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NUDESE/FURG

4. Emancipação do trabalho e dos trabalhadores sob a ordem do capital: é possível? ordem do capital: é possível?

4.1 Ser trabalhador/pescador em tempos de reificação da mercadoria mercadoria

A expropriação dos trabalhadores em tempos de reificação da mercadoria não se dá de forma passiva; ao menos não em todos os momentos de nossa história. As tentativas de avanço para a emancipação, empreendidas pela classe de trabalhadores teve seu primeiro ápice, pode-se dizer, com a Comuna de Paris, em 1871, quando um levante de operários se apossou de fábricas onde antes eram empregados, dando início a um processo de autogestão, ou seja, os próprios trabalhadores administram o processo de produção em benefício do coletivo.

Por cerca de dois meses, esses trabalhadores desenvolveram formas de gerir as fábricas às quais estavam vinculados; mais do que isso: eles estabeleceram, para além de seus portões, processos de autogestão também na esfera pública.

Tais processos marcaram a história na medida em que, até então, não se vislumbrava a possibilidade de que trabalhadores conseguissem gerenciar suas atividades cooperadas no interior das fábricas, antes geridas com estruturas extremamente hierarquizadas. Nascimento (2012) ressalta, com propriedade, que a Comuna de Paris inaugurou a era da expropriação dos expropriadores como forma política – a emancipação econômica do trabalho, que passa da condição de assalariado para associado.

A Comuna de Paris representa, na visão de Marx, o primeiro Estado operário. Para ele, o segredo desse movimento era, essencialmente, um governo da classe operária, fruto da classe produtora contra a classe apropriadora, a forma política enfim descoberta para levar adiante de si a emancipação econômica do trabalho (MARX, 1986).

Segundo a oportuna descrição de Bertelli (1986), no prefácio da obra de Marx (1986) “A guerra civil na França”,

os acontecimentos de 1870-1871 representam o fechamento de um ciclo histórico: o domínio da burguesia conservadora européia, aliada à burguesia democrática, e o ressurgimento do proletariado, porém agora como movimento autônomo, independente, consciente de seu papel histórico e certo de seus objetivos. Daí em diante, o proletariado percebeu que somente organizando-se como classe, formando o seu próprio partido, exigindo suas reivindicações próprias, sem contar com as camadas burguesas democráticas para liderá-lo, poderia entrar na cena histórica e deixar de ser mero espectador da peça que se desenrolava no palco da sociedade. Deixava de ser

uma classe em si, para se transformar numa classe para si. (In: MARX, 1986, p. 13).

Para os trabalhadores, o momento histórico em questão significou o descortinamento do véu que escondia sua ontologia social na roupagem dos social-democratas, os quais limitavam o espaço que esses trabalhadores deveriam ter, por direito, nas conquistas da revolução burguesa instalada. Eles passam, então, a lutar não mais pela classe enquanto agrupamento de pessoas que participavam de um movimento histórico e dialético, de mudança da estrutura produtiva social, liderada pelos social-democratas burgueses (e representantes do capitalismo que se criava com forte base na propriedade privada), assim, alteram qualitativamente sua luta; de uma luta de classes em si, passam a uma luta de classes para si, o qual significa um estágio qualitativamente superior na luta pela emancipação humana.

Os limitados 72 dias de existência da Comuna de Paris têm nos possibilitado apontar seus erros; ressaltamos, contudo, que fazemos isso como defensores de uma sociedade organizada e administrada pelos trabalhadores. Semelhante ao nosso posicionamento perante os ensaios que o Projeto Rede procura desenvolver com as diferentes comunidades de pescadores artesanais do ELP e da Lagoa Mirim, cujo propósito tem sido o de torná-los o mais emancipados possível dos mandos e desmandos do capital e de seu Estado protetor.

Trazer a relação do momento histórico vivenciado pelos trabalhadores na França de 1871, e prospectar uma organização dos pescadores nos princípios desse movimento – a Comuna de Paris – não nos limita a apontar erros. Ao contrário, nesta tese buscamos aprender com a vivência dos trabalhadores/pescadores artesanais envolvidos com o Projeto Rede e a experiência contada pela história, dos operários franceses, extraindo daí o máximo de ensinamento proporcionado por essa heroica revolução operária, como algo a ser refletido enquanto processo de luta contra o modo de produção que exige do trabalhador produzir para além de suas necessidades.

