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SAIDAS A CAMPO

No documento ADAIRLEI APARECIDA DA SILVA BORGES (páginas 102-106)

IV EDUCAÇÃO AMBIENTAL VOLTADA PARA OS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL: A EXPERIÊNCIA DOS MUNICÍPIOS DE

3.2. PROJETO RIOS: ATUAÇÃO E PRÁTICAS

3.2.7. SAIDAS A CAMPO

As saídas a campo para fazer a coleta inicia-se com uma caminhada ao longo do trecho escolhido em direção contrária à corrente da água, neste momento procede-se o preenchimento da ficha. Após este trecho percorrido, escolhe-se um ponto representativo do trecho para fazer o resto das medidas e este ponto deverá ser o mesmo onde serão feitas as outras medidas.

Neste ponto de amostragem é feita a avaliação da qualidade físico-química e biológica e os cálculos de fluxo de água e a estimativa sobre o habitat. A longitude deste ponto deve proporcionar uma distância que pode variar de vinte a cem metros de raio para melhor preenchimento das fichas de campo.

A qualidade hidromorfológica do trecho é medida de acordo com a qualidade do habitat, das matas ciliares e do fluxo. O conhecimento destes elementos ajudam a saber quando os indicadores biológicos e físico-químicos nos indicam o estado de saúde, a qualidade ecológica do ecossistema aquático.

Por exemplo, se na indicação dos macroinvertebrados obtém-se a máxima qualidade resultado um na ficha, e os resultados das analises fisioquímicas forem bons, mas, na hora de determinar a qualidade hidromorfológica se nota que não é

ótima, poder-se-á modificar o valor final de estado de saúde do rio colocando o número dois na ficha, apontando os primeiros sintomas de contaminação.

Para atribuir valor ao habitat fluvial é necessário que se analisem diferentes características que fazem referência a seu estado. A primeira característica a ser analisada é o fluxo do rio, o caudal do rio é um fator muito importante, pois pode variar ao longo de seu percurso e, além disto, alguns rios podem estar sem água e, neste caso, devem ser analisados os motivos como, por exemplo, estações de seca, uso abusivo para atividades humanas, pelos desvios de fluxo feitos por usinas ou para retenção em bacias. Para avaliar esta característica, é importante que se observe o nível da água nas diferentes medições.

A segunda característica a ser analisada no item habitat é o estudo do fluxo, a velocidade das correntezas, se no trecho elegido são lentas ou rápidas, se existem poços e qual a profundidade dos mesmos, se o fluxo é continuo e intermitente. Para fazer esta verificação, foram determinadas as seguintes categorias, que fazem parte da ficha de avaliação:

Ÿ Águas rápidas (> 0,3 m/s) com pouca profundidade (< 0,5 m) Ÿ Águas rápidas (> 0,3 m/s) com muita profundidade (> 0,5 m) Ÿ Águas lentas (> 0,3 m/s) com pouca profundidade (< 0,5 m) Ÿ Águas lentas (> 0,3 m/s) com pouca profundidade (> 0,5 m) (Manual de inspeção básica de rios, 2010, p. 20)

Outra característica é a analise dos substratos do fundo do rio. Este item somente pode ser avaliado se existe a possibilidade de se ver o fundo do rio e se não for possível ver, esse procedimento é indispensável por ser perigoso. O substrato é colocado em diferentes classes, podendo ser blocos de pedras quando possuem tamanho maior que 64 mm, cascalho com dimensão entre 2 e 64 mm, areia entre 0,6 e 2 mm ou argila e limo com dimensões menores que 0,6 mm; para

estabelecer a diferença, além das medidas, as fichas apresentam fotos de cada unidade apresentada.

A quantidade de sombra sobre o rio é um item importante, pois facilita o crescimento das plantas aquáticas e das algas. A quantidade de sombra, para ser anotada na ficha, deve ser observada desde a borda, há muitos ou poucos claros que permitam o acesso à luz solar na lamina d’água. A observação deve ser a cerca da sombra que a vegetação projeta, se tem uma copa fechada ou pelo contrário é muito aberta.

Ao tomar nota, deverão ser apontadas as estruturas vegetais em sua heterogeneidade de folhagens, troncos ou raízes expostas, pois estes elementos são fundamentais para proporcionar o habitat físico perfeito para os organismos aquáticos, pois são sua fonte de alimento para os mesmos.

Observando o leito do rio e de posse das respostas anteriores, o voluntário tem condições de fazer a avaliação do item cobertura de vegetação aquática e poderá determinar a quantidade e a diversidade, de vegetação aquática existente, tendo-se em conta que quanto maior a diversidade mais haverá fonte de alimentos e habitat para outras espécies; porém, uma quantidade superior a 50% pontua baixo na ficha, já que o excesso de cobertura pode implicar perda de luz e aumento da matéria orgânica que pode acabar eutrofizando o trecho do rio.

