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Há um passuk, prossegue o Rambam, no profeta Yesh’ayá (6:10), do qual se extrai o conceito de que um pecado grande ou várias ave- rot reincidentes levam a pessoa a perder a chance de fazer teshuvá. “o coração deste povo engordou, seus ouvidos não ouvem mais e seus olhos não enxergam mais”. Essas afirmações, obviamente, referem-se ao nível espiritual dos indivíduos de Am Yisrael, que estavam com o coração cheio de “gordura”, os olhos cegos e os ouvidos surdos – por causa de suas más escolhas.

163 A berachá de “Harotsê Bitshuvá” foi dita pelos anjos quando Reuven fez teshu-

vá (Levush, cap. 112 – vide prefácio desta obra sobre a teshuvá de Reuven).

164 um segundo raciocínio, para explicar o que é teshuvá, vem de um passuk de Shelomô Hamêlech, extraído do “Cohelet” (7,29): “Levad reê zê matsáti asher assá

Haelokim et haadam yashar vehêma vikshu chishevonot rabim” (Hashem fez o ho-

mem reto. Eles é que encontram vários outros caminhos). Depois, com a teshuvá, ele se arrepende de seu comportamento e retorna a seu estado original. 165 Vide “Introdução”.

Quem conseguisse se livrar dessas “vendas” e “amarras”, faria teshuvá e voltaria a enxergar e ouvir nossos sábios e profetas – e as palavras de Hashem entrariam em seu coração.

Em Divrê Hayamim II (36:16) também consta uma passagem sobre o descontentamento de Hashem em relação aos pecados do povo, afirmando que as pessoas desprezavam as palavras de Hashem e faziam pouco caso dos seus profetas “até que Hashem fica furioso com seu povo, até que não há mais cura”. Essa cura refere-se à teshuvá.

Quando alguém peca por livre e espontânea vontade e se afas- ta de Hashem, devido à sua rebeldia, chega um momento no qual Hacadosh Baruch Hu determina que não haverá mais opção de teshu- vá para esse sujeito. Como disse o profeta, a teshuvá seria sua cura, mas ela estará longe dele.

Para ilustrar essa situação, o Rambam traz o exemplo do Faraó, que, a partir da quinta macá (praga), teve seu coração endurecido de vez por Hashem, não lhe permitindo encontrar o caminho para a teshuvá. Ele pecou de livre e espontânea vontade desde o início e fez muito mal a Benê Yisrael, que morava em sua terra. “Vamos encontrar uma forma de vencer e reduzir esse povo”, dizia o Faraó. Hashem, en- tão, julgou e achou por bem impedi-lo de fazer teshuvá.

Mas por que Hashem continuou a mandar ordens ao Faraó, por meio de Moshê, para libertar seu povo? Como o Faraó faria teshuvá, se Hashem endureceu o seu coração? Hashem sabia que o Faraó e seus servos ainda estavam muito longe de temê-Lo.

Hashem diz (Shemot 9:16) que fez a situação se desenvolver no Egito daquela forma para que todo o mundo tomasse ciência de que, quando Ele impede a teshuvá do pecador, o mesmo não conseguirá mais fazê-la. Neste caso o transgressor morrerá rashá, pois foi essa opção que fez em vida – foi ele quem se conduziu para esta situação.

o Rambam afirma que, no início, o Faraó tinha condições de fazer teshuvá. Ele possuía bechirá, como qualquer outra pessoa. Mas, como continuou pecando, escolhendo o caminho contrário às ordens de Hashem, seu coração foi endurecido e a possibilidade de teshuvá, em determinado estágio, retirada.

originalmente, quem pecou não deveria ter chance de fazer teshuvá. Seria o puro exercício da Justiça. Mas Hashem, em sua infinita bondade e misericórdia, concedeu ao homem o benefício da teshuvá. Entretanto, quando a pessoa ultrapassa certo limite, atingindo um extremo de pecados, Hashem reverte a situação à condição original de Justiça, que é a impossibilidade de o pecador fazer teshuvá.

outro exemplo é o Rei de Sichon, que devido a seus inúmeros erros, também teve o coração endurecido e foi impedido de fazer teshuvá. os kenaanim também tiveram o mesmo destino. Hashem foi quem endureceu o coração deles, para que declarassem guerra contra Israel e a perdessem.

o Rambam também cita o caso dos yehudim na época de Eliyáhu Hanavi, quando muitos indivíduos do povo foram longe com seus pecados. Hashem também impossibilitou a teshuvá daqueles que se aprofundaram muito no pecado: “E Você fez o coração deles não estar mais amplo e aberto à teshuvá”.

A conclusão, diz o Rambam, é que não foi Hashem Quem decretou que o Faraó faria mal a Am Yisrael, nem que o Rei Sichon também escolheria este caminho. Tampouco foi Hacadosh Baruch Hu quem induziu os kenaanim a praticar coisas abomináveis ou persuadiu os yehudim, na época de Eliyáhu Hanavi, a fazer idolatria. Todos eles pecaram por livre e espontânea vontade. Todos, por terem ido longe demais em seus erros, acabaram fazendo com que a Justiça de Hashem os impedisse de poder realizar a teshuvá.

