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Contributo para uma leitura da devoção e espiritualidade marianas: aproximação teológico-prática

2. A espiritualidade cristã: a oração e a intercessão como motivos intrínsecos à festa de Nossa Senhora das Candeias

3.1. Situação social e eclesial da região alentejana

Juridicamente, a Arquidiocese de Évora é a mais vasta de todo o território nacional. Situa-se na região sul do país, numa vasta área predominantemente agrícola- rural, notavelmente diferenciada do resto do país. Faz fronteira com as Dioceses de Lisboa e Setúbal a oeste, Santarém e Portalegre a norte, Badajoz-Mérida (Espanha) a este e a sul com a Diocese de Beja. Num universo nacional de cerca de 10 milhões de

habitantes a Arquidiocese tem cerca de 300 mil.69 Uma parte significativa da população

dedica-se à agricultura e vive sobretudo em meios rurais que distam bastante uns dos outros, o que favorece a interioridade e o isolamento entre a população. Geograficamente, a Arquidiocese de Évora estende-se por uma grande parte do Alentejo e abrange igualmente uma parte do Ribatejo, como sejam os distritos de Coruche e Benavente.

A Pastoral no Alentejo, em geral, e a Arquidiocese de Évora, em particular, têm características próprias pois é natural um pároco ter várias paróquias ao seu cuidado e com distâncias grandes entre elas, o que não favorece uma presença que deveria ser mais constante. Os párocos fixam-se nos grandes centros e daí dão assistência religiosa às outras paróquias que estão à sua responsabilidade. Esta situação vai criar nos cristãos leigos uma maior consciência e um maior empenho pois não só colaboram de uma forma mais activa como têm responsabilidades cada vez maiores nas Paróquias e centros de culto (Celebrações Dominicais na ausência do presbítero; Funerais; Concelhos Pastorais Paroquiais e Conselhos Económicos Paroquiais; outras actividades realizadas no âmbito da paróquia e da Diocese.

Apesar da pouca prática dominical o povo alentejano é naturalmente religioso e sempre foi capaz de expressar a sua fé através de uma religiosidade popular muito própria, especialmente dedicada à Virgem Maria. Define-se a si próprio como um povo cristão, crente em Deus, em Nossa Senhora e nos Santos. Em relação à religiosidade

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De acordo com os resultados preliminares do XIV Recenseamento Geral da População do INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA, Censos 2001 – Região Alentejo (Resultados Preliminares) – [URL] www.ine.pt (consultado a 24/06/2008). Segundo os dados censitários fixados em 12 de Março de 2001, a população residente na Arquidiocese é de 299.598 indivíduos.

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popular tem havido um respeito e apreço pela piedade popular e um sério esforço de evangelização a partir destas expressões de fé. A religiosidade popular afecta toda e qualquer acção pastoral, isto porque tem consequências sociais, colide com a liturgia oficial e afecta a evangelização. A religiosidade popular é, muitas vezes, a religiosidade que sustenta o povo. A questão que está presente no tratamento da religiosidade popular é o de uma pastoral muitas vezes conformista ou ingénua que a fomenta sem a criticar e avaliar, por um conhecimento superficial da mesma, onde muitas vezes se denota uma ausência de um processo evangelizador.

O Papa João Paulo II disse em Fátima no seu discurso aos Bispos, falando da piedade popular: “O vosso primeiro compromisso perante esta fé do vosso povo é o de reconhecê-la e apreciá-la; de respeitar as suas manifestações autenticas; de defende-la perante os fermentos que a põem em risco; de reforçá-la libertando-a de eventuais elementos de crendice e superstição e dando-lhe mais conteúdo doutrinal”. (cit. apud

Eborensia 19:140) Ora a ruralidade favorece a prática de uma religiosidade popular

bastante acentuada. A fé faz parte do seu estilo de vida e do seu património. Trata-se de uma religiosidade popular, transmitida de geração em geração. Esta religiosidade popular manifesta-se na fidelidade com que as pessoas participam nas manifestações externas de fé quer seja através das procissões, nomeadamente dos Passos, Ramos, do Enterro do Senhor, do Corpo de Deus e as procissões em honra do Santo Padroeiro ou de Nossa Senhora por quem o povo alentejano tem uma devoção muito particular. Nas palavras de Joaquim Lavajo:

Todas essas manifestações de religiosidade popular alentejana remontam aos séculos mais remotos da sua história. São prova disso mesmo a quantidade e dimensão das suas igrejas, principalmente dos santuários de peregrinação. O elevado número de conventos e de igrejas e a vitalidade das suas paróquias eram, nos séculos XVI, índices e motores da espiritualidade que alimentou a fé de tantos homens e mulheres que aqui nasceram ou por aqui passaram, como S. João de Deus, Santa Beatriz da Silva, S. Bartolomeu dos Mártires, Beato Inácio de Azevedo e companheiros, S. Francisco de Borja e S. João de Brito. Muitas paróquias do Alentejo nasceram à volta de conventos e Santuários, onde as populações alimentavam a sua fé. Como consequência da expulsão dos Jesuítas (1759), da extinção das ordens religiosas (1834) e da implantação da República, em 1910, desencadeou-se o processo de descristianização, com efeitos nefastos, que se manifestaram na falta de clero e de vocações sacerdotais e religiosas, na acentuada ignorância religiosa e no baixo índice de prática dominical. Apesar dos revezes referidos não existe paróquia na Arquidiocese de Évora que não tenha um Santuário, uma Igreja, um oratório ou um altar dedicado a Nossa Senhora, sob as mais variadas invocações. A Arquidiocese de Évora tem ainda activos 23 Santuários, cujas origens se perdem na neblina dos tempos. Vinte e dois são consagrados a Nossa Senhora. (Lavajo, 2000- 2001:219-220)

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Hoje em dia são as dioceses a sul de Portugal onde se dá um ligeiro crescimento da prática dominical, face ao sério e enorme trabalho pastoral que se tem vindo a desenvolver ao longo dos últimos anos. Não podemos, porém, medir a religiosidade ou a fé unicamente a partir deste indicador, prática dominical, mas não deixa de ser um dado importante a registar. É de apontar também o importante papel, no contexto desta Arquidiocese, que desempenha a acção social, uma vez que esta é de algum modo exercida directa ou indirectamente pela Igreja, conforme dados da Arquidiocese de Évora no seu Anuário de 2006.

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