A mata ciliar ou bosque de ribeira é a faixa de vegetação encontrada entre o ambiente terrestre e o fluvial e que permite a vida de determinadas comunidades de animais e vegetais, além desta função, atua como corredor biológico que dá continuidade à paisagem vegetal.

O “Projeto Rios” utiliza um índice visual que se chama QRISI. Analisando todo o trecho escolhido, no que diz respeito à mata ciliar, ou seja, a continuidade e a

conectividade com as formações vegetais vizinhas, o voluntário tem condições de elaborar um índice com a situação do bosque. O QRISI é a soma da pontuação dos três blocos que formam o índice mencionando a estrutura, a continuidade e a conectividade.

O primeiro bloco analisado é a estrutura; a pontuação varia de zero a seis pontos, estabelecendo-se seis situações diferentes, assim representadas no manual de inspeção do “Projeto Rios”.

Ÿ Solo sem cobertura vegetal: beira e ribeira sem cobertura vegetal (0 pontos)

Ÿ Com cobertura herbácea: beira e ribeira só com cobertura de estrato herbáceo (plantas anuais) (1 ponto)

Ÿ Presença de arbustos e/ou plantas altas; uma espécie muito representativa é a cana. (2 pontos)

Ÿ Árvores alinhadas (2 pontos)

Ÿ Bosque clareado: cobertura com árvores autóctones com cobertura inferior à 50% (4 pontos)

Ÿ Bosque denso: cobertura arbustiva e arbórea que, no caso dos rios pequenos, chegam a formar uma galeria sobre as águas do rio (6 pontos). (Manual de inspección básica de rios, 2010, p. 23).

No que diz respeito à conectividade com as formações vegetais adjacentes, a pontuação pode variar de zero a quatro pontos. Este bloco valora as formações vegetais além do bosque de ribeira, ou seja, a vegetação que dá continuidade à mata ciliar. A pontuação está assim disposta no manual de inspeção do “Projeto Rios”:

Ÿ Conexão TOTAL com as formações vegetais adjacentes ao longo de toda a ribeira examinada, independentemente de se existe ou não bosque de ribeira (é possível que a zona de ribeira se degrade ou bem pode estar em uma zona de montanha onde o bosque adjacente não tenha espécies especificas de ribeira (4 pontos)

Ÿ Conexão PARCIAL, de aproximadamente o 50%, com as formações vegetais adjacentes. A pontuação é diferente em função de se a desconexão é produzida por atividades agrícolas (3 pontos) ou bem é produzida por infraestruturas ou urbanizações (2 pontos)

Ÿ Conexão NULA da ribeira com seu médio: o ecossistema fluvial fica ilhado dos ecossistemas adjacentes. No caso de que a zona adjacente

à zona de ribeira presente terras agrícolas, a pontuassem será baixa e não nula (1 ponto), porque se considera que existe certa permeabilidade. Pelo contrário, se existem espaços ocupados por construções urbanas ou por infraestruturas no espaço adjacente, a pontuação será mínima (0 pontos). (MANUAL DE INSPECCIÓN BÁSICA DE RIOS, 2010, p. 24)

A continuidade da vegetação de ribeira ao longo do curso do rio se avalia com o máximo de dois pontos. Este item é mais simples de ser averiguado, trata-se de observar se existe bosque de ribeira ao longo do trecho do rio ou não. Existem três itens a serem marcados no manual de inspeção do “Projeto Rios”:

Ÿ Continuidade TOTAL, quando a zona de ribeira forma uma massa vegetal continua ao longo de todo o trecho estudado (2 pontos)

Ÿ Continuidade PARCIAL, quando a massa vegetal não é continua, mas o bosque de ribeira aparece de forma regular ao longo de todo o trecho (1 ponto)

Ÿ Continuidade NULA, quando as formações vegetais só aparecem em forma de mancha ilhadas, sem haver uma conexão clara entre estas (0 pontos), (MANUAL DE INSPECCIÓN BÁSICA DE RIOS, 2010, p. 24)

O último item a ser avaliado é a vazão do rio. O conhecimento da vazão do rio no momento em que se faz a amostragem permite que se compreenda melhor o funcionamento do ecossistema fluvial. Medir a vazão é determinar as dimensões do leito, a largura do rio, a profundidade e a velocidade da água.

No documento ADAIRLEI APARECIDA DA SILVA BORGES (páginas 102-106)