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SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

3 SISTEMAS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E LIBERDADE DE

3.3 SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Apesar da grande importância da Organização das Nações Unidas, as suas ações não se mostraram eficientes diante das peculiaridades culturais e históricas dos continentes, de tal sorte que restou necessária a implementação de sistemas regionais de proteção. Assim, paralelamente ao Sistema Global, foram formados sistemas regionais de proteção aos direitos humanos, cujo alcance e atuação “tem-se revelado mais positiva na medida em que os Estados situados num contexto geográfico, histórico e cultural tem maior probabilidade de transpor os obstáculos que se apresentam em nível mundial” (GUERRA, 2011, p.133), na medida em que alcançar um consenso político se torna mais facilitado.

Estes sistemas regionais, no curso do século XX, se institucionalizaram como sistemas de promoção dos Direitos Humanos em três âmbitos: o europeu, americano e africano, todos eles tendo em comum o objetivo de afirmar a primazia dos Direitos Humanos de acordo com os princípios contidos nos instrumentos internacionais, ainda que adotem práticas diversas em face de suas peculiaridades culturais. Ainda, se poderia falar em um incipiente sistema árabe de proteção aos direitos humanos, o qual, no entanto, apesar de já dispor de uma declaração de direitos humanos, diverge dos demais sistemas quanto a adoção incondicionada à Declaração Universal de Direitos Humanos e às práticas de proteção a tais direitos.

Organizados de forma regional, estes sistemas regionais caracterizam-se por uma maior homogeneidade entre seus membros, se comparados à abrangência do sistema global, tanto no que se refere aos seus sistemas jurídico-políticos, quanto aos aspectos culturais. Isto acaba por tornar os seus mecanismos de proteção mais eficazes em relação àqueles do sistema da ONU. Todavia, não há contradição entre os sistemas que, ao contrário, se complementam a fim de buscar uma maior efetividade na tutela dos direitos humanos, isso porque “a coexistência de instrumentos jurídicos garantidores dos mesmos direitos implica na ampliação de proteção

daqueles e não conflito” de acordo com Mércia Vasconcellos (2010, p.50), pois há uma unidade básica ideal entre eles, qual seja, a de proteger amplamente os direitos humanos.

No mesmo sentido, Cançado Trindade (1997, p.89) assinala que, ao se complementarem “os instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos que operam nos planos global e regional, desviam assim o foco de atenção ou ênfase da questão clássica da estrita delimitação de competência para a da garantia de uma proteção cada mais eficaz dos direitos humanos”, ficando descartadas qualquer possibilidade de antagonismos entre eles, pois “a multiplicação de instrumentos – globais e regionais, gerais ou especializados – sobre direitos humanos teve o propósito e a consequência de ampliar o âmbito de proteção devida às supostas vítimas”.

Sob esta ótica, restou fundamental a atuação das organizações regionais tais como o Conselho da Europa, Organização dos Estados Americanos, Organização da Unidade Africana e Liga dos Estados Árabes, da qual emanaram os instrumentos e os organismos que alicerçam a formação dos sistemas regionais de proteção aos direitos humanos, os quais tem como base principiológica a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

3.3.1 Sistema Regional Europeu de proteção dos Direitos Humanos

O Sistema Regional Europeu de proteção aos Direitos Humanos teve o seu surgimento associado a uma resposta às atrocidades cometidas na Segunda Guerra Mundial, durante a qual cometidas barbáries em total desrespeito aos direitos mínimos do ser humano.

Imbuídos do convencimento acerca da necessária proteção aos direitos humanos, no ano de 1949, em Londres, representantes do Reino Unido, Bélgica, Dinamarca, França, Holanda, Itália, Luxemburgo, Noruega e Suécia deliberaram a criação de mecanismos de controle com a responsabilidade de defender os direitos mínimos de dignidade da pessoa humana no âmbito dos Estados Europeus, restando instituído a partir de então o Conselho da Europa.

Tal órgão, com sede em Estrasburgo/França, teve como primeira atividade a elaboração de um documento de proteção aos direitos humanos, que veio a ser a Convenção do Conselho da Europa. Este documento, no entanto, em virtude da ausência de real proteção, foi substituído,

por exigência do denominado Movimento Europeu41, pela Convenção Europeia de Direitos

Humanos, aprovada em Roma, no dia 04 de novembro de 1950, a qual entrou em vigor em 1953 (MENDEL, 2009).

