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Começou com uma dança para o fogo literalmente, com uma vela acesa para cada um, o que trazia a materialização do elemento. Podíamos então ver seu movimento, seu calor, sua possibilidade de se queimar, de tocar a chama. E a partir da materialização do elemento presente acionamos a imagem escolhida de novamente de uma memória fotográfica: o filme “Beleza Americana”, no qual uma linda mulher, jovem, está deitada sobre milhões de pétalas vermelhas e também coberta somente nas partes intimas com as pétalas. A imagem tem uma cor forte do vermelho, do desejo representado pela nudez, pelas pétalas de rosas e pelo posicionamento de uma mulher nua entregue ao desejo, ao abate e ao sacrifício. E o sacrifício só foi se revelando no fim do jogo como algo fortemente poderoso.

Já tinha percebido que havia algo de dúbio na imagem entre a entrega e o sacrifício, e a forma da cruz, da crucificação através do posicionamento do corpo da imagem, e isso se iniciou como uma dança de sedução, sexual e de desejos.

Neste elemento finalmente consegui jogar com os colegas, e num feliz encontro com os outros se construiu uma dança de símbolos, códigos que surgiam através do jogo, imagens espirituais, Ganeschas indianas, donas do fogo e também o compartilhar o fogo, o saber, o

poder do aquecer e também de queimar. O fogo me despertou o “dar e receber”, compartilhar dividir e o sacrifício pelos os homens. A morte final pelos os outros como o boi abatido, me lembrou Joana D´arc, o mito de “Prometeu Acorrentado” e os demais heróis e histórias que devido às suas descobertas, suas escolhas e suas audácias, foram sacrificados como exemplos.

Após um semestre de pesquisas teóricas e investigativas com o corpo e a voz através dos elementos energéticos da natureza: água, terra, ar e fogo, nós pudemos acionar, com as orientações do professor, uma busca pelo mito pessoal e nos transportamos para um mito histórico e secular que permeia várias culturas.

No último módulo a investigação se verticalizou e após o processo com os elementos – em que descobrimos como eles reverberavam e despertavam nosso corpo e nossas memórias , foi pedido que traçássemos um paralelo entre o mito pessoal e um mito histórico. De que maneira nós poderíamos reconhecer nossos mitos pessoais, nossas matrizes, nossos arquétipos dentro da história da humanidade, com seus mitos, entidades, ritos e símbolos em diversas culturas? De que forma essas matrizes poderiam ser re-significadas nas produções dos sentidos estéticos e nas construções das cenas e parcerias que surgiram no Jogo Ritual? Dos laboratórios surgiram as histórias com o outro e/ou consigo mesmo e através dessas imagens, signos e símbolos emergiram as cenas ritualísticas e o jogo.

Capa do filme “Beleza Americana” do diretor Sam Mendes de 1999 (O Fogo)

Assim, cada um/a de nós, seguindo as orientações do professor, fomos pesquisar nossas histórias e em paralelo, procuramos um texto, um poema ou uma música que desse voz a essa figura. Tínhamos que investigar que espécie de oralidade e fala nossos personagens teriam.

Esse poema de 1912 representa um salto na formação da minha personagem, o ser mitológico tornou-se uma entidade, uma figura humana que a partir da palavra, ao soltar a voz, deu contornos às ações que foram construídas nos encontros e intensificadas no jogo com os colegas, especialmente nas cenas dos “Cães” com os atores Pablo Vieira, Thuyza Fagundes e Bebel Dantas.

Eis o poema: “Versos Íntimos” de Augusto Dos Anjos17:

17 Augusto dos Anjos, de 1884-1914, grande poeta autor de uma única obra publicada “Eu e Outras Poesias”, no

qual reuniram diversos de seus poema e Versos Íntimos,e que eternizou seu estilo marcante, lírico, pessimismo, forte inclinação para a morte, com um tom fúnebre, e o considerando um poeta maldito. Este, seu poema foi um das principais pilares da composição da personagem ainda em atuação III, e que deu uma narrativa, dramaturgia e palavras as ações que iam sendo construídas no jogo ritual com os colegas da turma.

Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão - esta pantera - Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!

Assim, dentro da trajetória da minha personagem, ela foi construindo uma relação de ciúmes, posses, desejos, perdas e velar o corpo do amado. Para além da disputa na matilha, ela deixava de ser um ser felino e se transformava num ser feminino, místico, dona de um saber, vidente, feiticeira, viajante que percorreu muitos caminhos. Assim se revelou a Cigana que transitou pelo mundo, vinda do Oriente, cruzou os mares até chegar às terras brasileiras, reafirmando os mitos das memórias culturais, da formação religiosa e estética de minha infância.

Tinha um encanto por essas entidades desde menina, e este trabalho despertou essas matrizes adormecidas no meu inconsciente. Os laboratórios energéticos despertaram meu corpo criando uma identificação especificamente com os elementos de Ar e Fogo, que potencializaram essas lembranças e produziram diversas narrativas do universo da cigana Sara do Oriente, assim nomeada dentro do sincretismo brasileiro da Umbanda de matriz africana.

Ao longo das aulas a fala e o ritual do fogo, a feitiçaria, o velar o corpo do morto do personagem do ator Pablo Vieira, o disputar da matilha e o seguir pelo mundo, fizeram surgir fragmentos. A cada encontro as lágrimas encontravam o corpo do “amado” e eu sempre recitava em forma de ladainha o Poema que era dito como uma feitiçaria e/ou um lamento. A dor e sacrifício final em forma de crucificação inspiraram a escolha da imagem, no início exercício dessa seleção, que foi eleita para representar o Fogo. Assim criei um tensionamento de modo inconsciente entre o Mito de Medeia e da Pomba-Gira Cigana, da mulher abandonada, traída pelo/a amante; essa tensão se manifestava através das lágrimas e ladainhas, sofrimentos e feitiçarias.

Antes de prosseguir, gostaria de fazer uma pequena observação sobre a condição do feminino para a época da personagem. É importante perceber que o contexto que esta sendo dito, é uma figura com representações de uma mulher do seu tempo, datada de séculos

passados, no qual o papel da mulher na sociedade era hierarquicamente inferior ao dos homens. E assim essa história que esta sendo contada através dessa personagem que traz muitos aspectos dessa narrativa com tom “machista”, opressor, de uma mulher com um olhar de uma única forma de amor. Claro, que obviamente a luz da contemporaneidade essa personagem construída tem muitos ranços desse ideal do amor romântico hétero normativo, que podemos contestar porém compreender o tempo e espaço da personagem dessa história.

Dito isto, retorno a discrição do processo da personagem. Tendo como base o cartaz do filme “Beleza Americana”, com uma mulher deitada sobre milhões de pétalas de rosas vermelhas e que cobriam somente algumas partes do seu corpo nu e em pose em forma de uma cruz, misturei o sacrifício e o desejo. Era essa imagem que, desde o inicio até o fim da construção da personagem, que acionava o mito em meu corpo, e ao longo do processo ela foi se re-significando e criando novas partituras:

1- O caminhar de uma felina; 2- A disputa da matilha;

3- Seguir na caminhada de feiticeira e recitar;

4- Fazer o rito com a vela e o fósforo como recitado no poema: “Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro”.

5- Velar o corpo do morto como uma ladainha: “Vês! Ninguém assistiu ao formidável, Enterro de tua última quimera, Somente a Ingratidão - esta pantera - Foi tua companheira inseparável!”

Vale ressaltar que para além das palavras do poema, num dos últimos encontros no final da disciplina, surgiram fragmentos da partitura corporal que, quando achei que não haveria mais nada a ser construído, despertaram em mim um suor excessivo proveniente do calor dos movimentos, uma poeira grudada no meu pescoço cujo retirar foi se tornando uma ação de retirar espinhos grudados na garganta, na língua, nos braços, como se a personagem tivesse caminhado pelos espinhos e arbustos, que a feriram a pele e a alma, constituindo sua narrativa.

