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Neste recorte do ensino superior em Santa Catarina, passaremos a identificar e analisar, entre outros aspectos, o que é o Sistema Fundacional, como se constitui, o que o caracteriza e como é representado. Ao analisar o setor privado deste nível de ensino, Sampaio (2000, p. 80) assim se expressa:

O processo de interiorização do ensino superior [em Santa Catarina], a partir de meados dos anos 60 e durante toda a década de 1970, prendeu-se à instalação de instituições de ensino superior municipais. Essas instituições definem-se, como fundações de direito público, cobram pelo ensino oferecido e respondem por mais de 70% das vagas de ensino superior no estado.

2001a) é constituído, preponderantemente, por universidades mantidas por fundações52 criadas por lei municipal, o que empresta uma característica peculiar a este Sistema de Ensino Superior (ACAFE, 1999a). Esta situação é resguardada pela Constituição Federal de 1988, que determina em seu artigo 242 que

O princípio do art. 206, IV, não se aplica às instituições educacionais oficiais criadas por lei estadual ou municipal e existentes na data da promulgação desta Constituição, que não sejam total ou preponderantemente mantidas com recursos públicos (BRASIL, 2000, p.184).

O artigo 206, por sua vez, preconiza que “O ensino será ministrado com base” em determinados princípios. O princípio preconizado no inciso IV estabelece a “gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais” (BRASIL, 2000, p.167).

A UDESC é criada e mantida pelo Poder Público estadual. Todas as outras Fundações pertencentes ao Sistema Fundacional são criadas por lei municipal, no entanto não são “total ou preponderantemente mantidas com recursos públicos” (BRASIL, 2000, p. 184), além do que, em 1988, quando da promulgação do texto constitucional, as instituições educacionais mantidas por tais Fundações já existiam, de onde se pode inferir do artigo 242, que o princípio da gratuidade não se aplica a estas instituições.

Uma exceção neste conjunto é a UDESC, que também compõe o Sistema ACAFE, e constitui a única IES no Estado, criada e mantida pelo Poder Público Estadual, conforme já dissemos acima, e imbuída da vocação de interiorizar o ensino superior.

São estas características que fazem com que o Estado Catarinense apresente hoje, um “Sistema de Ensino Superior, constituído por uma universidade estadual e onze outras

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Quanto à natureza jurídica das mantenedoras das IES que constituem o Sistema Fundacional, Galimberti (2001, p. 1), em parecer emitido à UNIVILLE a este respeito, assim se expressa: “O DIREITO BRASILEIRO CONTEMPLA DUAS ESPÉCIES DO GÊNERO FUNDAÇÃO PÚBLICA: (a) fundação pública de Direito Público e (b) fundação pública de Direito Privado”. O autor salienta que este é um tema polêmico, mas conclui que “As fundações universitárias de Santa Catarina, criadas pelos Municípios, hoje agregadas em torno da Associação Catarinense de Fundações Educacionais — ACAFE, à exceção da Universidade do Estado de Santa

instituições de ensino superior criadas por lei municipal, que, juntas, compõem um Sub- sistema do Sistema Estadual de Ensino” (LUCKMANN, apud ACAFE, 1999c, p.7).

Em 1999, ao completar 25 anos de criação da ACAFE, o Sistema Fundacional, por ela representado, encontrava-se geograficamente distribuído por 63 cidades, com base em 69 campi, cobrindo todas as regiões geográficas do Estado (ACAFE, 1999 a, p. 11).

Os mapas apresentados nos Anexos G e H demonstram como as Instituições de Educação Superior e Fundações do Sistema ACAFE se expandiram pelo território catarinense, no período de 1974 a 1999.

