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Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determinado desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização de atividades externas, independentemente de autorização judicial.

§ 1ºÉ obrigatória a escolarização e a profissionalização, devendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade.

§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à internação.

A medida sócio-educativa de semiliberdade não pode ser aplicada antes da instauração do Devido Processo Legal e do Contraditório, pois se trata de medida privativa de liberdade (art. 186, § 2º do ECA). Essa medida é análoga ao regime semi-aberto do Código Penal105.

O adolescente que se esquadra no regime de semiliberdade deve freqüentar atividades externas durante o dia e permanecer na instituição à noite. Na ocasião da reavaliação da medida são estabelecidos os meios para que o jovem seja escolarizado e profissionalizado, requisitos obrigatórios para a semiliberdade.

O adolescente da semiliberdade tem todo o amparo de profissionais que o ajudam a lidar com os problemas que o levaram a cometer os delitos e, ao mesmo tempo, participa de atividades externas, tendo a possibilidade de exercer sua cidadania e de colocar em prática novas posturas e atitudes, mais condizentes com a sociedade em que vivemos. A semiliberdade funciona como um treinamento para a reintegração total do jovem à sociedade.

A obrigatoriedade da escolarização do jovem é de suma importância em um contexto de ressocialização, visto que sem ela não podem existir valores essenciais como dignidade e igualdade social. Como conseqüência da educação, temos a profissionalização. O ingresso no mercado de trabalho coloca o jovem na direção certa e o afasta da marginalidade.

A semiliberdade abrange duas facetas distintas, pois traz a tona, ao mesmo tempo, duas características opostas: regula a liberdade do

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Márcio Mothé Fernandes, Ação Sócio Educativa Pública: Inovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, p. 90.

adolescente, mas, ao mesmo tempo, dá a ele um leque de oportunidades. De acordo com Mario Volpi, a semiliberdade traz consigo aspectos coercitivos, já que afasta o jovem infrator dos seus entes queridos; entretanto, ao delimitar seus passos, não impede totalmente o seu direito de ir e vir. O intuito da semiliberdade, assim como na internação, é o de oferecer o acesso a serviços, à organização da vida cotidiana106.

A nosso ver, a medida da semiliberdade, além de ser um processo de transição eficiente entre a internação e o retorno do jovem infrator à sociedade, pode se colocar, em grande parte das vezes, como primeira alternativa à medida de internação.

A internação implica em uma mudança muito drástica na vida do adolescente, só devendo ser utilizada como último recurso. A semiliberdade, em nossa opinião atinge melhor a finalidade a que se propõe o ECA, de reintegração do jovem à sociedade.

O programa de Semiliberdade, em Natal tem capacidade para atender a 20 adolescentes, embora atualmente só atenda a 12 (doze) deles, de acordo com informações obtidas em visita feita in loco, em janeiro/2007.

Os Recursos Humanos do programa são formados por 01 (uma) Coordenadora, 01 (uma) Vice-Coordenadora, 01 (uma) Pedagoga 01 (um) Professor de Educação Física, 15 (quinze) Educadores, 03 (três) Policiais Militares, 03 (três) Vigias, 02 (duas) Cozinheiras e 02 (dois) Assistentes de Serviços Gerais. A maior parte deles não está qualificada para o cargo que ocupa.

Embora haja bastante espaço físico não utilizado, as Instalações Prediais não oferecem segurança, algumas portas estão quebradas e sem fechaduras, grades de proteção estão entortadas e o prédio está com o reboco caindo. Segundo a coordenadora do programa, a FUNDAC não faz o serviço de manutenção, o que aumenta a sujeira do prédio e o deteriora cada dia mais.

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Mário Volpi, Sem liberdade, sem direitos – A privação de liberdade na percepção do adolescente, p.26.

Há boa ventilação natural e boa iluminação no prédio, além do local ser limpo e bastante organizado, fatos que tornam satisfatórias as condições de Habitabilidade, higiene e salubridade.

O programa não dispõe de muitos equipamentos, têm somente o básico, como telefone, uma televisão, geladeira e fogão. O trabalho dos técnicos encontra mais um obstáculo na falta de um meio de transporte.

O Tipo de Atendimento carece de uma proposta pedagógica mais incisiva. Os adolescentes da semiliberdade só saem para ir à escola, o restante do tempo ficam na unidade, ociosos. Há uma horta em fase de implementação, mas que está sendo executada e cuidada por um policial e não pelos adolescentes107.

A FUNDAC não realizou, no ano de 2006, nenhum Curso Profissionalizante e, como conseqüência, o encaminhamento ao mercado de trabalho é praticamente nulo. Até mesmo uma precária oficina de reciclagem de papel às vezes não funciona por falta de material. Segundo informações, por ausência de repasse de recursos da FUNDAC, as aulas de reforço estão suspensas.

Os jovens, embora sejam orientados por profissionais, têm uma certa apreensão quanto ao futuro, pois todos enfatizaram que necessitam trabalhar para que a vida de infrações fique para trás.

O compromisso dos técnicos com os adolescentes é a única base de apoio do jovem, pois não há um acompanhamento sistemático à família.

Não foi preciso muito para que percebêssemos que o adolescente da semiliberdade fica bastante ocioso, passa o dia assistindo à televisão e fazendo algumas atividades cotidianas da casa. Basta uma olhada no programa fornecido pela coordenação para que fique claro que não existe uma rotina diária atrativa para o jovem.

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Os dados e informantes deste programa, foram colhidos em visita in loco e entrevistas realizadas junto ao corpo técnico e coordenação do programa de Semiliberdade.

TABELA 5 ROTINA DE ATIVIDADES HORÁRIO ATIVIDADES 7h30 às 8h30 Café da manhã 8h00 às 8h30 Atividades da casa 8h30 às 9h30 Livre 9h30 às 11h30 Sala de aula 11h30 às 12h00 Higiene corporal 12h00 às 12h30 Almoço 12h30 às 13h30 Repouso 14h00 às 15h00 Oficina de papel 15h00 às 17h00 Sala de aula 18h00 às 19h00 Jantar

FONTE: Programa de Semiliberdade - FUNDAC/ janeiro/2007.

O jovem, assim como qualquer pessoa, precisa ocupar o tempo. A ociosidade só serve para desestimular o adolescente e tirar dele o desejo de mudar efetivamente de vida. A sua primeira preocupação deixa de ser a reintegração social e passa a girar em torno da fuga e de novos delitos.