41 O Movimento Europeu correspondeu à atividade exercida por Organizações Internacionais Abertas à Sociedade Civil que reivindicava a criação de um instrumento de proteção mais amplo, efetivo e capaz de ser aplicado/exigido em todo o território europeu (MENDEL, 2009).

A Convenção Europeia de Direitos Humanos42 representa, assim, o principal documento

normativo a orientar o sistema regional europeu de proteção dos direitos humanos. Referido instrumento se organiza a partir de tríplice estrutura: Parte I – Previsão dos direitos e liberdades fundamentais; Parte II – Estrutura e funcionamento; Parte III – Disposições diversas.

A primeira parte da Convenção apresenta a proteção aos direitos civis e políticos, sendo alvo de críticas diante da omissão em relação à defesa dos direitos econômicos, sociais e

culturais43. De fato, como destacado por Comparato (2008, p.208) os direitos reconhecidos em

tal instrumento cujo “alcance limita-se aos direitos individuais clássicos, representa, sob este aspecto, um recuo em relação a Declaração Universal”, pois a Convenção Europeia ao estipular apenas direitos civis e políticos relegou os direitos sociais, culturais e econômicos já afirmados no instrumento universal. Não obstante a limitação dos direitos assegurados, a importância deste instrumento se afirmou no seu alcance amplo pois garantia tais direitos a toda e qualquer pessoa que se encontrem no território europeu, independentemente de sua nacionalidade.

O direito à liberdade de expressão aparece inscrito entre os direitos tutelados por esta Sistema e descritos na Convenção Europeia consoante disposição de seu artigo 10, em conjunto a outros de natureza civil e política como: o direito à vida (art. 2º), a proibição da tortura (art. 3º), a proibição da escravatura e do trabalho forçado (art. 4º), o direito à liberdade e à segurança (art. 5º), direito a um processo equitativo (art. 6º), garantia ao princípio da legalidade (art. 7º), direito ao respeito pela vida privada e familiar (art. 8º), liberdade de pensamento, de consciência e de religião (art. 9º), liberdade de reunião e de associação (art. 11), direito ao casamento (art. 12), proibição de discriminação (art.14), dentre outros de mesma natureza.

Em sua segunda parte, a Convenção instituiu um sistema judicial de proteção a estes direitos através da ação de três órgãos de defesa dos direitos humanos: Comissão Europeia de Direitos Humanos (criada em 1954), Corte Europeia de Direitos Humanos (criada em 1959) e o Comitê de Ministros do Conselho da Europa (criado em 1959).

Inicialmente o Comitê de Ministros teve função diplomática/política, sendo competente para aferir eventual responsabilidade internacional dos Estados e, entendendo necessário, a aplicação de penalidade. Já à Comissão Europeia de Direitos Humanos, composta por membros eleitos pelo Comitê de Ministros em quantidade igual a de Estados que a houveram ratificado

42 Disponível em http://www.echr.coe.int/Documents/Convention_POR.pdf. Acesso em 20.05.2017.

43 Em razão destas críticas, seguiram-se vários protocolos com vistas a modernizar a CEDH, dentre estes a Carta

Social Europeia de 1965, documento que acrescentou a proteção dos direitos humanos de 2ª geração, quais sejam os direitos econômicos, sociais e culturais. Destaca-se que em 1996 tal instrumento foi revisado e, conforme Piovesan (2016), novos direitos foram introduzidos, tais como o direito de proteção em face da pobreza e exclusão social e o direito à moradia.

a Convenção, cabia reunir-se em oito sessões anuais, tendo como principal função investigar as denúncias trazidas ao seu conhecimento, além propor soluções amigáveis e ordenar medidas preliminares de proteção. À Corte Europeia de Direitos Humanos, que como a Comissão não era um órgão permanente, cabia julgar casos de desrespeito aos direitos humanos encaminhados pela Comissão, desde que o Estado-membro envolvido houvesse reconhecido a sua jurisdição (MAZZUOLI, 2011).