PArÁgrAfO 4

תֵאֵמ םָתָלִּפְתִבּ םיִאיִבְנַּהְו םיִקיִדַּצַּה ןיִלֲאוֹשׁ הֶז ןָיְנִעְכוּ :'ד הכלה 'ו קרפ

.'ךֶָכּרְַדּ 'ה יִנרֵוֹה' )אי-זכ םיליהת( דִוָדּ רַמָאֶשׁ וֹמְכּ .תֶמֱאָה לַע םרְָזָעְל 'ה

.ךֶָמְשׁ דוּחִיְו ךְָכּרְַדּ עַדֵא הָנֶּמִּמֶּשׁ תֶמֱאָה ךְרֶֶדּ יַאָטֲח יִנוּעָנְמִי לַא רַמוֹלְכּ

יִחוּר ַחיִנַּתּ רַמוֹלְכּ 'יִנֵכְמְסִת הָביִדְנ ַחוּרְו' )די-אנ םיליהת( רַמָאֶשׁ הֶז ןֵכְו

תוּשׁרְָה הֶיְהִתּ אָלֶּא הָבוּשְׁתִּמ יִנֵעְנָמְל יַאָטֲח יִל וּמרְְגִי לַאְו ךְָצְפֶח תוֹשֲׂעַל

םיִקוּסְפִל הֶמוֹדַּה לָכּ וֹז ךְרֶֶדּ לַעְו .תֶמֱאָה ךְרֶֶדּ עַדֵאְו ןיִבָאְו רוֹזֱחֶאֶשׁ דַע יִדָיְבּ

:וּלֵּא

Neste mesmo sentido, os tsadikim e os profetas pedem a Hashem, em suas tefilot, que Ele os auxilie a encontrar o caminho da verdade. Como David Hamêlech diz (Tehilim 27:11): “Mostra-me Teu Caminho, Hashem, para que trilhe em Tua Torá verdadeira. Que meus pecados não me impeçam de encontrar o caminho da verdade. Pois, por seu intermédio, conhecerei Teus caminhos e a unicidade de Teu Nome”.

David Hamêlech também diz166 (Tehilim 51:41): “Que um espírito

benevolente de Tua parte, Hashem, me dê apoio. Permita que meu espírito faça Sua Vontade. E que os meus pecados não sejam um obs- táculo para minha teshuvá. Que eu sempre tenha o livre-arbítrio, até que eu retorne, entenda e conheça o caminho da verdade”.

Estes pedidos feitos pelos tsadikim, profetas e David Hamêlech, no Tehilim, nos mostram que todos pedem a Hashem que não lhes tire a bechirá, por conta de seus pecados, em virtude de sua frequên- cia ou gravidade, tornando, assim, impraticável a teshuvá.

PArÁgrAfO 5

לַע 'ה רָשָׁיְו בוֹט' )ח-הכ םיליהת( דִוָדּ רַמָאֶשׁ הֶז וּהַמוּ :'ה הכלה 'ו קרפ

חַלָשֶּׁשׁ הֶז .'וֹגְו 'םיִוָנֲע ךְרְֵדַי' )ט-הכ םיליהת( 'ךְרֶָדַּבּ םיִאָטַּח הרֶוֹי ןֵכּ

םֶהָבּ ןַתָנֶּשׁ דוֹעְו .הָבוּשְׁתִבּ ןָתוֹא ןירִיִזְחַמוּ 'ה יֵכרְַדּ םיִעיִדוֹמ םֶהָל םיִאיִבְנ

יֵכרְַדְבּ ךְָשְׁמִנ אוּהֶשׁ ןַמְז לָכֶּשׁ םָדָא לָכְבּ וֹז הָדִּמֶּשׁ .ןיִבָהְלוּ דוֹמְלִל ַחוֹכּ

וּניֵתוֹבּרַ וּרְמָאֶשּׁ הַמ אוּהְו .םָתוֹא ףֵדוֹרְו ןֶהָל הֶוַּאְתִמ קֶדֶצַּהְו הָמְכָחַה

לַע רָזֱעֶנ וֹמְצַע אָצְמִי רַמוֹלְכּ וֹתוֹא ןיִעְיַּסְמ רֵהַטִּל אָבּ הָכרְָבִל םָנוֹרְכִז

ירֲֵה ,'םָתוֹא וּנִּעְו םוּדָבֲעַו' )גי-וט תישארב( הרָוֹתַּבּ בוּתָכּ אלֲֹהַו .רָבָדַּה

הָנָזְו הֶזַּה םָעָה םָקְו' )זט-אל םירבד( ביִתְכוּ .ערַ תוֹשֲׂעַל םיִיּרְִצִמַּה לַע רַזָגּ

הָמָּלְו .הרָָז הָדוֹבֲע דוֹבֲעַל לֵארְָשִׂי לַע רַזָגּ ירֲֵה ,'ץרֶָאָה רַכֵנ יֵהלֱֹא ירֲֵחַא

