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III Competências de Avaliação

III. Síntese do Caso:

O Daniel tem 16 anos e vive com a mãe e avós maternos.

Relativamente ao desenvolvimento, a gestação decorreu normalmente, embora não programada foi posteriormente muito bem aceite e desejada. O parto foi normal e o Daniel iniciou a marcha por volta dos 18 meses, a fala articulada com 24 meses, sendo que o controlo esfincteriano diurno foi conseguido na mesma altura e o nocturno por volta dos 3 anos. A mãe refere que em criança, com 7 ou 8 anos, o Daniel tinha alguns medos nomeadamente medo da noite, tendo tido pesadelos que com o decorrer do tempo desapareceram.

No que diz respeito à história de doença podem identificar-se alguns incidentes, nomeadamente, o atropelamento seguido de dois dias com depressão da consciência quando tinha 5 anos; por volta dos 8 anos, a remoção cirúrgica de um pólipo no intestino. De salientar que nos exames médicos que tem realizado no HSM, nomeadamente na RM cerebral apresenta uma diminuta alteração de sinal frontal, sequela do TCE que sofreu nesse acidente. Toda esta situação médica e o próprio acidente foram vivenciados com muitas dificuldades, ansiedade e apreensão por parte de toda a família, mas especialmente por parte da mãe e do próprio. Mais recentemente foi detectado um problema no ouvido

76 interno que levou à realização de alguns exames médicos. Os primeiros resultados indicam que o problema médico não explica a sintomatologia apresentada na consulta externa de pedopsiquiatria, isto é, sensações de desmaio, náuseas, sensação de desequilíbrio, taquicardia e palpitações, interpretados pelos clínicos que o acompanham como ataques de pânico, embora tenha agravado estes sintomas. Haverá mais informação neste âmbito em breve pois aguardam-se os resultados de uma segunda avaliação médica. Será importante referir que o Daniel está medicado com anti-depressivo, ansiolítico e fármaco para intervir no problema do ouvido interno (Dumyrox, Pazolam). Existem também antecedentes familiares ao nível da psiquiatria, a mãe descreve-se como muito nervosa e preocupada desde sempre, com sensação constante de perigo eminente, estando medicada com benzodiazepinas pelo médico de família.

O Daniel esteve aos cuidados da mãe até à entrada na escola primária cujo percurso decorreu normalmente. A mãe refere que tinha bom aproveitamento escolar e muita motivação, “era um aluno aplicado”. Ingressou no 2º ciclo sem qualquer retenção e concluiu o 8º ano com cerca de 13 anos. Nesta altura o Daniel refere ter tido “alucinações visuais”, descreve-as como “visões de esqueletos” que surgiam de noite juntamente com “umas luzinhas”, refere também que desapareceram após algum tempo.

Não parecem ter existido quaisquer dificuldades ao nível das relações interpessoais durante o seu desenvolvimento, ou seja, não se encontram dificuldades no âmbito da socialização até ao precipitar das crises de pânico, quando o adolescente tinha cerca de 13 anos. Nesta altura o Daniel encontrava-se na escola, a frequentar o 7º ano, quando começou a sentir palpitações, taquicardia, tonturas, sensações de desmaio e pensava que “ía morrer”. Segundo mãe e o próprio adolescente, parecem não existir acontecimentos activadores desta primeira crise. A mãe relata este episódio enfatizando a dificuldade que tem para lidar com os ataques de pânico do filho, refere que o filho “fica descontrolado” e ela não sabe o que fazer para o ajudar. As dificuldades actuais no âmbito social prendem-se com o isolamento social e o medo constante associado à sensação de perigo eminente e ansiedade antecipatória.

O Daniel foi seguido durante um ano por um clínico psiquiatra em Guimarães, tendo surtido melhoras nítidas que se prolongaram por mais de um ano e permitiram a frequência e conclusão do 8º ano de escolaridade.

Durante o seu percurso pelo 9º ano o adolescente abandonou no 1º período devido às crises de pânico. No ano lectivo seguinte ingressou de novo no 9º ano de escolaridade, mas voltou a desistir após alguns meses pelos mesmos motivos. A mãe refere que as crises eram frequentes, cada vez mais intensas, culminando por diversas vezes em idas à urgência do hospital. No ano lectivo corrente o adolescente ingressou num curso profissional

77 de operador de máquinas agrícolas, cuja área foi eleita pelo facto de haver uma componente ao ar livre, onde o Daniel se sentiria melhor. Porém, após três semanas de frequência do curso o adolescente voltou a abandonar, cujos motivos se prenderam mais uma vez com as crises de pânico. Refere que não conseguia estar muito tempo fechado na sala e isso levou a abandonar também este ano lectivo. As maiores dificuldades quando estava em sala de aula diziam respeito ao medo de, a qualquer momento, “sentir-se mal”, ter uma crise, sendo que muitas vezes pedia ao professor para sair e apanhar ar no exterior.

O padrão de sono actual está relativamente alterado face aos ritmos circadianos ditos normais, o adolescente adormece por volta da uma hora e permanece a dormir até ao meio-dia aproximadamente, refere que ocupa o seu tempo no computador e na internet, aliás estas são as actividades diárias actuais. Importa referir que convive com os colegas pelos meios cibernéticos e por vezes presencialmente aos fins-de-semana, encontrando-os em casa dele ou deles. Neste âmbito, a mãe refere que o Daniel não colabora nas actividades domésticas diárias ou agrícolas com a família, embora muitas vezes seja solicitado. Por vezes aceita ir às compras com a mãe, contudo, não permanece muito tempo dentro da superfície comercial, indo de imediato para junto do carro no estacionamento. O adolescente refere que por vezes dá umas voltas de bicicleta ou encontra-se com os amigos num campo onde permanecem a jogar futebol, sendo que o Daniel fica a observar ou joga por breves períodos de tempo, pois tem medo de se “sentir mal”.

Relativamente ao padrão de alimentação parece ter havido um acréscimo de peso após o início da terapêutica farmacológica, sendo que actualmente é relativamente irregular em quantidades e horários, refere a mãe.

Importa referir que quando iniciou o tratamento para o problema ao nível do ouvido interno as crises de pânico intensificaram-se até ter sido alterada a medicação, sendo que nessa altura “esteve meio ano a fazer as refeições na cama, sem se levantar”, refere a mãe. A relação com os pais é caracterizada como afectuosa, bem como com os avós, há uma boa compreensão dos problemas do neto por parte daqueles e por isso maior tolerância no que diz respeito às exigências nas tarefas de casa e do campo. A mãe é percepcionada pelo adolescente como a figura de segurança, protectora, bem como a casa é local considerado mais seguro, ainda que lá também se desenvolvam crises de pânico. A relação com o pai parece estar restrita a uma convivência de 2 a 3 vezes por ano, desde os seus 2 anos de idade.

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