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Sistemas de gravação e demais recursos utilizados nos anos 1980 e 1990

3. ANOS 1990: A CRISE NO MERCADO FONOGRÁFICO BRASILEIRO E SUA

3.1. Sistemas de gravação e demais recursos utilizados nos anos 1980 e 1990

de que diversos recursos para gravações e efeitos passaram a ficar mais acessíveis. Embora muitos recursos digitais já existissem, por exemplo, desde os anos 1970, costumavam ser caros e, assim, poucos músicos e produtores tinham acesso a eles, o que começou a mudar de forma acelerada no início dos anos 1990.

Mas além do mercado de discos e dos meios de divulgação musical, também o setor de equipamentos profissionais para gravação e shows teve um grande desenvolvimento no período. A abertura econômica, aliada à difusão das tecnologias digitais de produção propiciada pelo protocolo MIDI, causaram intensas mudanças no cenário, possibilitando uma ampla pulverização das atividades de produção musical. Sucessivas gerações de equipamentos digitais de produção passaram a dar nova feição e importância à Feira da Música, que desde os anos 80 reunia fabricantes de instrumentos e equipamentos. Em setembro de 1991, a Roland do Brasil – empresa surgida naquele ano de uma joint venture entre a Roland japonesa e a empresa brasileira Foresight – promovia no Anhembi a Music Expo, com o intuito de apresentar sua linha de equipamentos digitais. Em apenas um dia o evento movimentou US$ 1 milhão demonstrando, em plena crise, a vitalidade desse novo mercado. A Music Expo contaria ainda com sucessivas reedições, maior número de expositores e crescente sucesso nos anos seguintes (VICENTE, 2002:153).

O sistema de delay digital, por exemplo, já existia muito antes das décadas de 1980 e 1990. Por sua vez, acabou proporcionando a criação do sistema de gravação digital. Consta que um dos primeiros delays digitais disponíveis foi o Lexicon. Apesar disso, antes dele, na década de 1950, já existiam outros tipos de delay, como, por exemplo, as câmaras de eco, a Echoplex, que era baseado no sistema de rolo, com uma fita magnética que grava o som o qual está sendo tocado naquele momento e já reproduz com atraso. Assim, tratava-se de uma fita magnética que possuía curta duração, não sendo possível muitas repetições. O som era repetido, mas a qualidade da repetição acabava ficando prejudicada. Entretanto, apesar de, nos dias atuais, existirem equipamentos que buscam, de forma deliberada, reproduzir essa deterioração do som original que era bem característico deste tipo de equipamento, na época, isso era visto como uma grande limitação, já que o intuito era conseguir uma reprodução/repetição que tivesse o máximo de fidelidade possível. Assim, essa busca acabou proporcionando a criação do sistema de delay digital. E o mesmo sistema acabou sendo útil, também, à gravação digital. Por caminhos parecidos, em pouco tempo, passou a ser usado também o reverb digital.

As primeiras experiências não tinham grande qualidade, pois havia taxa de amostragem muito baixa, mas, posteriormente, essa taxa foi aumentada. Entretanto essas gravações já usavam a tecnologia PCM5, sistema que é utilizado até os dias atuais.

Nos anos 1980, por exemplo, já podia-se contar com o padrão MIDI. Os teclados da época, por exemplo, já saíam de fábrica com o General MIDI. Nesse período, o padrão corrente era o de 16 bits, que atualmente ainda é utilizado. Como se observa, já existia também o formato do CD, além do vinil e K7. Porém era possível perceber diferenças de qualidade nessas diferentes mídias, pois, normalmente, as fitas K7 perdiam bastante em qualidade em relação às outras. O CD apresentava um espectro de frequência muito amplo. As gravações dessa época, de forma geral, eram feitas com rolos de fita magnética, embora o sistema digital já estivesse disponível. Assim, cada vez mais opções para a gravação e a reprodução de áudio eram disponibilizados, o que desencadeou, de forma geral, um período de grande

