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3. Os personagens-escritores de Bolaño e Vila-Matas

3.1. Que escritores somos nós? Juventude e comunidade literária em Roberto Bolaño

3.1.5. Sobre o Real Visceralismo: uma comunidade possível?

“Como contar uma história enquanto se conta outra?”, pergunta Ricardo

Piglia (2004, p. 90) em seu ensaio “Teses sobre o conto”. Trata-se de uma questão que,

para os fins da leitura aqui desenvolvida, permite pensar produtivamente a possível

função narrativa e estética exercida pela primeira parte do diário de García Madero ao

se considerar a totalidade de Los Detectives Salvajes (1998).

Em primeiro lugar, e independentemente da qualidade e da quantidade de

informações fornecidas pelo narrador, é justo afirmar que o capítulo cumpre com a

função de introduzir os personagens e a história (aparentemente) nuclear do romance.

Dentro de suas limitações, García Madero deixa o leitor a par da busca de Arturo

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Visceralismo quanto alguns de seus possíveis membros. Ainda que a aparição

inesperada dos depoimentos que formam o segundo capítulo possa causar certo

desconforto no leitor, este não tarda a notar um ar familiar no conteúdo desses relatos,

bem como no nome de parte de seus autores. Cada uma a seu modo, as vozes presentes

no capítulo “Los detectives salvajes (1976-1996)” discorrem sempre sobre o Real

Visceralismo e seus respectivos fundadores, e/ou sobre a poetisa por eles procurada. Em

síntese, nota-se que a narração do aspirante a poeta fornece ao leitor os subsídios

mínimos para se encarar o quebra-cabeça que compõe o capítulo “Los detectives

salvajes (1976-1996)”, jogo este responsável por preencher, inclusive, grande parte das

lacunas deixada pelo diário.

A segunda interpretação para o papel dos relatos iniciais de García Madero

inspira-se em um paralelo com as ideias de Piglia acerca do gênero conto: afastando-se

do que seria o eixo narrativo de Los Detectives Salvajes, isto é, a busca por Cesárea

Tinajero, tão anunciada e destacada nas mais diversas sinopses e resumos distribuídos

pelas editoras, os primeiros registros do narrador parecem inserir uma segunda história

no romance, a história dos detetives selvagens, Arturo Belano e Ulises Lima, e dos

demais membros do Real Visceralismo.

Analisando a totalidade do romance a partir das formulações de Piglia, o

protagonismo direcionado à figura e ao paradeiro de Cesárea Tinajero pode ler lido

como a “história visível” de Los Detectives Salvajes, daí o destaque a ela reservado no

âmbito de divulgação do livro. Porém, fugindo dessa lógica, García Madero, ao dedicar-

se quase que exclusivamente à investigação e à tentativa de entendimento do Real

Visceralismo e, em consequência, da figura de seus fundadores, parece construir uma

nova história, a qual Piglia denominaria “história secreta”, que passa a ser narrada de

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Veres (2010), Bolaño acrescenta à busca policial dos moldes canônicos múltiplas

buscas implícitas “que el lector capta en otro estrato de significación”:

(…) la búsqueda del sentido, la búsqueda de una redefinición de lo literario, la búsqueda de quién es cada uno, la búsqueda de la significación de la vida, de esa dispersión de la trama mediante sucesos anodinos que se entremezclan en una enrevesada red de complejidades, de secretos que no se explicitan y que guían las voluntades de los personajes, lo cual logra perturbar al lector que cree moverse continuamente en la inseguridad, porque no hay respuestas para nada (VERES, 2010, s/p).

Seria arriscado defender com muito rigor a proximidade entre as propostas

do ensaio de Piglia e a estrutura narrativa de Los Detectives Salvajes, no entanto, em

termos gerais, o ponto fundamental dessa analogia é ressaltar que concomitantemente à

procura por Tinajero instaura-se uma procura velada (e especular) pelos próprios

detetives selvagens e seus colegas de geração. Tendo em vista que a real convivência de

García Madero com os dois personagens inicia-se apenas na segunda parte do diário,

capítulo “III. Los desiertos de Sonora (1976)”, os registros feitos em sua primeira parte

servem preponderantemente para se construir um mistério em torno desses poetas, haja

vista o teor especulativo e fantasioso que acompanha as indagações e curiosidades do

narrador.

