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Serviços de Tecnologias de Apoio

SA Siglas e Acrónicos

2.3 Serviços de Tecnologias de Apoio

Devido à natureza técnica e frequentemente clínica dos PA, a mediação entre o utente/beneficiário e o fabricante do equipamento em geral é efetuada por um Sistema de Prestação de Serviços (SPS), que pode ser definido como qualquer serviço que auxilia diretamente um indivíduo com deficiência ou incapacidade na seleção, aquisição ou uso de um equipamento de PA.

O processo de assistência pode ser caracterizado pelas seguintes etapas (EUSTAT, 1999):

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2. Avaliação e identificação de necessidades, incluindo uma avaliação funcional do indivíduo no seu ambiente habitual;

3. Identificação da tipologia da solução, ou seja, o tipo de PA que satisfaz a necessidade;

4. Experimentação, personalização, treino do uso de equipamento;

5. Seleção do conjunto específico de produtos e serviços, com respeito a marcas, modelos e configurações de montagem entre equipamentos, se for o caso;

6. Aquisição do equipamento pelo próprio utilizador ou familiares, concessão por entidade financiadora, ou uma combinação de ambos;

7. Implementação do uso do equipamento no contexto de vida do utilizador; 8. Seguimento e avaliação, incluindo adaptação, manutenção, reparação e

substituição do equipamento.

Segundo o Center on Disabilities da Califórnia (CSUN, 2006), existem dois modelos distintos que permitem classificar os sistemas de prestação de serviços de produtos de apoio:

1ºModelo: “Paradigma do déficit individual”, o foco é a pessoa com deficiência ou incapacidade. A natureza do problema é a falha no desempenho das atividades e as consequências para o indivíduo são a internalização do papel do diferente e a aceitação de um estatuto menor. Os resultados pretendidos são a promoção da capacidade funcional, o retorno ao trabalho, a promoção de ajustes personalizados, o menor suporte de serviços.

2ºModelo:“Paradigma tecnológico/ecológico”, o foco está nos sistemas de recursos de PA: informações, financiamento, avaliação e desenvolvimento. A natureza do problema é a falta de acesso aos recursos apropriados: ferramentas, informação e treino. As consequências para o indivíduo são a internalização de um estatuto de consumidor/cliente. Sendo os resultados pretendidos, a promoção de oportunidades iguais e de escolhas livres, bem como a realização de objetivos pessoais.

A reflexão sobre os diferentes modelos de SPS auxilia a projetar ações para garantir que os investimentos nesta área atendam aos seus objetivos de promover a funcionalidade e a participação social da pessoa com deficiência ou incapacidade, em igualdade de condições, sem riscos de subutilização ou abandono dos recursos, consequência de uma dissociação entre o que é realmente necessário ao beneficiário e o que lhe é concedido. Os SPS evoluíram de forma natural, são cada vez mais centrados

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no beneficiário, no desenvolvimento tecnológico, nas políticas para a remoção de barreiras sociais e estruturais e na equiparação de oportunidades. (Brasil, 2009) O estudo europeu HEART considera os Sistemas de Prestação de Serviços (SPS) como um meio de facilitar o acesso das pessoas com deficiência ou incapacidade aos PA ou recursos, quer seja através de ajuda financeira, competência profissional, informação, formação, entre outros (HEART- Line C, 1994). Este estudo reforça que o SPS deve simultaneamente otimizar a relação entre o custo e eficácia, reduzir barreiras económicas para os beneficiários e empresas, e minimizar os custos administrativos. Considerando que um bom sistema deve ser capaz de adaptar-se à evolução das necessidades individuais, ao mercado, às características demográficas e permitir usufruir dos desenvolvimentos tecnológicos.

Considerando as enormes diferenças existentes nos vários países da Europa e dado que cada país tem um SPS diferente, o modo de ministrar formação sobre os SPS deveria ser ajustado ao grupo alvo e contexto específicos. É particularmente importante, compreender o funcionamento do SPS e eventuais alterações, quer seja por questões política, legislativas ou disponibilidade. A qualidade de um SPS de produtos de apoio pode ser melhor analisada considerando seis parâmetros fundamentais (HEART, 1995):

1. Acessibilidade (em que medida o SPS é acessível para os que dele necessitam);

2. Competência (em que medida apresenta soluções competentes, as diferentes necessidades individuais);

3. Coordenação (uma estrutura única em vez de um conjunto de decisores isolados);

4. Eficiência (em termos de economia, qualidade e oportunidade); 5. Flexibilidade (capacidade de resposta a diferenças individuais);

6. Influência do utilizador (em que medida respeita a opinião dos utilizadores). Em relevância e alusivo ao estudo desta dissertação, a componente “Serviços” presente na Classificação das Tecnologias de Apoio nos EUA (National Classification System for