Nascimento (2012), ao comentar a não vitória do movimento revolucionário da Comuna de Paris (utilizando-se, para tanto, da leitura de outros pensadores), atribui essa não vitória dos trabalhadores ao baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas existentes na época e ao despreparo dos trabalhadores enquanto revolucionários, ambas condições tidas como primordiais para que se efetive a real vitória de superação do capitalismo.

A Comuna de Paris possuía um programa político, no qual defendia temas como “Direitos de viver”, “Liberdades” e a discussão envolvendo “Evolução ou revolução”. Abordaremos este último tópico na próxima seção, na qual procuramos demonstrar nossas (auto)indagações e reflexões relativas ao movimento da classe de trabalhadores, que procura por sua autonomia e emancipação.

Antes, porém, tecemos algumas considerações relativas ao trabalho, com base na economia política, por entendermos a centralidade que o mesmo tem na ontologia social da vida humana e, como não poderia deixar de ser, a relevância que ele possui no sistema de produção capitalista, apresentando-nos o grande desafio que se constitui na contradição capital e trabalho e a vida social no planeta.

Conforme comenta Harvey (1996, p. 101), “O mundo da classe trabalhadora torna-se o domínio do ‘outro’, tornado necessariamente opaco e potencialmente não conhecível em virtude do fetichismo da troca de mercado”. O ‘domínio do outro’ aludido pelo autor está relacionado ao ambiente de trabalho do trabalhador e ao estranhamento que lhe causa no espaço/tempo em que está mergulhado, ao realizar suas tarefas produtivas, conforme vimos salientando nesta tese e que continuaremos a expor na presente seção.

A evolução do sistema do capital tem conduzido a humanidade a uma armadilha. A vida no planeta está sob risco, devido aos níveis alarmantes alcançados de exploração dos principais recursos da natureza. Por isso, concordamos com Mészáros (2002; 2007) quando chama a atenção para o atual momento de nossa história, a qual qualifica de ‘bifurcação’ entre caminhos. Um deles seria seguir com o atual predomínio de hegemonia do capital e o aumento da exploração da natureza para além dos limites de sua recuperação, com a previsível extinção da espécie humana na forma existente. O outro é o utópico caminho da imensidão do novo, que pode conter alternativas de vida sustentáveis, enquanto promotoras de uma prática humana emancipada de amarras, que encontre formas de revolucionar continuamente a si mesma e que, para isso, entendam a vida como um processo dialético.

Na condição de humanos, se compreendermos o momento histórico presente como sendo de ‘bifurcação’, é porque nos demos conta, em tempo, de transformarmos a materialidade tal qual a encontramos na atualidade, e conseguimos sentir e compreender o que move a realidade tão desigual de nossos espaços de vivência.

Espaços cada vez mais homogeneizados pela cultura e lógica do capital, com seus antagonismos entre produção e consumo, trabalho vivo e trabalho morto, lucros e

concorrência, entre outras situações que se criam, se desenvolvem e se superam, as quais têm feito surgirem abismos na esfera econômica e, por assim dizer, entre a necessidade humanamente social e a necessidade de desenvolvimento do capital.

Cabe considerar que, sob forte desenvolvimento e abrangência do sistema do capital, entranhados em todos os espaços sociais, seja nas artes, na educação, na ciência etc. e, influenciados fortemente pelos meios de comunicação, coniventes e ‘alienados’, os indivíduos encontram-se não somente vinculados a tal sistema, mas anestesiados por ele.

Portanto, apenas compreender a totalidade desse sistema não representa sua superação, para o que é imprescindível efetivar-se ações concretas que promovam uma outra forma de se viver em sociedade.

Entendemos que mudanças em direção a uma outra ordem social requerem a conscientização de que estamos vivendo sob uma ordem na qual poucos são os privilegiados e muitos os injustiçados, e que, apesar de seus crescentes antagonismos, sempre buscará saídas para suas crises, utilizando-se de todas as formas disponíveis (que são muitas) para garantir a riqueza já expropriada em seu poder. Para romper com isso, é necessária e urgente uma ação coletiva e, portanto, socializada, com embasamento teórico e metodológico que propicie a emancipação humana.

