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Sistema normativo aberto de princípios e regras

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO 2009 (páginas 66-73)

1.3 ABERTURA DA CONSTITUIÇÃO

1.3.2 Sistema normativo aberto de princípios e regras

A Constituição apresenta-se como um sistema normativo, “porque a estruturação

das expectativas referentes a valores, programas, funções e pessoas, é feita através

de normas”

204

. Essas normas do sistema tanto podem revelar-se sob a forma de

princípios como sob a forma de regras

205

.

Concernente à distinção entre princípios e regras, Robert Alexy

206

esclarece que

numerosos são os critérios propostos para o estabelecimento de tal distinção. José

Joaquim Gomes Canotilho

207

, por sua vez, também afirma que estabelecer esta

distinção constitui uma tarefa particularmente complexa e esclarece que existem

diversos critérios com este intuito, quais sejam: o grau de abstração, o caráter de

fundamentalidade, a natureza normogenética, a proximidade da ideia de direito, e o

grau de determinabilidade.

Segundo o grau de abstração, é possível dizer que os princípios são “dotados de

grande abstratividade”

208

, enquanto que as regras possuem uma abstração

relativamente reduzida. Neste passo, anota André Ramos Tavares que os princípios

“requerem uma generalidade, adquirindo, assim, a nota da máxima abstratividade

(objetiva), no sentido de possuírem uma hipótese de incidência ‘em aberto’, o que os

distancia estruturalmente das regras”

209

. Acrescenta ainda o autor que “os princípios

podem ser diferenciados das regras, na esteira da teoria constitucional

contemporânea, pela abstratividade daqueles quando comparados com estas”

210

.

Apesar disso, deve-se ressaltar que “o caráter abstrato está presente não somente

204 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 5. ed. Coimbra: Almedina, 2002, p. 1143.

205 PEDRA, Adriano Sant’Ana. A natureza principiológica do duplo grau de jurisdição. Revista de Direito Administrativo, v. 247, p. 13-30, jan./abr. 2008, p. 18.

206 ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Trad. Ernesto Garzón Valdés. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1997, p. 83.

207 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 5. ed. Coimbra: Almedina, 2002, p. 1144-1145.

208 TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 100.

209 Idem. Fronteiras da hermenêutica constitucional. São Paulo: Método, 2006, p. 91-92.

210 Idem. A Constituição aberta: elementos de uma hermenêutica constitucional. In: AGRA, Walber de Moura (coord.). Retrospectiva dos 20 anos da Constituição Federal. São Paulo: 2009, p. 11.

nos princípios, mas também nas regras”

211

, todavia tal caráter é reduzido quanto a

estas.

Se, por um lado, os princípios perdem em precisão de seu conteúdo, ou seja,

perdem em densidade semântica; por outro, ganham em abstração e em

generalidade. Isto lhes permite abarcar uma área muito mais ampla do que as

regras. Daí que a abstratividade, “enquanto nota atribuída aos princípios, implica a

capacidade de alcançar um grande e indefinido número de situações concretas,

nelas incidindo e sofrendo influência seu comando normativo mínimo”

212

. Tem-se,

pois, que “o que os princípios perdem em carga normativa ganham em carga

valorativa – o que lhes permite irradiar-se sobre todas as outras normas jurídicas”

213

.

Robert Alexy esclarece que o critério da generalidade é o mais frequentemente

utilizado. Segundo este critério, os princípios são normas com um grau de

generalidade relativamente alto, e as regras são normas com um nível relativamente

baixo de generalidade

214

. Disso decorre, nas palavras de Carlos Roberto Siqueira

Castro, “que a carga de eficácia jurídica que dimana da norma principiológica é

relativamente difusa e indeterminada”

215

.

Dessa forma, regras e princípios podem ser distinguidos a partir da ideia de que as

regras possuem uma estrutura interna através da qual todas as suas opções

semânticas – às vezes apenas uma – estão potencialmente previstas, “enquanto os

princípios apresentam uma indeterminação natural, exteriorizada durante todo o

processo de interpretação e concretização normativa”

216

. Claus Wilhelm Canaris

217

anota ainda que uma distinção fundamental entre princípios e regras jurídicas

211 TAVARES, André Ramos. Fronteiras da hermenêutica constitucional. São Paulo: Método, 2006, p. 95.

212 Idem. A Constituição aberta: elementos de uma hermenêutica constitucional. In: AGRA, Walber de Moura (coord.). Retrospectiva dos 20 anos da Constituição Federal. São Paulo: 2009, p. 11. 213 BASTOS, Celso Ribeiro; MEYER-PFLUG, Samantha. A interpretação como fator de desenvolvimento e atualização das normas constitucionais. In: SILVA, Virgílio Afonso da (org.). Interpretação constitucional. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 152.

