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Satisfação e Necessidades do Morador: Resultados e análises

5. Inserção Urbana e Direito à Cidade: uma análise a partir da visão dos moradores

5.3. Satisfação e Necessidades do Morador: Resultados e análises

Considerando que os empreendimentos pesquisados possuem tipologias diferenciadas (Loteamento, Condomínio e Hibrido), foi perguntado aos entrevistados se eles sentiam falta de algum espaço na nova moradia. O gráfico 20 revela que a tipologia condomínio foi a que apresentou o maior percentual 73,10%, associado, principalmente, à ausência de quintais, varandas e espaços maiores como a cozinha e a área de serviço, a exemplo do que eles já possuiam na moradia anterior. Pode-se concluir, portanto, que a proposição do efificio não dialoga com as necessidades do morador, revelando, ainda, a falta de conexão dos projetos arquitetônicos com a diversidade da demanda. Isso ocorre sobretudo porque a política habitacional não tem se guiado pela implementação de estratégias de ação pautadas no desenvolvimento de projetos arquitetônicos e urbanísticos decorrentes de uma diversidade de soluções consonantes com o perfil da demanda, ao passo que não se observa, por exemplo, o planejamento e a execução de projetos habitacionais adequados a pequenos lotes, de maneira a se utilizar áreas já adensadas e dotadas de infraestrutura, evitando a construção de empreendimentos de grande porte em áreas periféricas.

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Gráfico 20: Percentual de Entrevistados que afirmaram sentir falta de algum espaço por tipologia do empreendimento

Fonte: Questionários aplicados junto aos moradores. Acervo Pesquisa DARQ/DPP/UFRN. Elaboração dos autores.

No caso dos loteamentos, o percentual de entrevistados que expressaram sentir falta de algum espaço é o menor, fato este que pode ser explicado menos pela aderência do projeto à diversidade da demanda, e mais pela maior flexibilidade que a tipologia horizontal possui comparada à vertical.

Outro questionamento feito aos moradores foi com relação à sua preferência em termos de moradia, ou seja, se eles preferem morar na moradia atual ou na anterior. Do universo de 532 entrevistados, 84,02% afirmaram que preferem a moradia atual, já uma análise desagregada por município/empreendimento revela que os maiores percentuais de preferência pela moradia anterior estão em Natal (Vivendas do Planalto) e Parnamirim (América), entre as principais explicações está a distância dos locais de comércio/serviços e de parentes (familiares), ambiente desfavorável para o crescimento das crianças (situações de violência, drogas, ociosidade), da moradia atual comparada a moradia anterior. Os aspectos apontados pelos entrevistados revelam a vulnerabilidade social e dos laços de convivência existente nesses empreendimentos, favorecidos pela não implementação do projeto de trabalho técnico social junto às famílias beneficiárias do Programa Minha Casa, Minha Vida. Este, de acordo com a Portaria 168 do Ministério das Cidades, objetiva:

87 “proporcionar a execução de um conjunto de ações de caráter informativo e educativo junto aos beneficiários, que promova o exercício da participação cidadã, favoreça a organização da população e a gestão comunitária dos espaços comuns; na perspectiva de contribuir para fortalecer a melhoria da qualidade de vida das famílias e a sustentabilidade dos empreendimentos.” (MCIDADES, 2013, p. 18)

Aqueles que afirmaram preferir a moradia atual justificam a preferência pelo fato da casa ser própria, ou seja, a um aspecto essencialmente mercantil, da propriedade. Neste caso, a relação do morador é com o bem, com o imóvel, e não com a moradia, mesmo considerando a existência de condições precárias à efetivação do direito à cidade e ao habitar.

Gráfico 21: Preferência dos Entrevistados em relação ao local de moradia por município/empreendimentos e total (%)

Fonte: Questionários aplicados junto aos moradores. Acervo Pesquisa DARQ/DPP/UFRN. Elaboração dos autores.

Ainda no que se refere à satisfação dos moradores, os entrevistados foram perguntados se desejam mudar da moradia atual. Do total do universo pesquisado 70,11% afirmaram que não desejam mudar.

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Gráfico 22: Manifestação do Desejo de Mudança por parte dos entrevistados por município/empreendimento e total (%)

Fonte: Questionários aplicados junto aos moradores. Acervo Pesquisa DARQ/DPP/UFRN. Elaboração dos autores.

Uma análise desagregada dos dados revela que, assim como a preferência pela moradia anterior, os maiores percentuais de desejo de mudança estão nos empreendimentos localizados em Parnamirim (América II e Vida Nova) e em Natal (Vivendas do Planalto I, II, III e IV), respectivamente 43,84%, 36,11% e 33,33%. Aqui ganha relevância, além dos motivos expostos anteriormente, a dificuldade que as famílias têm de pagar as despesas (condomínio, energia, gás, água, prestação do imóvel), assim como a dificuldade do transporte e distância dos locais de trabalho. Vale observar que na ausência do trabalho técnico social e de outros agentes como Prefeituras e Caixa Econômica Federal, os síndicos passam a desempenhar papel relevante na dinâmica cotidiana dos empreendimentos, pois são eles os responsáveis pelo desenvolvimento de um conjunto de ações visando equacionar os diversos problemas existentes nos condomínios, desde questões relacionadas a conflitos entre vizinhos, falta de pagamento, violência/drogas/vandalismo até problemas de infraestrutura dos empreendimentos.

Por fim, verificou-se que na percepção dos síndicos o Programa Minha Casa, Minha Vida não é identificado como uma política pública que estruturada a com base na articulação de diversos agentes, que devem atuar de forma

89 complementar. Em alguns relatos, por exemplo, os síndicos disseram que a prefeitura só se fez presente no momento da entrega das chaves, assim como a Caixa Econômica Federal. Em outros, as tentativas de contato com as construtoras não se efetivaram, provocando a desistência por parte dos síndicos, o que fez com que os mesmos buscassem individualmente soluções para os problemas, fato este que muitas vezes ultrapassa as atribuições de um síndico, e que revela claramente a fragilidade da política habitacional de uma forma geral, e o não cumprimento dos normativos do próprio PMCMV.

Conclui-se, portanto, que há um claro comprometimento das condições reais de sustentabilidade dos empreendimentos associado a fatores como ausência do trabalho técnico social e da participação dos agentes envolvidos no Programa, bem como a dissociação entre a tipologia arquitetônica e o perfil da demanda, que acabam comprometendo as dinâmicas familiares no cotidiano.

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6. Inserção Urbana e Qualidade Arquitetônica e Urbanística do PMCMV na