O contexto em que inicialmente surge a ACAFE e as instituições que agrega confunde-se com o próprio contexto da criação e expansão da maior parte do sistema privado das universidades brasileiras.53

Particular atenção estaremos dando à especificidade do modelo que acabou se consolidando em Santa Catarina. Recentemente Hawerroth (1999), ao analisar como se expande o ensino superior, no Estado, conclui ser a partir do final da década de 50 do século XX, que inicia a consolidação deste nível de ensino e que esta se dá, por meio das fundações municipais que começam a surgir. Influenciado pela idéia desenvolvimentista que era hegemônica no país, em cuja esteira vinha a crença de que o nível superior seria o agente propulsor para o sonhado desenvolvimento regional, o governo estadual estimula os empreendimentos regionais que redundam na criação de Instituições Isoladas de Ensino Superior, criadas por lei municipal e de caráter comunitário.

Diferentemente do que ocorreu no interior do estado, o ensino superior na capital catarinense já tem início na segunda década do século XX, mais precisamente em 1917, com a instalação do “Instituto Politécnico”, que oferecia os cursos de odontologia, farmácia, engenharia e comércio (HAWERROTH, 1999, p. 39).

Catarina — UDESC e da Universidade Regional de Blumenau — FURB, são fundações públicas de Direito Privado” (Galimberti, 2001, p. 6).

Entre as décadas de 1940 e 1960 a criação de outras instituições — o autor cita as “Faculdades de Ciências Econômicas, Odontologia e Farmácia, Filosofia, Medicina e Serviço Social” — possibilitou a instalação da Universidade Federal de Santa Catarina, cujo “surgimento legal” se deu em 18 de dezembro de 1960 (FERREIRA LIMA, 1978; apud LIEDTKE, 2001). Ato contínuo foi a extinção da “Fundação Universidade de Santa Catarina”, criada em 1955 por lei estadual, modificada em 1959 e extinta em 20 de janeiro de 1961. O patrimônio da Faculdade de Direito, que já era federal, é incorporado à Universidade que surge. Em 20 de maio de 1965, dá-se a criação da “Universidade para o Desenvolvimento de Santa Catarina” (UDESC), mantida pela Fundação Educacional de Santa Catarina (FESC).

Para melhor compreender o contexto em que se consolida o ensino superior no Estado, segundo Piazza (1987, p. 197), após a segunda guerra mundial assumem primazia na análise da realidade catarinense os seguintes temas:

a importância do planejamento governamental, para definição das metas a atingir e dos recursos disponíveis e das necessidades financeiras para a sua execução; em segundo lugar a estruturação educacional, em todos os níveis em decorrência do crescimento vertiginoso da população e finalmente o

rodoviarismo, desenvolvido dentro de técnicas modernas (Grifos do autor).

Nas décadas seguintes, procurando integrar-se ao contexto da economia nacional e responder aos impactos econômicos mundiais, as classes empresariais e políticas de maior projeção, das diferentes regiões, notadamente nas cidades-pólo de cada microrregião, envidam esforços para a interiorização e expansão do ensino superior, inicialmente, como vimos, concentrado na Capital, apesar de já haver aqui e ali, algumas instituições isoladas.

Na visão de um ex-dirigente da Associação Catarinense das Fundações Educacionais,

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se for analisado o processo de expansão do ensino superior, a partir das iniciativas do Sistema ACAFE, foram todas as instituições, sem exceção, fruto de uma mobilização regional, como necessidade de preservar o jovem nas suas regiões. [Com o ensino superior, centrado em Florianópolis] aquelas pessoas que tinham condições de sair [para estudar] saíam e não voltavam. Então, além do aspecto econômico [...] havia um processo até de retenção de inteligências na região.

Tais fatores, entre outros, contribuíram para que os segmentos mais ativos da sociedade, principalmente empresários dos diferentes ramos do setor produtivo, passassem a defender e reivindicar a instalação dessas instituições. O investimento no desenvolvimento das diversas microrregiões do território catarinense se dá, ao mesmo tempo em que dividendos eleitorais são amealhados, com a participação efetiva dos órgãos representativos da economia catarinense e das lideranças políticas regionais.

Desta forma, além das IES criadas e mantidas pelo poder público federal e estadual já citadas, criaram-se novas e desenvolveram-se as já existentes instituições isoladas de ensino superior, de caráter municipal e comunitário, em todas as regiões do Estado.