Posteriormente, por força do Protocolo 11 que entrou em vigor em 1º de Novembro de 1998, foram extintas a Comissão e a Corte Europeia e instituída uma nova Corte Europeia de Direitos Humanos, de caráter permanente e jurisdição compulsória a todos os Estados-membro que houverem ratificado a Convenção. A Corte passou a ter dupla função: a) contenciosa ou judicial, ou seja, a Corte avalia a responsabilidade dos Estados a partir da denúncia de violação aos direitos humanos e entendendo ter havido violação, julga a responsabilidade do Estado, dispondo recomendações para que novas violações não ocorram e podendo, a partir do pedido da parte, impor pagamento de indenizações; e, b) consultiva, conforme previsto nos artigos 47 e 48 da Convenção, a qual, por conta das limitações trazidas no referido instrumento até 2007 não havia sido exercida pela Corte pois de acordo com Flávia Piovesan (2014, p. 121)

[..] há a restrição de que tais opiniões consultivas não devam referir-se a qualquer questão afeta ao conteúdo ou ao alcance dos direitos e liberdades enunciados na Convenção e em seus Protocolos, ou mesmo a qualquer outra questão que a Corte ou o Comitê de Ministros possa levar em consideração em decorrência de sua competência. (...) Isso explica o porquê de a Corte Europeia não ter proferido, até 2007, qualquer opinião consultiva.

Além disso, o Protocolo nº 11 suprimiu as cláusulas facultativas de aceitação do direito de petição individual, conferindo ao indivíduo, organizações não governamentais e a grupos de indivíduos o acesso direto à Corte, sem necessitar de um órgão intermediário que previamente analisasse a admissibilidade da petição, como antes ocorria em relação à Comissão Europeia.

O processamento desta petição inicia-se com seu encaminhamento para a Corte, onde ela é distribuída a uma das seções e lhe é designado um relator. Após um exame preliminar, o relator verifica se a queixa deve ser submetida ao comitê. Caso seja submetida ao comitê, este poderá declarar, por unanimidade, a inadmissibilidade ou o arquivamento da petição individual (artigo 28 da Convenção Europeia). Caso a petição individual seja admitida pelo comitê, esta será encaminhada a uma seção para análise quanto à admissibilidade e ao mérito (artigos 29 da Convenção Europeia). Quando a seção decide admitir a demanda, procede-se uma apreciação contraditória da petição em conjunto com os representantes das partes. Os juízes podem, então,

convidar as partes para a apresentar provas suplementares e observações por escrito, incluindo, um eventual pedido de reparação amigável e, ainda, a participarem de uma audiência pública sobre o mérito do caso. Feita a instrução probatória e analisado o mérito da questão, a seção prolata seu acórdão, cuja decisão possui natureza definitiva quando as partes declaram que não solicitarão a devolução do assunto ao tribunal pleno ou quando haja o transcurso de três meses sem devolução da matéria ao tribunal pleno (artigo 44 da Convenção Europeia).

Em relação ao Comitê de Ministros, mesmo após o Protocolo nº 11, este permaneceu com a função de supervisionar a execução das decisões da Corte, buscando uma composição política junto aos Estados para seu cumprimento.

Como se procurou demonstrar, desde a sua criação o Sistema Europeu de Proteção dos Direitos Humanos buscou evoluir de formar a oferecer uma melhor proteção à pessoa frente às violações de direitos humanos. Para atingir este propósito, este sistema regional tem incluído outros instrumentos estabelecendo direitos substantivos de forma a alargar o seu rol normativo originário, entre os quais ao presente estudo merece destaque a Carta dos Direitos Fundamentais

da União Europeia44 que foi proclamada solenemente pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho

da União Europeia em 7 de dezembro de 2000, na qual “os povos da Europa, estabelecendo entre si uma união cada vez mais estreita, decidiram partilhar um futuro de paz, assente em valores comuns” como afirma em seu preâmbulo, reconhece um rol de direito, entre os quais:

Art.11 Liberdade de expressão e de informação

1. Todas as pessoas têm direito à liberdade de expressão. Este direito compreende a liberdade de opinião e a liberdade de receber e de transmitir informações ou ideias, sem que possa haver ingerência de quaisquer poderes públicos e sem consideração de fronteiras.