Ensaio Final da disciplina Atuação III, “Descida de Jó” – “A Cigana – Sarah”. Ministrante: Prof. Robson Haderchpek ao fundo colegas da turma de 2015.2. Fotos Tiradas pelo ator Sebastião Silva,

integrante do grupo Arkhétypos de Teatro, convidado pelo professor, para colaborar com o processo final.

Momento da ação que ofertava o “fósforo” do Poema “Versos Íntimos” para que fosse “aceso”. Ainda na cena, sentada está a atriz Bebel Dantas, os atores Éric Medeiros, Raquel Guedes, Andressa Oliveira, Guga Medeiros, Fernanda Cunha, Cléo Araújo e os demais colegas da turma de Atuação III.

As atrizes Bebel Dantas, Thuyza Fagundes, o ator Pablo Vieira, numa cena de velar o morto e eu recitando o poema “Versos Íntimos” de Augusto dos Anjos que inspirou muito a personagem.

Sequência da ação de recitar o poema para o amado Morto pelo qual foi

“traída”; com ator Pablo Vieira, que construía a ação de estar morto em cena por um bom tempo esperando as pessoas para velarem seu corpo, tal como a minha personagem, 2015.2.

Para encerrar as investigações da personagem dessa primeira fase, como orientações para dar unidade às historias, o professor pediu a cada um dos alunos que pesquisasse trechos do Apocalipse para dar formas às histórias de Jó, que foram surgindo através das manifestações das narrativas de cada aluno dentro de suas partituras.

O meu trecho escolhido do Apocalipse foi o do Sétimo Anjo que vem anunciar o livro:

Terminou o Prazo! Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando tocar a sua trombeta, se cumprirá os desígnios de Deus, como anunciou aos profetas, seus servos. E a voz que eu do céu tinha ouvido tornou a falar comigo, e disse: Vai, e toma o livrinho aberto da mão do anjo que está em pé sobre o mar e sobre a terra. E fui ao anjo, pedindo-lhe: que me desse o livrinho. E ele disse-me: Toma-o, e come-o, e ele será amargo nas tuas entranhas, mas na tua boca será doce como mel. E tomei o livrinho da mão do anjo, e comi-o; e na minha boca era doce como mel; e, depois disso, encheu-me de amargura nas minhas entranhas.E ele disse-me: É necessário que profetizes contra muitos povos, e nações, e línguas e reinos. (Apocalipse 10:7-11)

A imagem inicial do Fogo “O Sacrifício” inspirada do Cartaz do filme “Beleza Americana” e mais o Livro do “Sétimo Anjo” do Apocalipse, a mistura das influencias culturais e estéticas, 2015.2.

Momento que a personagem ganha o livro do Personagem do Ator Allan Phyllipe, que seria como o arquétipo de Jó. Nessa cena ela ganha o livro e recita o texto “Sétimo Anjo” do Apocalipse do Velho

Testamento. Ao fundo colegas da Turma Atuação – III: Alice Jácomo de saia preta, Maria Flor em pé, sentada Bebel Dantas, no fundo de costas Raquel Guedes, Andressa Oliveira e abaixado Guga Medeiros, 2015.2.

Enfim, finalizou-se um processo de um semestre de muitas descobertas, com o corpo, com a voz, com os cruzamentos entre o trabalho das energias e os elementos concretos que me trouxeram “o objeto mágico do poder”. Este último para mim se traduzia nas flores emaranhadas nos meus cabelos, que se tornaram um elemento da personagem, tal como a vestimenta.

Escolhi como vestimenta uma saia longa, bordada de paetê e com estampa oriental, verde e preta que lembrava o universo das ciganas. A maquiagem que destacava os olhos tinha tons dourados, pretos, verdes e tinha arabescos desenhados nos cantos dos olhos. Ao longo do processo a pintura tomou os braços todos, e no dia da apresentação surgiram arabescos e ramos de flores, inspirados nas pinturas indianas dos rituais das mulheres em cerimonias de casamento, revelando uma dimensão dessa cigana, de influências da cultura oriental.