5PCM significa Pulse Code Modulation, ou seja, modulação por código de pulsos, sendo esta a tecnologia mais antiga de áudio digital. Esta tecnologia tem seu início nos anos 1930, como uma forma de representar sinais analógicos digitalmente, ou seja, com ondas representadas em intervalos regulares. A digitalização sonora envolve basicamente os seguintes parâmetros: taxa de amostragem (sample rate) e profundidade de bit (bit depth). O primeiro indica quantas vezes a amplitude de uma onda é medida, enquanto o segundo indica o número de bits em cada amostragem. A variação desses parâmetros é um indicador da fidelidade do áudio. O PCM deu origem a diferentes formas de digitalização sonora. As empresas Sony e Philips, durante os anos 1970, desenvolveram esta tecnologia por meio do CD, que tem taxa de amostragem de 44.1 KHz e amplitude de 16 bits. Já o PCM com 8 KHz de amostragem e 8 bits de resolução é utilizado no sistema telefônico.

experimentação com todos esses recursos. Assim, além dos efeitos técnicos, essas experiências geraram muitos efeitos artísticos. O MIDI, por exemplo, permitia converter um sinal de áudio em uma gama enorme de diferentes timbres, o que passou a ser usado em grande medida por muitos músicos em suas gravações. Na década de 1980, ainda se usava muito mais a gravação de rolo, embora muitos dos periféricos, tais como delays e reverbs, já fossem digitais. Certamente entre os anos 1980 e 1990 aconteceu um período de transição para o digital em que diferentes formas de armazenamento de áudio coexistiram, mas a tendência para o digital ganha cada vez mais força nos anos 1990, ainda que esse movimento tenha começado muito antes, como citado, com as primeiras experiências envolvendo delays digitais. Nos anos 1970, por exemplo, muitos desses recursos digitais já estavam disponíveis, porém eram demasiadamente caros, portanto poucas pessoas tinham acesso a eles.

Não se declara, aqui, exatamente a transição para as gravações diretas no computador, mas sim para o sistema ADAT, que já era digital. Mesmo que fosse algo ainda rudimentar, já era um equipamento mais portátil e confiável que as fitas de rolo. O armazenamento era realizado em fitas, mas estas não eram no formato magnético, e sim digital. É claro que nem todos os trabalhos gravados nessa época já utilizavam esse sistema, mas, sendo muito prático e barato, passou a ser usado com cada vez mais frequência e não só por estúdios de grande porte, mas também em estúdios de gravação menores.

Ressalta-se um aspecto, quanto às gravações, que é o número cada vez maior de canais disponíveis. Se nos anos 1960 as gravações eram feitas com apenas quatro canais, posteriormente, passaram a ser utilizados oito e 16 vias. Nos anos 1970, os gravadores de 16 canais já eram utilizados, e esse número aumentou ao longo dos anos, sendo hoje em dia o número de canais virtuais disponíveis infinito. Essas mudanças decerto influenciaram diretamente os processos de edição, mixagem e masterização, que também foram evoluindo ao longo do tempo. Nas gravações analógicas, com o uso de rolo, existiam poucas opções quanto à edição. Era possível gravar novamente, por cima de um trecho, que não atingiu um resultado satisfatório, por exemplo, mas as edições eram imprecisas, demoradas e, muitas vezes, com resultados ruins. Era comum que se gravasse muitas vezes a mesma música, para depois selecionar os melhores trechos e assim montar a forma da peça. Com a gravação digital, as possibilidades e edição são inúmeras e os resultados muito mais eficientes. A masterização, na época do vinil, era um processo que visava equilibrar os níveis de volume e equalização de diversas faixas em estéreo de um mesmo álbum, por exemplo. Esse processo normalmente era feito em conjunto com o engenheiro de corte, que estabelecia os critérios para o áudio de forma que o sulco do vinil não ficasse muito profundo, o que poderia ocasionar o pulo da agulha. De

forma geral, o engenheiro de corte fazia uso de compressores e equalizadores para acertar os níveis de um determinado fonograma de uma forma padronizada. Posteriormente, o processo de masterização passou a ser utilizado para que o resultado final do áudio também pudesse ser melhorado após a mixagem.

Vale ressaltar também que, em meados da década de 1990, introduziu-se o sistema Protools6, em suas primeiras versões, software esse que é usado, com frequência, em gravações profissionais até o presente momento e que permite o armazenamento das informações diretamente no disco rígido do computador, o que torna todo o processo muito mais confiável e preciso.

Assim, é bastante provável que o disco Cheio de Dedos tenha sido gravado pelo sistema ADAT, posto que, a partir do momento em que este formato entrou em cena, foi adotado pela maioria dos estúdios de gravação. De forma geral, somente os estúdios com uma característica mais saudosista continuaram gravando por essa época, utilizando-se de fitas magnéticas. Seu lançamento já foi feito diretamente do formato CD.