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CAPÍTULO IV – Estudo de Caso: Santa Leopoldina – ES

4.2 Análise e diagnóstico do contexto municipal

4.2.2 Situação sociocultural

A precária situação econômica do município corrobora para intensificar os problemas sociais existentes. A evasão populacional é um deles, iniciada desde a decadência econômica do porto, com a construção de rodovias e linhas férreas. O ápice populacional se dá na década de 1920, quando chega ao número de 18.136 habitantes. Essa condição é demonstrada no Gráfico 3, cujos dados permitem compreender que, após 71 anos de declínio econômico, há a saída de 7.014 habitantes, o que resulta em aproximadamente 39% da população nos melhores períodos do município. Há um tímido crescimento na década de 1990, porém a partir do ano de 2000 novamente se tem a emigração.

Gráfico 3: Evolução populacional de Santa Leopoldina, de 1991 a 2010 Fonte: Site do IBGE

Acesso em: Jun. 2014

Na atual situação, tem-se que 2.615 habitantes residentes em áreas consideradas urbanas e 9.625 em áreas consideradas rurais16. Ou seja, quase 79% da população residem em áreas agrícolas, boa parte em propriedades privadas, desenvolvendo agricultura familiar ou indústria caseira alimentícia e artesanato. Tal área, por sua vez, é fracionada em pequenas comunidades (Figura 16).

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Dados levantados e analisados pelo IBGE.

Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/protabl.asp?c=608&z=cd&o=3&i=P>. Acesso em: 19 mar. 2014.

Figura 16: Divisão territorial do município de Santa Leopoldina por constituição de comunidades de imigrantes

Fonte: Site do IJSN Data: Março/2014

Em geral, elas são formadas, cada uma, por uma cultura diferente, cada qual de acordo com os imigrantes que ocupam o local. Tem-se uma homogeneidade local e uma diversidade total, que apenas se integram no centro urbano. São comunidades de italianos, pomeranos, alemães, descendentes de africanos, entre outros. Ao todo são 13 ao norte e 32 ao sul, conforme demonstrado na Figura 16. Algumas ainda mantêm festas e modos de vida tradicionais de suas origens. As festividades, em geral, são de cunho religioso, e acontecem em suas comunidades.

As festividades tradicionais que acontecem no sítio histórico são o Carnaval e as relacionadas ao Aniversário da Cidade. A administração pública tem tentado inserir no calendário anual festas juninas. Ademais, há pontualmente, durante o ano, algumas atrações promovidas pelo Governo do Estado, como o programa Circuito

Cultural, que percorre o estado com apresentações musicais e teatrais. O município eventualmente promove algum show. E, ainda, há uma vez por ano a caminhada que percorre o circuito intitulado “Caminho do Imigrante”, que passa pelo município indo em direção à Santa Teresa. Há uma tentativa tanto pela administração municipal, quanto pela estadual, de fortalecer a indústria do turismo agroecológico na região, com a inserção de trilhas, fazendas, comércios e a promoção de esportes relacionados ao usufruto das quedas d’água, correntezas e, também, pontos de altitude elevada, que permitem voos de asa-delta.

Os problemas de cunho social são, também, derivados pela precariedade na prestação de serviços de saúde e educação. Não há serviços médicos especializados, não há agentes de saúde e, segundo levantamento do INCAPER (PMDRS 2011-2020), há envolvimento, cada vez maior, da população jovem, com drogas ilícitas, bem como um considerável índice de alcoolismo. Nesse aspecto, os índices socioculturais não corroboram para a leitura do contexto do dia a dia, pois são elaborados a partir da disponibilidade de estruturas físicas e em quantidades de morte, nascimentos, etc. Não são aptos para a compreensão da dificuldade do acesso aos serviços, à deficiência pelo número irrisório de funcionários da saúde, ou pelo tipo de serviço e especialidades que são proporcionadas.