Ao final também surgiu uma dança, estimulada pelo olhar atento e delicado do professor, que captou a trajetória da personagem. Junto a isso, a convite do professor, tivemos a colaboração da parceira de trabalho e aluna do mestrado em Artes Cênicas, Camila Duarte, que, além de acompanhar os processos e contribuir com suas observações, também conduziu

um dos últimos laboratórios, o que contribui na organização dos movimentos do corpo da personagem, para que fundamentalmente não perdêssemos o olhar. Dicas preciosas e incorporadas ao processo, que contou também com a contribuição do grupo de pesquisa Arkhétypos, com maravilhosas sugestões, produção, luz e uma trilha sonora especial feita através dos instrumentos que intensificavam cada passagem.

Dessa trilha foi selecionada uma batida18 específica para cada um de nós, sendo certeira a escolha da minha, pois contribuiu e enriqueceu ainda mais a trajetória do mito, destacando seu instante dentro da narrativa da peça, com a dança como manifestação maior. Isso ajudou a instaurar a suspensão e a fala do Anjo, que dialogou com a personagem e seus caminhos percorridos dentro da partitura do sacrifício aos homens: “ao comer algo doce como mel e amargo nas entranhas, e profetizar contra muitos povos, línguas, nações e reinos”.

O processo da disciplina de Atuação III atuou de maneira profunda e transformadora no meu trabalho de investigação e formação de futura artista docente, pois trouxe a mim, e acredito aos demais colegas, um novo modo de construção da personagem, das narrativas e nos permitiu pensar de que maneira é possível acionar os potenciais de cada um, seja para a prática docente , seja para as práticas artísticas. Pude com isto, refletir mais enquanto prática docente, os modos que cada um/a se manifestou no processo da disciplina, como através das observações e depoimentos dos/as colegas, percebi que haviam as orientações do professor porém a liberdade de criação e respeitar as escolhas individuais, foram os conceitos mais definitivo nessa aprendizagem para a futura professora de teatro. Do mesmo modo, revelou um lado, até então escondido da artista capaz de imersão e de transição entre o dentro e o fora nos caminhos, nas etapas de estímulos para chegar à essência, ao âmago, e não ficar somente na superfície, como muitas vezes fiquei pela enorme dificuldade de mergulhar no jogo.

CAPÍTULO III

O PROCESSO ÉTER

3.1 A Moda Como Meio De Composição E Expressão Da Arte

“O homem, em seu percurso vai se modificando e modificando o meio ambiente. Interfere primeiramente em seu suporte, seu próprio corpo, depois em suas outras peles.” De acordo com Hundertwasser artista que antecipa a ideia-ecológica contemporânea de, pensar no todo como sistema em equilíbrio. Em seu livro O Pintor - Rei das Cinco Peles, em número de cinco, a saber, a sua epiderme natural, o seu vestuário, a sua casa, o meio social e a pele planetária (RESTANY, 1998, p.10 e11).

As cinco peles, como o autor aponta, são definidas na perspectiva de um olhar antropológico, mencionando a necessidade das vestes como proteção, transitoriedade e mudança. Dando um salto no tempo e pensando já nessas transformações de modo contemporâneo, mas não sem olhar culturalmente e historicamente para o passado, não podemos deixar de falar dessa “linha evolutiva” das peles, no conceito atual do que é Moda. Segundo o especialista em história do vestuário e o autor James Laver: “As Roupas são inevitáveis. São nada menos que a mobília da mente tornada visível”. (LAVER apud LURIE, 1997, p.19).19

Mobília etimologicamente quer dizer: mover, moldar, modelar, mobilidade, algo que pode ser alterado de lugar, trocado; o agir, ação sobre algo, flutuante, de fácil transporte. Assim, podemos dizer que a Moda enquanto conceito é móvel, é cambiante. A troca de peles é uma linguagem das roupas: semiótica, em que a forma e conteúdo caminhem juntos. Podemos construir e “moldar pessoas”, podemos também olhar para as roupas e inferir sua época de acordo com a sua forma e seus signos. A moda expressa momentos, épocas, temperaturas, estações do ano, lugares, costumes, culturas, rituais e tantos outros momentos da sociedade.

