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CAPÍTULO 1 HISTÓRIA E CULTURA DA ÁFRICA E AFRO-BRASILEIRA: CONCEITOS E CONCEPÇÕES

4- O rompimento da fraternidade – O homem se uniu a Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu a luz a Caim E disse: “Adquiri um homem com ajuda de Javé”.

1.6. Sobre o multiculturalismo: possibilidades teórico-metodológicas

A diversidade que caracteriza a realidade educacional brasileira e mundial constitui- se em objeto de preocupação e análise, por parte tanto de organismos governamentais nacionais e internacionais, bem como dos movimentos sociais e organização do terceiro setor – sendo eles: os profissionais da educação, estudiosos e pesquisadores e demais envolvidos nas diversas esferas em que esta realidade se apresenta. Esta diversidade nos remete a vários aspectos não somente de natureza cultural e/ou identitários, mas também de natureza política, econômica e social, dentre outras dimensões.

Neste sentido, o multiculturalismo tem se apresentado como um aporte teórico, metodológico, epistemológico e político para a explicação, análise, interpretação e intervenção nesta realidade plural e multifacetada. Nas linhas abaixo, apresentamos algumas vertentes no multiculturalismo expostas no contexto internacional e brasileiro, bem como, a possibilidade de diálogo destas vertentes com o nosso objeto particular de pesquisa: a educação.

Dentre algumas das referências internacionais que abordam o multiculturalismo na realidade atual, estão dentre outros: Semprini (1999), Hall (2009), Pinar (2009), Mclaren (1999, 2000), dentre outros.

Andréa Semprini (1999) define o multiculturalismo como um movimento de ideias que formam um campo epistemológico ao qual denomina de epistemologia multicultural em oposição a uma epistemologia monocultural. A Epistemologia multicultural pode ser compreendida por meio de quatro aspectos principais: a compreensão de que a realidade é uma construção; as interpretações são subjetivas; os valores são relativos; e o conhecimento é um fato político. Outras dimensões como a teoria do sujeito, o peso dos fatores socioculturais, a ênfase sobre a dimensão simbólica da ação e a valorização das diferenças também compõem o corpus que edifica a epistemologia multicultural, porém, são estes quatro pilares que a definem. (SEMPRINI, 1999).

No cerne da questão multicultural está a questão da contradição igualdade e diferença – esta é uma constatação que nos remete a compreender os limites e possibilidades das políticas de identidade e equidade no seio do estado liberal moderno – haja vista que, a questão da igualdade liberal enquanto um dos elementos fundadores do estado moderno é um mito, uma ideia, uma abstração, necessária ao discurso da unidade nacional; mas prejudicial ao reconhecimento da verdadeira identidade dos sujeitos.

Stuart Hall (2009) aborda a questão multicultural na perspectiva dos estudos culturais na Inglaterra. Busca elucidar a natureza profundamente ambígua do termo em questão. Segundo ele,

O termo Multiculturalismo é hoje utilizado universalmente. Contudo, sua proliferação não contribui para elucidar ou esclarecer seu significado. Assim como outros termos relacionados – por exemplo, “raça”, etnicidade, identidade, diáspora – o multiculturalismo encontra-se tão discursivamente enredado que só pode ser utilizado sob rasura (HALL, 2009, p. 49).

Hall evidencia o caráter polissêmico que o termo multiculturalismo assumiu no contexto atual, bem como as limitações de natureza epistemológica e metodológica para a sua

aplicação e utilização. Pensar o multiculturalismo “sob rasura” é, portanto, pensar o multiculturalismo a partir da perspectiva “x” – sua utilização de forma genérica como se este conceito nos remetesse a um único entendimento da sua genealogia, constitui-se numa operação arriscada, tanto no campo da pesquisa científica como do espaço do debate social.

