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Sobre a devolução de embalagens vazias, a propaganda comercial de agrotóxicos e a

3 A PROTEÇÃO DO AMBIENTE PELO DIREITO BRASILEIRO: O CASO

3.5 A lei dos agrotóxicos nº 7.802/89

3.5.2 Sobre a devolução de embalagens vazias, a propaganda comercial de agrotóxicos e a

A devolução de embalagens está regrada nos Decretos nº 3.550/00 e nº 4.074/02. Também a Lei 9974/2000, altera alguns dispositivos na lei dos agrotóxicos, e inclui a determinação da obrigatoriedade de devolução das embalagens vazias, no prazo de até um ano a partir da aquisição, nos estabelecimentos comerciais onde foram comprados, ou em caso de disponibilidade, num posto de recolhimento autorizado, mediante a tríplice lavagem, visando reduzir a quantidade de resíduos que permanecem no seu interior. A logística reversa incluída pela lei 9974/00, imputa a responsabilidade pelo destino das embalagens ao fabricante. Inclusive, com previsão de sansão administrativa, cível e penal em caso de não cumprimento.

Embora o recolhimento resolva em parte a problemática ambiental, o procedimento inibe a reutilização das embalagens vazias por falsificadores e contrabandistas de agrotóxicos. Portanto, o objeto da preocupação aparentemente, não é a questão do dano ambiental, haja vista que a maioria dos estabelecimentos comerciais carece de estrutura adequada para armazenar embalagens abertas. Além disso, a norma não apresenta previsão quanto à

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distância entre um posto de recolhimento e outro, para facilitar o acesso pelo aplicador para a devolução do material.

O art. 220, inciso II, § 4º da CF/88, está regulamentado pela Lei 9294/96 e pelo Decreto 2018/96, que restringem a publicidade de agrotóxicos, assim como a propaganda de bebidas alcoólicas, medicamentos e fumo:

Art. 20. A propaganda comercial de agrotóxicos, componentes e afins, em qualquer meio de comunicação, conterá, obrigatoriamente, clara advertência sobre os riscos do produto à saúde dos homens, animais e ao meio ambiente, e observará o seguinte: I - estimulará os compradores e usuários a ler atentamente o rótulo e, se for o caso, o folheto, ou a pedir que alguém os leia para eles, se não souberem ler;

II - não conterá:

a) representação visual de práticas potencialmente perigosas, tais como a manipulação ou aplicação sem equipamento protetor, o uso em proximidade de alimentos ou presença de crianças;

b) afirmações ou imagens que possam induzir o usuário a erro quanto à natureza, composição, segurança e eficácia do produto, e sua adequação ao uso; c) comparações falsas ou equívocas com outros produtos;

d) indicações que contradigam as informações obrigatórias do rótulo;

e) declarações de propriedades relativas à inoqüidade, tais como "seguro", "não venenoso" "não tóxico", com ou sem uma frase complementar, como: "quando utilizado segundo as instruções";

f) afirmações de que o produto é recomendado por qualquer órgão do Governo. III - conterá clara orientação para que o usuário consulte profissional habilitado e siga corretamente as instruções recebidas;

IV - destacará a importância do manejo integrado de pragas;

V - restringir-se-á, na paisagem de fundo, a imagens de culturas ou ambientes para os quais se destine o produto.

Parágrafo único. O oferecimento de brindes deverá atender, no que couber, às disposições do presente artigo, ficando vedada a oferta de quantidades extras do produto a título de promoção comercial (Art. 20, Decreto nº 2.018, de 1996).

Como se verifica, a publicidade deve estar limitada ao agricultor e pecuarista, e restringir-se à sua finalidade sem criar ilusões ou falsas promessas. Além de observar horários específicos. A Lei 9294/1996, também prevê restrições, em seu art. 8º:

Art. 8° A propaganda de defensivos agrícolas que contenham produtos de efeito tóxico, mediato ou imediato, para o ser humano, deverá restringir-se a programas e publicações dirigidas aos agricultores e pecuaristas, contendo completa explicação sobre a sua aplicação, precauções no emprego, consumo ou utilização, segundo o que dispuser o órgão competente do Ministério da Agricultura e do Abastecimento, sem prejuízo das normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde ou outro órgão do Sistema Único de Saúde.

O art. 9º, § 3º da Lei 9294/96, considera infrator “toda e qualquer pessoa jurídica que, de forma direta ou indireta, seja responsável pela divulgação da peça publicitária ou pelo respectivo veículo de comunicação”. Dessa forma, em caso de constatação da irregularidade,

podem ser responsabilizados o fabricante e o veículo de comunicação infrator. Toda constatação de irregularidade deve ser denunciada à Secretaria Estadual de Agricultura e ao Ministério Público para que sejam tomadas as devidas providências cabíveis.24 No caso de verificada propaganda irregular, o anunciante deverá divulgar uma retificação ou esclarecimento para corrigir a publicidade enganosa.