214 ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Trad. Ernesto Garzón Valdés. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1997, p. 83.

215 CASTRO, Carlos Roberto Siqueira. A Constituição aberta e os direitos fundamentais: ensaios sobre o constitucionalismo pós-moderno e comunitário. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 55.

216 ALMEIDA FILHO, Agassiz. Introdução ao direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 204-205.

217 CANARIS, Claus Wilhelm. Pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito. 2. ed. Trad. Antonio Menezes Cordeiro. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1996, p. 86-87.

relaciona-se ao fato de os primeiros, ao contrário das segundas, não permitem, pela

insuficiência do seu grau de concretização, a subsunção.

André Ramos Tavares afirma que os princípios adquirem maior importância (critério

substantivo) exatamente em razão da abstração (efeito de irradiação), uma vez que,

quando se está a lidar com princípios no âmbito constitucional, sua generalidade (critério formal), que lhes permite lançarem-se a um indefinido número de problemas, acaba por denotar, concomitantemente, ao menos em termos hermenêuticos, certa importância (na primeira acepção – material – apresentada)218.

Outra distinção possível entre princípios e regras refere-se ao caráter de

fundamentalidade no sistema das fontes do direito. Os princípios têm natureza

estruturante e possuem papel fundamental no ordenamento jurídico em razão de

sua posição hierárquica no sistema das fontes do direito, como se verifica com os

princípios constitucionais, ou devido à sua importância estruturante dentro do

sistema jurídico, como ocorre com o princípio do Estado de Direito

219

.

Há ainda outra distinção entre princípios e regras, a qual decorre da natureza

normogenética. Vale ressaltar que os princípios são o fundamento das regras, são

normas que estão na base ou constituem a ratio das regras

220

. “Nesse sentido é que

se compreende sua natureza normogenética, ou seja, o fato de serem fundamento

de regras”

221

.

Também se pode identificar uma outra distinção entre princípios e regras a partir da

proximidade da ideia de direito. Sob este critério, os princípios são standards

juridicamente vinculantes radicados nas exigências de “justiça” ou na “ideia de

direito”, enquanto que as regras são normas vinculativas com um conteúdo

meramente funcional

222

.

218 TAVARES, André Ramos. Fronteiras da hermenêutica constitucional. São Paulo: Método, 2006, p. 94.

219 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 5. ed. Coimbra: Almedina, 2002, p. 1144-1145.

220 Ibidem, p. 1144-1145.

221 TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 101.

A distinção entre princípios e regras também pode ser estabelecida a partir do grau

de determinabilidade na aplicação do caso concreto. Como os princípios são vagos

e indeterminados, carecem de mediações concretizadoras, “enquanto as regras são

suscetíveis de aplicação direta”

223

. Todavia, merece ser ressalvado aqui que a

concretização também ocorre com as regras.

Riccardo Guastini anota que todo princípio exige uma concretização a fim de ser

transformado em um comando (relativamente) preciso. Para tanto, é necessário

determinar seu âmbito de aplicação e decidir a quais categorias de situações

concretas o princípio se aplica. Ao mesmo tempo, é preciso determinar suas

exceções, ou seja, em quais subcategorias de situações concretas o princípio não é

aplicável

224

.

Robert Alexy

225

formulou fecunda teoria distinguindo precisamente os princípios das

regras, pois, segundo o autor, o ponto decisivo para a distinção entre princípios e

regras é que os princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na

maior medida possível, dentro das possibilidades jurídicas e reais existentes. Dessa

forma, os princípios constituem mandados de otimização

226

e são caracterizados

pelo fato de que podem ser cumpridos em diferente grau e de que a medida devida

de seu cumprimento depende não só das possibilidades reais, mas também das

jurídicas. Já as regras são normas que ou são cumpridas ou não são cumpridas. Se

a regra é válida, temos que fazer exatamente aquilo que ela exige, nem mais nem

menos. Nesse contexto, a diferença entre princípios e regras é qualitativa.

Na busca da distinção entre princípios e regras, Gustavo Zagrebelsky também aduz:

223 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 5. ed. Coimbra: Almedina, 2002, p. 1144.

224 A partir daí, o autor italiano questiona se o princípio da soberania nacional autoriza ou não que o legislador confira o direito de voto aos imigrantes comunitários nas eleições municipais, se o princípio da igualdade permite ou não que legislador estabeleça quota para mulheres nas listas eleitorais, se o princípio do direito à defesa implica ou não que o advogado deva estar presente no interrogatório do acusado, e se a proibição de penas cruéis implica ou não a proibição da pena de morte. (GUASTINI, Riccardo. Teoría e ideología de la interpretación constitucional. Trad. Miguel Carbonell e Pedro Salazar. Madri: Trotta, 2008, p. 79)

225 ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Trad. Ernesto Garzón Valdés. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1997, p. 86.