Segundo Hall,

[...] o “multiculturalismo” apresenta algumas dificuldades específicas. Denomina “uma variedade de articulações, ideais e práticas sociais”. O problema é que o –ismo tende a converter o “multiculturalismo” em uma doutrina política, “reduzindo-o a uma singularidade formal e fixando-o numa condição petrificada (...) a heterogeneidade característica das condições multiculturais é reduzida a uma doutrina fácil e prosaica” (...) Na verdade o multiculturalismo (...) Descreve uma série de processos e estratégias políticas sempre inacabadas. Assim como há distintas sociedades multiculturais, assim também há “multiculturalismos” bastantes diversos (HALL, 2009, p. 51).

O multiculturalismo é uma vertente do pluralismo presente nas diversas sociedades globais: o pluralismo cultural. Há também outros pluralismos: o econômico, o social, geográfico, político ou mesmo o conceitual, e englobar todos os pluralismos sob o rótulo de uma “cultura global” (cultura econômica, cultura social, cultura geográfica, cultura intelectual, etc). O que está presente na leitura de Hall, a nosso ver, não é a definição do que é multiculturalismo, mas sim, a leitura do multiculturalismo com base nos conceitos de identidade cultural e de diáspora – termos - chaves em toda a sua produção teórica.

Peter Mclaren (1999) identifica quatro vertentes do multiculturalismo: conservador; humanista liberal; liberal de esquerda; e crítico de resistência.

O multiculturalismo crítico e de resistência, na visão de Mclaren, entende que as representações de raça, classe e gênero são resultados de lutas sociais amplas. Neste sentido propõe uma intervenção direta nos processos de transformação das relações sociais, culturais e institucionais, geradoras de significados. A posição deste autor é que esta vertente do multiculturalismo é a mais avançada e progressista, portanto a que melhor representa um aporte para o tratamento dos problemas sociais vinculados as questões de raça, classe, gênero, e geração nos Estados Unidos.

Willian Pinar (2009) critica o que ele chama de “multiculturalismo malicioso”, afirmando que o multiculturalismo na atualidade tem “enfatizado a heterogeneidade do social”, e “transmitido políticas de identidade ‘balcanizadas’” (PINAR, 2009, p. 149).

Este autor faz uma análise crítica das políticas de reconhecimento e promoção das identidades fundamentadas nas diversas perspectivas do multiculturalismo, bem como as acusa de reproduzir os mesmos estereótipos que criticam, particularmente, pois reproduzem a

política dos colonizadores, promovem culturas abstratas, fabricam identidades, são acríticas e de promoção pessoal. Propõe uma política de identidade baseada na autobiografia que pode cruzar a fronteira entre escritor e leitor, porque retrata a causa, não em termos abstratos e totalizantes, mas, por meio de narrativas vividas. É preciso singularizar a “identidade coletiva” (PINAR, 2009).

No contexto brasileiro, Candau (2011, 2012) identifica duas abordagens fundamentais: a descritiva e a propositiva. A abordagem descritiva, segundo esta autora, é aquela que afirma o multiculturalismo como uma característica das sociedades atuais, ou seja, estão ancoradas apenas na constatação do fato; já a abordagem propositiva é aquela que entende o multiculturalismo como uma maneira de atuar, de intervir e de transformar a dinâmica social em nome de um projeto político cultural.

A autora identifica algumas terminologias ou expressões que buscam definir o multiculturalismo: conservador, liberal, celebratário, crítico, emancipador, revolucionário, dentre outras; porém, focaliza três vertentes: o multiculturalismo assimilacionista, o multiculturalismo diferencialista ou monoculturalismo plural e o multiculturalismo interativo, também denominado interculturalidade. Esta última é caracterizada pelo multiculturalismo aberto e interativo, ou seja, é aquele que acentua a interculturalidade por considerá-la mais adequada para a construção de sociedades democráticas, pluralistas e inclusivas, que articulem políticas de igualdade com políticas de identidade (CANDAU. 2011, 2012).

Jacques D’Adesk (2001), no livro que é também resultado da sua tese de doutorado intitulado “Pluralismo Étnico e Multiculturalismo: racismo e anti-racismos no Brasil”, defende a perspectiva do multiculturalismo democrático a partir da vertente do pluralismo étnico como elementos, tanto de afirmação de identidades como de respeito as diferenças. Critica uma “falsa oposição” de conceitos para a promoção de uma suposta originalidade para fins específicos de citação e acredita na contribuição de outras vertentes do multiculturalismo como o universalismo e o diferencialismo, que possibilitam a inserção dos grupos étnicos excluídos no contexto da sociedade atual.

