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4 DESENVOLVIMENTO

2.4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

2.4.1 Sobre os Resultados das Análises Estatísticas

Neste tópico foi feita uma abordagem sobre o método, análises estatísticas e técnicas utilizadas. Também foram contemplados os resultados considerados importantes e que podem proporcionar avanços teóricos e práticos sobre as influências da aculturação nos valores culturais humanos e em suas relações com o comportamento do consumidor, por meio de novas investigações.

Os resultados das análises estatísticas sobre as dimensões culturais coletivismo e individualismo e suas manifestações horizontal e vertical corresponderam parcialmente com a teoria, confirmando as duas hipóteses principais. Por outro lado, as sete hipóteses específicas, não foram validadas porque os resultados das análises de variância não indicaram efeitos significativos entre as variáveis, apesar de na maioria dos casos as médias terem se mostrado coerente com os preceitos teóricos. Também foi verificada a escala de atributos, que apresentou resultados insatisfatórios. Neste caso, a AFE revelou bidimensionalidade o que acarretou a exclusão de quatro indicadores, gerando índice de consistência interna de 0,63, portanto, abaixo do piso recomendado na literatura ( 0,70). No tópico seguinte são feitos comentários adicionais sobre essas escalas.

Ao contrário das escalas de valores culturais e de atributos de cartão de crédito – que apresentaram baixa dimensionalidade e validade, gerando exclusão de itens e índices insatisfatórios de confiabilidade interna – os resultados foram muito positivos em relação à escala de julgamento e significado de produto. Neste caso, a AFE confirmou a bidimensionalidade entre as dimensões racionais e emocionais do modelo, bem como entre as formas de julgamento (afetivo e passo a passo) e significado de produto (simbólico e utilitário). Todas as variáveis manifestas apresentaram cargas fatoriais variando de boas a muito boas (entre 0,62 e 0,87) e se agruparam de modo a confirmar os construtos do MDR e a escala em sua integralidade. Os escores dos autovalores, teste KMO, variância explicada e confiabilidade interna foram elevados.

Esses resultados mostram que as escalas de julgamento afetivo e passo a passo, e significado simbólico e utilitário tiveram desempenho altamente confiável, estando bem estruturadas em termos de dimensionalidade, proporcionando validade emic para o instrumento – o que atesta estar adaptada para uso no Brasil – e o sucesso do processo da sua validação feita por

Nepomuceno, Alfinito e Torres (2008). Portanto, essa escala se mostrou consistente o bastante para suportar a proposta teórica deste estudo.

A aplicação de técnicas estatísticas multivariadas – AFE e SEM – na análise do MDR confirmaram a maior parte dos seus preceitos teóricos e proporcionaram indicativos importantes para aprimoramentos no sentido de aumentar a amplitude da escala preferência de julgamento e significado de produto, por meio da exploração de novas rotas do modelo. Neste ponto, seguramente, reside a contribuição mais significativa desta investigação: ao promover a análise de aspectos culturais e do MDR junto a amostras de públicos específicos – executivos expatriados brasileiros – surgiram indicadores de manifestações não detectadas anteriormente e que devem ser explorados em novos estudos, com possibilidade de avanços teóricos nesse campo de estudos. Contudo, devido à falta de significância de diferenças de médias e dos baixos coeficientes de variação (R2) esses resultados devem ser analisados com a devida reserva quanto ao nível de significância.

Contudo, coube uma discussão mais detalhada sobre os resultados deste estudo que não coadunaram significativamente com as fundamentações teóricas e, em conseqüência, refutaram todas as hipóteses específicas. Nesse sentido, fez-se importante examinar aspectos relacionados à dimensionalidade e validade da escala de valores culturais de Singelis et al. (1995), em sua versão adaptada para o Brasil por Torres e Pérez-Nebra (2005), que serviu como instrumento para buscar identificar alterações nos valores culturais em expatriados brasileiros, bem como a escala de atributos de cartão de crédito.

A fim de buscar esclarecer estatisticamente essas questões foram realizadas inicialmente análises de variância (ANOVAs) e comparados os escores obtidos para as dimensões culturais coletivismo e suas manifestações horizontal e vertical dos dois grupos de expatriados e destes com os escores dos executivos residentes no Brasil. É importante frisar que essas dimensões culturais não são exclusivas ou mutuamente excludentes. Ao contrário, é esperado que cada indivíduo tenha escores em cada uma delas, que podem variar de acordo com a situação ou ambiente, como afirmou Triandis (1995). Esta afirmativa é basilar para este estudo, que supõe que o expatriado, ao se envolver com um ambiente cultural distinto assimila, em maior ou menor grau, novos valores culturais que podem repercutir na forma como ele se comporta no processo de decisão de compra.