2. São respeitados a liberdade e o pluralismo dos meios de comunicação social.

Mais recentemente, este tema foi objeto da Declaração do Comitê de Ministros datada

de 7 de dezembro de 201145, quando debatidos os desafios para o exercício efetivo da liberdade

de expressão e do direito de transmitir e receber informações no ecossistema das novas mídias, em especial em relação a internet, restou reafirmado que a liberdade de expressão, o direito de transmitir e receber informações. Neste relatório é identificada pela primeira vez a expressão “liberdade da mídia”, buscando ultrapassar os limites da já propalada “liberdade de imprensa”, a qual, todavia, permanece entronizada naquela. Esta nova expressão, todavia, busca abarcar todas as formas de difusão de ideias possíveis diante das novas tecnologias e da configuração

44 Disponível em http://www.europarl.europa.eu/charter/pdf/text_pt.pdf. Acesso 26.05.2017. 45 Disponível em https://rm.coe.int/168059041e. Acesso em 26.05.2017.

do ciberespaço, garantindo a liberdade de ter opiniões, receber informações e transmitir ideias sem interferência de autoridade pública e independente de fronteiras.

Neste crescente aperfeiçoamento e adequação aos novos desafios, o sistema europeu segue buscando cumprir seu objetivo de proteção aos direitos humanos, reconhecendo como fundamental o direito à liberdade de expressão, informação e comunicação.

3.3.2 Sistema Regional Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos

Diversamente do Sistema Europeu, o Sistema Regional Interamericano aflorou em meio ao exercício de formas arbitrárias e ditatoriais de governo, razão pela qual a maior parte de seus Estados membros são democracias recentes e pouco consolidadas, convivendo, ainda hoje, com o legado dos regimes autoritários no que diz respeito a uma cultura de violência e uma precária tradição de respeito aos direitos humanos. Em face a este cenário, Flávia Piovesan (2014, p.134) ressalta que a implementação de um sistema de proteção aos direitos humanos

[...] na região latino-americana tem um duplo desafio: romper em definitivo com o legado da cultura autoritária ditatorial e consolidar o regime democrático, com pleno respeito aos direitos humanos amplamente considerados – direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais.

Os principais instrumentos declaratórios que validam o sistema interamericano são a Carta de Organização dos Estados Americanos (1948), a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948), a Convenção Americana de Direitos Humanos (1969) e o Protocolo Adicional à Convenção Americana (1998).

Inicialmente, quando ainda não instituído um sistema operativo de defesa dos direitos humanos, coube à Organização dos Estados Americanos realizar a proteção destes direitos pelo cumprimento da Carta da OEA, aprovada na 9ª Conferência Interamericana em Bogotá em 30 de abril de 1948, e da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, aprovada no mesmo momento. A Declaração tratava-se mais de uma carta de intenção do que propriamente um instrumento legislativo, tanto assim que prevê no seu preâmbulo que o sistema de proteção no âmbito internacional deveria ser posteriormente fortalecido mediante elaboração de tratados

com força vinculante obrigatória. Já a Carta da Organização dos Estados Americanos46, por sua

vez, apontava poucas e gerais disposições acerca de direitos humanos, apenas constando no seu artigo 45, item “a” o compromisso dos Estados membros em envidar esforços na aplicação de

princípios, entre eles, “que todos os seres humanos, sem distinção de raça, sexo, nacionalidade, credo ou condição social tem direito ao bem-estar material e a seu desenvolvimento espiritual em condições de liberdade, dignidade, igualdade de oportunidades e segurança econômica”.

A definição operacional deste sistema de proteção somente foi instituída durante a 5ª Reunião de Ministros de Relação Exteriores em Santiago do Chile em 1959, onde restaram aprovadas resoluções sobre o desenvolvimento e fortalecimento do sistema interamericano de direitos humanos. Nesse aspecto, a Declaração originada desta reunião, Declaração de Santiago, proclama que "a harmonia entre as Repúblicas americanas só pode existir enquanto o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais e o exercício da democracia representativa forem realidade, no âmbito interno de cada uma delas" e declara que "os governos dos Estados americanos devem manter um regime de liberdade individual e de justiça social fundado no respeito dos direitos fundamentais da pessoa humana" (MENDEL, 2009).

