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Org.: DOURADO, J. A. L., 2013. Elab.: HOLANDA, E. P.

1- Camponeses das comunidades circunvizinhas ao Projeto Baixio de Irecê cujas terras foram griladas nas décadas de 1970 e 1980. Foram feitas três visitas às comunidades do Baixio de Irecê (2012, 2013 e 2014). O contato com as comunidades foi feito por intermédio da CPT, que atua na região mobilizando as famílias camponesas no processo de enfrentamento à CODEVASF. Participamos de 2 reuniões no município de Itaguaçu da Bahia e 2 em Xique-Xique, realizadas pela CPT com famílias das 19 comunidades localizadas no entorno do projeto de irrigação. Nas entrevistas realizadas e nas histórias orais colhidas, percebemos que os camponeses sentiam necessidade em descrever como ocorreu a grilagem das terras que ocupavam coletivamente, inclusive relatando a atuação dos pistoleiros na região, sob o comando do Sr. Airton Moura. A participação nas reuniões de mobilização permitiu-nos ter acesso a ricos e esclarecedores depoimentos e relatos

40 Segundo dados disponibilizados por Germani (2007, p. 10), a Bahia possui 386 comunidades

quilombolas e 340 comunidades de Fundo e Fecho de Pasto. Em se tratando do Médio São Francisco, já foram registradas 61 comunidades quilombolas e 19 comunidades de Fundo de Pasto.

sobre como ocorreu todo o processo de expulsão e sujeição dos camponeses à Companhia de Desenvolvimento do Rio Verde (CODEVERDE), a quem pagariam renda da terra.

2 Camponeses das comunidades do vale do rio Salitre. O contato com o povo salitreiro possibilitou-nos apreender o significado que a terra e a água têm para as comunidades que margeiam o rio Salitre, afetadas pelos resultados das políticas públicas implantadas pela CODEVASF nessa região, com o objetivo de garantir a segurança hídrica para a reprodução do capital. Esses sujeitos também contribuíram para a compreensão dos sentimentos, dos saberes, das experiências sociais e simbólicas dos camponeses caatingueiros, bem como da atividade produtiva e da importância do trabalho na terra, das lutas travadas nos/pelos territórios camponeses, ante a atuação do Estado e do capital na busca pela apropriação e pelo controle da água e da terra. Foram entrevistados 2 salitreiros acusados pelo assassinato dos empresários na década de 1980, fato que permitiu entender a tecedura do conflito pelos e com os sujeitos.

3 Camponeses acampados no projeto de irrigação Baixio de Irecê e Projeto Salitre. As entrevistas e conversas informais com esses sujeitos evidenciaram a complexidade da luta pela terra e pela água no Semiárido baiano, por aglutinar sujeitos “de longe” e “de perto”, ou seja, além de salitreiros, existem acampados que vieram de outros municípios baianos – como é o caso dos camponeses expropriados pela construção da Barragem de Sobradinho – e de outros estados (Pernambuco e Alagoas), com pouca ou muita experiência em ocupações de terra.

4 Camponeses do assentamento Nova Conquista (Sobradinho). Esse assentamento foi criado para assentar as famílias que ocuparam uma área de terra no Projeto Salitre. Durante as entrevistas, os camponeses expuseram os dramas vividos na luta pela terra e os desencantos em relação às promessas feitas pela CODEVASF e, até aquele momento, não cumpridas.

5 Gerente regional da CODEVASF (Irecê). A partir da entrevista com o representante local da CODEVASF, buscamos identificar como a estatal concebe a participação dos camponeses no contexto do Projeto Baixio de Irecê, quem serão os reais beneficiados com o empreendimento e quais os seus desdobramentos para as comunidades atingidas. Entrevistamos o gerente local duas vezes, a primeira vez em 2013 e a segunda em 2014 após a ocupação feita pelo MST na área do projeto.

CODEVASF em Juazeiro permitiu levantar elementos importantes para compreender a relação estabelecida entre o Estado e os camponeses, havendo urgência por parte da estatal em fazer o “esvaziamento da área”, mediante ações sutis de abandono, de esquecimento, ou ainda pela não instalação de infraestrutura prometida aos camponeses.

7 Representantes do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA)41. Durante a primeira visita à área da pesquisa, verificamos que o IRPAA tem atuado, na região, com o propósito de revitalizar atividades desenvolvidas pelos camponeses, como forma de fortalecê-los a partir da perspectiva da sobrevivência com o Semiárido. Assim, procuramos identificar as principais ações dessa ONG na região e quais seus desdobramentos para as comunidades atendidas.

