• Nenhum resultado encontrado

tas em numerosas ocasiões:

No documento a Necessidade Da Arte (páginas 88-92)

O artista é um mero aparelho de gravação para as percepções sen- soriais. ... Nada de teorias: obras! ... As teorias corrompem os homens. .. . Achamo-nos diante de um caos. Enfrento o meu tema e me perco nele. . . . A natureza fala a todos. Nunca se pintou de fato — helas! — uma paisagem. O homem precisa não estar presente e sim completamente absorvido na paisagem. A grande invenção bu dista, o Nirvana, consola sem paixão, sem anedotas: só cores. . . . O impressionismo: que significa ele? É a mistura óptica de cores, enten dem? Desintegração de cores na tela e reunificação delas no olho. . . .  Nada é mais perigoso para um pintor do que meter-se com literatura.

8 8 A NECESSIDADE DA ARTE

literatura! E.F .] Um quadro nada representa, ou em princípio nada deveria representar, senão cores. [Cf. Mallarmé: “Um poema não

consiste em idéias, mas em palavras”, E.F.]

O impressionismo, dissolvendo o mundo na luz, fragmen tando-o nas cores, evocando-o como sequência de percepções sensoriais, tornou-se cada vez mais a expressão de uma forma notavelmente complexa e ao mesmo tempo limitada da relação sujeito-objeto. O indivíduo, reduzido à solidão, centra sobre si mesmo as experiências do mundo como um conjunto de estí mulos nervosos, como impressões, como um caos: na forma da “minha” experiência, da “minha” sensação. O impressionismo na pintura corresponde ao positivismo na Filosofia. Este tam  bém encara o mundo como se ele não fosse mais do que a “minha” experiência, a “minha” sensação, e não uma reali dade objetiva que existe independentemente dos sentidos indi viduais. O elemento de revolta no impressionismo é contraba- lançádo por outro elemento, o de um individualismo cético, não militante, um individualismo de evasão, a atitude de um obser vador interessado exclusivamente em suas impressões e que não  pretende mudar o mundo, a atitude de Um observador para quem uma mancha de sangue significa a mesma coisa que uma  pincelada vermelha e uma bandeira revolucionária significa a

mesma coisa que uma papoula num campo de trigo.

Desse modo, e em certo sentido, o impressionismo foi um sintoma de declínio, um sinal da fragmentação e desumanização do mundo. Porém, ao mesmo tempo, na longa “close season” do capitalismo burguês (entre 1871 e 1914), ele foi um glorioso clímax da arte burguesa, um outono dourado, uma derradeira grande colheita, um tremendo enriquecimento nos meios de expressão artísticos. Precisamos não perder de vista ambas as faces do conflito, da contradição imanente. Para sermos justos,  precisamos reconhecer o caráter socialmente condicionado do impressionismo e honrar os seus imperecíveis resultados artísticos.

Naturalismo

O naturalismo na literatura foi mais decisivamente do que o impressionismo um movimento de protesto, porém marcava-o

uma contradição interna semelhante. Zola cunhou o termo “na uma contradição interna semelhante. Zola cunhou o termo “na turalismo” com o objetivo de descrever uma forma especial e turalismo” com o objetivo de descrever uma forma especial e radical de realismo, distinguindo-a de toda espécie de produtos radical de realismo, distinguindo-a de toda espécie de produtos que os loucos bem pensantes de então procuravam impingir que os loucos bem pensantes de então procuravam impingir como literatura “realista”. Contudo, o criador do naturalismo como literatura “realista”. Contudo, o criador do naturalismo foi realmente Flaubcrt, cujo romance

foi realmente Flaubcrt, cujo romance  Madam Madame e BovaryBovary  abriu  abriu caminho para o nôvo movimento. Zola escreveu:

caminho para o nôvo movimento. Zola escreveu:

Flaubert colaborou com a verdade, deu a palavra certa em litera Flaubert colaborou com a verdade, deu a palavra certa em litera tura, a palavra que todos esperavam que aparecesse.

tura, a palavra que todos esperavam que aparecesse.  Madame  Madame BovaryBovary  possui

 possui tamatamanha nha clclarareieia a e e perfeiçperfeição ão que que esta esta novela novela reprerepresenta senta um um tipo,tipo, um modelo fundamental para a nova forma de arte.

um modelo fundamental para a nova forma de arte.

Pode parecer estranho, à primeira vista, que Flaubert — Pode parecer estranho, à primeira vista, que Flaubert — tanto quanto Baudelaire, um apaixonado da beleza — Flaubert, tanto quanto Baudelaire, um apaixonado da beleza — Flaubert,  para

 para quem quem o o tema tema do do seseu u romance romance era era uma uma espéespécie cie de de tortutortura,ra, tenha apresentado a torva, monótona realidade de uma vida tenha apresentado a torva, monótona realidade de uma vida  provinciana

 provinciana pequeno-burguesa pequeno-burguesa com com tamanha tamanha precisão precisão e e devota-devota- mento artístico. Mas a

mento artístico. Mas a impassibilitéimpassibilité  flaubertiana era uma ex  flaubertiana era uma ex  pressão

 pressão daquele daquele mesmo mesmo desgdesgosto osto em em face face da da banalidade, banalidade, estuestu  pidez

 pidez e e falta falta de de sentido sentido do do mundo mundo burguês burguês que que levara levara BaudeBaude laire a submeter tal mundo a julgamento em poemas de supre laire a submeter tal mundo a julgamento em poemas de supre ma beleza. Numa carta a George Sand, Flaubert escreveu que ma beleza. Numa carta a George Sand, Flaubert escreveu que o artista não tinha o direito de

o artista não tinha o direito de

expressar a sua opinião sobre coisa alguma, não importando do que se expressar a sua opinião sobre coisa alguma, não importando do que se trate.