A Lei dos agrotóxicos não trata da aviação agrícola. A orientação está no Decreto-Lei nº 917, de 07/10/69 que, no seu artigo 3º, atribui ao Ministério da Agricultura a fiscalização das atividades de aviação agrícola no concernente à observância das normas de proteção à vida e à saúde, bem como das de proteção à fauna e à flora e prevê "sanções específicas previstas em leis e regulamentos, aplicação de multas, suspensão ou cancelamento do registro de empresas de aviação agrícola que tenham infringido as normas de proteção à fauna e à flora". Dessa forma, a Instrução Normativa nº 2/2008, do Ministério da Agricultura, regulamenta:

Art. 10. Para o efeito de segurança operacional, a aplicação aeroagrícola fica restrita à área a ser tratada, observando as seguintes regras:

I - não é permitida a aplicação aérea de agrotóxicos em áreas situadas a uma distância mínima de:

a) quinhentos metros de povoações, cidades, vilas, bairros, de mananciais de captação de água para abastecimento de população;

b) duzentos e cinqüenta metros de mananciais de água, moradias isoladas e agrupamentos de animais;

II - nas aplicações realizadas próximas às culturas susceptíveis, os danos serão de inteira responsabilidade da empresa aplicadora;

III - no caso da aplicação aérea de fertilizantes e sementes, em áreas situadas à distância inferior a quinhentos metros de moradias, o aplicador fica obrigado a comunicar previamente aos moradores da área;

IV - não é permitida a aplicação aérea de fertilizantes e sementes, em mistura com agrotóxicos, em áreas situadas nas distâncias previstas no inciso I, deste artigo; V - as aeronaves agrícolas, que contenham produtos químicos, ficam proibidas de sobrevoar as áreas povoadas, moradias e os agrupamentos humanos, ressalvados os casos de controle de vetores, observadas as normas legais pertinentes;

VI - no local da operação aeroagrícola será mantido, de forma legível, o endereço e os números de telefones de hospitais e centros de informações toxicológicas; VII - no local da operação aeroagrícola, onde é feita a manipulação de produtos químicos, deverá ser mantido fácil acesso a extintor de incêndio, sabão, água para higiene pessoal e caixa contendo material de primeiros socorros;

VIII - é obrigatório ao piloto o uso de capacete, cinto de segurança e vestuário de proteção; e

XI - a equipe de campo que trabalha em contato direto com agrotóxicos deverá obrigatoriamente usar os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) necessários, fornecidos pelo empregador.

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A aplicação de veneno foi facilitada, pelo tempo despendido e pouca mão de obra, porém não houve qualquer preocupação com a contaminação ambiental, pois, por mais dados técnicos que estivessem à disposição, é indeterminada a área a ser atingida pelo produto. Essa prática é bastante utilizada no agronegócio, e desrespeitando os limites mínimos impostos pela instrução Normativa, principalmente no que se refere às áreas povoadas e mananciais. Além disso, as propriedades lindeiras também são atingidas. Fundamental para a atividade é a observação das condições climáticas, como umidade do ar, temperatura, direção dos ventos e sua intensidade.

Conforme Londres (2011, p 111), a “fiscalização dos agrotóxicos, seus componentes e afins deve ser feita pelos órgãos de agricultura, saúde e meio ambiente, tanto em nível federal, como estadual e municipal.” Incumbe para os órgãos federais o controle da fabricação e/ou formulação dos produtos. O transporte, comercialização, uso, armazenamento e descarte de embalagens devem ser fiscalizados pelas secretarias estaduais. O uso e armazenamento pode ser legislado supletivamente pelos municípios.

As Constituições Estaduais também passaram a incluir o tema da preservação ambiental nos seus textos, inclusive a Constituição do Estado do Rio Grande do Sul:

Art. 253. É vedada a produção, o transporte, a comercialização e o uso de medicamentos, biocidas, agrotóxicos ou produtos químicos e biológicos cujo emprego tenha sido comprovado como nocivo em qualquer parte do território nacional por razões toxicológicas, farmacológicas ou de degradação ambiental.

Alguns Estados avançaram mais ainda, incluindo nas suas leis estaduais, dispositivos que proíbem a aplicação de agrotóxicos cujo uso esteja proibido no seu país de origem, inclusive o Rio Grande do Sul, através da Lei nº 7.747/82. No seu art. 1º, § 2º, expressa que “só serão admitidos, em território estadual, a distribuição e comercialização de produtos agrotóxicos e biocidas já registrados no órgão federal competente e que, se resultantes de importação, tenham uso autorizado no país de origem” (RIO ..., 1982).