8 Representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT Nacional e CPT/Irecê). A mobilização das comunidades do Baixio de Irecê tem sido feita pela CPT, perspectivando promover a coesão social entre os camponeses caatingueiros e assim unificar as reivindicações e fortalecer os laços identitários entre os camponeses, de modo que estes se reconheçam como donos das terras, outrora ocupadas coletivamente e atualmente disponibilizadas para o grande capital.

9 Lideranças do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). As entrevistas e conversas informais com as lideranças do MST permitiram identificar diferenças entre os elementos que norteiam a luta pela terra no Submédio São Francisco. A euforia do acampamento trouxe à tona as divergências entre o MST e a CPT, quanto às medidas a serem adotadas para fazer o enfrentamento à CODEVASF. Essa relação conflituosa fez emergir o conteúdo político-ideológico e social expresso pelas distintas formas de organização e de luta propostas pela CPT e pelo MST, sendo suas experiências cotidianas um ponto divergente na leitura que cada uma faz da realidade da situação e nas decisões a serem tomadas no enfrentamento ao Estado.

10 Representante da Diocese de Barra, o bispo Dom Luiz Cappio. No auge da execução da obra de transposição do São Francisco, Dom Luiz Cappio protagonizou dois momentos de enfrentamento ao empreendimento, quando fez greve de fome, dando notória visibilidade internacional para os movimentos sociais

41 O IRPAA é uma Organização Não Governamental sediada em Juazeiro, na Bahia que atua há mais de

20 anos em comunidades rurais da região desenvolvendo ações de apoio e assistência técnica à agricultura camponesa através de diversos projetos, tendo como perspectiva a convivência com o Semiárido.

e organizações populares que contestavam a viabilidade e a necessidade do projeto da transposição. Nesse sentido, fez-se premente entender como Dom Luiz Cappio concebia a implantação do Projeto Baixio de Irecê, pois os municípios impactados pelo empreendimento pertencem à Diocese na qual o religioso é o representante máximo da Igreja Católica.

11 Presidenta da União das Associações do Vale do Salitre (UAVS). A criação da UAVS ocorreu para aglutinar as comunidades e suas reivindicações frente à CODEVASF. Ao visitar as comunidades do Vale do Salitre sentimos a necessidade de entender como essas comunidades do Baixo Salitre buscaram cobrar ações compensatórias por parte do Estado, visto que estas não seriam contempladas pelo Projeto Salitre, em função das exigências do edital para seleção de irrigantes.

12 Representantes do Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Salitre (CBHS). O CBHS tem buscado, por meio da discussão sobre a necessidade de revitalização do rio Salitre, questionar as ações da CODEVASF junto às comunidades salitreiras, por se tratar de medidas mitigadoras simplistas e aligeiradas que não contemplam as demandas locais.

13 Presidentes de Sindicatos Rurais dos Municípios de Xique-Xique, Itaguaçu da Bahia e Juazeiro. Fez-se necessário entender como os sindicatos de trabalhadores rurais entendem a problemática dos perímetros irrigados, na área da pesquisa e se há alguma ação com o objetivo de organizar os associados para fazer algum tipo de reivindicação junto aos órgãos competentes.

14 Trabalhadores do Projeto Salitre. Verificar qual a opinião dos trabalhadores do Projeto Salitre em relação à implantação desse empreendimento para a população local foi uma estratégia para analisar as diversas e antagônicas visões sobre a expansão do agrohidronegócio na região de Juazeiro, porque entra em cena a questão da geração de emprego e renda. As informações coletadas foram importantes para compreender como o Estado busca “cooptar” determinados sujeitos das comunidades atingidas pelos empreendimentos hídricos, como forma de legitimação junto à sociedade, por meio do convencimento e da manipulação dos reais propósitos da execução dos referidos investimentos na região.

15 Empresários rurais do Projeto Salitre. Através das entrevistas com os empresários rurais, pudemos entender como a ideia de desenvolvimento, a partir de uma concepção positiva da modernização/tecnificação do território com base na agricultura industrial, ganha destaque num contexto rodeado por uma agricultura

camponesa com sérios problemas de acesso à terra e à água.

