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Simbolismo e misticismoSimbolismo e misticismo

No documento a Necessidade Da Arte (páginas 93-97)

Simbolismo e misticismo

Quando o naturalismo descambou para o simbolismo e o Quando o naturalismo descambou para o simbolismo e o misticismo, isso ocorreu em virtude de causas sociais, porém misticismo, isso ocorreu em virtude de causas sociais, porém ocorreu de acordo com um método particular a tais desenvol ocorreu de acordo com um método particular a tais desenvol vimentos. Nas manifestações intelectuais e artísticas de revolta, vimentos. Nas manifestações intelectuais e artísticas de revolta, dentro do mundo burguês, chega sempre um momento de de dentro do mundo burguês, chega sempre um momento de de cisão, quando um movimento revolucionário (não mais mera cisão, quando um movimento revolucionário (não mais mera mente um movimento de protesto) empolga as massas, isto é, mente um movimento de protesto) empolga as massas, isto é, quando as classes entram em ação. A Revolução Francesa, a quando as classes entram em ação. A Revolução Francesa, a revolução de 1848 e a Comuna de Paris foram pontos decisi revolução de 1848 e a Comuna de Paris foram pontos decisi vos na evolução da literatura e da arte, tanto como na política. vos na evolução da literatura e da arte, tanto como na política. Em cada uma dessas ocasiões, os artistas foram obrigados a Em cada uma dessas ocasiões, os artistas foram obrigados a tomar partido, a alinhar-se com tendências progressistas ou tomar partido, a alinhar-se com tendências progressistas ou reacionári

reacionárias. as. A primeira revA primeira revolução olução proletária, a primeira tomaproletária, a primeira toma da do poder pela classe operária, sob a Comuna de Paris, teve da do poder pela classe operária, sob a Comuna de Paris, teve um efeito profundo e duradouro. O pânico que se apoderou da um efeito profundo e duradouro. O pânico que se apoderou da  burguesi

 burguesia a afeafetou tou o o velho Taine, velho Taine, de de um um lado, lado, e e o o moço moço NietzNietzschesche (para quem a Comuna foi um choque inesquecível), de outro. (para quem a Comuna foi um choque inesquecível), de outro. Quanto mais decisivamente aparece em cena a classe operária, Quanto mais decisivamente aparece em cena a classe operária, tanto mais difícil vai-se tornando satisfazer-se com revoltas tanto mais difícil vai-se tornando satisfazer-se com revoltas nono interior 

interior   da burguesia, tanto mais difícil vai-se tornando satis  da burguesia, tanto mais difícil vai-se tornando satis fazer-se com aquelas revoltas sempre limitadas por suas con fazer-se com aquelas revoltas sempre limitadas por suas con tradições internas e tanto mais agudamente a luta de classes tradições internas e tanto mais agudamente a luta de classes vai forçando os intelectuais rebeldes a fazerem uma escolha: vai forçando os intelectuais rebeldes a fazerem uma escolha: ou se aliam à classe operária ou se põem a serviço da reação. ou se aliam à classe operária ou se põem a serviço da reação. A terceira escolha revela-se ilusória: optando pela aparente in A terceira escolha revela-se ilusória: optando pela aparente in

dependência do niilismo social, os intelectuais passam, de fato, dependência do niilismo social, os intelectuais passam, de fato, a apoiar o

a apoiar o  status  status quoquo  contra as forças do futuro.  contra as forças do futuro.