Mas o principal instrumento que orienta o sistema interamericano se consubstancia na Convenção Americana de Direitos Humanos, adotada em 1969 na cidade de San José, na Costa Rica, durante conferência intergovernamental, a qual, todavia, somente entrou em vigor em 18

de Julho de 197847.

A Convenção Americana de Direitos Humanos48 restou apresentada a partir da seguinte

estrutura: Parte I – Direitos Civis e Políticos; Parte II – Meios de alcance da proteção. Como se percebe de sua primeira parte, a Convenção Americana, também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, da mesma forma que o exemplo europeu, inicialmente afirmou direitos civis e políticos para somente posteriormente, em 1998, ao ser aprovado o Protocolo Adicional, também nominado de Pacto de San Salvador, incluir a proteção aos direitos econômicos, sociais e culturais. Em sua segunda parte, institui a Comissão Interamericana de Direitos Humanos como órgão capaz de proteger e implementar os direitos humanos previstos.

Substancialmente, a Convenção Americana assegura um rol de direitos civis e políticos similar ao Previsto pelo Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, garantindo o direito à vida, a não ser submetido à escravidão, à liberdade, a um julgamento justo, à privacidade, à liberdade de consciência e religião, à liberdade de expressão e de pensamento, à liberdade de associação, o direito à participar do governo, de igualdade perante a lei e a proteção judicial, entre outros. Todavia, não enunciou de forma específica nenhum direito social, cultural ou

47 O Estado Brasileiro foi um dos que mais tardiamente aderiram à Convenção Interamericana de Direitos Humanos, a qual somente foi ratificada pelo Brasil em 1992 através do Decreto nº 678 de 06 de Novembro de 1992. Esta demora é reflexo do processo de transição destes países de um governo autoritário para governos democráticos.

econômico, os quais, como acima já referido, somente foram reconhecidos em 1988, por meio do Protocolo de San Salvador quando incluídos o direito ao trabalho, a seguridade social, liberdade sindical, à saúde, à educação, à proteção da família, direitos da crianças, direitos dos idosos, das pessoas portadoras de deficiência.

Cabe o registro que de forma semelhante à Convenção Europeia de Direitos Humanos, o Sistema Regional Interamericano não restringe a sua proteção aos nacionais dos países que ratificaram referido instrumento. Assim que a Convenção é aplicada a todo e qualquer indivíduo que se encontre em território do continente americano, independente da nacionalidade, ou seja, toda pessoa que seja vítima de violação de direitos humanos em algum Estado-parte do sistema, tem o direito de denúncia a fim de que tenha tal transgressão avaliada pelos órgãos competentes.

Então, a partir deste instrumento, o Sistema Interamericano foi concebido com vistas a investigação e a persecução em juízo das violações aos direitos humanos no âmbito dos países da OEA a partir da atuação de dois órgãos de funções complementares, embora distintas: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. O primeiro desses órgãos possui a sede em Washington, Estados Unidos, e o segundo em San José, na Costa Rica.

A Comissão Interamericana é composta por sete membros de reconhecido saber em direitos humanos, eleitos pela Assembleia Geral da OEA, com mandato de quatro anos, não podendo ser eleitos dois representantes de uma mesma nacionalidade. Cabe-lhe a promoção dos direitos humanos na América, através de recomendações aos Estados-partes prevendo a adoção de medidas adequadas à proteção dos direitos humanos, além de preparar estudos sobre este tema, solicitar informações aos governos acerca de medidas por eles adotadas para efetivar a aplicação da Convenção Americana e submeter um relatório anual à Assembleia Geral da OEA atualizando a situação dos direitos humanos nos diversos países membros.

A bem de dar cumprimento a esta atribuição, em relação ao tema em estudo, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos criou, em 1997, a Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão, encarregada de sistematizar a jurisprudência e o conhecimento acerca do direito à liberdade de expressão, além de publicar informes anuais, definir princípios, destacar práticas e denunciar situações de abuso e violações desse direito. Através de proposição desta relatoria, foi aprovada no ano de 2000 na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a Declaração

de Princípios sobre Liberdade de Expressão49.Em sua fundamentação resta afirmado que a sua

adoção decorreu da compreensão de que a consolidação e o desenvolvimento da democracia

49 Disponível em https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/s.Convencao.Libertade.de.Expressao.htm. Acesso