A distinção essencial parece ser a seguinte: as regras nos proporcionam o critério de nossas ações, dizem-nos como devemos, não devemos, ou podemos atuar em determinadas situações específicas previstas pelas próprias regras; os princípios, diretamente, não nos dizem nada a este respeito, mas nos proporcionam critérios para tomar posição diante de situações concretas que a priori aparecem indeterminadas. Os princípios geram atitudes favoráveis ou contrárias, de adesão e apoio ou de dissenso e repulsa para tudo o que pode estar implicado em sua salvaguarda em cada caso concreto. Posto que carecem de “suposto de fato”, aos princípios, diferentemente do que ocorre com as regras, só se pode dar algum significado operativo fazendo-os “reagir” diante de algum caso concreto. Seu significado não pode ser determinado em abstrato, mas somente nos casos concretos, e somente nos casos concretos é possível entender seu alcance227.

Riccardo Guastini leciona que os princípios constituem uma espécie de norma cujos

traços característicos não são fáceis de individualizar com precisão. “Não é

absolutamente claro, em outras palavras, quais propriedades deva ter uma norma

para merecer o nome de princípio”

228

. Em primeiro lugar, os princípios destacam-se

pelo lugar que ocupam no ordenamento jurídico como um todo ou em algum setor

específico, sendo considerado como um fundamento de um conjunto de outras

normas. Em segundo lugar, os princípios caracterizam-se também do ponto de vista

da sua formulação lingüística, pois seriam dotados de um significado altamente

elástico e/ou indeterminado, enquanto que as regras teriam enunciados de

significado preciso. Além disso, os princípios também se caracterizam por sua

generalidade, que, assim como a vagueza, é gradual. Todavia, Riccardo Guastini

adverte que as regras também possuem um certo grau de vagueza, o que torna a

sua aplicação, em muitos casos, discricionária e passível de controvérsia

229

.

Não há uma hierarquia, a priori, entre os princípios constitucionais, pois a

prevalência de cada um deles na solução do problema jurídico dependerá das

227 Tradução nossa do texto em espanhol: “La distinción esencial parece ser la siguiente: las reglas nos proporcionan el criterio de nuestras acciones, nos dicen cómo debemos, no debemos, podemos actuar en determinadas situaciones específicas previstas por las reglas mismas; los principios, directamente, no nos dicen nada a este respecto, pero nos proporcionan criterios para tomar posición ante situaciones concretas pero que a priori aparecen indeterminadas. Los principios generan actitudes favorables o contrarias, de adhesión y apoyo o de disenso y repulsa hacia todo lo que puede estar implicado en su salvaguarda en cada caso concreto. Puesto que carecen de ‘supuesto de hecho’, a los principios, a diferencia de lo que sucede con las reglas, sólo se les puede dar algún significado operativo haciéndoles ‘reaccionar’ ante algún caso concreto. Su significado no puede determinarse en abstracto, sino sólo en los casos concretos, y sólo en los casos concretos se puede entender su alcance”. (ZAGREBELSKY, Gustavo. El derecho dúctil: ley, derechos, justicia. Trad. Marina Gascón. Madri: Trotta, 2008, p. 110-111)

228 GUASTINI, Riccardo. Das fontes às normas. Trad. Edson Bini. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 186.

circunstâncias específicas do caso concreto. Dessa forma, quando dois princípios

entram em colisão – e só podem entrar em colisão princípios válidos – um dos dois

tem que ceder ante o outro. Mas isto não significa declarar inválido o princípio

desprezado. Sob certas circunstâncias, um dos princípios precede ao outro, mas, em

outras circunstâncias, pode ser que a precedência seja resolvida de maneira

inversa

230

. Consoante Ronald Dworkin, as particularidades dos princípios permitem

que eles sejam aptos a solucionar um hard case, ou seja, “um caso difícil, em que

nenhuma regra estabelecida dita uma decisão em qualquer direção”

231

.

Já o conflito entre regras

232

, diferentemente, só pode ser solucionado, se introduzir,

em uma das regras, uma cláusula de exceção que elimina o conflito, ou se declarar

inválida uma delas

233

. Disto resulta o fato de existirem normas constitucionais que,

embora redigidas em termos aparentemente absolutos, têm natureza principiológica,

que se sujeita à ponderação com outros princípios.

Como demonstrou Ronald Dworkin

234

, há um certo grau de dificuldade na atribuição

de um conteúdo exato para algumas normas jurídicas principiológicas, pois

os princípios jurídicos são extremamente ricos quando está em questão a multiplicidade de seus vetores semânticos. Entretanto, o fenômeno da mutação constitucional acontece indistintamente em ambas as modalidades de normas constitucionais. A multiplicidade dos vetores semânticos depende diretamente do relacionamento verificado entre a norma e o caso concreto. Por mais previsíveis que pareçam as regras constitucionais, podem elas sofrer variações decorrentes do caráter inusitado de algum caso concreto sujeito à sua normatividade235.