Assistive Technology Devices and Services), é definida como qualquer serviço que

auxilia diretamente um indivíduo com uma deficiência na seleção, aquisição ou utilização de um PA. E apresenta como subclasses: (NCSATDS, 2000)

• Avaliar as necessidades de uma pessoa com deficiência (avaliação individual); • Apoio para adquirir PA/serviços (aquisição, apoio financeiro ou de outra forma que prevê a aquisição de PA);

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• Seleção de recursos e serviços e utilização dos serviços (Seleção, conceção, montagem, personalização, adaptação, aplicação, manutenção, reparação ou substituição de PA);

• Coordenação/articulação com outras terapias, intervenções e serviços;

• Treino e assistência técnica para um indivíduo com deficiência ou a família de uma pessoa com deficiência;

• E outros serviços de apoio, dos quais se destaca os serviços de reutilização dos PA. Inclui serviços aluguer, empréstimo e doação, e constante realce à manutenção, reparação e substituição em caso de PA danificados ou quebrados. No caso português, os serviços mais comuns são os atos de prescrição e financiamento, sendo atribuição de PA definida pelo Instituto Nacional de Reabilitação (INR), entidade que aprova e publica as normas que regulam a atribuição, definindo os procedimentos das entidades prescritoras e financiadoras dos PA. Cuja filosofia principal assenta na dotação financeira de entidades prestadoras de serviços de saúde, reabilitação, formação profissional e emprego, e de solidariedade social.(INR, 2013) Por necessidade em cumprir o papel do Estado, na adoção de medidas que assegurem o fornecimento, adaptação, manutenção ou renovação dos PA, garantindo a igualdade equitativa de oportunidades e justiça social. Obrigou a uma reformulação do sistema, de forma, assegurar a igualdade de oportunidades de todos os cidadãos , promovendo a integração e participação das pessoas com deficiência e em situação de dependência, e desta forma alcançar o desiderato de justiça social. Neste sentido foi criado o sistema de atribuição de produtos de apoio (SAPA), com o intuito de garantir a eficácia do sistema, a eficiência de aplicação criteriosa, e consequentemente a desburocratização do sistema sobretudo ao nível das exigências às entidades prescritoras, culminando com a criação de uma base de dados centralizada dos pedidos efetuados, permitindo um melhor controlo dos mesmos.

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SAPA (Sistema de Atribuição de Produtos de Apoio)

Em Portugal, surge na década de 90, criado por despacho conjunto dos ministros que tutelavam as áreas da saúde e do trabalho e da solidariedade social, o sistema supletivo de ajudas técnicas e tecnologias de apoio para pessoas com deficiência. Porém, face a alguns obstáculos identificados no sistema supletivo, à necessidade de dar cumprimento à Lei n.º 38/2004, de 18 de Agosto, na parte em que dispõe que «compete ao Estado adotar medidas específicas necessárias para assegurar o fornecimento,

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adaptação, manutenção ou renovação dos meios de compensação que forem adequados» (República, 2004), e ao I Plano de Ação para a Integração das Pessoas com Deficiência ou Incapacidade, na parte em que se refere o objetivo de proceder à «revisão do sistema supletivo de financiamento, prescrição e atribuição de ajudas técnicas e conceção de um novo sistema integrado» (República, 2004), considerou-se necessário proceder a uma reformulação do sistema com vista a identificar as dificuldades existentes e adotar as medidas necessárias para garantir a igualdade de oportunidades de todos os cidadãos, um sistema facilitador de autonomia, promover a integração e participação das pessoas com deficiência e em situação de dependência na sociedade e promover uma maior justiça social e inclusão. (SAPA, 2009)

Surge assim, o decreto-Lei n.º 93/2009, de 16 de Abril, que cria de forma pioneira e inovadora o enquadramento legal para o sistema de atribuição de produtos de apoio (SAPA), que vem substituir o então sistema supletivo de ajudas técnicas e tecnologias de apoio, de modo a garantir, por um lado, a eficácia do sistema, a operacionalidade e eficiência dos seus mecanismos e a sua aplicação criteriosa e, por outro lado, a desburocratização do sistema atual ao simplificar as formalidades exigidas pelos serviços prescritores e ao criar uma base de dados de registo de pedidos com vista ao controlo dos mesmos por forma a evitar, nomeadamente, a duplicação no financiamento de PA ao utente. Sendo que o SAPA, tem como objetivo principal atribuir, de forma gratuita, a pessoas com deficiência ou com uma incapacidade temporária, produtos, equipamentos ou sistemas técnicos especialmente adaptados que previnam, compensem, atenuem ou neutralizem a sua limitação funcional. (SAPA, 2009)

Expõem-se abaixo os excertos desta legislação mais pertinentes e relevantes à temática em estudo. Em realce:

 Artigo 4º, ponto f - “Equipa técnica multidisciplinar a equipa de técnicos com saberes transversais das várias áreas de intervenção em reabilitação” integrando, designadamente, médico, enfermeiro, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, terapeuta da fala, psicólogo, docente, recorrendo quando necessário a outros técnicos em função de cada uma das situações, nomeadamente técnicos de serviço social, protésicos, engenheiros e ergonomistas, de forma a que a identificação dos produtos de apoio seja a mais adequada à situação concreta, no contexto de vida da pessoa.”