Defende, de um lado, que raça é um conceito ambíguo e fechado e que, portanto, dificulta uma leitura na perspectiva do multiculturalismo; por outro lado, o conceito de etnia apesar de também apresentar certa imprecisão, representa um aporte teórico mais adequado para o tratamento da diversidade ao nível das diferenças, principalmente, as de natureza identitárias e culturais (D’ADESK, 2001). O pluralismo étnico é, portanto, o caminho pelo qual os grupos negros e indígenas forjam a sua identidade cultural, bem como dialogam com

os demais grupos sociais no sentido de promoverem o reconhecimento da sua contribuição para a formação da identidade cultural da nação.

Adesk (2001) aborda ainda dois conceitos importantes: o multiculturalismo universalista e o multiculturalismo diferencialista. O primeiro está presente na obra de Gilberto Freire, o qual não deixa de destacar o seu caráter assimilacionista em relação ao negro; já a segunda, a perspectiva diferencialista, está presente no pensamento de Abdias do Nascimento, que possibilitou o reconhecimento das diferenças como forma de afirmação da identidade negra (D’ADESK, 2001).

A diferenciação e valorização das diferentes culturas para D’Adesk, representam o caminho para o multiculturalismo democrático. Considerando que:

As bases democráticas de uma sociedade multicultural levam exatamente a exigência e à aceitação do reconhecimento de igual valor das diferentes culturas que a compõe. O desafio que tal sociedade coloca é conseguir tornar possível a convivência de culturas ou grupos muito variados. Trata-se, portanto, de instaurar um consenso democrático que seja respeitoso em relação a essa diversidade sem tornar-se um simples encontro de interesses divergentes (...) os mecanismos do reconhecimento trazem uma luz esclarecedora ao debate sobre o tratamento preferencial, pois usam uma perspectiva que abarcasimultaneamente o indivíduo e o grupo, na medida em que considera existir um elo entre o reconhecimento e a identidade. E esse princípio remete justamente à ideia, de que a identidade pessoal é parcialmente formada pela imagem que o indivíduo faz de si próprio e pela imagem que os outros fazem dele (...) o reconhecimento público do Movimento Negro permite o estabelecimento de um diálogo com o Estado. Como interlocutor privilegiado junto a este, cabe-lhe resolver e encaminhar os conflitos étnicos e raciais pela utilização de grupos de pressão e de outras formas de ação (D”ADESKY, 2001, p. 203-210).

Para o autor, diferencialismo e universalismo representam um diálogo possível e “necessário” (grifo nosso) para a construção do multiculturalismo democrático.

Além das diversas formas de multiculturalismo encontradas na literatura nacional e internacional, verificamos que, no caso brasileiro, algumas formas particulares e peculiares surgem a partir da reconfiguração das primeiras, estabelecendo novas formas de aplicação e utilização deste conceito, tanto no campo metodológico quanto epistemológico, relacionado acima de tudo, aos usos políticos e acadêmicos que estas novas reconfigurações do termo possibilitarão.

Uma das principais configurações do multiculturalismo na atualidade é o multiculturalismo acadêmico. Tendo em vista a sacralização de um pensamento homogeneizador, preocupado em dar um suporte “pseudoacadêmico” sob o rótulo daquilo que é aceito como universal, produziu-se nos últimos anos um discurso conveniente sobre o mote da diversidade cultural vivenciada pelas sociedades pós-modernas, fundamentado na busca de

uma referência geral capaz de possibilitar conceitualmente a compreensão desta diversidade cultural: o multiculturalismo acadêmico. Fundado no colonialismo intelectual e teórico, bem como no sistema de citações e reprodução que domina o meio acadêmico, é um multiculturalismo sem sujeitos, desarticulado de um projeto concreto de educação e de sociedade; serve muito bem para ser citado pelos professores nos cursos de pedagogia e licenciaturas e demais áreas de conhecimento como um conceito válido para explicar uma diversidade complexa unificada sob o rótulo da “diversidade cultural”.