O naturalismo acreditou pintar as condições sociais com O naturalismo acreditou pintar as condições sociais com “objetividade científica”; mas esta “objetividade” era enganosa. “objetividade científica”; mas esta “objetividade” era enganosa. Tal como o impressionismo, o naturalismo não pôde ver essas Tal como o impressionismo, o naturalismo não pôde ver essas condições como uma luta entre o passado e o futuro: viu-as condições como uma luta entre o passado e o futuro: viu-as como um presente não sujeito a mudança. Não as enxergou em como um presente não sujeito a mudança. Não as enxergou em seu contexto dialético, mas num momento fixo, não-temporal. seu contexto dialético, mas num momento fixo, não-temporal. Quando Taine ainda era progressista, escreveu ao jovem Zola: Quando Taine ainda era progressista, escreveu ao jovem Zola:

Se você se fecha no vazio e pinta para o leitor a história sem Se você se fecha no vazio e pinta para o leitor a história sem esperança de um monstro, de um louco ou de um desgraçado doente, esperança de um monstro, de um louco ou de um desgraçado doente, só conseguirá retardar-lhe a compreensão. ... O verdadeiro artista só conseguirá retardar-lhe a compreensão. ... O verdadeiro artista  precisa

 precisa possuir possuir amplo amplo conhecimento conhecimento e e atitude atitude superiorsuperior, , o o que que lhe lhe possipossi  bili

 bilitará tará envergar envergar o o modêlo modêlo superior. superior. Os Os escritores escritores de de hoje hoje especespecializaializam-m- se em demasia, isolam-se do mundo e põem-se a fazer exames micros se em demasia, isolam-se do mundo e põem-se a fazer exames micros cópicos das partes individuais ao invés de fixar a vista no todo.

cópicos das partes individuais ao invés de fixar a vista no todo.

O artista perdeu de vista “o todo”, tal como Cézanne tam O artista perdeu de vista “o todo”, tal como Cézanne tam  bém já

 bém já o perco percebera ebera e e indicaraindicara. . ParPara a o o naturalismo, naturalismo, não hnão há á ordemordem de prioridades no real; o pormenor incidcntal e o característico de prioridades no real; o pormenor incidcntal e o característico merecem a mesma atenção. Uma conversa ou um acontecimen merecem a mesma atenção. Uma conversa ou um acontecimen to decisivos e o zumbido de uma abelha ou o pregão de uma to decisivos e o zumbido de uma abelha ou o pregão de uma vendedora de ovos interrompendo a conversa passam a ser con vendedora de ovos interrompendo a conversa passam a ser con siderados igualmente reais e, por conseguinte, igualmente im siderados igualmente reais e, por conseguinte, igualmente im  portante

 portantes. s. Esse Esse registro registro fotofotográficgráfico o de de concondiçõdições es estaticestaticamenteamente (e não dialeticamente) enfocadas origina uma sensação de (e não dialeticamente) enfocadas origina uma sensação de absurdo, uma atmosfera opressiva e desencorajadora, que leva absurdo, uma atmosfera opressiva e desencorajadora, que leva à passividade. Em certo sentido, o naturalismo antecipou a à passividade. Em certo sentido, o naturalismo antecipou a desumanização, o ambiente monótono e desesperador de

desumanização, o ambiente monótono e desesperador de coisascoisas que se tornaram onipotentes em decorrência das leis inumanas que se tornaram onipotentes em decorrência das leis inumanas do sistema capitalista de produção, ambiente que mais tarde do sistema capitalista de produção, ambiente que mais tarde ainda viría a encontrar uma expressão mais gritante nas artes. ainda viría a encontrar uma expressão mais gritante nas artes. O naturalismo revelou a fragmentação, a hediondez, a imunda O naturalismo revelou a fragmentação, a hediondez, a imunda superfície do mundo capitalista burguês, mas não pôde ir adian superfície do mundo capitalista burguês, mas não pôde ir adian te, não pôde ir mais fundo e reconhecer aquelas forças que se te, não pôde ir mais fundo e reconhecer aquelas forças que se estavam preparando para destruir tal mundo e estabelecer o estavam preparando para destruir tal mundo e estabelecer o socialismo.