Todo o conteúdo das entrevistas foi transcrito sem efetuar alterações nos discursos orais dos sujeitos, por entender que estes são produtos e reflexos de suas experiências cotidianas: de nada adiantaria buscar “acessar” esse universo se não houvesse a perspectiva de compreendê-lo e valorizá-lo. Ao tornar públicas as longas conversas tidas com os sujeitos, houve o cuidado em protegê-los e manter o seu anonimato, pois nossos interlocutores confiaram em nós e sentiram-se à vontade para expor suas histórias, mesmo sabendo que estas seriam utilizadas para fins acadêmicos; procuramos “[...] colocá-los ao abrigo dos perigos aos quais nós exporíamos suas palavras, abandonando-as, sem proteção, aos desvios de sentido.” (BOURDIEU, 2008, p. 9). Embora as falas tenham sido preservadas (transcritas ipsis litteris), no ato da transcrição muito se perde desses momentos com os sujeitos, como a entonação de voz, a linguagem do corpo, gestos, as pausas (e silêncios), os suspiros, olhares, lapsos e ênfases dadas a determinadas passagens históricas.

Os camponeses de que tratamos nessa pesquisa possuem origem e tradições socioculturais e políticas heterogêneas. Não se trata de sujeitos com um único modus

operandi, ou seja, o trabalho na terra. Os sujeitos sociais a que nos referimos

desenvolvem diferentes (e complementares) atividades, dependendo do período do ano, oscilando entre atividades com a terra seca (caatinga), a terra molhada (vales úmidos, lameiros, brejos e os perímetros irrigados), com forte influência do regime das chuvas e das águas do rio São Francisco e seus afluentes, desenvolvendo ainda atividades não agrícolas. Há, também, distintos modos de vida (modus vivendi), cujas expressões fenomênicas do trabalho são marcadas pela plasticidade,42 visto que estes sujeitos são camponeses, pescadores-camponeses ou camponeses-pescadores, trabalhadores assalariados, revelando os “sentidos polissêmicos do trabalho, em cada tempo e lugar” (THOMAZ JUNIOR, 2006, p. 151). Caracterizá-los exigiu um esforço de nossa parte, no sentido de distingui-los para que suas atitudes, identidades territoriais, atividades

42 A discussão sobre plasticidade do trabalho no âmbito da geografia ganhou robustez a partir das

teorizações feitas por Thomaz Júnior, quando esse autor debruça sobre as diferentes expressões e sentidos do trabalho. De acordo com esse autor, quando nos ocupamos com “a (des)realização e as novas identidades do trabalho territorialmente expressas na plasticidade que se refaz continuamente, estamos preocupados com os desdobramentos para os trabalhadores da constante redefinição de profissões, habilitações, especializações, inserções autônomas etc., entremeada, em vários casos, com experiências de despossessão. Essa trajetória de fragmentações atinge em cheio o trabalho, e são essas as evidências mais profundas do estranhamento que acrescentam desafios à compreensão do trabalho, na perspectiva de classe”. (THOMAZ JUNIOR, 2009, p. 41).

laborais e formas organizativas sejam compreendidas a partir de seus contextos de vivência, ou seja, seus modos de vida. Para uma maior clareza em relação à caracterização, os camponeses informantes desta pesquisa foram subdivididos em quatro grupos (Quadro 4).

Quadro 4 - Caracterização dos camponeses da pesquisa (2011-2014)

Informantes Categoria de uso e posse da terra Localidade anterior Organização de que participa Salitreiros Agregados, posseiros e

proprietários de terra, assalariados (agrícolas e não-agrícolas) e acampados Salitre Associações Comunitárias e o IRPAA Acampados Posseiros Comunidades do Vale do Salitre, Comunidades do Baixio de Irecê, Pernambuco e Alagoas MST, CPT e STR Camponeses do Baixio de Irecê43 Agregados, ribeirinhos44, beraderos/brejeiros45, posseiros, fundos de pasto, proprietários de terra, assalariados e pescadores Pilão Arcado, Sento Sé, Casa Nova, Remanso, Xique-Xique e Itaguaçu da Bahia Sindicatos de Trabalhadores Rurais46 e CPT

Assentados Posseiros Sobradinho MST

Organização: DOURADO, J. A. L.

Fonte: Trabalho de Campo, 2012, 2013 e 2014.

As famílias expropriadas pela construção da Barragem de Sobradinho que

43 Em determinadas situações foram realizadas entrevistas coletivas com os camponeses respeitando a

localidade de origem dos mesmos. A quantidade de camponeses que compunha cada grupo variou de acordo com a representatividade das comunidades nos encontros de mobilização realizados pela CPT. Foram realizadas entrevistas com grupos de 4, 6, 8 e 10 camponeses. Faz-se necessário destacar nosso conhecimento acerca das metodologias “Grupo Focal” e “Grupo de Discussão”, todavia, por questões teórico-conceituais não fizemos uso destas técnicas. Para saber mais sobre a técnica Grupo Focal, aconselhamos consultar Silva (2012). Sobre Grupo de Discussão, ver Turra Neto (2011).