trate. Deus Deus já ejá exprexpressossou algu alguma uma vevez z uma opinião? uma opinião? .. .. . . CreiCreio que ao que a grande

grande arte arte é é científicientífica e ca e impimpessoessoal. al. .. .. . . NãNão o quero nem amor nequero nem amor nemm ódi

ódio, no, nem em piedpiedade ade nem rnem raiva aiva .. .. . . Já não é tempo dJá não é tempo de inte introduzir aroduzir a  justiça

 justiça na na artearte? ? A A imparcialidaimparcialidade de da da descrição descrição tornar-se-ia, tornar-se-ia, então, então, igualigual à majestade da lei.

à majestade da lei.

De fato, contudo, essa aparente imparcialidade importa De fato, contudo, essa aparente imparcialidade importa num colossal ódio à sociedade burguesa como um todo, englo num colossal ódio à sociedade burguesa como um todo, englo  band

 bando o esquerda esquerda e e direita, direita, proprietários proprietários e e trabalhadores. trabalhadores. O O rere sultado foi a completa desilusão com os seres humanos, com a sultado foi a completa desilusão com os seres humanos, com a humanidade.

90

90 A NECESSIDADE DA ARTEA NECESSIDADE DA ARTE

A incurável barbárie da humanidade enche-se de negra conster A incurável barbárie da humanidade enche-se de negra conster nação.

nação. .. .. . . O imO imenso enso desgdesgosto osto que sinto que sinto em relação aem relação aos mos meus eus contemcontem  porâneos

 porâneos leva-me leva-me de de volta volta ao ao passado.passado.

E o que fica é o seguinte: E o que fica é o seguinte:

Para um artista só há uma coisa: o sacrifício de tudo à arte. Para um artista só há uma coisa: o sacrifício de tudo à arte. Precisa encarar a vida como um meio, nada mais do que isso, e a Precisa encarar a vida como um meio, nada mais do que isso, e a  prim

 primeira eira pessoa pessoa que que deve deve esquecer esquecer é é cie cie mesmo. mesmo. .. .. . . A A terterra ra temtem limites, mas a estupidez do povo é ilimitada.

limites, mas a estupidez do povo é ilimitada.

O corolário dessa atitude é a falta de perspectiva, o deses O corolário dessa atitude é a falta de perspectiva, o deses  pero

 pero de de Madame Madame Bovary: Bovary: tetenta nta refugiar-srefugiar-se e num num sonho sonho de de histehiste ria romântica, mas o seu ambiente não lhe permite a fuga e ria romântica, mas o seu ambiente não lhe permite a fuga e estrangula-a com inapelável crueldade. Tal romance, duro, bri estrangula-a com inapelável crueldade. Tal romance, duro, bri lhante, c o protótipo do naturalismo.

lhante, c o protótipo do naturalismo.

Zola também aderiu à doutrina do “romance científico”, Zola também aderiu à doutrina do “romance científico”, se bem que tenha acrescentado: “a contemplação desapaixona se bem que tenha acrescentado: “a contemplação desapaixona da do mundo não é desejável; é evidentemente impossível”. da do mundo não é desejável; é evidentemente impossível”. “Nosso século”, disse ele, “é o século da ciência”. O escritor “Nosso século”, disse ele, “é o século da ciência”. O escritor deveria utilizar “as descobertas de Claude Bernard e Darwin”, deveria utilizar “as descobertas de Claude Bernard e Darwin”, deveria aplicar “a doutrina da origem das espécies, a lei da deveria aplicar “a doutrina da origem das espécies, a lei da influência determinante do meio, as leis da hereditariedade”. influência determinante do meio, as leis da hereditariedade”. Zola não conhecia Marx e Engels; assim, não compreendia a Zola não conhecia Marx e Engels; assim, não compreendia a luta de classes, não enxergava os caminhos do desenvolvimento luta de classes, não enxergava os caminhos do desenvolvimento social; encarava a pessoa humana como um ser passivo, uma social; encarava a pessoa humana como um ser passivo, uma criatura animal da hereditariedade e do meio circundante, in criatura animal da hereditariedade e do meio circundante, in capaz de escapar a um destino predeterminado. O homem, para capaz de escapar a um destino predeterminado. O homem, para ele, era menos sujeito do que objeto de circunstâncias já exis ele, era menos sujeito do que objeto de circunstâncias já exis tentes. E interessante que Mallarmé, autor representativo da tentes. E interessante que Mallarmé, autor representativo da “poesia pura”, admirasse a novela

“poesia pura”, admirasse a novela  L L ’’AssassinAssassin  e a “despersona-  e a “despersona- lização” de seu autor, concluindo seu comentário com as se lização” de seu autor, concluindo seu comentário com as se guintes palavras: “Estamos vivendo numa época em que a ver guintes palavras: “Estamos vivendo numa época em que a ver dade se está tornando a expressão popular da beleza”. A des dade se está tornando a expressão popular da beleza”. A des  peito

 peito do do contraste contraste extremado extremado entre entre o o naturalismo naturalismo cc Vart pour Vart pour  l’art,

l’art,  uma relação secreta entre os dois movimentos pode ser  uma relação secreta entre os dois movimentos pode ser identificada.

No documento a Necessidade Da Arte (páginas 88-92)