אָלֶּא הֶנוֹזַּה אוּה הֶיְהִיֶּשׁ ַעוּדָיַּה יִנוֹלְפּ שׁיִא לַע רַזָגּ אלֶֹּשׁ יִפְל .ןֶהֵמ ערְַפִנ

אלֹ דוֹבֲעַל הָצרָ אלֹ וּלִּא הרָָז הָדוֹבֲע דוֹבֲעַל םיִנוֹזַּה ןָתוֹאֵמ דָחֶאְו דָחֶא לָכּ

הֶמוֹדּ הֶז הָמְל אָה .םָלוֹע לֶשׁ וֹגָהְנִמ אָלֶּא ארֵוֹבַּה וֹעיִדוֹה אלְֹו .דֵבוֹע הָיָה

עָשׁרָָה רַמאוֹי הֶז יֵנְפִּמ אלֹ .םיִעָשׁרְוּ םיִקיִדַּצ ןֶהָבּ הֶיְהִי הֶזַּה םָעָה רֵמוֹאְל

.לֵארְָשִׂיְבּ םיִעָשׁרְ וּיְהִיֶּשׁ הֶשׁמְל ַעיִדוֹהֶשׁ יֵנְפִּמ עָשׁרָ הֶיְהִיֶּשׁ ויָלָע רַזְגִנ רָבְכּ

ןֵכְו .'ץרֶָאָה ברֶֶקִּמ ןוֹיְבֶא לַדְּחֶי אלֹ יִכּ' )אי-וט םירבד( רַמֱאֶנֶּשׁ ןָיְנִעָכּ

אלֹ וּלִּא לֵארְָשִׂיְל םיִערֵֵמַּהְו םירִֵצְמַּה ןָתוֹאֵמ דָחֶאְו דָחֶא לָכּ םיִיּרְִצִמַּה

ףוֹסֶּשׁ וֹעיִדוֹה אָלֶּא ַעוּדָי שׁיִא לַע רַזָגּ אלֶֹּשׁ .וֹדָיְבּ תוּשׁרְָה םֶהָל ערַָהְל הָצרָ

םָדָאָבּ ַחוֹכּ ןיֵאֶשׁ וּנרְַמָא רָבְכוּ .םֶהָל אלֹ ץרֶֶאְבּ דֵבְּעַתְּשִׁהְל דיִתָע וֹערְַז

:תוֹיְהִל ןיִדיִתֲעָה םירִָבְדּ אוּה ךְוּרָבּ שׁוֹדָקַּה עַדֵי ךְַאיֵה עַדיֵל

Por que David Hamêlech diz (Tehilim 25:8) que “Hashem é bom e correto, por isso orienta os pecadores para Seu caminho. Conduz os humildes aos caminhos da Justiça e a Seu caminho”? Não há livre-ar- bítrio?

Responde o Rambam que esses pessukim expressam que Hashem enviou profetas que transmitissem Seus caminhos e ensinassem a teshuvá. David Hamêlech louva Hashem por enviar mensageiros para abrir os olhos dos pecadores e ajudá-los a enxergar o caminho corre- to. Isso não significa que Hashem tira o livre-arbítrio dos indivíduos.

o Rambam explica também que existe a força que Hashem nos concede para estudarmos e compreendermos. Para todos os que procuram a chochmá e a justiça; anseiam e correm atrás da verdade e da sabedoria da Torá, disseram nossos chachamim: “Quem vem se

purificar, receberá ajuda dos Céus”. Se alguém dá os primeiros passos na direção da teshuvá, Hashem o auxiliará.

o Rambam cita, novamente, o Faraó e seu povo, que escraviza- ram e fizeram sofrer o povo de Israel. Consta na Torá um decreto de Hashem que os yehudim seriam escravizados pelos egípcios. Se era um decreto de Hashem, como os egípcios podiam ser cobrados por sua maldade? o Rambam responde a esta questão explicando que Hashem não determinou qual egípcio, especificamente, iria subjugá- los. Cada indivíduo tinha o livre-arbítrio de se comportar de forma correta e benevolente. Hashem tampouco estabeleceu que o Faraó seria perverso. Ele, por vontade própria, submeteu-se a esse papel de forma exacerbada. E por isso foi impedido de fazer teshuvá.

Hashem escreveu o que aconteceria com o Povo de Israel, mas não disse quem o faria. Assim como não há decretos sobre quem será rashá ou tsadik. A natureza é que haja bons e maus indivíduos, mas não há um decreto, especificamente, sobre quem será o quê. A opção é de cada um.

Cada um dos egípcios que fez mal a Am Yisrael, se não quisesse fazê-lo, tinha a opção de escolher. Hashem não decreta sobre uma pessoa específica que ela fará o mal. Apenas decreta a situação, sem especificar seu agente causador167.

167 Entretanto, no Capítulo 5 (parágrafo 5), vimos que não temos a capacidade de entender como Hashem concede o livre-arbítrio, ao mesmo tempo em que é onisciente de nossas atitudes.

יעיבש קרפ

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