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3 CIDADES MÉDIAS NO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL:

4.1 ACCOUNTABILITY NOS MUNICÍPIOS SELECIONADOS

4.1.3 Santa Rosa

Para o Gestor 6, accountability é “a obrigação de prestar contas”. Ele vê a atividade como de grande relevância, assim como a observância dos prazos e procedimentos previstos na legislação para a prestação de contas.

Tal como outros entrevistados, a gestora avalia que a participação da população nas audiências públicas para elaboração das propostas orçamentárias não é efetiva: “Não, não há participação por parte da população”.

Gestor 7

O Gestor 7 do município de Santa Rosa entende accountability nos seguintes termos:

É um processo que inclui a disponibilização das informações do andamento dos trabalhos para concretizar o que foi planejado, a prestação de contas da utilização dos recursos e dos resultados alcançados e a responsabilização quando ocorrer mau uso dos recursos.

Quanto indagado sobre se o município disponibiliza as informações de maneira clara à população, o gestor aponta para o que determina a lei:

Os relatórios são publicados de acordo com o formato e as datas previstas na legislação, já as informações de despesas, receitas, pessoal e outras são publicadas no site em tempo real.

Já quando perguntado sobre se a população participa das assembleias para definição do orçamento, ele faz um diagnóstico interessante:

Eventualmente há participação da comunidade no processo de elaboração e discussão do plano e das leis. O processo deveria ser conduzido de uma forma mais simples e de fácil entendimento, fazendo com que a população consiga entender no que ela pode contribuir e o quanto é importante a sua colaboração. Atualmente é publicada uma nota no jornal e no site convidando para a Audiência Pública, porém, a maioria da população não tem conhecimento da importância de contribuir nestas decisões importantes do município e acaba não participando.

Ao mesmo tempo em que afirma que há acesso das informações via portal e outros mecanismos de divulgação, ele pondera que, na questão da participação, “o processo deveria ser conduzido de uma forma mais simples e de fácil entendimento”.

Gestor 8

Ao externar seu entendimento sobre o termo accountability, o gestor também externa sua avaliação sobre a inteligibilidade do orçamento:

É a prestação de contas para a comunidade, do vínculo com a comunidade para que ela tenha nas suas estruturas sociais o conhecimento do que acontece na gestão pública. Permite que essa sociedade conheça tanto os números como as ações que são prioridades. É fundamental para que se possa fazer o governo voltado às reais necessidades da população. Então acho fundamental que se cria mecanismos que têm verdadeira transparência das ações, dos números, porque muitas vezes você falar do orçamento, que é uma peça pública, ela não é transparente. Nós que estamos há anos na gestão olhamos para o orçamento e demora um pouco para se achar naquela montanha de número, e ele não traduz o que está sendo feito e quais são as prioridades de fato estabelecidas. Esses canais de informações, nos conselhos, nas diversas possibilidades, são fundamentais.

Em sua fala são recorrentes as observações sobre a dificuldade de se ler e compreender minimamente as informações apresentadas ao público, sendo necessário um trabalho de explicação dos dados, conforme o gestor. Também ele registra e lamenta a pouca participação da população nas assembleias, e as formas que a gestão tem encontrado para superar esse problema:

Não, a comunidade não participa. Fizemos audiência pública, tem cinco pessoas. Existe divulgação, mas o interesse da comunidade é pouco. Nós temos feito reuniões setoriais. Por exemplo, quarta-feira foi realizada uma reunião- almoço, a nossa secretária de Gestão e Fazenda e o diretor da Fazenda estiveram na associação comercial da cidade apresentando o PPA, discutindo todos os detalhes. Já fizemos essa discussão com o Sindilojas, já fizemos essa discussão com o Sindicato dos Contabilistas, que tem um observatório especial. Na verdade, isso é a comunidade, onde estão os representantes de cada setor, então esses projetos são debatidos.

Em sua fala, o gestor questiona a noção de um grupo coeso que representaria os interesses de toda a sociedade, como em geral ele percebe na abordagem filosófica. Ele aposta numa abordagem mais setorial e em utilizar os espaços de representação já existentes:

Nós estamos falando que alguém quer criar um espaço porque achou que isso é mais democrático, mais efetivo, tem mais accountability? Não, alguém está criando um negócio porque está com premissas de usar os espaços que já tem. Nós temos que fazer uma discussão na sociedade, que espaços efetivamente vão ter gente, e parar de usar aquele conjunto da sociedade. Não existe conjunto da sociedade interessada, o interesse é muito mais setorizado. Então, onde estão esses interesses, vamos lá nesses locais e discutir, porque essas pessoas representam grupos maiores. Criar mais uma audiência pública para não ter participação? Tenho insistido nisso: usar os espaços já existentes.

E conclui com um exemplo da área da saúde, no qual a comunidade foi ouvida e encaminhou-se uma solução a seu ver interessante para o problema da falta de verbas para medicamentos e exames, vivida há 20 anos:

Lembro de uma discussão quase 20 anos atrás, a época que bateu a crise na saúde e a gente não tinha recursos. Fomos para o Conselho: ‘Olha, não vamos conseguir fazer frente à quantia de medicamentos que está fornecendo hoje ou à quantia de exames que estão sendo solicitados, temos que ajustar um pouco cada um, diminuir os números’. E a comunidade disse: ‘Vamos garantir os exames e diminuir os gastos com os medicamentos’. O raciocínio foi bem interessante: se a gente tem um problema, fez o exame e diagnosticou, bem, se precisar, desembolsar um pouco do medicamento. Um exemplo que sempre dou foi de vivenciar o que o usuário realmente precisa e é o que a accountability nos dá de real, de concreto, é juntos saber a realidade e achar as soluções efetivas.

A fala final do gestor público mostra soluções possíveis para problemas relativos à gestão, como a falta de recursos. A oitiva da comunidade, que discutiu e definiu prioridades nesse episódio específico, mostra, segundo ele, que é possível construir soluções conjuntas para os problemas que afetam a sociedade – o que remete igualmente à noção de accountabilty.

Ao sintetizarmos o que foi observado no município de Santa Rosa, cabe ressaltar as percepções matizadas dos gestores quanto à transparência dos processos, ponto essencial para se entender a accountability. Um dos gestores apontou, como visto, que a baixa participação dos cidadãos nas assembleias teria relação com a pouca divulgação ou mesmo a falta de uma linguagem mais transparente no chamamento da população para as reuniões.

Ao mesmo tempo, há exemplos, na fala de outros gestores, sobre como as questões podem ser encaminhadas se houve um diálogo mais próximo com as reais demandas da comunidade, o que nos remete ao conceito de responsividade: a capacidade de dar respostas com agilidade aos problemas da gestão.

Lembrando que a responsividade está ligada à ação dos governantes, “quando promovem os interesses dos cidadãos, adotando políticas escolhidas pelos cidadãos” (ARAUJO; GOMES, 2006), conforme aprendemos previamente.