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SOBRE A DEFINIÇÃO DE CRIATIVIDADE

No documento Design bites (páginas 185-187)

NOTAS PRÉVIAS

4.1 CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO NO DESIGN 1 CONTEXTUALIZAÇÃO

4.1.2 SOBRE A DEFINIÇÃO DE CRIATIVIDADE

Segundo Amabile e Mueller (2008), a criatividade pode ser definida como

um processo que resulta num produto ou na solução para algo. É o re- sultado de um pensamento intencional, posto ao serviço da solução de problemas. A resposta deve ser nova e adequada à tarefa ou ao problema que se propõe resolver. Por outro lado, a tarefa ou problema devem ser suficientemente abertos para que não se apresente uma solução única e óbvia (Amabile e Mueller, 2008).

Etimologicamente, a palavra criatividade deriva do latim creare, que signi- fica “gerar” ou produzir”, “remetendo para uma força criadora que dá origem a algo de valioso”(Tschimmel, 2010:72).

Se a criatividade implica a capacidade de criar e estabelecer ligações en- tre realidades aparentemente desconexas, este conceito suscita interesse pelo seu caráter intangível e difícil de definir, pela diversidade de apli- cações e por ser transversal a diferentes disciplinas e atividades (Tschim- mel, 2010). Winnicot (1986) reitera que ser criativo é um estado saudável da

vida de um indivíduo; Sternberg (2012)refere que a criatividade funciona

como um hábito. A criatividade nem sempre foi reconhecida como uma característica acessível a todos: durante bastante tempo, foi associada ao ideal de um génio com perturbações psicológicas que poderia ter ideias brilhantes. Em 1950, Guilford

desenvolveu a teoria da criatividade em que descrevia as competências e atitudes que detinham um importante papel no pensamento criativo. A criatividade [foi] finalmente reconhecida como uma capacidade mental de todos, que pode ser desenvolvida e aperfeiçoada até um de- terminado nível. (Tschimmel, 2010:78)

Definir criatividade tem sido uma discussão frequente nas últimas dé- cadas. No âmbito desta investigação, propomos a definição de Sarkar e Chakrabarti (2015):

Criatividade é uma capacidade ou processo em que uma pessoa (ou agente) gera “algo” que é “novo” e “valioso”. Este “algo” pode ser um problema, solução, trabalho, objeto, declaração, descoberta, pensamen- to, ideia ou julgamento, dependendo do contexto. No contexto do de- sign, algo pode ser tomado como um problema, solução, produto, ideia ou avaliação.222(2015:16)

Esta definição é o resultado da investigação feita pelos autores, que anali- saram cinquenta definições de criatividade em diversas fontes, com base na sua morfologia e semântica. Considerámos também a proposta de Amabile (1982), uma vez que alguns métodos de avaliação de criatividade,

como o CAT,223 assentam na definição “consensual” deste conceito. Uma das definições abordadas por Sarkar e Chakrabarti (2015) é a de

Amabile (1982):

Um produto ou resposta são criativos na medida em que observadores apropriados concordam independentemente que são criativos. Obser- vadores apropriados são aqueles que estão familiarizados com o do- mínio no qual o produto foi criado ou a resposta articulada. Assim, a criatividade pode ser considerada como a qualidade de produtos ou respostas julgados criativos por observadores apropriados, e também pode ser considerada como o processo pelo qual algo assim julgado é produzido.224(1982:1001)

Profissionais de diversas áreas desenvolvem, no quotidiano, processos de criação nos quais a criatividade se traduz em geração de ideias e no desenvolvimento de propostas alternativas para a solução de problemas. Conotada muitas vezes com as áreas artísticas, a criatividade assume-se como componente essencial do processo de trabalho do design (Parreira, 2014). Como refere Almendra(2010), sem uma definição completa e preci-

sa, a criatividade é um conceito relativo, associado a um processo social e mental, que envolve a geração de novas ideias e conceitos.

Todo o ser humano tem capacidade para ser criativo e esta capacidade pode ser desenvolvida (Ricard, 2015; Tschimmel, 2010). Existem diversas teorias

que abordam a criatividade e foram motivo de maior aprofundamento

222TLA: “Creativity is an ability or pro- cess using which a person (or agent) generates “something” that is “novel” and “valuable”. This something can be a problem, solution, work, artefact, state- ment, discovery, thought, idea, or judg- ment depending on the context. In the context of design, something could be taken as problem, solution, product, idea, or evaluation.”

223CAT (Consensual Assessement Te- chinique), modelo desenvolvido por Ama- bile (1982).

224TLA: “A product or response is cre- ative to the extent that appropriate ob- servers independently agree it is creative. Appropriate observers are those familiar with the domain in which the product was created or the response articulated. Thus, creativity can be regarded as the quality of products or responses judged to be creative by appropriate observers, and it can also be regarded as the pro- cess by which something so judged is produced.”

no decorrer da investigação. As mais conhecidas são o conceito de pensa- mento divergente, enunciado pelo americano J. P. Guilford, nos anos de 1960 e 1970, e a teoria do pensamento lateral, desenvolvida por Edward de Bono, nos anos de 70 e 80. Segundo Parreira (2014), a criatividade é,

então,

a capacidade de encontrar respostas novas e produzir combinações ori- ginais, frequentemente resultantes da intenção de encontrar soluções para um problema novo (ou para um problema existente que admite novas soluções). O conceito surge muitas vezes associado à capacidade de ser inovador, sendo entendimento corrente que a inovação é a apli- cação prática da criatividade (i.e., é resultado natural da criatividade e uma implicação direta desta). (2014:34)

Como refere Tschimmel (2010), interessa-nos a abordagem da criatividade

pela “capacidade cognitiva passível de ser desenvolvida, que permite pro- duzir intencionalmente e com um objetivo definido algo que não existia anteriormente” (produtos, serviços, experiências) “e que será reconhecido por um determinado grupo como detentor de valor.” (Tschimmel, 2010: 75)

Para um entendimento mais aprofundado, podemos consultar o tra- balho de Parreira (2014) sobre a criatividade e processo criativo na Alta

Cozinha, e de Tschimmel (2010), sobre a criatividade, o design e o seu

processo criativo.

No documento Design bites (páginas 185-187)