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Situações indutoras de stress, filtro cognitivo e apoio social

CAPÍTULO 2 A Psicologia Positiva e o Stress no Ensino Superior

1. Stress e Coping

1.1. Situações indutoras de stress, filtro cognitivo e apoio social

De acordo com Lazarus (1993), são indutoras de stress as situações em que o indivíduo avalia a relação que estabelece com o meio ambiente como excedendo os seus recursos, prejudicando, por isso, o seu bem-estar. Deste modo, as exigências são

sentidas como superiores aos recursos para enfrentá-las, quer se tratem de recursos individuais ou aqueles que o meio social pode oferecer.

As reacções individuais às situações indutoras de stress são bastante variáveis, pelo que perante a mesma condição diferentes pessoas reagem de forma distinta e a mesma pessoa pode ter reacções diversas ao longo do seu ciclo de vida. A título de exemplo, no contexto académico, há alunos que se sentem apavorados quando têm que realizar um exame e outros que encaram as situações de avaliação com relativa tranquilidade (Vaz Serra, 1999).

As circunstâncias indutoras de stress que, sublinhamos, têm uma importância relativa, podem ser de natureza física, psicológica ou social. Para além disso, podem ser externas ao indivíduo ou internas, traduzindo-se, neste caso, em imagens ou pensamentos repletos de emoções fortes e perturbadoras. Segundo Lazarus & Folkman (1984), estas situações podem ser enquadradas em três categorias: ameaça, dano e desafio. A ameaça refere-se à antecipação de uma possível contingência, que ainda não aconteceu. O dano diz respeito a algo que já ocorreu, restando ao indivíduo tolerar o acontecimento ou reinterpretar o seu significado e as suas consequências. O desafio representa uma circunstância em que o indivíduo sente que as exigências criadas podem ser alcançadas ou até ultrapassadas.

Vaz Serra (1999), propõe a organização dos acontecimentos indutores de stress nas seguintes grandes classes:

• Os acontecimentos traumáticos e/ou as grandes catástrofes, que afectam, ao mesmo tempo, um elevado número de pessoas de determinada região;

Os acontecimentos significativos de vida (Major Life Events), que se traduzem em ocorrências importantes que podem determinar uma alteração no estilo de vida do indivíduo;

• Situações crónicas, que se referem a problemas e assuntos perturbadores tão regulares que se comportam como se fossem contínuos, como, por exemplo, ter frequentemente tarefas a realizar com um prazo limite ou ter demasiadas solicitações para cumprir ao mesmo tempo;

Micro-indutores de stress (Hassles), definidos como situações regulares do quotidiano, que se tornam irritantes, exigentes e incomodativas e que podem ser

minoradas nos seus efeitos se entretanto ocorrerem acontecimentos positivos compensadores;

Macro-indutores de stress, relacionados com condições que o sistema socio- económico impõe ao indivíduo;

• Acontecimentos desejados que não ocorrem e que representam vontades que

não se materializam ou cuja concretização é tardia;

• Traumas ocorridos em determinado estádio de desenvolvimento,

nomeadamente na infância e que podem ter consequências nefastas na vida adulta. A repercussão que determinado acontecimento tem sobre o indivíduo depende, sobretudo, do modo como é avaliado, da percepção de existência ou não de controlo sobre a situação e do apoio que se pode obter. As situações indutoras de stress são “filtradas” por cada indivíduo, mediante um processo de avaliação: se considerar que determinada circunstância é importante e que não tem os recursos necessários para ultrapassar as exigências que lhe são colocadas “entra em stress”, numa resposta cuja intensidade será atenuada em função do apoio social a que pode aceder.

O significado psicológico construído pelo indivíduo sobre determinado acontecimento, que envolve as suas experiências prévias, que o levam a pensar, sentir e agir de determinada maneira, é o factor crucial e a causa próxima explicativa da reacção de stress.

O processo de interpretação das circunstâncias implica uma avaliação primária, secundária e reavaliação (Vaz Serra, 1999).

Na avaliação primária, que pode ser feita de modo distorcido e irrealista, o indivíduo tenta conhecer o significado do encontro com determinada situação e as consequências para o seu bem-estar. Na avaliação secundária, o individuo procura encontrar uma resposta para a resolução dos problemas com que se depara, fazendo juízos relativos aos recursos pessoais e sociais que possui. Através da reavaliação, realiza-se um balanço entre as exigências criadas pela situação (avaliação primária) e a capacidade de resposta (avaliação secundária); desta depende o vir ou não a sentir-se em

stress e a escolha das respostas a adoptar.

Caso a pessoa tenha uma percepção de controlo da situação e de uma boa utilização dos seus recursos, adquirirá um sentido de competência e desenvolverá

expectativas de auto-eficácia, aspectos fundamentais para a sua saúde mental, tal como o apoio social.