No início do romance, García Madero afirma que Arturo Belano e Ulises

Lima utilizavam o termo “pandilla” para referir-se ao grupo e que o roubo de livros

configura-se uma prática comum entre seus membros. Lee Harvey Oswald, periódico

com apenas dois números publicados, fora o título dado à primeira (e única) revista real

visceralista, financiada por Lima e diagrama pelo pai das irmãs Garmendía, Joaquín

Font. Quanto à filiação literária de Belano e Lima, observa-se  em decorrência da única ocasião em que o narrador consegue tomar nota dos títulos por eles carregados 

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a influência de nomes da literatura de origem francesa, ou de expressão francesa no caso

da belga Sophie Podolski, distante, em grande parte, do cânone literário:

Los libros que llevaba Ulises Lima eran:

Manifeste electrique aux paupiers de jupes, de Michel Bulteau, Matthieu Messagier, Jean-Jacques Faussot, Jean-Jacques N'Guyen That, Gyl Bert-Ram-Soutrenom F.M., entre otros poetas del Movimiento Eléctrico, nuestros pares de Francia (supongo).

Sang de satin, de Michel Bulteau.

Nord d'eté naitre opaque, de Matthieu Messagier. Los libros que llevaba Arturo Belano eran: Le parfait criminel, de Alain Jouffroy.

Le pays ou tout est permis, de Sophie Podolski.

Com exceção dessas e de outras informações pontuais, a maior parte dos

relatos de García Madero é marcada por contradições e desencontros. Pode-se destacar

como exemplo a passagem em que o narrador afirma-se preocupado com a hipótese de

ser expulso do Real Visceralismo, devido aos supostos “cortes” de membros que Lima e

Belano estariam promovendo na ocasião. Trata-se de um episódio irônico e caricato que

contrasta a acentuada valorização de García Madero com o descrédito que os demais

membros expressam ter pelo Movimento:

No lo sabe. Se reafirma en su primera opinión: una locura temporal de Arturo Belano. Luego me explica (aunque esto yo ya lo sé) que Bretón acostumbraba a practicar sin ninguna discreción este deporte. Belano se cree Bretón, dice Requena. En realidad, todos los capo di famiglia de la poesía mexicana se creen Bretón, suspira. ¿Y los expulsados qué dicen, por qué no forman un nuevo grupo? Requena se ríe. La mayoría de los expulsados, dice, ¡ni siquiera saben que han sido expulsados! Y a aquellos que lo saben no les importa nada el real visceralismo. Se podría decir que Arturo les ha hecho un favor (BOLAÑO, 1998, p. 101).

Essa incessante afirmação-negação do Real Visceralismo, junto à constante

ausência de Belano e Lima, torna obscuro tudo o que García Madero ouve e registra a

respeito deles: seriam os dois personagens poetas ou vendedores de drogas, como

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fato, seus verdadeiros nomes? Ou, conforme declara María Font, o segundo chamar-se-

ia “Alfredo Martínez”? Quanto à investigação supostamente por eles empreendida:

motivação literária, obsessão gratuita ou mera invenção? Cesárea Tinajero, um nome

que significava tanto para esses detetives selvagens e tão pouco para os demais

membros do Real Visceralismo, trata-se de uma pessoa real ou de um fantasma de suas

cabeças?

É precisamente pelo obscurecimento instaurado pela escrita subjetiva de

García Madero que os depoimentos listados no segundo capítulo de Los Detectives

Salvajes ganham relevância. Trata-se de vozes que ampliam a história, devido não

somente às novas informações e dados que fornecem, mas à abrangência cronológica

desses registros, que vão de 1976 a 1995.

De acordo com os fins deste trabalho, merecem especial atenção em “II. Los

Detectives Salvajes (1976-1996)” as declarações proferidas ou diretamente relacionadas

aos membros do Movimento. Para se identificar os personagens que efetivamente

possam ser reconhecidos como tal, frisa-se a importância da disposição de García

Madero em esclarecer, na primeira parte de sua escritura íntima, quais de seus novos

colegas reconhecem-se como real visceralistas. Entre as respostas vagas e/ou repulsivas

obtidas pelo narrador, pode-se destacar Felipe Müller, Jacinto Requena, Xóchitl García,

Rafael Barrios, Pancho Rodríguez, Ernesto San Epifanio e as irmãs Angélica e María