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Foi por isso que os escritores naturalistas, incapazes de ultrapassar a sordidez fragmentária do mundo burguês, foram levados — embora se movessem na direção do socialismo — a aderir ao simbolismo e abraçar o misticismo, vítimas do desejo que tinham de descobrir o misterioso todo, o significado da vida, acima e além das realidades sociais.

 A alienação

Jean-Jacques Rousseau foi o primeiro a empregar o con ceito de “alienação” . Suas experiências na república calvinista de Genebra levaram-no a concluir que, quando um povo é “re  presentado” por deputados, ele se torna alienado de sua pró  pria unidade coletiva e desse modo deixa de ser um povo. A

comunidade, segundo Rousseau, podia ser o instrumento do governo, mas nunca da vontade geral, senão ela se alienaria no Estado./

A soberania popular não poüe ser representada, pela mesma razão  por que não pode ser alienada. Consiste essencialmente na vontade geral e esta vontade geral não se representa. Ou a vontade geral é ela mesma ou é outra que não ela; não há como escapar a esta alterna tiva-. Os deputados do povo não são, pois, e nem podem ser os seus representantes; são apenas os seus comissários e não estão capacitados a concluir definitivamente.

(Contrato Socéal)

As condições da vida social, entretanto, tornaram-se extra ordinariamente complexas e os Estados tornaram-se demasiado amplos, de modo que a divisão do poder do Estado e uma ficção de “representação popular” não puderam ser dispensa das, do que resultou uma alienação que acarretou concentra ção de poder, perda da democracia e perda da liberdade.

Hegel e o jovem Marx desenvolveram filosoficamente o conceito de alienação. A alienação do homem começa quando ele se separa da natureza através do trabalho e da produção. Por intermédio do seu trabalho, “o homem faz-se duplamente a si próprio, não só intelectualmente, na consciência, como na realidade, plasmando-se e ao mundo por seu trabalho, de modo

que chega a contemplar-se dentro de um mundo feito por ele mesmo” (Karl Marx). Na medida em que o homem se vai tor nando mais capaz de dominar e transformar a natureza e todo o mundo circundante, também vai-se vendo em face de si mes

mo e do seu trabalho como um estranho e acaba rodeado de objetos que, embora produzidos pela sua atividade, tendem a' crescer fora do seu controle e a impor cada vez mais forte mente ao homem as suas leis de objetos.

Essa alienação, necessária ao desenvolvimento humano,  precisa ser continuamente superada, a fim de que o homem

ganhe consciência de si mesmo no processo de trabalho, se reencontre no produto da sua atividade, crie novas condições e se torne senhor (e não escravo) da produção. O artesão, que era um, criador, ainda se podia sentir à vontade em seu trabalho e ainda podia ter um sentimento pessoal em relação ao seu produto. Com a divisão do trabalho, porém, na produ ção industrial, isso se tornou impossível. O operário submetido à parcelarização do trabalho na produção industrial capitalista não pode ter em relação ao seu trabalho um sentido de unidade e não se pode defender contra tal “alienação”. Sua atitude ante o produto do seu trabalho é a atitude a ser tomada em face de “um objeto estranho que tem poder sobre ele”. Aliena-se das coisas por ele mesmo feitas c aliena-se de si próprio, perde- se no ato da produção. Então, como observa Marx,

a atividade aparece como sofrimento, a força como fraqueza, a produ ção como castração, a energia física e espiritual própria do trabalhador, sua vida pessoal (pois o que é a vida se não atividade?), aparece como atividade independente dele, como atividade que não lhe per tence, voltada contra ele.

 Nas condições sociais primitivas — como, por exemplo, na economia natural do princípio da Idade Média — as relações sociais entre as pessoas lhes aparecem como suas próprias rela ções  pessoais.  Numa sociedade na qual já se desenvolveu a  produção para o mercado, as relações sociais se disfarçam em

relações sociais entre objetos,  isto é, entre os produtos do tra  balho. Um artesão produzia um objeto particular para um con

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importa o que a sua fábrica produz e para quem o produz:

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