Este multiculturalismo acadêmico assumiu em si mesmo a condição de sujeito, eliminando o homem, a humanidade, a classe, a raça, o gênero, a nação, o povo e outros sujeitos como centrais nas relações com o conhecimento e a produção do saber; despolitizou- se a si mesmo e ao mundo acadêmico como espaço de disputas e construção de projetos antagônicos – e inaugurou uma epistemologia fundada num consenso universal que pode fundamentar tanto o capitalismo quanto o socialismo nas suas várias vertentes. É uma grande mentira como uma grande verdade, um projeto social opressor quanto libertador; uma educação opressora como uma educação libertária. E por fim – ratificou a palavra enquanto enunciado e objeto da enunciação, significado e significante – que diz tudo, mas que ao mesmo tempo também, nada diz.

O multiculturalismo científico é uma versão particular do multiculturalismo acadêmico. Se no universo acadêmico edificou-se uma referência de conhecimento e de verdade fundada no discurso científico, ou seja, é verdade e aceito neste universo aquilo que é do domínio da ciência – o multiculturalismo científico é o “multiculturalismo verdadeiro” – aquele que reúne as condições de conceito construído por meio de uma experiência de cunho tanto epistemológico quanto metodológico, que lhe confere veracidade e validade enquanto instrumental de sustentação da produção de novos conhecimentos no mundo acadêmico.

Com o advento de uma cultura científica fundada na produção em série de publicações, como artigos científicos e “papers” e de textos monográficos universitários (na graduação e na Pós-graduação) – associada à cultura da competição entre pesquisadores, que causa uma corrida desenfreada rumo ao topo da produtividade acadêmica – este multiculturalismo científico surge como instrumento eficaz para suprir a necessidade das obrigatórias citações nos textos científicos.

Existem outras definições sobre o “multiculturalismo” que passam a circular pelo meio acadêmico como “peças decorativas” aos textos produzidos neste meio, muitas das vezes, sem nenhuma relação objetiva com os seus objetos de pesquisa, ou mesmo, com a possibilidade de explicar ou elucidar a problemática apontada nos seus trabalhos, dentre elas,

o multiculturalismo multí-tudo - aquele que explica tudo, desde os conflitos entre nações aos conflitos conjugais de um casal, passando pelas relações sociais de classe, raça, gênero, geração, opção sexual ou mesmo de poder. Esta definição se coloca no campo “quase messiânico” - num mundo onde a crise do racionalismo nos leva a incerteza sobre “quase tudo” e as verdades científicas estão sendo questionadas, eis que, uma certeza surge para nos redimir: “tudo é multicultural”. Esta definição em questão nos coloca diante de uma armadilha que pode comprometer toda a nossa compreensão de sociedade, por meio de uma visão relativista e a-histórica das relações sociais e os processos históricos que as mesmas engendram.

O multiculturalismo multí-nada é aquele que dissolve de tal forma as diversas experiências culturais da sociedade que ao final, nenhuma delas sobra. Uma das faces deste fenômeno está na defesa do chamado hibridismo cultural – o que não significa dizer que não o reconheçamos – mas que, em nome deste, ao buscar a ruptura com as chamadas identidades fixas nada sobre no lugar. Se acreditarmos que não existe numa dimensão um conceito único de cultura – cultura no singular; bem como, que não existe culturas particulares como a cultura negra, a cultura juvenil, a cultura nordestina, a cultura americana, a cultura europeia ou a cultura cigana, mas somente culturas plurais - atravessadas por inúmeras identidades, como pode nos levar a crer, o hibridismo cultural, com o qual podemos chegar a concepção errônea de que o hibridismo cultural representa aquilo que é o “não ser nada” ou o “multi- nada”.