44 Aquele que vive à beira do rio.

45 Os brejeiros são os moradores de faixas estreitas de solo fértil às margens de pequenos rios (conhecidos

localmente como “riachos”) que correm em meio à Caatinga. No Baixio de Irecê identificamos uma área com essas características nas proximidades do Rio Verde, onde são cultivadas lavouras de ciclos curtos (feijão, milho, melancia, verduras, mandioca e folhagem para os animais). Estrela (2004) define “beradero” como sendo aquele que vive à beira dos rios e das atividades desenvolvidas na beirada do rio, cujas práticas socioculturais são marcadas pela relação que estes sujeitos estabelecem com o rio.

46 Algumas lideranças dos sindicatos de trabalhadores rurais integraram, no passado, a FETRAF

(Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar) e o CETA (Coordenação Estadual dos Trabalhadores Acampados, Assentados e Quilombolas).

vieram para a região do Baixio de Irecê ocuparam-se com a agricultura de sequeiro e passaram a criar animais nas áreas de fundo de pasto, além de trabalhar como agregados ou diaristas, condição bem distinta de seu modo de vida antes da desterritorialização, em função do barramento do rio, haja vista que a relação terra-rio-trabalho foi interrompida, obrigando-os a profundas alterações no tocando à forma de uso e de ocupação da terra e nas relações de trabalho. A ocupação das margens do rio São Francisco representava, do ponto de vista econômico, a possibilidade de reprodução da família, cuja renda era, predominantemente, originária da agricultura praticada nas ilhas e nas margens do rio e da pesca artesanal. Por outro lado, a proximidade com o rio São Francisco, os chamados “beraderos”, era um elemento diferenciador do modo de vida desses camponeses, em relação àqueles que viviam distantes do rio.

A ocupação da região do rio Verde ocorreu, segundo os relatos orais feitos pelos camponeses, há aproximadamente dois séculos, em função do extrativismo animal e vegetal, principalmente por camponeses que trabalhavam como agregados nas fazendas localizadas às margens do São Francisco. Nas áreas de “brejos”, ou seja, a faixa de terra úmida próxima ao rio Verde, é desenvolvida uma agricultura voltada para o autoconsumo. Os camponeses moradores dos “brejos” articulam a agricultura com a criação de caprinos e bovinos, esta última praticada na área de sequeiro, conhecida localmente como “caatinga”. A pesca artesanal, embora seja praticada por muitos moradores, não possui tanta expressividade, como ocorre entre os “beraderos”, contribuindo pouco para a dieta nutricional dos camponeses. Essa articulação entre agricultura e pecuária constitui uma importante estratégia de resistência e de reprodução camponesa, podendo os “brejos” serem considerados algo similar ao que Harvey (2012) denominou de “espaços de utopia”. Agricultura, pecuária e pesca não possuem “caráter residual” entre os camponeses, havendo em alguns casos a relação de cooperação, como verificamos na produção de farinha. O que há de fato é a alternância de atividades, conforme o período do ano: na entressafra agrícola, a pecuária ganha destaque, ao passo que, nos períodos chuvosos, a agricultura e a pesca tornam-se mais vantajosas para os camponeses.

A área abrangida pela bacia do rio Verde integra parte das terras que eram ocupadas coletivamente e que foram griladas por Airton Moura. De acordo com as pesquisas desenvolvidas pelo Grupo GeografAR47 (2010), a região do Submédio São

47 O Grupo de Pesquisa GeografAR – A Geografia dos Assentamentos na Área Rural

Francisco concentra grandes extensões de terras devolutas ainda não tituladas pelo Estado. Acreditamos que a existência de terras devolutas foi um dos motivos que levaram à grilagem de terras na região do Baixio de Irecê, pois os camponeses ocuparam sem o título da terra, facilitando assim a atuação dos grileiros.

Após a definição dos sujeitos participantes da pesquisa, fez-se necessário delimitar a amostragem dos entrevistados em cada uma das categorias (Quadro 5). Considerando as particularidades da pesquisa, optou-se por utilizar, como modelo, a amostragem por saturação de Turato (2003), cujas entrevistas foram realizadas até o ponto em que os resultados passaram a se repetir, servindo apenas como confirmação para as informações já obtidas.