As necessidades ligadas ao apoio social são sentidas desde o nascimento e revelam-se úteis para o ajustamento, bem-estar e qualidade de vida dos indivíduos. Cutrona (1996, cit. In Vaz Serra, 1999) refere que com níveis baixos de apoio social aqueles que são submetidos a stress intenso sofrem, consequentemente, de má saúde física e mental, enquanto que aqueles que estão protegidos por níveis elevados de apoio, mesmo quando submetidos a um situações adversas, não apresentam marcada perturbação.

Os recursos da rede social são constituídos pelas relações sociais disponíveis, que podem prestar ajuda em caso de necessidade (família, amigos, colegas, conhecidos). As pessoas que pertencem ou têm a percepção de pertença a uma rede relacional coesa e disponível sentem de forma menos intensa as situações de stress. O apoio social permite estabelecer laços afectivos, que proporcionam segurança, contribuem para a integração social dos indivíduos, favorecem o reconhecimento do seu valor e competência, ajudam a fomentar relações de confiança e criam oportunidades para ajudar outras pessoas.

Embora todos os tipos de apoio social sejam úteis, uns revelam-se mais válidos do que outros, em função do grau de controlo sobre as circunstâncias indutoras de

stress. Quando a situação é controlável, ou percebida como tal, os melhores apoios são

o instrumental e o informativo (oferecer apoio material, prestar informações); quando a situação é incontrolável, ou o indivíduo a percepciona assim, o apoio afectivo revela-se mais adequado. O apoio perceptivo, que leva o indivíduo a reformular o seu problema num contexto diferente, é particularmente útil para corrigir a distorção da realidade que possa estar a acontecer. Neste caso, tal como propõem Beck e Emery (1985), pode ser útil o recurso ao método socrático, que permite à pessoa questionar a evidência e sustentação empírica dos seus pensamentos, de modo a que possa substituir as suas distorções cognitivas por pensamentos mais funcionais e ajustados à realidade.

Quando um indivíduo entra em stress ocorre um processo de activação, que envolve todo o organismo, traduzindo-se num conjunto de alterações biológicas, cognitivas, emocionais e comportamentais, que interagem reciprocamente. O perfil de resposta manifestada depende da constituição genética do indivíduo, do balanço hormonal existente na ocasião, das suas competências prévias, do apoio social que pode obter e da forma como, em geral, lida com os acontecimentos (Vaz Serra, 1999).

A resposta biológica do stress refere-se à activação das funções necessárias à sobrevivência. Envolve estruturas dos Sistemas Nervoso Central e Vegetativo, as glândulas endócrinas, os processos metabólicos em geral e o sistema imunitário, cujo funcionamento eficaz fica prejudicado em situações de stress prolongado ou intenso. Em tais circunstâncias, os mecanismos de homeostase são comprometidos, com consequências prejudiciais para os aparelhos cardiovascular e gastrointestinal e para as funções de crescimento e reprodutivas, além de poder conduzir ao aparecimento de transtornos psiquiátricos, com particular destaque para os estados de ansiedade e de depressão.

A resposta cognitiva do stress varia em função da intensidade do esforço mental realizado para ir ao encontro dos problemas levantados pela situação que o induziu e reflecte-se na alteração de várias funções intelectuais. Ocorre uma diminuição da tolerância à frustração e um aumento da ansiedade, o que acaba por prejudicar a capacidade de atenção, de concentração e de memória. Se a activação induzida for intensa e prolongada, surge a propensão para o indivíduo se envolver em processos ruminativos e em pensamentos catastrofisantes, que podem constituir uma forma de manutenção da resposta, mesmo após a ausência do agente activador inicial. Um indivíduo em stress sente grande dificuldade na tomada de decisão e em detectar erros nas tarefas que exigem uma atenção contínua, errando mais em tarefas simples.

Ao nível emocional, podem surgir emoções que têm essencialmente uma tonalidade negativa e indicam o modo como o indivíduo avalia a circunstância, ajudando-nos a compreender o comportamento que vai emitir. Habitualmente o desempenho do indivíduo fica comprometido, sendo comum o aparecimento de comportamentos que acabam por constituir fontes secundárias de stress, tal como: o recurso a drogas ilícitas, o consumo excessivo de tabaco, café, bebidas alcoólicas ou comida.

Segundo Beck e Emery (1985), um individuo que se sente em stress, tem tendência para tornar-se agressivo, exaltado, hostil e emocionalmente tenso ou, pelo contrário, a adoptar uma postura passiva, evitando o confronto com os seus problemas e mostrando-se incapaz de tomar as medidas necessárias para encontrar uma solução. Situando-se, quer num quer noutro pólo (agressividade versus passividade), dificilmente conseguirá alcançar os seus objectivos de modo eficaz.