• Nenhum resultado encontrado

2.5 A relação entre saúde bucal e qualidade de vida

2.5.2 Saúde bucal como fator determinante da qualidade de vida

Locker & Slade (1993), estudaram o perfil de impacto da saúde bucal em idosos de Ontário – Canadá. O objetivo foi avaliar se as condições bucais poderiam comprometer a qualidade de vida dos idosos e como isto acontecia. Descobriu-se que houve um impacto negativo, de altas proporções, em suas atividades diárias, provocado por problemas de saúde bucal, e que tal impacto foi particularmente marcante entre os que não faziam visitas regulares ao dentista, tanto para os que possuíam dentes quanto para os edêntulos.

Também em 1993, Gilbert et al. entrevistaram 600 idosos habitantes de comunidades da Flórida. O intuito foi de avaliar a presença de sinais e

sintomas relacionados às condições bucais, impactos comportamentais destas condições e mudanças sensoriais buco-faciais. A prevalência desses sinais e sintomas foi, em geral, baixa. Uma exceção notável foi a prevalência de 39% de “boca seca”. Contudo, de 10 a 29% das pessoas tiveram ao menos um dos sinais e sintomas dentais (dor, dor de dente, dor à variações de temperatura), impactos comportamentais ou mudanças sensoriais, o que foi considerado como uma carga proveniente de um estado classificado como “não ótimo” de saúde bucal. Esta carga foi significativamente mais prevalente entre aqueles que tinham atendimento odontológico irregular, pessoas com baixo orçamento doméstico e que relataram saúde geral precária. Os autores concluíram que a inclusão desses itens na avaliação de saúde bucal está justificada e que isto permitirá uma ampla avaliação de resultados em saúde bucal.

Chen & Hunter (1996) pesquisaram a relação entre saúde bucal e qualidade de vida na Nova Zelândia, com crianças de 12-13 anos e adultos nas faixas etárias entre 35-44 e 65-74 anos. Incluíram, em sua análise, alguns critérios demográficos (gênero, educação, ocupação, renda, saúde geral e moradia), medidas clínicas de saúde bucal (cárie e doença periodontal), comportamento em saúde bucal (escovação, uso de fio dental e visita ao dentista) e qualidade de vida relacionada à saúde bucal (bem-estar, sintomas e função). Eles observaram que, neste país, os níveis de saúde bucal têm moderado impacto na qualidade de vida de crianças, adultos jovens e idosos, na medida em que afetam, adversamente, vários aspectos do funcionamento social e físico desses indivíduos. Entretanto, a percepção em relação à saúde geral e o local de residência foram preditores mais consistentes de qualidade de vida. Um exemplo disto é que, em relação ao comportamento em saúde bucal, a questão do uso do fio dental não apresentou relação com a qualidade de vida, por já ser um hábito estabelecido.

Tickle et al. (1997) compararam o relato do impacto das condições bucais sobre a vida de indivíduos, na faixa etária de 60-65 anos, pertencentes

a duas comunidades, uma delas mais carente e outra mais próspera, em Liverpool, na Inglaterra. A literatura sugere que grandes diferenças são esperadas, desfavorecendo indivíduos com pior condição sócio-econômica. Contudo, somente em uma das escalas usadas para registro do impacto psicossocial e funcional houve diferenças entre as comunidades, confirmando que circunstâncias sócio-econômicas tiveram importância secundária nesta pesquisa. Apenas dor e problemas de mastigação foram preditores significativos do impacto psicossocial.

Já Leão et al. (1998) salientam que, além do grave problema da dor, a qual apresenta impacto nas atividades diárias, influenciando também o estresse e o trabalho, a saúde bucal afeta a vida social, alimentação e bem- estar do indivíduo, entre outros. Fatores estéticos, por exemplo, afetam a comunicação, o romance e a vida social, esta última influenciada, também, pela mastigação: pessoas que demoram mais tempo em uma refeição ou não podem comer certos alimentos, devido à ausência de dentes, sentem-se marginalizadas.

Chianca et al. (1999) observaram que nos estudos sobre o impacto da saúde bucal na qualidade de vida, desenvolvidos em sua maioria com idosos, a falta de dentes foi o critério de impacto mais freqüente, seguindo-se a dor, o incômodo, as restrições na comunicação e alimentação e, finalmente, os problemas estéticos.

Segundo Gift (1996), considerações e medidas de qualidade de vida podem ajudar-nos a promover alguma mudança nas pesquisas, na política e em questões não resolvidas dos serviços de saúde, como os efeitos das doenças e condições buco-faciais na saúde sistêmica ou qualidade de vida; o impacto dessas diferentes condições em cada estágio da vida; se tratamentos para tais doenças podem resultar em melhoria da saúde bucal e geral; e como

a aparência e função buco-faciais relacionam-se à auto-estima, vida e escolhas em saúde.

Ruffino Netto, em 1994, afirma que saúde depende em essência e fundamentalmente dos níveis de vida e do ambiente, e que estas condições qualificam, de forma diferenciada, a maneira pela qual as pessoas e suas classes pensam, sentem e agem. Assim, ressalta que a qualidade de vida deveria ser adjetivada não só pelos que observam os viventes, mas também pelos atores dessas vidas, salientando a importância de se levar em conta a percepção individual sobre saúde, no planejamento de programas.

Já Minayo (1994) lembra que o determinismo social nunca atua diretamente na ordem biológica, mas é sempre mediado pelo aspecto cultural em que se encontram as regras, obrigações, proibições, repulsas, desejos, gostos e aversões. Se o social age no cultural e este no biológico, o estudo deste envolverá um caminho inverso, isto é, estudar os aspectos culturais e sociais que se manifestam no campo biológico.