Ao indivíduo, se isolado, resta pouco a fazer, mas aos indivíduos, enquanto produtores associados, com vínculos e atitudes que extrapolam suas esferas de realização do trabalho, estaria sendo construído o potencial de uma possibilidade para a criação de espaços revolucionários, no qual uma outra ordem social, emancipatória e autônoma possa ser planejada e praticada.

As ações de um indivíduo isolado não terão relevância; nada conseguirão transformar além dele próprio e do microcosmo que vive49

. No máximo, constituirão uma ação pontual que pode, por vezes, beirar o heroísmo, mas que não terão os efeitos esperados contra o sistema que o oprime. E isso porque geralmente o indivíduo se encontra na armadilha da busca pela vivência material, em um sistema que ofusca e impede sua autoemancipação imediata.

49Com esta afirmação, não pretendemos desvalorizar os microcosmos enquanto espaços de atuação importante de envolvimento e de ação social e que podem dar origem, criativamente, a redes de microcosmos com o potencial de demonstrar uma alternativa viável ao sistema capitalista. No entanto, a partir do que propomos enquanto método de pesquisa para esta tese, optamos por uma perspectiva ampliada de mobilização para uma ação efetiva e necessária, devido à urgência da degradação social e ambiental em que vivemos, partindo dos produtores associados, compreendidos, por sua vez, não somente por quem está diretamente vinculado ao processo produtivo, mas também por toda a esfera comunitária a eles ligada.

Ao nos inserirmos neste contexto, enquanto agente social humano e pesquisador e, neste momento, ao escrevermos uma tese no âmbito da Educação Ambiental, reiteramos a importância e a necessidade de avançarmos na discussão relativa a uma educação que insista em seus pressupostos de emancipação humana, que liberte o indivíduo do pensamento hegemônico burguês, com vistas a seguir a vocação ontológica de ‘ser mais’. Isso porque entendemos a educação como ato político e, portanto, lutamos em favor da educação que problematize as esferas de poder inibidoras da emancipação humana, da transformação criativa e da forma de pensar e agir desalienada do indivíduo em relação ao meio social.

Para o trato com o tema da emancipação humana, buscamos contribuição de Damo et al., ao afirmarem que

O processo emancipatório implica em romper com os condicionantes sociais que impedem e obstaculizam o desenvolvimento humano, possibilitando ao sujeito desse processo, que é a classe trabalhadora, libertar sua prática e sua consciência, agindo em favor de si própria, e não da classe dominante, inteiramente alheia aos seus anseios e necessidades. (DAMO, et al., 2013, p. 108).

Aí reside nossa discordância com o que está posto ou, ainda, com o que está sendo (im)posto pela ordem do capital. Exemplo disso pode ser sentido nos mecanismos de coação efetuados por organismos de crédito internacional a países endividados. Fato que ocorreu, também, com o Brasil nas décadas de 80 e 90, quando o Banco Mundial (BIRD) e outros organismos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), de certa forma, impuseram, como condicionante a novos empréstimos para fazer frente ao endividamento externo desses países, o alinhamento de seus sistemas educacionais com as políticas educacionais por eles elaboradas.

Conforme bem pontua Coraggio (1996), o endividamento externo de países como os da América Latina fez enfraquecer até mesmo sua autonomia política perante organismos credores internacionais, os quais, por sua vez, são representantes de instituições multilaterais de crédito, comandadas por corporações vinculadas à ordem do capital.

A crítica de Coraggio (op. cit.) direciona-se aos resultados negativos dos receituários econômicos neoliberais impostos aos países endividados, denominados de Consenso de Washington, e postos em prática, principalmente, pelo Banco Mundial e pelo FMI a partir da década de 1980.

Dentre as medidas integrantes do mencionado receituário, as de caráter econômico acarretaram, em muitos casos, maior empobrecimento das populações dos países que sofreram tais imposições, ao gerarem uma canalização de volumes consideráveis de dinheiro para os bancos credores, situados nos países centrais do capitalismo, os quais se beneficiaram das altas taxas de juros cobradas, ampliando a desigualdade social e acentuando a degradação ambiental.