O traje, antes de ser Moda, sempre existiu, pois o homem, ou melhor, o ser vivente “nunca andou completamente nu”. Esse conceito, essa frase é resultado de pesquisa da

19

“James Laver, “Um dos maiores especialistas ingleses na história das roupas.” (LAVER, 1996). É o autor de “A Roupa E Moda Uma História Concisa”, um livro clássico que me embasou, como milhares de estudantes, quando fiz o curso de Moda e Figurino na Universidade Estácio de Sá, em 2000.

dissertação de mestrado da professora Mas. Ana Maria F. de Oliveira 20, docente no curso de Moda e Figurino onde me graduei em 2000 (Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro).

Observa-se que sob os envoltórios, as peles, como se refere Hundertwasser, apud Restany (1998), principalmente, a segunda pele, nos vestuários, são emitidos valores simbólicos os mais notáveis. Sendo assim, não só o cotidiano oferece variadas indicações, como, principalmente movimentos, onde grupos à margem questionam de alguma forma consciente ou não o sistema (OLIVEIRA, 2012, p. 56)

A autora em questão reflete também sobre a ideia de uma ausência “total” de vestimenta, de um corpo nu, seria isso verdade? No percurso da humanidade, cometemos equívocos associando “nudez” a uma visão simplista, a nenhuma espécie de vestimenta. Mas, como abordar sociedades aborígenes, ameríndias, africanas, ou australianas, entre outras sem o mesmo olhar “padrão ocidental”, um olhar colonizador de

distanciamento e estranhamento? Esses corpos “nus” sempre foram

envolvidos por interferências, pinturas corporais, tatuagens, penas, cocares. Mesmo nas mais remotas épocas, o homem já realizava algum tipo de interferência corporal por necessidades diversas, como demarcação de status social dentro de sua comunidade, ou para fins simbólicos ao longo de seu dia-a-dia ritualizado. Enfim - “O vestuário surge, primeiramente como necessidade de “proteger” o corpo. Nos registros em cavernas, podem–se observar os primeiros envoltórios corporais” (OLIVEIRA, 2012, p. 42).

Ao longo de milênios, foram se desenvolvendo técnicas de tratamento da matéria prima em fios, que então formariam os tecidos para as vestimentas. Peças para determinados ritos, cerimônias, caça, ou determinação de posição social, cargos religiosos e públicos - em uma infinidade de situações - as indumentárias foram cultivadas por gerações. Até então não era a “moda” que conhecemos e sim um conjunto de peças para definir determinado grupo de pessoas.

Em praticamente todas as culturas as vestimentas e adornos acompanham as classes sociais, religiões, hábitos, costumes de uma região. A moda comunica esses costumes. Pelo vestuário podemos contar a história da humanidade, ou seja, podemos criar narrativas, dramaturgias, através dos materiais, formas, cores e texturas.

20

Ana Maria Fernandes de Oliveira, Física e Ms. em Artes Visuais pela UERJ. Artista Plástica, Escultora e Figurinista. E em sua dissertação “Baile dos Horrores: A presença do grotesco e do humor num baile de carnaval”, 2012, que traz em seus estudos contribuições para esta monografia, citadas acima sobre a ideia de “um corpo que nunca foi completamente nu”.

O Teatro e a Moda se encontram na minha vida, nas minhas experiências estéticas e narrativas desde pequena. Não me lembro o que veio primeiro, se o Teatro ou a Moda. Ambos sempre estiveram presentes nos meus vislumbramentos de criança. Ao ver a primeira peça de teatro eu já sabia que queria estar ali, no atuar, no fazer do palco, das luzes, dos corpos e da potência dos figurinos. Também a música, a dança, as falas, ficaram impregnadas em mim como em todas as crianças que vivenciam um espetáculo. Instaurava-se um estado de sinestesia e encantamento.

Ao nos tornamos adultos/as, ou melhor, na

adolescência vamos desenvolvendo nossas características, preferências e as aptidões. Ali surgiu a atriz, a bailarina e a estilista. Já inventava “moda” nas três formas

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