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Sistemas de encontros e esquivanças

Refletir para recortar e abordar

2 | MÉTODO E APRESENTAÇÃO DO CAMPO

2.1 Níveis de análise, variáveis e técnicas/ferramentas

2.1.3 Sistemas de encontros e esquivanças

Uma vez analisados sintaticamente, os padrões espaciais que repercutem diretamente no desempenho da atividade, neste nível de análise são consideradas as variáveis relacionadas aos sistemas de encontros entre os sujeitos que, direta (que permanecem) ou indiretamente (em movimento), interessam ao bom andamento da atividade comercial observada e, consequentemente, à vida social do local. Desta vez, as categorias desvendam a passagem da análise entre os padrões espaciais e os de copresença, clareando um dos aspectos da interface entre o contexto e a atividade. Naquele nível é indicada a potencialidade dos encontros, que neste nível são constatados43. As variáveis deste nível são meios para a obtenção de informações sobre a passagem e, principalmente, a permanência de pessoas nos pontos de comércio observados.

As técnicas para o levantamento da vida pública formuladas por Jan Gehl, foram revisadas e utilizadas por Tenorio (2012) em sua tese, bem como Ribeiro (2013) em sua dissertação. Seguindo esta linhagem, no âmbito da pesquisa sobre arquitetura sociológica em Brasília, lanço mão destas técnicas com as devidas adaptações, por conta das especificidades do objeto de pesquisa.

As técnicas utilizadas para o levantamento do fluxo e atividades das pessoas (...) seguem sendo utilizadas nas consultorias que seu escritório presta para prefeituras ao redor do mundo (...) que têm interesse em obter mais urbanidade em áreas consolidadas, normalmente centros urbanos. (...) Consistem principalmente em identificar o tráfego de pedestres e as

atividades estacionárias ocorridas em locais selecionados. São

levantamentos simples, mas que demandam tempo de observação. (...) Para o tráfego de pedestres, os locais são escolhidos previamente, bem como são definidos os detalhes que se deseja obter: idade e sexo dos passantes, direção, lado da rua. A contagem é feita no inverno e no verão, em países onde estas duas estações são muito diferenciadas, de dia e à noite, em um dia da semana típico (normalmente de terça a quinta), e em um dia de fim de semana (normalmente sábado). Conta-se o número de pedestres que passam por um determinado ponto, por 10 minutos consecutivos, a cada hora. (...) O resultado obtido é matéria prima para várias informações derivadas. (...) A saída mais comum são gráficos que

                                                                                                               

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Holanda (2002:110), apresentando o conceito de comunidade virtual de Hillier, que o sintetiza como “campo de encontros prováveis”, clareia a interrelação entre os níveis Padrões espaciais e Sistemas de encontros e esquivanças. No primeiro, a análise é direcionada ao potencial da configuração do lugar, para que no segundo, sejam comprovados, ou não, os índices de copresença apontados nos mapas de integração. Esta correlação é descrita na categoria denominada predictibilidade.

apresentam a intensidade do fluxo de pedestres e sua variação ao longo das horas do dia. (TENORIO, 2012, p. 127-128)

As adaptações feitas se devem ao fato de que o objeto de estudo é uma atividade específica, que já tem seu lugar de ocorrência estabelecido. Não se aplica, então, identificar “atividades estacionárias ocorridas em locais selecionados”. Em relação aos que estão de passagem, é feita somente a contabilização, sem considerar idade, sexo, direção, ou mesmo, lado da rua. Como são o foco do estudo, os que permanecem no ponto de comércio, para consumir, ou não, são contabilizados levando-se em conta suas características, como gênero e faixa etária. Ademais, é registrado o comportamento destas pessoas, no que diz respeito à distribuição no local e no tempo.

Outra especificidade do objeto de estudo que leva a adaptações às técnicas de Gehl é a limitação de funcionamento dos pontos de comércio aos dias úteis da semana (na maior parte dos observados) e a determinados turnos do dia e não o dia inteiro. Devido a isso, para as variáveis sobre comportamento, observações sistematizadas foram feitas, levando-se em consideração o tempo que cada atividade de comércio permanece no local. Estas observações foram feitas em intervalos intercalados de tempo: 15 minutos contabilizando, 15 minutos não.