Dessa forma, esperava-se escores diferentes entre os dois grupos de expatriados e entre o grupo de residentes no Brasil quanto às dimensões culturais individualismo e coletivismo e nas suas manifestações vertical e horizontal, apurados por meio da escala de valores culturais. Em relação aos brasileiros residentes no Brasil, as médias do conjunto de expatriados foram mais altas em individualismo, coletivismo, individualismo vertical, individualismo horizontal e coletivismo vertical, enquanto que em coletivismo horizontal o resultado foi idêntico. Entretanto, as diferenças de médias somente foram significativas em individualismo e individualismo vertical. Ao serem detectadas variações significativas, a primeira hipótese foi validada. Os resultados permitem afirmar que as influências do novo ambiente cultural não atuam de forma generalizada sobre as dimensões culturais coletivismo e individualismo e suas manifestações horizontal e vertical enfocadas neste estudo, mas foi comprovado que há alterações significativas e que elas se apresentam, principalmente, na elevação do nível de individualismo no segmento de expatriados.

Quanto à hipótese de que um novo ambiente cultural influenciar o processo de decisão de consumo, com base nas respostas de G1col, G1ind e G2 em relação aos construtos do MDR, os resultados foram parcialmente satisfatórios. Os escores mostraram, de forma significativa, que a cultura coletivista (representada pelos componentes de G1col), quando comparada à cultura individualista (representada pelos componentes de G1ind), gerou maior efeito no julgamento afetivo e no significado simbólico, o que confirma o verificado nos estudos de Torres e Paiva (2007) e Torres e Pérez-Nebra (2005; 2007), isto é, maior tendência dos povos coletivistas pela rota direta do MDR, que exprime uma decisão mais subjetiva ou emocional. No entanto, não foram encontrados resultados válidos em relação à rota indireta, onde a decisão é mais racional, com julgamento passo a passo, imperando o significado utilitário do produto. Também não foram encontradas evidências estatísticas de que o novo ambiente cultural influencia o modo como o consumidor considera os atributos do produto cartão de crédito.

Quando os três subgrupos amostrais foram estudados separadamente, as diferenças dos resultados não apresentaram efeitos significativas quanto às dimensões culturais coletivismo e individualismo e suas manifestações horizontal e vertical. Isso indicou que as influências da aculturação junto às amostras pesquisadas não foram capazes de gerar modificações expressivas nos valores culturais dos respondentes, suposições contidas em H3, H4 e H5.

marginal nas suas crenças, atitudes, valores e comportamentos arraigados, o que refutou H3,

H4 e H5, ainda que em todos estes casos, as médias tenham se comportado de acordo com as

respectivas hipóteses.

Os resultados das análises de variância também apontaram que os brasileiros residentes em países de cultura predominantemente individualista e em países de cultura predominantemente coletivista não se diferenciaram significativamente quanto ao seu modo de julgar e atribuir significado a um produto, conforme hipotetizado em H6, H7, H8 e H9,

rejeitando essas hipóteses. Nestes casos, em que as variáveis foram analisadas de acordo com as rotas do MDR (rota indireta: atributos, julgamento passo a passo e significado utilitário; rota direta: julgamento afetivo e significado simbólico), em geral, tampouco as médias se comportaram conforme o previsto nas hipóteses.

Os fracos resultados obtidos com o exame do MDR por meio da análise de variância ressaltou a necessidade de uma investigação mais aprofundada desse modelo por meio de uma técnica estatística mais completa: a SEM. Os resultados obtidos por meio desse estudo foram altamente positivos. A estruturação do MDR, basicamente dependente de valores, se mostrou apropriada e diversas hipóteses sobre as relações de dependência previstas no modelo foram suportadas. Contudo, a variância explicada (R2) ficou aquém dos parâmetros contidos na literatura. De acordo com o MDR, o coletivismo impacta o julgamento afetivo, que tem relação com a atribuição de significado simbólico ao produto. O individualismo, por sua vez, gera uma cadeia do tipo individualismo atributos julgamento passo a passo significado utilitário. Essas relação foram analisadas por meio da SEM contemplando o total da amostra (Gtot), total de expatriados (G1) e expatriados de G1col e de G1ind.