Importante destacar que na época da aprovação da referida lei, o então governador gaúcho, José Augusto Amaral de Souza, vetou a cláusula. Porém a Assembléia Legislativa manteve, e assim foi aprovada.

Recentemente, em 2012, parlamentares gaúchos tentaram alterar a Lei em vigor, postulando liberar o consumo dos produtos proibidos. Porém, não resistiram à pressão da sociedade civil organizada, e o projeto nº 78/2012 foi arquivado em setembro de 2012. (RIO..., 2015).

A Lei gaúcha prevê, ainda a competência das comissões temáticas para requisitar análises químicas, físicas e biológicas, às custas do Poder Legislativo, conforme art. 8º da Lei Estadual nº 7.747/82:

Art. 8º - As Comissões de Saúde e Assistência Social, do Meio Ambiente, da Agricultura, de Obras Públicas e de Direitos Humanos, Segurança Social e Defesa do Consumidor, da Assembléia Legislativa, poderão requisitar, às expensas do Poder Legislativo, análises físicas, químicas e biológicas, de parte dos laboratórios oficiais do Estado, pertencentes à administração direta e indireta, e visando detectar contaminação com qualquer substância poluente em águas de consumo público e alimentos, bem como cópias de análises já efetuadas.

§ 1º - Para efetivação das análises previstas neste artigo, a Comissão requisitante designará um ou mais técnicos, de reconhecida idoneidade moral e capacitação profissional e que terão amplo acesso a todas as fases das análises.

§ 2º - Concluídas as análises, os técnicos que as realizaram elaborarão, conjunta ou separadamente, os respectivos laudos periciais, em que indicarão, fundamentalmente, seus métodos, procedimentos e conclusões, indicando, se possível, as medidas necessárias para coibir a contaminação eventualmente verificada.

§ 3º - Os laudos serão encaminhados à Comissão requisitante que, ciente de seu teor, os remeterá ao Secretário da Saúde e do Meio Ambiente, para as providências legais.

A Lei 7.802, de 11.07.1989 é bastante abrangente ao tratar sobre:

(...) a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e a rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências (SILVA, Américo, 2005, p.309).

A mesma lei determina que legislar sobre agrotóxicos, seus componentes e afins, no que diz respeito à “produção, registro, comércio interestadual, exportação, importação, transporte, classificação e controle técnico e toxicológico”, é de competência da União Federal, conforme inciso I, do art. 9º (SILVA, Américo, 2005, p. 313).

Igualmente, o art. 10, em conformidade com os arts. 23 e 24 da Constituição Federal atribui aos Estados e ao Distrito Federal, a legislação “sobre o uso, a produção, o consumo, o comércio e o armazenamento dos agrotóxicos, seus componentes e produtos afins” (SILVA, Américo, 2005, p. 313).

Supletivamente, os municípios também podem legislar sobre o “uso e o armazenamento dos agrotóxicos, seus componentes e produtos afins” (SILVA, Américo, 2005, p. 313).

A competência legislativa dos entes político-administrativos é dessa forma compreendida pelo autor:

Portanto, a União Federal detém a competência exclusiva para legislar sobre registro, comércio interestadual, exportação, importação, transporte, classificação e controle tecnológico e toxicológico. Os Estados e o Distrito Federal detêm, por sua vez, a competência exclusiva para legislar sobre consumo e o comércio estadual. Ao nosso ver, compete à União Federal, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre a produção de agrotóxicos. Lembramos que no âmbito da legislação concorrente, a competência da União Federal deve limitar-se a estabelecer normas gerais (§ 1º do art. 24, CF), porém a competência da União Federal para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados e do Distrito Federal (§ 2º); inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados devem exercer a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades (§ 3º); a superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual no que lhe for contrário (§ 4º). Da mesma forma, compete aos Estados e aos Municípios legislar concorrentemente sobre o uso e armazenamento de agrotóxicos; portanto a competência do Município é supletiva. No caso do Distrito Federal, este tem a competência exclusiva para legislar sobre o uso e armazenamento de agrotóxicos (SILVA, Américo, 2005, p. 312-313).

Na esfera federal, a fiscalização e inspeção dos agrotóxicos, componentes e afins, não se concentram num único órgão da Administração Pública. A atribuição é dividida entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério da Saúde e Ministério do Meio Ambiente, conforme estabelecido no art. 2º do Decreto 4.074, de 04.01.2002.