Merece ser evidenciada a importância do papel dos princípios constitucionais,

mormente porque estes “servem de vetores para a interpretação válida da

230 ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Trad. Ernesto Garzón Valdés. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1997, p. 89.

231 DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Trad. Nelson Boeira. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 131.

232 ALEXY, Robert. Op. cit., p. 88, nota 230.

233 DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Trad. Nelson Boeira. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 43. “Se duas regras entram em conflito, uma delas não pode ser válida”.

234 Ibidem, p. 46-50.

235 “Mas é claro que existem exceções. A Constituição também apresenta normas – ‘o Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze ministros’ – onde as possibilidades semânticas praticamente não deixam espaço para a densificação, o que vai impedir a concretização normativa e, assim, a incidência da mutação constitucional”. (ALMEIDA FILHO, Agassiz. Introdução ao direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 205)

Constituição”

236

. Os textos das constituições apresentam termos polissêmicos,

fundados em princípios, com uma ampla margem para interpretação. A

indeterminação dos princípios “lhes oferece diferentes matizes e riqueza jurídica

potencial”

237

. A este respeito, Laurence Tribe e Michael Dorf tomam o seguinte

enunciado do Juiz White:

“A Constituição”, escreveu o Juiz White, “não é uma escritura imobiliária que determina precisamente os limites de seu objeto; ao contrário, é um documento que anuncia os princípios fundamentais fazendo uso de valores e deixando para as pessoas encarregadas de interpretá-la e aplicá-la um espaço amplo para o exercício de julgamentos normativos”238.

A partir do papel dos princípios como norteadores e informadores de toda a

Constituição e ainda veiculando os seus valores e as suas diretrizes fundamentais,

bem como a partir da acepção dos princípios como normas dotadas de alto grau de

generalidade e de abstratividade, é possível demonstrar “a função da atividade

interpretativa como forma de atualização da constituição. Isso porque é nessas

‘zonas moles’, abstratas e genéricas, que o intérprete tem sua competência

alargada”

239

, uma vez que as normas principiológicas possuem um alto grau de

vagueza e de imprecisão que possibilitam sua adaptação diante das novas

realidades históricas.

A norma constitucional, muito frequentemente, apresenta-se como uma petição de princípios ou mesmo como uma norma programática sem conteúdo preciso ou delimitado. Como consequência direta desse fenômeno, surge a possibilidade da chamada “atualização” das normas constitucionais. Aqui a interpretação cumpre uma função muito além da de mero pressuposto de aplicação de um texto jurídico, para transformar-se em elemento de constante renovação da ordem jurídica240.

236 TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 100.

237 VIGO, Rodolfo Luis. Interpretação jurídica: do modelo juspositivista-legalista do século XIX às novas perspectivas. Trad. Susana Elena Dalle Mura. São Paulo: RT, 2005, p. 134.

238 TRIBE, Laurence; DORF, Michael. Hermenêutica constitucional. Trad. Amarílis de Souza Birchal. Belo Horizonte: Del Rey, 2007, p. 11-12.

239 BASTOS, Celso Ribeiro; MEYER-PFLUG, Samantha. A interpretação como fator de desenvolvimento e atualização das normas constitucionais. In: SILVA, Virgílio Afonso da (org.). Interpretação constitucional. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 146.

240 Idem. Hermenêutica e interpretação constitucional. 3. ed. São Paulo: Celso Bastos, 2002, p. 111.

André Ramos Tavares anota que “a nota da norma constitucional, em sua maioria, é

a da principiologia, sem um conteúdo minimamente determinado”

241

.

A incidência das mutações ocorre com mais frequência nos princípios constitucionais, os quais, pela maior abstração, permitem que seu alcance seja interpretado de forma extensiva ou restritiva, de acordo com os fatores sociais vigentes. Os princípios podem ser calibrados no seu conteúdo, até mesmo provocando o seu esvaziamento. Como as regras constitucionais têm um espaço hermenêutico bastante reduzido, a incidência da mutação sobre elas tem diminuto alcance242.

Levando-se em conta que os princípios, no dizer de Gustavo Zagrebelsky, consistem

fundamentalmente em noções de conteúdo variável

243

, é possível afirmar que eles

cumprem uma função essencialmente dinâmica e estão permanentemente sujeitos a

mudanças.

Dessa forma, a mutação constitucional possui maior potencial para ocorrer na

categoria dos princípios constitucionais, haja vista que são normas a serem

densificadas através da concretização, embora também seja possível ocorrer com as

regras.

No documento DOUTORADO EM DIREITO SÃO PAULO 2009 (páginas 66-73)