Uma ambiguidade sobre o multiculturalismo é: se pode o mesmo ser opressor? Na verdade, opressor é o caráter que se dá a utilização deste conceito no conjunto das relações de poder que se estabelecem no seio da sociedade. Neste sentido, denominamos “multiculturalismo opressor” todas as formas de utilização do termo para promover, divulgar, ratificar e implementar mecanismos de opressão fundamentados no monopólio do uso poder e nas formas veladas e explícitas de defesa da subordinação e exclusão de natureza social cultural educacional, econômica e social. Nesta categoria, encontramos aquele que busca afirmar que, o “seu” multiculturalismo é o verdadeiro e o correto, e os outros são os falsos (multiculturalismo aberto e intercultural fundados no hibridismo, em oposição ao multiculturalismo “diferencialista e fechado”, fundado nas “identidades fixas” e na promoção do apartheid racial); o multiculturalismo meritocrático (esta posição esconde que o discurso de mérito está assentado sobre uma política de seleção cultural de natureza assimilacionista que busca ratificar o capital cultural do grupo opressor como o referencial do mérito, e o capital cultural dos grupos oprimidos como menos importantes e “inferiores”); o

multiculturalismo acadêmico (que busca legitimar o discurso dos grupos que se consideram donos do discurso acadêmico, em detrimento de todas as formas de saberes não legitimados por este mesmo discurso); bem como, outros discursos que se apoiam sob o rótulo do multiculturalismo para promoverem práticas de opressão e dominação.

Restituindo o multiculturalismo à condição de objeto do conhecimento e destituindo-lhe da sua condição de sujeito, cabe-nos dar o próximo passo: articular os elementos teóricos e epistemológicos necessários para colocá-lo a serviço do processo de emancipação social de todos os sujeitos sociais, rumo a um projeto de libertação de natureza econômica, cultural, política, social e intelectual; processo este que denominaremos de multiculturalismo emancipatório e libertador.

O multiculturalismo emancipatório e libertador parte da apropriação do conceito que permeia o multiculturalismo e a sua adjetivação a favor de um projeto social de engajamento político comprometido com as experiências e ações voltadas para a promoção da autonomia e emancipação dos sujeitos rumo a um projeto de educação libertadora. Este esforço intelectual e teórico empresta os conceitos empregados por Paulo Freire (2007) bem como de Boaventura de Sousa Santos (2010) e Kabengele Munanga (1986, 2006, 2009), todos para articular o conceito de liberdade e emancipação à luta contra o racismo e por uma educação voltada para a promoção das relações raciais e étnicas no espaço educacional e social.

Sobre este conceito de multiculturalismo que, conforme já anunciamos, deve ser construído por várias mãos. A nossa contribuição vai ao sentido de apontar que um estudo sobre o multiculturalismo no Brasil, que se pretenda válido para a construção do conhecimento acadêmico e para a sua função de intervenção e transformação da sociedade, passa necessariamente pela compreensão de que a cultura do racismo, do etnocentrismo, do sexismo, do machismo, da homofobia e de desrespeito em relação a inúmeras diferenças que compõem a cultura brasileira, faz parte da nossa cultura nacional e deve ser superada. As diferenças raciais e culturais da população negra foram transformadas em uma cultura de violência física, social e ideológica chamada racismo, e o este foi transformado em política de estado e em mecanismo efetivo de desigualdade social e de classe.

O multiculturalismo no Brasil, portanto, deve, a nosso ver, ser um multiculturalismo libertador e emancipatório, que nos possibilite libertarmos do colonialismo intelectual e cultural, resquícios no colonialismo territorial e econômico, na direção da emancipação dos vários sujeitos sociais rumo a uma cidadania plena – esta é uma tarefa radical, e não “aberta” como defende alguns autores brasileiros.

Não basta reconhecer a diferença, é necessário lutar e agir na promoção da equidade; não basta reconhecer a opressão e exclusão de negros, homossexuais, mulheres e outras ditas “minorias”, é necessário se engajar efetivamente na luta antirracista, antissexista, antimachista, anti-homofóbica, antiviolência e antiopressão como dimensão da teoria e prática multicultural. A esta concepção denominamos multiculturalismo libertador e emancipatório.

CAPÍTULO 2 - EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO: POLÍTICAS PÚBLICAS DE