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3 AS SENTENÇAS INTERMEDIÁRIAS: ALTERNATIVAS DECISÓRIAS PARA AS

3.5 Tipologia das sentenças intermediárias ou manipulativas em sentido amplo

3.5.4 Sentenças manipulativas com efeitos aditivos

3.5.4.6 Sentenças substitutivas

As sentenças substitutivas são consideradas sentenças interpretativas de acolhimento, por meio das quais a Corte Constitucional pressupõe que o legislador deveria ter positivado uma coisa em vez de outra que se mostra incompatível com a Constituição. Com isso, esta sentença procede à substituição do segmento normativo inconstitucional por outro que lhe seja compatível. Nesta decisão manipulativa, a declaração de inconstitucionalidade incide “na parte em que” dispõe algo, “ao invés” de dispor outra coisa, operando-se a própria sentença a junção, explícita ou implícita, do “quid” normativo que o preceito não acolheu629. Em outras palavras, o Tribunal Constitucional declara a inconstitucionalidade da norma na parte em que é considerado ilegítima. Em seguida, acrescenta, em substituição, um critério diverso que não deve ser conjugado com o segmento da norma não julgado inconstitucional. A principal característica é que a componente reconstrutiva não é decorrência lógica do segmento remanescente630.

Há semelhanças entre as sentenças aditivas e substitutivas, ao ponto de parte da doutrina negar autonomia a estas631. As semelhantes se referem à declaração de inconstitucionalidade parcial de norma ou preceito normativo. Ambas abarcam tanto uma componente ablativa ou eliminatória de uma norma inconstitucional, como também uma componente reconstrutiva, por via da qual se adita um critério de decisão ao segmento constitucional da norma remanescente, além do perfil reparador com eficácia imediata, que pretende conferir sentido ou salvar a parte remanescente da norma não afetada pela decisão632.

No entanto, a distinção reside no fato de que as sentenças aditivas tanto podem reduzir ou não o texto normativo, enquanto as sentenças substitutivas implicam, em regra633, na ablação parcial da própria disposição, com eliminação do texto, seguido da junção de um

629 MORAIS. Justiça Constitucional... Op. cit., p. 405. Ver ROMBOLI, op. cit. p. 65. a Corte declara a inconstitucionalidade da lei na parte em que prevê uma coisa, em vez de outra. Há duas partes na decisão. A primeira, demolitória da disposição impugnada; segunda, a reconstrutiva, através da qual, se procede a dotar a mesma disposição de um conteúdo diferente, de acordo com princípios constitucionais. Reconstrói o conteúdo existente, declarado inconstitucional, por outro compatível com a Constituição. Ver também: BELLOCCI, M. e GIOVANNETTI, op. cit.; e D'ATENA, op. cit.; VEGA, op. cit. p. 219-223; LLORENTE, op. cit. p. 37.

630 CASTRO, op. cit. p. 138-140. ZAGREBELSKY, op. cit. p. 156-162. BRUST, op. cit. p. 177-182.

AMARAL, op. cit.

631 CANAS, op. cit. p. 98. No sentido de que sentenças substitutivas não merecem tratamento autônomo.

632 MORAIS. Justiça Constitucional...Op. cit., p. 405-407.

633 No caso do julgamento do parágrafo único do art. 14 do CPC/1973 pelo STF (ADI 2652) houve uma verdadeira sentença substitutiva sem redução de texto. Nesse sentido: BRUST, op. cit. p. 180-181.

enunciado normativo que modifica o pensamento do legislador do segmento eliminado do mesmo preceito. A segunda diferença é que a parte reconstrutiva das sentenças aditivas decorre de interpretação extensiva ou analógica do preceito ou ainda da sua integração constitucional. Nas sentenças substitutivas, o enunciado reconstrutivo não deriva, em regra, da disposição impugnada, nem é consequência da parte remanescente da disposição, muito menos constitui uma solução normativa ditada por uma norma constitucional exequível em si mesma634.

É de se reconhecer, entretanto, que as sentenças substitutivas podem ser confundidas com sentenças aditivas do tipo integrativo635, já que ambas implicam ablação do texto e o preenchimento de um vazio normativo, em regra, gerado pela decisão. O que difere, entretanto, é que a componente reconstrutiva das sentenças aditivas integrativas é que as sentenças substitutivas não respeitam o “espírito” do segmento normativo eliminado, adicionando um novo preceito portador de um pensamento jurídico alternativo636.

As sentenças substitutivas são alvo de muitas críticas da doutrina, pois constituem típico exercício de função paralegislativa, em substituição do legislador637. Por isso, representam uma das mais expressivas manifestações de ativismo judicial638 e, por serem altamente perturbadoras do princípio da separação de poderes, são consideradas ilegítimas639. De outro lado, como visto, nas hipóteses de omissões inconstitucionais relativas definidas, nas quais não há margem de discricionariedade para o legislador em razão de existência de uma única solução válida imposta pela Constituição, admite-se a prolação de sentenças aditivas com o fim de corrigir a violação ao princípio da isonomia640.

No Brasil há quem defenda que no julgamento da ADI 2.652-6/DF, que estendeu a regra de exceção do art. 14, parágrafo único, do CPC anterior para advogados públicos,

634 MORAIS. Justiça Constitucional...Op. cit., p. 406. CASTRO, op. cit. p. 138-140. ZAGREBELSKY, op. cit.

p. 156-162. BRUST, op. cit. p. 177-182. AMARAL, op. cit.

635 CANAS, op. cit. p. 94-97. MIRANDA. Manual de Direito Constitucional. Tomo VI... Op. cit., p. 87.

636 MORAIS. Justiça Constitucional...Op. cit., p. 407. O problema reside no fato de que as sentenças substitutivas surgiram frequentemente sob disfarce de sentença integrativa. No Brasil, basta ver o julgamento da ADI 2652.

637 MEDEIROS, ob. cit., p. 477. ZAGREBELSKY, ob. cit. p. 156-162.

638 Sobre o conceito de ativismo judicial, confira: CANON, Bradley. “Judicial Activism. Judicature, vol. 66, 1982-1983, p. 239. No Brasil: TASSINARI, Clarissa. Jurisdição e Ativismo Judicial: Limites da atuação do judiciário. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013, p. 23-24. STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica da construção do Direito. 11ª edição. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2014, p. 52-54 e p. 64-65. RAMOS, Elival da Silva. Ativismo Judicial. Parâmetros Dogmáticos. 2.

ed. São Paulo: 2015, p. 212 e ss.

639 MORAIS. Justiça Constitucional...Op. cit., p. 405.

640 CRISAFFULI, op. cit. p. 406-408.

substituindo a literalidade do texto sem, contudo, reduzi-lo, constituiu típica sentença substitutiva641.

641 Nesse sentido: BRUST, Léo. Controle de Constitucionalidade: a Tipologia das Decisões do STF. Curitiba:

Juruá Editara: 2014, p. 180-181.

4 BENEFÍCIO INCOMPATÍVEL COM O PRINCÍPIO DA ISONOMIA NA