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4. ESPAÇOS FORMAIS DE SOCIABILIDADE

4.4. Sindicato dos Produtores Rurais

Atualmente, segundo a avaliação da diretoria do sindicato, o SPR existe como uma entidade da classe em benefício dos interesses de seus associados, os proprietários rurais do município de Ubá com extensão de base nos municípios de Rodeiro e Guidoval. Este sindicato foi fundado no dia 12 de outubro de 1965, portanto aproximadamente, um ano após o fechamento do Sindicato dos Trabalhadores de Ubá. Por se tratar de um sindicato que historicamente atendeu aos interesses dos maiores proprietários e defendeu as ações destes contra os trabalhadores rurais, meeiros, etc., ele não teve sua existência comprometida durante a ditadura militar. Ao contrário, muitas ações dos sindicatos patronais foram extremamente articuladas com as alas mais conservadoras da Igreja, bem como do Estado.

O SPR é, segundo sua diretoria, uma entidade sem fins lucrativos, de utilidade pública municipal conforme Lei nº 2.186 de 13 de setembro de 1991 e tem por finalidade defender a “classe ruralista” prestando assessoria jurídica e fiscal. Também mantém convênios com vários órgãos como prefeituras, instituições financeiras, Administração Fazendária (AF), planos de saúde, laboratórios de análise clínicas, além de realizar diversos cursos em parceria com o SENAR47

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Uma das prioridades do SPR tem sido prestar serviços na área da saúde (como já foi destacado na seção anterior). A cidade de Ubá,

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Fonte: Cartilha confeccionada pelo SPR de Ubá.  

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O SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - é uma entidade privada vinculada à FAEMG - Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais. Foi criado no dia 7 de abril de 1993 e atua na realização gratuita de cursos, treinamentos, seminários, palestras e uma série de outros eventos que têm como finalidade aperfeiçoar o trabalho rural, bem como melhorar a qualidade de vida da população rural. O SENAR realiza seus cursos em situações reais de trabalho, ou seja, nas fazendas, empresas agropecuárias e nas instituições de ensino (Escolas de Ciências Agrárias). Para isso, a entidade conta com facilitadores terceirizados (instrutores), capacitados para aplicar a metodologia da Formação Profissional Rural e da Promoção Social e conduzirem os processos educativos nos eventos. Disponível em: <http://www.senarminas.org.br>. Acesso em 15 maio 2012.

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através da intervenção do sindicato, tornou-se a pioneira na assistência ao trabalhador rural com a implantação do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL). Há 30 anos realizou-se o primeiro convênio da região com o ex-FUNRURAL, e atualmente o SUS - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE.

Com a municipalização da saúde, foi firmado um convênio com a Prefeitura Municipal, em 22 de abril de 1998, para que fossem repassadas as verbas dos serviços prestados pelos médicos e dentistas ao Sindicato dos Produtores Rurais (SPR).

De acordo com os dados coletados no SPR, este sindicato se propõe a atender às demandas de seus sindicalizados, além de liderar campanhas contra fraudes e abusos contra os mesmos. O sindicato participa ainda do COPAM48

Zona da Mata, como Conselheiro Titular, representando a FAEMG. Possui também um convênio com a Prefeitura de Ubá para administrar os tratores e os implementos agrícolas do município na prestação de serviços aos produtores rurais. Participa ativamente do Conselho Municipal de Saúde, Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável e da Comissão Intermunicipal de Emprego de Ubá. O SPR de Ubá conta com 1600 associados, aproximadamente, e presta serviços tanto aos associados quanto aos seus dependentes, além de atender parte da população carente do espaço urbano49.

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Conselho Estadual de Política Ambiental – COPAM. Criado em 1977, O Conselho de Política Ambiental - COPAM é um órgão normativo, colegiado, consultivo e deliberativo, subordinado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SEMAD. Tem por finalidade deliberar sobre diretrizes, políticas, normas regulamentares e técnicas, padrões e outras medidas de caráter operacional, para preservação e conservação do meio ambiente e dos recursos ambientais, bem como sobre a sua aplicação pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, pelas entidades a ela vinculadas e pelos demais órgãos locais. São considerados órgãos locais os órgãos ou as entidades do Poder Público Municipal cujas atividades estejam associadas às de proteção e controle do uso dos recursos ambientais. Disponível em: <http://www.meioambiente.mg.gov.br/copam>. Acesso em 15 maio 2012.

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Após o convênio efetivado com a Prefeitura Municipal, todas as pessoas que procurarem os serviços médicos do SPR, podem utilizá-lo, mesmo não sendo sindicalizado e nem residindo no espaço rural.

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Através dos dados apresentados nestas duas últimas seções nota- se que o SPR é realmente o sindicato que tem atendido parte das demandas dos produtores integrados, até porque, as condições de oferecer algum serviço essencial como a saúde ou o uso coletivo de implementos agrícolas, dentre outros, indubitavelmente foram dadas (ou mesmo adquiridas) a este sindicato. Mesmo assim, constatou-se nesta pesquisa que os produtores integrados são pouco presentes no SPR. Não participam frequentemente das reuniões que ocorrem na sede do sindicato para as quais são convocados. Ademais, declararam, de forma recorrente, que não se sentem representados por este sindicato.