Font como os principais membros do grupo proposto por Belano e Lima, devido mais à

intensa convivência estabelecida entre esses jovens poetas, do que a um positivo

autorreconhecimento dessa condição ou à partilha de posturas ou ideais comuns. As

irmãs Font, por exemplo, afirmam, e reafirmam no segundo capítulo, sua não

identificação com o Real Visceralismo  “Me importan un carajo los real visceralistas” (BOLAÑO, 1998, p. 36), diz María a Madero; “No participé en las actividades de los

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real visceralistas. No quería saber nada de ellos” (174), declara Angélica em seu

depoimento , porém, sua proximidade do grupo, somada à ausência de pressupostos básicos que determinem com precisão o significado de ser/se tornar um real visceralista,

impede que essas personagens sejam excluídas da história do Movimento.

Os depoimentos datados de 1976 até 1980 dividem-se entre relatos atentos

aos passos dados por Belano e Lima antes de partirem em busca de Tinajero pelo

deserto de Sonora, e declarações sobre as implicâncias de suas idas à Europa  França e Espanha, respectivamente  após o trágico assassinato da poetisa.

Em relação aos registros que esclarecem a origem do Movimento e,

portanto, do interesse dos real visceralistas pela poetisa desaparecida, destacam-se os de

Amadeo Salvatierra, ex-estridentista, um poeta decadente que deixa Belano e Lima a

par da relação estabelecida entre o Estridentismo e o Realismo Visceral fundado por

Tinajero, e que lhes mostra o único poema publicado pela poetisa. O depoimento de

Salvatierra, datado em janeiro de 1976, é dividido em 13 partes, sendo estas

cuidadosamente intercaladas aos depoimentos assinados pelos demais entrevistados, de

modo que seu discurso abre e encerra o capítulo. No lugar de apresentar ao leitor um

único e extenso discurso de Salvatierra, Bolaño transforma o desvelamento de Tinajero

em uma peça-chave para o processo de (re) historização promovido pelo romance

(AHUMADA, 2012). Desse modo, as entradas assinadas pelo personagem funcionam

como lembretes ao leitor, excertos que não o deixam esquecer da revisão crítico-

literário que o conjunto de vozes ali reunidos acabam por desencadear. Quanto a Belano

e Lima, por sua vez, nota-se nas falas de Salvatierra que a decisão de buscar a Tinajero,

bem como de “homenageá-la” através de seu Movimento, surge nos poetas mais por um

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sobre sua obra e história, salvo as divagações de um velho poeta decadente; trata-se,

contudo, do suficiente para motivá-los a partir rumo a Sonora.

Além de Amadeo Salvatierra, descobre-se que os dois poetas também se

encontraram, antes de 1976, com Manuel Maples Arce, representante máximo do

Estridentismo, e com Carlos Monsiváis, importante escritor e crítico literário, também

mexicano, bastante dedicado a questões sociais e políticas. Por meio dessas referências

a escritores de grande relevância, e que realmente existiram, Bolaño reforça o caráter

utópico e entusiasta que envolve as figuras de Belano e Lima, valendo-se da

espontaneidade e agressividade das opiniões de Maples e Monsiváis. Qualificando-os de

jovens “entusiastas” e “ignorantes”, Maples expressa mais paciência ao comentar o

desenrolar da entrevista e, mesmo qualificando-os de entusiastas e ignorantes, apenas

conclui serenamente que “Todos los poetas, incluso los más vanguardistas, necesitan un

padre. Pero éstos eran huérfanos de vocación. Nunca volvió” (Bolaño, 1998, p. 177).

Monsiváis, por outro lado, dispensa qualquer tipo de compreensão e é severo em seus

julgamentos: segundo ele, os dois jovens poetas não passavam de “dos perdidos,

extraviados”, sem argumentos de peso nem originalidade em suas colocações,

obstinados somente em “en no reconocerle a Paz ningún mérito, con una terquedad

infantil” (ibid., p. 160).