Foram entrevistados 116 camponeses. Em Xique-Xique48 entrevistamos 50 camponeses moradores das seguintes comunidades: Nova Boa Vista, Boa Vista, Carneiro, Curral do Meio, Roçado, Muritiba, Tapera de Cima, Sítio e Vista Nova. Em Itaguaçu da Bahia49 foram entrevistados 40 camponeses moradores das comunidades Conceição, São João, Muquém, Várzea da Cerca, Esconso, Poço Grande, Pau Seco, Nova Vereda. Em Juazeiro50 entrevistamos 20 camponeses que moram nas comunidades de Alfavaca, Capim de Raiz, Campo dos Cavalos e 4 lideranças do MST. Em Sobradinho foram entrevistados 2 assentados do Assentamento Nova Conquista. Além dos camponeses, entrevistamos 2 lideranças da CPT/BA no município de Irecê, 2 funcionários do IRPAA no município de Juazeiro, 10 trabalhadores do Projeto Salitre, 2 gerentes regionais da CODEVASF (Irecê e Juazeiro), 3 empresários rurais no município de Juazeiro, 1 liderança da Igreja Católica e 2 representantes do Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Salitre (Quadro 5).

processo de (re)produção do espaço no campo baiano, a partir da correlação de forças que se define pela ação política dos sujeitos sociais organizados.

48 Dos 50 camponeses entrevistados em Xique-Xique, 1 era o presidente do Sindicato dos Trabalhadores

Rurais desse município.

49 Dos camponeses entrevistados em Itaguaçu da Bahia, 2 estão na presidência do Sindicato dos

Trabalhadores Rurais da cidade.

50 Dentre os camponeses entrevistados, está a presidente da União das Associações do Vale do Salitre

Quadro 5 – Sujeitos Entrevistados.

Sujeitos entrevistados entrevistados Número de Local

Camponeses 116

Itaguaçu da Bahia, Xique- Xique, Juazeiro e Sobradinho ONG 2 Juazeiro CPT 2 Irecê Representante da Igreja Católica 1 Barra

CODEVASF 2 Irecê e Juazeiro

Trabalhadores do Projeto

Salitre 10 Juazeiro

Empresários Rurais 3 Juazeiro

Representantes do CBHS 2 Juazeiro

Total de entrevistados 138

Org.: DOURADO, J, A. L., 2013

Alguns moradores da comunidade de Nova Boa Vista trabalharam na fase inicial da obra de construção do canal de irrigação do Projeto Baixio de Irecê, onde é feita a captação de água do rio São Francisco, nas proximidades dessa comunidade. Consequentemente, essa é a comunidade em que a CPT enfrenta maiores dificuldades de mobilização contra a construção do projeto de irrigação, pelo fato das famílias que tiveram algum membro trabalhando nas obras acreditarem que foram beneficiadas e que, com o término do empreendimento, conseguirão novamente trabalho.

Para efeito de coleta de dados, a década de 1990 foi o recorte temporal definido para a pesquisa, por entendermos que é a partir desse momento que são criadas as condições estruturais e conjunturais para a expansão da agricultura mecanizada no Semiárido brasileiro e, especificamente no caso baiano, para a implantação dos perímetros irrigados, forjando novas lógicas de produção e organização do espaço. Ressaltamos, todavia, que os dados relacionados aos conflitos pela terra e pela água começaram a ser registrados pela CPT a partir da década de 1980.

Durante as entrevistas fizemos uso de gravador, com o propósito de registrar os diálogos junto aos entrevistados. A utilização do gravador não substituiu a confecção do diário de campo, no qual foram registradas as sensações dos entrevistados, reveladas através das expressões, angústias, pausas e agitações, bem como a nossa percepção da paisagem das comunidades rurais, do acampamento e assentamento, dos projetos de

irrigação e do Centro de Abastecimento (CEASA). As histórias contadas, os relatos dos moradores das comunidades sobre seus costumes e tradições, os festejos, as labutas com as “roças”, relembrados com certo saudosismo, permitiram-nos ter contato com as histórias de vida e do lugar, dando-nos elementos para podermos refletir sobre as experiências vividas em campo e fazermos as correlações e mediações entre o real, seus movimentos e a teoria, na busca de exercitar a “leitura geográfica” do Semiárido baiano a partir dos conflitos e contradições materializados no território, como expressão do movimento do trabalho.

Segundo Venâncio e Pessôa (2009, p. 318-9), por mais que

os gravadores, as câmeras fotográficas, os questionários e os roteiros de entrevistas sejam técnicas indispensáveis, não conseguem registrar as emoções momentâneas, tanto por parte do pesquisador quanto por