Conforme apresentado na TAB. 36 constatou-se que a rota direta do MDR resultou significativa para todos os grupos, exceto o composto por brasileiros residentes em países de cultura individualista (G1ind). Como se presume que todos os respondentes foram enculturados no Brasil, o resultado corrobora a tendência dos coletivistas pela rota direta. Entretanto, o resultado diferenciado em G1ind explicita que esse grupo diverge dos demais em termos de consumo, influenciado por novos valores culturais adquiridos em um ambiente onde predomina o padrão individualista, como previsto em H1.

TABELA 36

Relações entre as variáveis latentes da rota direta do MDR GRUPO COLETIVISMO JULG. AFETIVO SIG. SIMBÓLICO

Gtot Significativo Significativo

G1 Significativo Significativo

G2 Significativo Significativo

G1col Significativo Significativo

G1ind Não significativo Significativo

Fonte: Dados da pesquisa.

Notas: a) Resultado significativo: p-valor 0,05; b) Resultado não significativo: p-valor > 0,05.

Os construtos da rota indireta do MDR estão descritos na TAB. 37, de acordo com o nível de significância apurado para cada relação entre variáveis latentes. O primeiro aspecto que chama a atenção é a falta de significância da relação atributos de cartão de crédito julgamento passo a passo, indicando que essas características não foram relevantes para o julgamento e atribuição de significado a esse tipo de produto. A segunda constatação foi quanto a diferenças entre G1col e G1ind. Isolando a variável latente atributos de cartão de crédito na análise desses dois grupos, os expatriados de G1ind mostram-se mais aderentes à rota indireta – preferida nos países individualistas – que os executivos de G1col, indicando, mais uma vez, efeitos de diferenças culturais no comportamento de consumo, como hipotetizado neste estudo (H2). Dessa forma, expatriados brasileiros de G1ind recebem

influências da aculturação, tornando-se mais idiocêntricos, o que os leva a valorizar mais os valores individualistas, fator determinante para a priorização de construtos da rota indireta do MDR, o que é uma característica do padrão cultural individualista. Por outro lado, os brasileiros expatriados de G1col enfatizaram a preferência pela rota direta do MDR, como é comum aos povos coletivistas, como verificado no Brasil (TORRES; PAIVA, 2007; TORRES; PÉREZ-NEBRA, 2007).

Entretanto, foi interessante verificar que para os expatriados de G1ind essa alteração não foi completa. Conforme a TAB. 37, verificou-se quanto a esses expatriados uma relação significativa entre julgamento afetivo e significado simbólico. Como o tempo de expatriação não foi considerado no estudo, presume-se haver uma relação entre o tempo de expatriação e o grau de idiocentrismo dos componentes de G1ind e que cabe ser investigado.

Outro ponto interessante revelado pelos escores das análises foi a relação significativa entre individualismo e julgamento afetivo no conjunto dos expatriados (TAB. 28), o que não se observou nos brasileiros que residem no Brasil. Esse aspecto é relevante por se tratar de mais um indicativo da incorporação de novos valores culturais no exterior (H1) e a possibilidade de

existência de uma nova rota de comportamento de compra, não prevista no MDR.

TABELA 37

Relações entre as variáveis latentes da rota indireta do MDR GRUPO INDIVIDUALISMO ATRIBUTOS JULG. PASSO

A PASSO

SIG. UTILITÁRIO Gtot Significativo Não significativo Significativo

G1 Significativo Não significativo Não significativo G2 Significativo Não significativo Significativo G1col Significativo Não significativo Não significativo G1ind Significativo Não significativo Significativo

Fonte: Dados da pesquisa.

Notas: a) Resultado significativo: p-valor 0,05; b) Resultado não significativo: p-valor > 0,05.

Conforme o resultado e as análises apresentadas, a utilização da SEM no exame do MDR confirmou (1) as suas principais relações, (2) a tendência dos brasileiros de G1col pela rota direta e (3) dos brasileiros de G1ind pela rota indireta, o que revelou diferenças entre os grupos e indicou influências da aculturação nos expatriados. Além disso, foi detectado um relacionamento significativo entre individualismo e julgamento afetivo na análise do conjunto dos expatriados, o que também aponta alterações nesse contingente de brasileiros em sua forma de julgar e atribuir significado a produtos. Ademais, os resultados de G1col e G1ind em relação ao teste do MDR por meio da SEM agregaram informações que poderiam confirmar H7, H8 e H9. Entretanto, os baixos valores de R2 não recomendaram tal conclusão.

Dando continuidade ao exame dos resultados do estudo, coube ao pesquisador buscar explicações sobre os possíveis motivos da rejeição das hipóteses específicas de pesquisa (H3 a