Desde sua criação, as mantenedoras ou fundações educacionais — inicialmente em número de 15, depois 18, que se aglutinaram e atualmente mantém 10 universidades, um centro universitário e uma instituição de ensino superior isolada — vêm procurando responder às demandas sociais e às particularidades do desenvolvimento econômico das microrregiões54, o que torna pertinente, a análise de Sampaio (2000) sobre o contexto do Sistema Fundacional Catarinense, que conclui que o movimento implementado pelas instituições isoladas de ensino superior, desde meados dos anos 80, foi de aglutinação e organização em universidades.

Na voz de um ex-dirigente da entidade representativa das fundações educacionais de ensino superior, constata-se que

54 Ao final da década de sessenta, início dos anos setenta do século XX, o Estado de Santa Catarina possuía 197

municípios, reunidos pelo IBGE em “16 microrregiões homogêneas” (PERUGINE, 1985, p. 14). O Quadro 2 do item 3.3.3 — ACAFE e o acesso ao ensino superior, demonstra como o Sistema ACAFE se expande pelas

ao final dos anos 80 e início dos anos 90, quando o MEC possibilita a reabertura de processos que levassem as instituições a constituírem universidades, houve [...], uma espécie de explosão, de surto de novas universidades e Sta. Catarina saiu à frente com vários processos, na época, junto ao Conselho Nacional de Educação.

O desencadeamento do processo na verdade se deu

com o credenciamento da Universidade do Estado de Santa Catarina — UDESC, em 1985, e da Universidade Regional de Blumenau — FURB, em 1986.

Em 1989 foram credenciadas como universidades a Universidade do Sul do Estado de Santa Catarina — UNISUL e a Universidade do Vale do Itajaí — UNIVALI, seguindo-se, em 1995, a Universidade da Região de Joinville — UNIVILLE; em 1996, a Universidade do Oeste de Santa Catarina — UNOESC e em 1997 a Universidade do Contestado — UnC e a Universidade do Extremo Sul do Estado de Santa Catarina — UNESC. No ano 2000 foi credenciada a Universidade do Planalto Catarinense — UNIPLAC, e, como centro universitário, o Centro Universitário de Jaraguá do Sul — UNERJ. Em junho [de 2001] foi credenciada a Universidade do Alto Vale do Itajaí — UNIDAVI. Permanece ainda na condição de instituição não universitária apenas a Fundação Educacional de Brusque — FEBE (ACAFE, 2001a, p.14).

Segundo a própria ACAFE (2001a), sobre a qual nos deteremos a seguir, em seu “Boletim Estatístico nº 1 — séries históricas — 1975/2000”, o resultado do processo de transformação das instituições isoladas em universidades é a criação de novos cursos e expansão da oferta de vagas que é mediada pelos processos seletivos de ingresso à universidade. Na seqüência passaremos a caracterizar e analisar o papel desempenhado pela ACAFE, explicitar seu surgimento, seus objetivos, seu papel atual e principalmente, sua relação com o acesso aos cursos de graduação no contexto do sistema de ensino superior catarinense.

O relato de um dirigente do Sistema Fundacional concorre para a caracterização da entidade que o representa:

Agora, completando o que [se] falava sobre essa presença do sistema, ele é característico de Santa Catarina este tipo de sistema que nós temos aqui. Seria mais característico ainda, se as instituições tivessem mantido a sua natureza pública. Mas a verdade é que essa natureza pública está se perdendo. Aos poucos, mas está se perdendo. E está se perdendo em função de quê? Em função do próprio crescimento da oferta, está se perdendo em função de uma certa competição que existe entre as instituições. Mais do que isso. Entre as instituições originárias do estado e a presença de instituições criadas e mantidas pela iniciativa privada. Isso é uma mudança progressiva, lenta, mas que está ocorrendo. Provavelmente, algum resquício dessa herança vai se manter. E aí, eu acho que a ACAFE tem um papel tremendamente importante nessa manutenção. Por que de tudo o que existe no país, a ACAFE é a única instituição estadual que congrega instituições de mesma origem, de mesma motivação. E [...] consegue manter, através dessa integração, certos elos com a trajetória histórica do sistema desde os seus primórdios.