 Artigo 10.º, ponto 4 - “O despacho referido no n.º 1 identifica os produtos suscetíveis de serem reutilizados.”

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Dos excertos acima expostos, é possível entender que está prevista a reutilização de alguns produtos de apoio, porém ainda não se encontra regulamentado o mecanismo de reparação ou de habilitação das entidades que os recuperam. Também ainda não existe quaisquer referências aos PA suscetíveis de serem reutilizados, como aponta o ponto 4 do artigo 10º.

Sendo que, apesar da omissão de referência da reutilização de PA, os despachos do INR que regulam atribuição dos PA, como por exemplo o despacho n.º 5128/2013, 2ª série, de 16 de abril, o SAPA contemplam a adaptação e reparação dos PA.2 (INR, 2013)

Tendo como objetivo a reutilização de alguns PA, a sua reparação, manutenção e certificação, torna-se necessária a identificação, ao longo da lista homologada presente no SAPA, dos que são ou não passiveis de reutilização. Em princípio, deverão ser considerandos os produtos não reutilizáveis aqueles que são descartáveis, como as fraldas, ou adequados e personalizados ao utilizador, apresentam características “feitas à medida”, como por exemplo as dentaduras, próteses ou meias elásticas. Maioritariamente, os PA não reutilizáveis estarão nas classes 04 (Produto de Apoio para tratamento clínico individual), 06 (Ortóteses e próteses) e 09 (Produto de Apoio para cuidados pessoais e proteção).

Por sua vez, poderão ser identificados como PA reutilizáveis, aqueles concebidos para grupos de utilizadores, sendo que podem ser adequadas às diferentes situações e utilizadores (por exemplo, ajuste em altura), e pelas suas características de construção, podem ser reparados e recuperados. Agrupam-se com estas características, maioritariamente, os PA para a mobilidade pessoal; mobiliário e adaptações para habitação e outros edifícios; e PA para o manuseamento de objetos e dispositivos, correspondendo, respetivamente, às classes 12, 18 e 24 da lista homologada do SAPA. Medidas associadas aos PA reutilizáveis, quando cedidos pelo SAPA, devem fazer-se acompanhar de um termo de responsabilidade onde mencione a obrigatoriedade de devolução, quando já não são úteis e eficazes, bem como as condições de utilização. E consequentemente, quando se trata de PA reutilizáveis, o recurso ao mecanismo que envolve o Banco de PA é obrigatório, sendo uma boa-prática considerar os serviços e bancos já existentes, só assim se pode aumentar a quantidade, diversidade e qualidade dos PA disponíveis a nível nacional.

2 “Os custos com a adaptação e reparação dos Produtos de Apoio, prescritos por ato médico, são financiadas reportando- se aos respetivos códigos ISO da lista homologada dos Produtos de Apoio”, indicada no ponto 13 do mesmo despacho. (INR, 2013)

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Sendo que para o desenvolvimento de programas de reutilização de PA, é importante a articulação e cooperação do SAPA com os serviços já existentes e/ou posteriormente criados, de natureza pública e/ou privada, para uma rede nacional, de maior escala, de mais oferta e com maior qualidade.

Como conclusão e da apreciação do SAPA, podemos dizer que carece não apenas da regulamentação relativa à reutilização dos PA, mas também de uma reflexão e estudo sobre a implementação de serviços com qualidade e que simultaneamente garantam a segurança dos utilizadores.

O papel da “equipa multidisciplinar” na avaliação das necessidades e escolha de PA mais adequado e acompanhamento da sua utilização, destaque para a intervenção e presença de um Engenheiro de Reabilitação na equipa como uma mais -valia para a melhor reutilização dos PA.

De acordo com Reswick, as atividades de Engenharia de Reabilitação incluem (mas não estão limitadas a): Invenção, Investigação e Desenvolvimento, Avaliação, Produção e Marketing, Seleção de Tecnologia, Prestação de Serviços, Instruções de Uso, Manutenção e Reparação. (RESWICK, 2000)

Neste trabalho de investigação pretende-se estudar as variáveis associadas à temática da reutilização de PA, aprofundar boas práticas de serviços de reutilização de PA, indicadores de qualidade, procedimentos e orientações para testes dos PA reutilizáveis, que garantam um serviço mais completo e profissional, na relação tripartida serviço-PA- beneficiários.

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CAP 3