A desigualdade social constitui-se como luta e unidade das contradições da política, da economia e da cultura, fazendo com que a degradação ambiental se acentue pela falta de uma consciência crítica, impedida de ser desenvolvida em razão das condições materiais oferecidas pelos receituários dos órgãos financiadores e da imposição de objetivos e metas a serem atingidos pelos países endividados.

Tais medidas de caráter neoliberal foram igualmente impostas e inseridas nas políticas públicas educacionais do Brasil e de outros países da América Latina. Mais do que considerar que tais políticas públicas educacionais tenham a intenção de investir no desenvolvimento do ‘capital humano’, preparando-o para o mercado, é preciso compreender que elas embasam a economia neoclássica e que não só causaram, mas continuam causando, distorções e erros na condução das políticas econômicas locais nas últimas décadas, com efeitos deletérios sobre a sociedade e a natureza. Do mesmo modo, têm servido de base para a implementação de políticas públicas de uma forma geral, o que inclui as educacionais, de vários países periféricos do capital, dentre os quais, o Brasil.

No que se refere às consequências dessas imposições por parte do Banco Mundial e do FMI aos países endividados, no tocante à implementação de modelos educacionais coniventes com o sistema do capital e tendo como apoio a teoria econômica neoclássica (e, por isso, neoliberal), Coraggio faz as seguintes considerações:

Em consequência, não seria de estranhar que sua proposta básica para o sistema educativo consista em (até onde for possível) deixar a atividade educacional à mercê do mercado e da concorrência para que a interação entre consumidores e fornecedores de serviços educacionais defina a quantidade de educação, seus conteúdos e pedagogias, suas formas de estruturação, em que áreas e a que preços deve ser oferecida. Mas essa proposta nada mais faz que reencontrar o que já foi introduzido pela mesma teoria como princípio filosófico irrefutável, não testado, de que os mecanismos de mercado são intrinsecamente superiores a qualquer forma de coordenação da atividade humana. (CORAGGIO, 1996, p. 103).

No sentido de reforçar o posicionamento aqui adotado, para o qual é imprescindível um sistema educacional emancipador para a construção de uma sociedade baseada em valores éticos e universais, destacamos, de Gadotti, o excerto a seguir para demonstrar nossa posição frente à questão política da educação que estamos entendendo como transformadora:

Por isso, a educação é um ato de desobediência e desordem. Desordem em relação a uma ordem dada, pré-ordem. Uma educação autêntica re-ordena. É por essa razão que ela perturba, incomoda. É nessa dialética ordem-desordem que se opera o ato educativo, o crescimento espiritual do homem... Educar é fazer ato do sujeito, é problematizar o mundo em que vivemos para superar suas contradições, comprometer-se com esse mundo, para recriá-lo constantemente... É pela transformação do mundo que tomo consciência do mundo. (GADOTTI, 1980, p. 89-90).

Assim, Gadotti (op cit.) nos coloca diante de uma educação problematizadora da realidade, em vez daquela que domestica o ser humano e lhe tolhe sua condição humana e ontológica de ser mais. Segundo afirmação de Guareschi (1989, p. 70), baseada na etimologia da palavra educação, ela significa ‘tirar para fora’ e, por isso, “a educação supõe, pois, que a pessoa não é uma ‘tábula rasa’, mas possui potencialidades próprias, que vão sendo atualizadas, colocadas em ação e desenvolvidas através do processo educativo”.

As opções existentes na ‘bifurcação’ atual em que nos encontramos, apontada por Mészáros (2002; 2007), e anteriormente comentada, se dão entre compreender o processo de alienação sob o jugo do capital como algo natural à vida social ou reconhecer o processo histórico dessas formações sociais e, de algum modo, reagir às relações alienantes.

O modo capitalista de produção de nossa existência é reflexo das relações do sistema de valoração do trabalho humano, plasmado sob a forma de mercadorias que, se por um lado, têm valor de uso para seu produtor, passam a ter valor de troca na medida em que possui valor de uso para outro, pois segundo Marx (1982, p 47-48), “quem, com seu produto, satisfaz a própria necessidade gera valor de uso, mas não mercadoria”. Portanto, o produto do trabalho humano somente é considerado mercadoria quando for produzido para outrem.