A inconsistência e a marginalidade observadas na história de origem do

Real Visceralismo, as quais, de algum modo, alertam quanto ao fracasso iminente,

ganham maior proporção após a tragédia envolvendo Cesárea Tinajero. Diferentemente

dos desaparecimentos periódicos e inexplicáveis mencionados no diário de García

Madero, interpretados pelo personagem Jacinto Requena como um comportamento

lúmpen, “el lumpenismo: enfermedad infantil del intelectual” (BOLAÑO, 1998, p. 181),

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distanciamento do Real Visceralismo. Aos poucos, seus membros vão anunciando a

dissolução à qual o grupo já estava fadado desde seu nascimento, e reafirmando a

existência de uma descrença generalizada.

Rafael Barrios declara que depois da partida de Belano e Lima, os real

visceralistas fizeram “tudo” o que podiam, “pero nada salió bien” (BOLAÑO, 1998, p.

214). Nota-se que Bolaño utiliza-se do depoimento do personagem para reforçar a sátira

que marca o retrato da literatura de vanguarda apresentado em Los Detectives Salvajes,

uma vez que entre o “tudo” ao qual Barrios faz referência listam-se tentativas de se

fazer “escritura automática, cadáveres exquisitos, (...), escritura a dos manos, a tres

manos, escritura masturbatoria, (...), poesía conversacional, antipoesía, (...), poesía

eléctrica (Bulteau, Messagier), poesía sanguinaria (tres muertos como mínimo) (...)”

(ibidem), entre muitas outras. Ainda que jocosa, a postura descrita por Barrios revela

um resquício de visão utópica e de postura proativa da qual aos poucos os real

visceralistas vão se afastando.

A mudança no teor dos quatro depoimentos fornecidos (em 1976, 1979,

1982 e 1985) pelo personagem-escritor Jacinto Requena exemplifica essa

transformação. Até o início da década de 80, mesmo com a suspeita de que o fim do

Real Visceralismo estivera próximo  “Cuando se marcharon a Sonora intuí que el grupo estaba en vías de desaparecer. Vaya, como si la broma estuviera agotada. No me

pareció una mala idea” (BOLAÑO, 1998, p. 186) , Requena expressava em suas falas e posturas uma espécie de fidelidade ao grupo, bem como um interesse pelos

destinos de seus fundadores e pelas memórias do Movimento. No relato de 1979, ao

comentar “explosão” editorial ocorrida após a partida de Ulises Lima, o poeta, em

conversa com o personagem Ernesto San Epifanio, declara que se recusaria a participar

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ao Real Visceralismo, Ismael Humberto Zarco, simplesmente porque ele, Jacinto

Requena, também era um real visceralista: “si ese cabrón no mete a Ulises, pues que

tampoco cuente conmigo” (BOLAÑO, 1998, p. 275). Por fim, desprendendo-se de sua

ideologia, o personagem inicia seu último depoimento, o de 1985, com a afirmação de

que, para a maioria, Lima “había muerto como persona y como poeta” (ibid., p. 366).

Em um relato bem mais breve do que primeiros, nos quais seus conhecimentos acerca

do grupo e de seus fundadores são narrados em detalhes, Requena comenta

rapidamente, e, de certo modo, friamente a visita de Lima ao México. No encerramento

de sua fala percebe-se a perda do interesse que estivera tão presente nas declarações

anteriores: “Después pasó mucho tiempo antes de que lo volviera a ver. Yo intentaba

moverme en otros círculos, tenía otros intereses, tenía que buscar trabajo, tenía que

darle algo de dinero a Xóchitl, también tenía otros amigos” (367). Já em 1981, ao

descrever a última reunião dos real visceralistas (encontro, segundo lhe disseram, “igual

que una película de zombis”), María Font registrara em seu depoimento os seguintes

dizeres de Jacinto Requena: “El real visceralismo está muerto, deberíamos olvidarnos de

él y hacer algo nuevo” (319).

Com exceção de duas histórias de Belano rememoradas por Felipe Müller,

os relatos dos real visceralistas cessam na década de 80. Curiosamente, nota-se nos

registros datados na década de 90 uma predominância de nomes até então não

mencionados em Los Detectives Salvajes, em especial os de personagens-escritores

(apócrifos) que estiveram presentes na “Feria del Libro” de Madri, ocorrida em julho de

1994. Um breve olhar ao conteúdo de suas falas explica a ausência dos real

visceralistas: trata-se de um conjunto de escritor bem-sucedidos, que gozam da fama e

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Aurelio Baca, único nome citado nos relatos que precedem a Feira de

