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3 CIDADES MÉDIAS NO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL:

3.4 SANTA ROSA

Santa Rosa, por sua vez, é conhecida como o “Berço Nacional da Soja”. Foi criada como uma colônia de imigrantes europeus em 1915, principalmente imigrantes italianos, alemães e russos. Foram essas as principais etnias que se estabeleceram no local que viria a se transformar na cidade. Com o tempo, elas viriam a contribuir com a pujança econômica que caracteriza o município hoje nas áreas da agricultura e da pecuária.

Figura 6 – Mapa de Santa Rosa

Fonte: Google Maps.

A educação é outro fator de destaque no desenvolvimento de Santa Rosa. Ela oferece uma gama de opções nos vários níveis de formação, incluindo o ensino superior, o que contribui para os índices de qualidade de ensino e para a formação de mão de obra especializada.

A cidade possui um campus do Instituto Federal Farroupilha e universidades comunitárias, sendo um campus da UNIJUÍ, e a faculdade integrada FEMA, que oferece três unidades para o ensino superior privado. O IDH registrado em Santa Rosa é de 0,769 (ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, 2015).

A região era primitivamente habitada por indígenas do grupo Tapes, e, com a chegada dos jesuítas e espanhóis, a partir de 1626, iniciou-se um sistema de redução para catequizá-los. É um contexto semelhante, nesse sentido, ao de Cruz Alta e Santo Ângelo, que, como vimos anteriormente, também conheceram o impacto da catequização dos indígenas pelo viés da religião.

Santa Rosa integrava o território dos Sete Povos das Missões, fundada pelos jesuítas e pertenceu, sucessivamente, a Porto Alegre, Rio Pardo e Santo Ângelo. Em 1876, o município de Santo Ângelo foi subdividido e criado o Distrito de Santa Rosa. Contudo, a efetiva colonização só ocorreu a partir de 1915, quando entrou em execução um vasto plano de loteamento de terras para assentar os nacionais que já habitavam a região.

No ano anterior, Quintino Zanella e mais alguns companheiros ergueram o acampamento no local onde hoje está construído o Colégio Santa Rosa de Lima. Assim estava fundada a Colônia 14 de Julho. Os primeiros povoadores foram os próprios funcionários do serviço de agrimensura; mais tarde, ocorreu a colonização propriamente dita, quando afluíram descendentes de alemães e italianos, e outras etnias em menor escala (IBGE, 2010)

Aqui tivemos experiência semelhante de chegada do imigrante europeu, tal como visto no caso de Cruz Alta, com o detalhe de que a colonização em Santa Rosa ocorreu num período posterior, já avançando as primeiras décadas do século XX.

As famílias se instalavam nas proximidades do acampamento, derrubavam matas, construíam casas e faziam lavouras. A ocupação dessas terras aconteceu rapidamente, sendo que em 1920 a Colônia já contava com 11.215 habitantes.

A presença da agricultura e da economia de pequena escala marcou essa fase de desenvolvimento das terras daquele povoado, sendo responsável pelo rápido crescimento da cidade, o que gerou os primeiros sinais de emancipação.

A ideia da emancipação surgiu em 1927, quando a Colônia já estava com 35.000 pessoas e uma boa arrecadação. A energia elétrica chegou à cidade em 1922. José Pittas era o dono do gerador. Em 1928, começou a funcionar o Cine Odeon, de Agostinho Frainer. Durante quatro anos Frainer passou seus filmes em um caminhão que circulava pelos povoados. O cinema fixo localizava-se onde hoje é o Salão Paroquial, na Rua Sinval Saldanha. Atualmente acontecem sessões de filmes no Centro Cívico e Cultural Antônio Carlos Borg.

Essa presença do cinema já nos primórdios da história do município e da própria história do cinema esteve ligada às tradições dos amantes da Sétima Arte, oriundos ou descendentes de europeus. Em 1929, a luta pela emancipação crescia rapidamente e o maior argumento dos emancipacionistas era a crescente arrecadação da Colônia.

Durante a campanha, uma comissão foi até a capital do Estado a fim de apressarem a emancipação. O jornal “A Serra” foi fundado para divulgar a campanha emancipacionista da Colônia. Assim, no dia 1º de julho de 1931, o general José Antônio Flores da Cunha (Interventor do Estado) assinava o decreto de emancipação do município de Santa Rosa.