Mello (1999), em sua obra “Marx e a globalização” fornece importante contribuição para nos ajudar a compreender a relação do valor na produção, no interior da lógica do mercado. Afirma ele:

Antes de mais nada, o modo capitalista de produção é, numa primeira dimensão, um modo de produção de mercadorias. Um mundo (o primeiro na história) plasmado pelo mercado, pela produção voltada para a venda (e não para o uso direto dos produtores), onde o valor-de-troca já alçou à condição de finalidade última e fundamento de toda a atividade econômica – o estatuto de força motriz e vetor hegemônico e universal de impulsão e dinamização das relações sociais de produção. (MELLO, 1999, p. 157).

A mercadoria, então, é reificada no modo de produção em pauta e, como bem lembra Lefebvre (2011), ao se referir à mercadoria, independentemente dessa relação dialética (entre valor de uso e valor de troca), uma única propriedade lhe resta: a de ser a mercadoria produto do trabalho humano. No dizer de Marx acerca do ponto em debate,

O trabalho do alfaiate e o do tecelão são os elementos que criam valores de uso, casaco e linho, exatamente por força de suas qualidades diferentes; só são substância do valor do casaco e do valor do linho quando se põem de lado suas qualidades particulares, restando a ambos apenas uma única e mesma qualidade, a de serem trabalho humano. (MARX, 1982, p. 52).

Por ser trabalho humano, é comparável e mensurável com outros produtos do trabalho, assumindo, assim, aspecto social; por isso a mercadoria representa um tempo de trabalho social médio.

Para avaliar a relação entre produtor e consumidor no sistema do capital, o tempo de trabalho assume a centralidade do preço como medida de valor de troca, pois é a quantidade de tempo de trabalho investida em uma mercadoria que determina seu preço.

Um valor de uso ou um bem só possui, portanto, valor, porque nele está corporificado, materializado, trabalho humano abstrato. Como medir a grandeza do seu valor? Por meio da quantidade da “substância criadora de valor” nele contida, o trabalho. A quantidade de trabalho, por sua vez, mede-se pelo tempo de sua duração, e o tempo de sua duração, por frações do tempo, como hora, dia, etc. (MARX, 1982, p. 45).

O valor de troca das mercadorias (que podemos extrapolar para o valor dos serviços) é determinado pelo tempo de trabalho nelas aplicado, adicionados os custos de produção e o valor das matérias-primas empregadas.

O trabalhador vende a força de trabalho ao proprietário dos meios de produção, ou seja, ao capitalista, não-trabalhador; este, por sua vez, apropria-se de parte da força de trabalho impregnada na mercadoria produzida. O preço da mercadoria é tal qual seu

‘custo real’ – o lucro do capitalista está no excedente do trabalho não consumido por seu produtor, o trabalhador.

Com o referido mecanismo de valoração, parte do trabalho realizado pelo trabalhador não é pago a ele, mas sim ao não-trabalhador, o capitalista, que se apropria de parte desse trabalho, ou seja, expropria do trabalhador parte de sua força de trabalho, a qual Marx denomina ‘mais-valia’ (MARX, 2006).

Conforme comentado em seção anterior, o trabalhador/pescador do ELP extrai seu objeto de trabalho da natureza e o vende ao atravessador, igualmente um não-trabalhador, que representa o primeiro elo entre o trabalhador/pescador e o consumo, e que venderá a outro não-trabalhador, capitalista, proprietário de fábrica de processamento de pescado.

Assim, o preço que esse trabalhador/pescador recebe pelo fruto de seu trabalho é ditado pelo não-trabalhador/capitalista, com base na lógica da maximização do lucro e da busca da satisfação máxima pelos consumidores. O raciocínio empregado provém de que humanos maximizam suas satisfações ao adquirirem produtos no mercado, valorizando o dinheiro que carregam, numa relação de custo-benefício, pressupondo que os indivíduos tenham perfeita informação acerca dos produtos e seus preços (PINDICK