Madri, destacado neles como “el gran novelista madrileño” (BOLAÑO, 1998, p. 476),

transforma seu depoimento em uma micro autobiografia literária, assumindo-se

consciente de que não fora um escritor transgressor, que correra demasiado riscos, e

reconhecendo com tranquilidade suas “limitações”. Pere Ordóñez, por sua vez, comenta

a mudança de postura dos escritores hispanofalantes, antes revolucionários, agora uma

espécie de mercenários, que “no reniengan de nada o sólo reniegan de lo que se puede

renegar y se cuidan mucho de no crearse enemigos o de escoger a éstos entre los más

inermes” (ibid., p. 485). Já Julio Martínez Morales, Pablo del Valle e Marco Antonio

Palacios, discorrendo sobre “el honor de los poetas” e enfatizando a todo o momento

suas condições de escritores de êxito, descrevem o caminho para se tornar um escritor

de sucesso e para se manter como tal: “un escritor debe parecer un articulista de

periódico” (487); “Hay que mostrarse fuerte. El mundo de la literatura es una jungla. Yo

pago mi relación con la cartera con unas cuantas pesadillas, con unos cuantos

fenómenos auditivos. No está mal, lo acepto” (487); “Disciplina y un cierto encanto

dúctil, ésas son las claves para llegar a donde uno se proponga. (...) Encanto, o encanto

dúctil: visitar a los escritores en sus residencias o abordarlos en las presentaciones de

libros y decirles a cada uno justo aquello que quiere oír”; “Un consejo: no criticar nunca

a los amigos del maestro” (488).

Essas e as duas últimas vozes que compõem o conjunto entrevistado na

Feira de Madri, a de Hernando García León e a do depressivo e enfermo Pelayo

Barrendoáin, o “loco más célebre de la llamada poesía española” (495), chamam a

atenção para o processo de mercantilização da literatura e para o modo como alguns

escritores adaptaram-se (ou sucumbiram?) a ele, reavivando assim os conflitos entre

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silenciamento dos real visceralistas, essa total perda de espaço, materializa precisamente

as consequências da postura por eles adotadas antes e perante essa mudança ocorrida no

cenário literário. Ainda que o depoimento de Guillem Piña, registrado em 1995, forneça

a informação de que Arturo Belano conseguira publicar alguns romances, trata-se de um

êxito acompanhado por certo temor de que a sua falta de apadrinhamento literário, isto

é, a inexistência de um autor de renome que o defenda, dê aos críticos a oportunidade de

tirar o mérito de seus textos. Movido por esse receio, Belano desafia o famoso crítico

literário Iñaki Echavarne para um duelo, no sentido literal do termo, protagonizando

uma das cenas mais inusitadas do romance.

La feria del libro, como institución característica del nuevo orbe literario, escenifica el montaje presente en la industria editorial. Pero en el contexto descrito en “Los detectives salvajes”, resulta ser el epílogo lapidario de la receta del “buen” escritor, de aquel que sabe astutamente adaptarse a los tiempos, a los “nuevos” tiempos, subiéndose oportunamente al carro de la “victoria” (AHUMADA, 2012, p. 76).

Ao encontro da observação de Ahumada, Mireia Companys Tena sintetiza

bem o significado da abrangência cronológica de Los Detectives Salvajes. Trata-se, em

sua visão, do retrato do “fracasso cíclico” ao qual se converteu o sonho real viceralista

de encarnar a vanguarda literária:

(…) en los años veinte con el estridentismo y con la desaparición de Cesárea Tinajero; en los setenta mediante el sueño frustrado de esos poetas “perdidos en México”; y en los noventa con un panorama literario lamentable, con Ulises Lima y Arturo Belano desaparecidos y con una extrema mercantilización de la literatura que tiene como máximo exponente la Feria del Libro de Madrid de 1994 (TENA, 2010, p. 63).

Um grupo que se inicia como uma “broma” e que se afirma como uma

“pandilla”, de fato não teria lugar na Feira do Livro de Madrid. Muitos são os

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em 1976 tentava exaustivamente salvar o Real Viceralismo, em 1982 passa a assumir

uma postura de resignação: “Sólo sé que en México ya no nos conoce nadie y que los

que nos conocen se ríen de nosotros (somos el ejemplo de lo que no se debe hacer) y tal

vez no les falte razón” (BOLAÑO, 1998, p. 345). Os que antes faziam planos de