual há um resumo dos fatos mais importantes relacionados ao setor elétrico brasileiro ocorridos entre 1994 e 2004. Nesta década, conforme discutido anteriormente neste capítulo, ocorreram as alterações mais profundas no setor elétrico brasileiro e que repercutiram de forma mais marcante na condução e nos rumos deste setor.

53

Tabela 2.2 - Comparação entre os modelos do setor elétrico brasileiro

Perspectiva Modelo antigo (até 1995)

Modelo de livre mercado (1995 a 2003)

Novo modelo ( a partir de 2004)

Modelo de

financiamento Recursos públicos Recursos públicos e privados Recursos públicos e privados Segmentação

do mercado Empresas verticalizadas

Empresas dividas por atividade: geração, transmissão, distribuição e

comercialização

Empresas dividas por atividade: geração, transmissão, distribuição e comercialização, importação e exportação Origem do capital Empresas predominantemente estatais

Ênfase na privatização das empresas

Convivência entre empresas estatais e privadas Concorrência de mercado Monopólios (competição inexistente) Competição na geração e na comercialização Competição na geração e na comercialização Modelo de

comercialização Consumidores cativos

Consumidores cativos e livres Consumidores cativos e livres Modelo de tarifação

Tarifas reguladas em todos os segmentos

Preços livremente negociados na geração e

comercialização

ACL: preços livremente negociados na geração e comercialização. ACR: leilão e licitação pela menor tarifa Tipo de

mercado Mercado regulado Mercado livre

Convivência entre mercados livre e regulado Tipo de planejamento Planejamento determinativo (GCPS) Planejamento indicativo (CNPE) Planejamento indicativo (EPE) Forma de contratação 100 % do mercado 85 % do mercado (até ago/2003) e 95 % do mercado (até dez/2004)

100 % do mercado + reserva Balanço

energético

Sobras e déficits rateados entre compradores

Sobras e déficits liquidados no MAE

Sobras e déficits liquidados na CCEE. MCSD para as

distribuidoras

54

Figura 2.21 - Cronologia dos principa

is eventos do setor elétrico

brasileiro entre 1994 e 2004

55

Capítulo 3

3. Análise crítica das políticas energéticas e das questões que afetam negativamente a sustentabilidade do processo de expansão da oferta

Análise crítica das políticas energéticas e das questões que afetam

negativamente a sustentabilidade do processo de expansão da oferta

Existem muitas conceituações para políticas públicas. Dentre elas, uma que bem se aplica ao contexto deste trabalho é: política pública é uma estrutura normativa constituída por diretrizes, programas e ações cujo objetivo principal é impulsionar o sistema foco desta política no sentido de obter os resultados desejados (ARZABE, 2002 apud BRAZ, 2006).

O planejamento, por outro lado, pode ser conceituado como um processo desenvolvido por meio de uma série de etapas com o intuito de atingir determinado conjunto de objetivos. As principais etapas deste processo são: diagnóstico da situação atual, formulação dos objetivos, levantamento de dados, elaboração de planos alternativos, comparação das alternativas, decisão sobre a melhor alternativa, programação das ações, implementação e controle (ANNEL; ANA, 2002 apud JESUS, 2009)

A carência que se observa de políticas energéticas e de diretrizes claramente definidas, com horizonte de longo prazo e visão sistêmica, deixa os organismos ligados ao planejamento e operação do setor elétrico brasileiro sem premissas sólidas e ao sabor de tendências e, não raro, interesses exógenos e até mesmo escusos. Isto acaba por resultar em fragilidades no processo de planejamento, tanto da etapa de expansão da oferta como no planejamento da operação. Além disso, há que se ressaltar os prejuízos da falta de objetivos na construção de uma matriz

56

energética direcionada para os interesses nacionais (BAJAY, 2011). Um dos principais motivos pelo qual é imprescindível a visão de longo prazo e sistêmica é o fato de que os empreendimentos ligados ao setor elétrico requerem, em geral, vários anos para o seu planejamento e construção, além de se caracterizarem por terem vida útil elevada. Por exemplo, a vida útil estimada de uma usina hidrelétrica é 50 anos, podendo ser estendida por igual período de tempo com manutenção adequada e implementação de modernizações em equipamentos e sistemas de proteção e controle.

Algumas dificuldades enfrentadas no processo de planejamento da expansão da oferta de energia elétrica, originadas pela falta ou não eficácia de políticas energéticas, têm trazido impactos negativos não somente para o processo em si, mas, também repercutido no planejamento da operação e na matriz de energia elétrica. Alguns efeitos indesejáveis que se pode destacar: a elevação do custo de produção e, consequentemente das tarifas finais; o crescimento da participação de fontes fósseis na matriz de energia elétrica; os atrasos em cronograma de empreendimentos importantes; e a diminuição da capacidade relativa de regularização dos reservatórios o que vem requerendo o despacho de UTEs baseadas em combustíveis fósseis.

O que se busca neste capítulo é fazer, inicialmente, uma análise crítica das principais políticas energéticas e suas deficiências. Discutem-se, a seguir, questões relevantes que possam fragilizar, seja o processo de expansão da oferta e a operação propriamente ditos, assim como a construção da matriz de energia elétrica, seja os pilares sobre os quais se firma o conceito de sustentabilidade, considerando as condições de contorno deste trabalho. Na Tabela 3.1 pode-se verificar com quais perspectivas, as questões analisadas estão relacionadas.

57

Tabela 3.1 – Questões analisadas e sua ligação com os critérios relacionados à sustentabilidade

Perspectiva Questão analisada

Técnica

• A energia firme do SIN e as FEBS;

• A diminuição da capacidade de regularização dos reservatórios do SIN; • O atendimento da curva diária de carga; e

• Desvios entre as projeções do PDE e entre elas e a realidade.

Econômica

• Os critérios de segurança no planejamento da expansão e no planejamento da operação1;

• Os encargos setoriais e a sua repercussão na tarifa de energia elétrica;

• A desverticalização do setor elétrico no novo modelo e as suas conseqüências nos segmentos de geração, transmissão e distribuição; e

• Os resultados dos últimos leilões de energia e os impactos na matriz de energia elétrica.

Socioambiental

• Os critérios de segurança no planejamento da expansão e no planejamento da operação1;

• As emissões de CO2 no setor elétrico brasileiro;

• A questão do uso múltiplo da água dos reservatórios de UHEs no Brasil; e

• A conservação de energia frente à demanda reprimida de eletricidade e a expansão da oferta.

1

Afeta mais que uma perspectiva

3.1. Deficiências nas atuais políticas energéticas e as suas repercussões na matriz de