Foi uma vitória considerável, já que a emancipação significava maior autonomia política e econômica, possibilitando que a cidade começasse efetivamente sua caminhada rumo ao desenvolvimento.

A solenidade de instalação do município de Santa Rosa aconteceu no dia 10 de agosto de 1931. Neste mesmo dia, tomou posse o primeiro prefeito, Arthur Ambros, nomeado pelo Interventor Federal do Estado.

Os primeiros progressos e melhoramentos em Santa Rosa foram feitos através da iniciativa de particulares. Eram os tempos da reunião de esforços dos cidadãos que tinham interesse em fazer prosperar a cidade: as lideranças locais, que ocupavam postos-chave nas decisões do município, e as forças econômicas, que detinham as condições materiais de realização das obras e melhorias necessárias para o crescimento da cidade.

A estrada de ferro que ligava Santa Rosa a Santo Ângelo foi inaugurada em 12 de maio de 1940. Com ela aumentou a população, pois vieram muitos trabalhadores para Santa Rosa. Foi um marco no desenvolvimento da cidade e da região, possibilitando a circulação de bens e valores, na forma de mercadorias e de trabalho dos que buscavam melhorar sua perspectiva de vida.

O telefone chegou ao município em 1945, por iniciativa da Prefeitura Municipal. Representou um marco nas formas de comunicação, encurtando distâncias e agilizando a interação entre os munícipes e as demais localidades. Assim como a ferrovia, as linhas telefônicas eram sinônimo de progresso naquela época.

A população do município é composta por pessoas pertencentes a diferentes grupos étnicos. Os principais grupos que constituem a população do município podem ser visualizados no esquema abaixo:

- os caboclos: descendentes do cruzamento entre indígenas e portugueses, são os primeiros frutos da mestiçagem e representam importante herança genética oriunda do contato entre o elemento nativo e o elemento alienígena;

- os negros: eles vieram inicialmente para a construção da Estrada de Ferro e do Quartel Militar do município. Representam parcela importante da herança étnica presente na cidade e na região, dando origem aos mulatos quando em contato com o elemento branco. Assim como no restante do Brasil, a herança negra em terras da região norte do estado precisa ser retomada e sua história recontada, se quisermos ter consciência de nossas origens inter-raciais;

- os alemães: vieram para o Brasil a partir de 1824 até 1950, depois da II Guerra Mundial. Trouxeram diversas vivências e experiências de sua terra natal para o Mundo Novo, como as técnicas da indústria e da agricultura, o know how acerca de áreas como a eletricidade e a fotografia, entre muitas outras contribuições.

- os italianos: fundaram suas principais colônias entre 1870 e 1875, sendo elas Conde D’Eu (atual Garibaldi), Princesa Isabel (Bento Gonçalves), Colônia Caxias (Caxias do Sul); Silveiro Martins, Alfredo Chaves, São Marcos e Antônio Prado. A presença maciça da cultura italiana na região sul do país é o resultado dessa colonização inicial, que trouxe mão de obra do imigrante para toda a região das colônias, e que hoje é celebrada como um diferencial em todos os níveis da vida social;

- os poloneses: eles chegaram ao Brasil por volta de 1894 e estabeleceram-se no litoral, no centro do Estado, e na região em Guarani das Missões, Três de Maio e outras localidades adjacentes. Sua presença reforçou a herança europeia na região, embora em dimensão menor do que a italiana, mas igualmente relevante para o desenvolvimento da cidade de Santa Rosa.

Existem muitas famílias de descendentes destes imigrantes residindo em Santa Rosa, e que atualmente estão se organizando com o objetivo de resgatar suas raízes culturais como a língua, a música, a dança, a vestimenta, os pratos típicos, etc.

O resgate da cultura dos grupos étnicos que compõem o município é uma tarefa que tem rendido frutos para a região. São diversas as iniciativas nessa direção, em vários municípios. Existem feiras que celebram a diversidade, em geral focadas na economia como ponto de partida: a agricultura, a pecuária, a indústria, os serviços, o artesanato etc., mas que agregam a essa base econômica tradicional os emblemas da herança étnica e cultural: os pratos típicos, as danças, as tradições dos grupos que formaram a sociedade local.

Segundo dados da Secretaria de Planejamento do Estado do RS, Santa Rosa pertente ao Conselho Regional de Desenvolvimento (COREDE) Fronteira Noroeste, localizado na Região Funcional de Planejamento 7, criado em 1991, composto por vinte municípios.