Nos dados e análises apresentados nesta seção, percebe-se que os produtores integrados utilizam dos (considerados por eles) “benefícios” dos sindicatos dos quais fazem parte. Entretanto, pelo que foi possível notar, estes espaços formais (STR, SPR e AVISOM) não são, de fato, lugares potenciais de desenvolvimento das interações sociais e nem mesmo de sociabilidades, tanto pela falta de sentimento de pertencimento aos sindicatos/associação quanto pela falta de tempo dos produtores integrados. A utilização do Sindicato dos Produtores Rurais pelos integrados ainda ocorre devido às percepções de que esta entidade disponibiliza vantagens, que os mesmos não acessam em outras instituições do município. Fazer uso destas vantagens, de acordo com a diretoria do SPR, depende de “estar em dia com as taxas sindicais”, a partir desse requisito cumprido, os sindicalizados têm o direito de usar os produtos fornecidos pelo sindicato. Desta forma, a entidade é vista e vivenciada como uma prestadora de serviços.

A apresentação destes três espaços foi no sentido de refletir sobre os vínculos sociais formais estabelecidos por este grupo de produtores integrados, que ampliam seu campo de relacionamento social, incluindo as relações com a empresa integradora, e adquirem uma nova possibilidade de interação social, como a associação, mas de fato limitam-se tanto no exercício de novas sociabilidades quanto na apropriação dos órgãos de representação de classe, como entidades que

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agem em defesa dos seus associados. Obviamente que a integração não pode ser entendida como o fator determinante de estreitamento dos vínculos com os sindicatos ou associação, mas o ritmo de trabalho imposto pela empresa na criação das aves restringe, de acordo com os entrevistados, uma maior inserção social e, portanto, limita a realização de sociabilidades.

Vale aqui buscar em Simmel (2006) elementos para entender este processo social. Para ele, uma sociedade só se forma e estabelece relações efetivas de sociabilidade entre os indivíduos quando se torna possível estabelecer relações de interdependência recíproca através da troca de experiências, este espaço de interação é denominado pelo autor de sociação. O que se observou é que os três espaços analisados não são reais lugares de sociação e de sociabilidades.

Retomando Bourdieu (2006), o habitus ocorre nas relações entre os indivíduos com os quais seja possível identificar-se, do contrário, as interações sociais são fatalmente inibidas ou mesmo eliminadas. Dessa forma, as práticas sociais vão ocorrendo de acordo com uma estrutura interiorizada por meio das vivências que permeiam as interações e os indivíduos inseridos no grupo social.

Apesar de existirem, e ser estabelecida alguma interação social nestes espaços, estes são espaços potenciais, mas não efetivos em decorrência, segundo os entrevistados, dos fatores tempo, credibilidade e valorização.

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5. TRANSFORMAÇÕES NO COTIDIANO DECORRENTES DA PRODUÇÃO INTEGRADA

Observou-se nesta pesquisa que alguns fatores comprometem efetivamente as interações sociais dos produtores integrados, dentre eles, o tempo excessivo dedicado aos trabalhos de criação das aves, o que incorre significativamente na perda da autonomia, sendo esta característica uma marca dos agricultores familiares mais tradicionais. Ressaltando que os produtores integrados em estudo são também reconhecidos por eles próprios como agricultores familiares.

Os dias dos produtores são expressivamente absorvidos pelas atividades relacionadas aos cuidados com as aves, o que é dificilmente computado pela família como horas de trabalho porque se tornou parte do cotidiano doméstico e está diluído ao longo das rotinas diárias, adentrando, inclusive, o tempo necessário ao descanso, durante as noites. Este tempo dedicado a esta modalidade produtiva atende notadamente aos interesses da agroindústria visto que a mesma não tem que arcar com os direitos trabalhistas de empregados contratados e assalariados e, além disto, conta com o desconhecimento do integrado sobre as horas exatas trabalhadas. Assim, a empresa se utiliza da força de trabalho familiar dos produtores integrados e se desresponsabiliza, ao mesmo tempo, das obrigações trabalhistas, já que a relação entre integradora e produtores é regulamentada, apenas, pelo Contrato de Integração.

Para entender como se concretiza o cotidiano, envolvendo a longa jornada de trabalho relativa à criação das aves e demais atividades dos produtores integrados, fez-se a opção, nesta seção, em descrever todo o processo de criação das aves, desde o projeto inicial da construção dos galpões até a conclusão do sistema produtivo visando elucidar as rotinas diárias impressas na vida destes agricultores. Como esta pesquisa priorizou os integrados nos usos dos seus espaços domésticos e de suas propriedades, as falas registradas puderam informar sobre as dinâmicas

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diárias, os lugares de sociabilidades, as expectativas, os medos e as frustrações desses produtores.

5.1. O vil processo de seleção que pode levar à exclusão dos