Este mapeamento é constituído, então, de características básicas (gênero e faixa etária) e comportamentais (localização de permanência) das pessoas - informações para serem confrontadas com os mapas e dados dos níveis anteriores e do nível seguinte.

Tabela 2.3 – variáveis, variabilidade e técnicas/ferramentas do nível analítico

Sistemas de encontros e esquivanças.

VARIÁVEIS VARIABILIDADE FERRAMENTAS

15 Quantidade de pessoas –

passagem e permanência

quantidade de pessoas observação

sistematizada: contabilização intercalada

16 Variedade de pessoas na

permanência: gênero e faixa etária

quantidade de pessoas distribuída em (F); (M) e Quantidade de pessoas distribuídas em (crianças); (adolescentes); (20-30); (30- 40); (40-50); (50-60); (> 60)

17 Distribuição de pessoas no tempo e

no espaço

posições das pessoas

contabilizadas no espaço da atividade

mapeamento comportamental

Variáveis

15) Quantidade de pessoas – passagem e permanência

Esta variável indica basicamente a intensidade de utilização do local em que o ponto de comércio se insere, pelos sujeitos. Está diretamente ligada à variável que informa sobre proximidade de atividades em relação ao ponto. Relacionada com outras variáveis, físicas inclusive, ela indica se o lugar estudado tem potencial de sucesso para o comércio informal. Os que passam e os que permanecem são contabilizados de modo separado, lembrando que, em relação aos que passam é contabilizada somente a quantidade, enquanto a variedade – gênero e faixa etária – dos sujeitos é detectada somente nos que permanecem. Para esta variável, dentro do respectivo nível analítico, são feitas as contagens intercaladas e, com base nestes registros, os mapas comportamentais são montados.

16) Variedade de pessoas na permanência

Quanto maior a variedade da clientela do ponto de comércio, melhor é o seu desempenho. Diversas são as características que descrevem esta variedade, porém gênero e faixa etária são as representativas e detectáveis por observação que interessam neste nível para indicar a variedade dos sujeitos.

Um espaço público bem sucedido deve permitir a copresença de pessoas diferentes: homens e mulheres com diferentes idades, de diferentes origens, de distintas condições físicas, financeiras, culturais, educacionais, em diferentes fases da vida, que morem em diferentes lugares, possuam ocupações e interesses diversos. A variedade de pessoas deve refletir a sociedade onde o espaço se insere, devendo incluir moradores da área. (TENORIO, 2012, p. 182)

17) Distribuição de pessoas no tempo e no espaço

Atrelada à variedade, a distribuição das pessoas no tempo e no espaço completa o que busco no comportamento daqueles que, de uma forma ou de outra, entram em contato com o ponto de comércio. A detecção da quantidade das pessoas que permanecem, por meio da variável anterior é feita com base nesta distribuição. É desejável que durante todo o período de tempo em que o ponto de comércio ocupa

um determinado lugar, haja pessoas passando. O fluxo de sujeitos deve ser bem distribuído durante este período. Em relação à passagem, é importante a quantidade das pessoas e não as direções de deslocamento na proximidade ou dentro do espaço convexo em que o ponto se encontra. Isto se explica pela importância dada ao contato dos sujeitos com o ponto de comércio, e não de onde eles vêm ou para onde vão. As posições de permanência variam muito, pois as pessoas circulam pelos espaços determinados pelos elementos físicos do ponto de comércio com o ambiente, enquanto permanecem ali. São marcadas, então, somente as posições das pessoas quando são contabilizadas.

A variável indica o grau de aproveitamento destes espaços pelos sujeitos que ali passam ou permanecem para a compra e o consumo dos produtos vendidos, o que repercute sobremaneira na vida social do espaço ocupado pelo ponto de comércio e arredores.

O mapeamento comportamental constitui a técnica utilizada e o intercalar dos períodos de 15 minutos é distribuído no tempo em que o comércio permanece no local apropriado pelo comerciante. Os mapas utilizados são os de cheios e vazios determinados pelos elementos físicos envolvidos na atividade entre si e com o espaço em que se insere.