Quanto à formação escolar, os dados do IBGE apontam para uma situação favorável, considerando, a partir de números, o total de 9.955 habitantes alfabetizados, perfazendo 81% da população. O IDHM da educação estipulado em 2010 já aponta para o contexto mais real, com índice na faixa de 0 a 0,499, o que significa muito baixo desenvolvimento humano. Informações disponibilizadas pela Secretaria Municipal de Educação demonstram uma situação de precariedade. Não há professores suficientes no município para educação fundamental e média. Assim, as vagas de processos seletivos, muitas vezes, são preenchidas por professores de outras cidades, o que acaba se tornando oneroso ao município, tendo este que arcar com os custos de deslocamentos e permanências destes profissionais. Outra situação é a falta de interesse pelos próprios adolescentes – principalmente de zonas agrícolas – de continuar os estudos. Muitos não completam o ensino médio. Poucos são os que investem em cursos técnicos, profissionalizantes e superiores. Desde 2007, o município em parceria com a UFES – Universidade Federal do Espírito Santo – e o IFES – Instituto Federal do Espírito Santo – mantém um polo do

Programa Federal UAB – Universidade Aberta do Brasil, que ofertam ensino de graduação e pós-graduação por meio de EAD – Ensino a Distância. Consta, porém, os alunos aprovados nos processos seletivos são, principalmente, das cidades de Santa Maria de Jetibá, Santa Teresa, Cariacica e Vila Velha. O único curso com representatividade estudantil local é o curso de graduação em Pedagogia. Ainda são ministrados cursos de graduação de Ciências Contábeis, Física, Artes Visuais e Análise e Desenvolvimento de Sistemas. São ofertados cursos de pós-graduação tais como: Informática na Educação, Gestão Pública Municipal, Educação Ambiental, Educação no Campo, Gestão em Saúde e Proeja. Apesar de ser o polo, um atrativo de públicos intermunicipais, estes se deslocam numa frequência de 15 dias a 01 mês.

O índice de desenvolvimento humano municipal17 (IDHM) geral de 2010 é 0,626, o que indica uma razoável qualidade de vida em Santa Leopoldina. Porém, o que pode ser observado na realidade local não satisfaz tal expectativa. A começar pela situação da saúde que, complementando o exposto acima, e esmiuçando melhor o gráfico elaborado pelo IBGE, tem-se que os estabelecimentos municipais são de pronto atendimento e destinadas ao Programa Saúde da Família. Tratamentos específicos, emergências e intervenções cirúrgicas de maior grau de complexidade são encaminhados para unidades de Cariacica e Vitória. Sendo grande a parcela da população dependente dos atendimentos pelo SUS, e submetida, com frequência, a viagens para os cuidados da saúde. A população beneficiária de planos de saúde perfaz apenas 4,9%18 da população, que, para dispor dos serviços, precisa se deslocar para outros municípios, como Cariacica. Dois estabelecimentos são particulares, mas a maioria da população não possui renda suficiente para pagar os serviços ali prestados. Contradizendo a situação exposta, o IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – referente à saúde calculado para Santa Leopoldina, no ano de pelo IDHM Longevidade, que qualifica a saúde em Santa Leopoldina como “alto desenvolvimento humano” (Figura 17).

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O IDHM é calculado em dados que tentam elucidar o contexto social a partir das situações das áreas de saúde, educação e renda. Não possui a finalidade de mensurar a “felicidade” da população, e sequer contempla todas as outras características do desenvolvimento social. Seu principal objetivo é abrir a discussão de desenvolvimento para além da área econômica, esta indicada comumente pelo PIB (Produto Interno Bruto). Outras informações sobre o tema estão disponíveis em: www.pnud.org.br/IDH

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Dado a partir do SIAB, referente ao cadastro de famílias nacionais do ano de 2013. A porcentagem diz respeito a parcela da população composta por 3.577 famílias cadastradas em Santa Leopoldina. Disponível em: <www.deepask.com>. Acesso em: 21 jun. 2014.

Figura 17: Composição do IDHM nacional, ano de 2010 (06/2014)

4.2.3 Situação físico-natural (características ambientais primárias, encontradas