O principal centro urbano é Santa Rosa, com uma população de 72.919 habitantes, conforme os dados do ano de 2018 disponibilizados pelo IBGE. A densidade demográfica no ano de 2010 era de 140,03 hab/km2.

O coeficiente de Mortalidade Infantil sendo de 10,02 por mil nascidos vivos no mesmo ano. A área do Município é de 489,8 km².

Dos entrevistados, 80% possuem ensino superior. A Economia está baseada na agropecuária, destacando-se o rebanho bovino, manejado com modernas técnicas de produção, que faz desta a maior bacia leiteira do Rio Grande do Sul, fornecendo, juntamente com a suinocultura, matéria-prima qualificada para as agroindústrias.

A agricultura responde por boa parte da produção gaúcha, com destaque para a soja (30% do Estado), que movimenta um ciclo de negócios que vai do pequeno produtor ao mercado internacional.

No pólo metal-mecânico, Santa Rosa e região são modelos no segmento industrial. Fabricando peças, máquinas e implementos agrícolas, situadas entre as maiores do mundo (AGCO e John Deere), lideram um processo de produção que movimenta o agronegócio e consolida na região o mais vigoroso polo metal-mecânico do país voltado para a agricultura. Cerca de 66% das colheitadeiras brasileiras são produzidas no município de Santa Rosa.

As indústrias beneficiam os frutos do setor primário com tecnologia e eficiência. A erva-mate produzida em Santa Rosa abastece a tradição do chimarrão em todo o Estado; um volume considerável de soja é transformado em farelo ou óleo, fazendo parte da composição de marcas consagradas de alimentos; cooperativas investem na agroindústria potencializando a força do produtor local.

Os valores produzidos na terra têm uma forte presença na economia da cidade, numa tradição que vem fazendo excelência em termos econômicos.

São diversos os índices que demonstram a pujança da cidade em termos de desenvolvimento, colocando-a como importante polo econômico em nível regional em diversos setores.

Ao deitarmos nosso olhar sobre as origens e constituição do município de Santa Rosa, podemos perceber que a cidade desempenha um papel que pode perfeitamente colocá-la como cidade média: situa-se entre os grandes centros urbanos e desempenha papel relevante para movimentar a economia da região em que está inserida.

A vocação econômica da agricultura e da pecuária marcou o desenvolvimento da cidade a ponto de consolidar-se ao longo do tempo, fazendo dela uma referência até mesmo em nível nacional.

Tais características reforçam o caráter de cidade de porte médio, já que para ela confluem os fluxos econômicos de outras cidades menores da região, com indicadores de excelência mesmo em nível nacional.

As cidades que descrevemos neste capítulo têm diversos elementos em comum, os quais permitem classificá-las no segmento das cidades de porte médio: elas representam centros urbanos com indicadores positivos em termos de qualidade de vida; se colocam como centros intermediários entre as pequenas localidades e os centros maiores; destacam-se pelo desenvolvimento de algumas áreas – o setor de serviços, a indústria, a

agropecuária –; e desempenham papel de liderança em relação ao entorno, incluindo a zona rural e os pequenos municípios que gravitam ao redor da área de influência dessas cidades.

Tudo isso serviu como critério para a seleção delas como base para o nosso corpus de análise. Vemos que elas têm suas características próprias, algumas mais destacadas no setor de serviços, como educação e saúde, outras mais voltadas para as atividades do setor primário, como agricultura e pecuária. Todas, porém, compartilham da qualidade de ser pontos de convergência para a região em que atuam, configurando uma rede de influência de grande importância para o desenvolvimento regional.

No próximo segmento, vamos analisar como a accountability e o controle social se manifestam na gestão desses centros urbanos médios, a fim de verificar a correlação entre o desenvolvimento das cidades e essas ferramentas de responsabilização do trabalho do gestor público.

4 ACCOUNTABLITY E CONTROLE SOCIAL EM CIDADES MÉDIAS DO RIO GRANDE DO SUL: OS CASOS DE CRUZ ALTA, IJUÍ, SANTO ÂNGELO E SANTA ROSA

Neste capítulo, vamos deitar o olhar sobre o corpus da investigação. Faremos a análise dos dados obtidos na pesquisa de campo com os gestores das quatro cidades escolhidas.

Primeiramente, traremos os resultados das entrevistas sobre accountability; na sequência, sobre o controle social. Na seção final do capítulo, comparamos as percepções dos gestores, buscando relacioná-las com os autores estudados.