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CAPÍTULO 3 A SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA E A PROGRESSÃO DE REGIME

3.1. A SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA

A suspensão condicional da pena consiste num benefício processual aplicável, via de regra, na justiça penal comum e na justiça castrense.

Na esfera penal comum, o sursis está previsto no art. 77 do Código Penal, verbis:

Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - o condenado não seja reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

§ 2º - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado seja maior de 70 (setenta) anos de idade. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Assim, a suspensão condicional da pena pode ser concedida pelo juiz quando da prolação de sentença condenatória, desde que o apenado satisfaça requisitos objetivo e subjetivos: o primeiro deles consiste na cominação de pena não superior a dois anos.

Já os subjetivos estão enumerados nos três incisos acima: não reincidência em crime doloso; culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade do agente, motivo e circunstâncias que autorizem a concessão do benefício, bem como não ser indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 do CP: substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito ou pena restritiva de direito combinada com multa.

Assim, por tratar-se de situação mais favorável ao condenado, a substituição do art. 44 pretere a suspensão da pena. No entanto, caso aquela não possa ser aplicada ao condenado, este poderá, ainda e em tese, ter decretado em seu favor o sursis, desde que preencha, além do requisito objetivo mencionado, aqueles subjetivos mencionados no três incisos do art. 77 do CP.

A doutrina tem entendido que se trata de direito público subjetivo do réu a concessão do sursis, caso o réu preencha os requisitos enumerados na lei penal. Não se trata, portanto, de mera faculdade do julgador, mas, sim, de atuação vinculada aos critérios legais.

O §2° do mesmo artigo traz nova situação: ainda que o réu seja condenado a pena não superior a quatro anos, fará jus ao benefício processual, desde que possua mais de setenta anos na data da sentença ou razões de saúde justifiquem a suspensão.

No entanto, o sursis não é gratuito. De fato, o juiz, concedendo-o, fixará condições na sentença, as quais, acaso descumpridas, podem implicar a revogação da suspensão da pena, por isso mesmo denominada condicional.

Assim, o condenado, no primeiro ano do período de prova, deverá prestar serviços à comunidade ou submeter-se à limitação de fim de semana (art. 78, §1°). No entanto, tal exigência pode ser substituída pelas do §2°: se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP lhe forem favoráveis, as limitações consistirão na proibição de frequentar determinados lugares, na proibição de ausentar-se da comarca onde reside, salvo autorização do juiz, bem como no comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.

O art. 79, por sua vez, reforça o princípio da pessoalidade da pena, ao asseverar que “a sentença poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do condenado”.

O caput e os incisos I, II e III do art. 81 estabelecem os casos de revogação obrigatória do sursis: a condenação, por sentença irrecorrível, por crime doloso; se frustra, embora solvente, a execução da pena de multa ou não efetua, sem motivo justificado, a reparação do dano; ou se descumpre a condição do §1° do art. 78 retromencionado.

O §1° do art. 81, por sua vez, estabelece hipóteses facultativas de revogação do benefício, no caso de o condenado descumprir qualquer outra condição imposta ou ser condenado, irrecorrivelmente, por crime culposo ou por contravenção, a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos.

Os §§2° e 3° do mesmo artigo estabelecem hipóteses de prorrogação do período de prova: no primeiro deles, haverá a prorrogação da suspensão até julgamento definitivo, se o beneficiário estiver sendo processado por outro crime ou contravenção; no segundo deles, quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés de decretá-la, prorrogar o período de prova até o máximo, se este não foi o fixado.

O art. 82 encerra o capítulo relativo à suspensão condicional da pena, prescrevendo que a pena privativa de liberdade será considerada extinta se o período de prova expirar sem revogação, situação na qual eventual condenado a pena privativa de liberdade ter- se-á livrado da reclusão, caso cumpra rigorosamente as condições determinadas pelo juiz durante todo o período de prova.

No que tange à esfera militar, a suspensão condicional da pena também é instituto aplicável, via de regra, aos crimes propriamente militares no Código Penal Militar definidos.

O art. 84 do diploma repressivo castrense estabelece que a execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, pode ser suspensa, por 2 (dois) a 6 (seis) anos, desde que sejam cumpridos alguns requisitos. O período de prova retromencionado é o requisito objetivo ao sursis.

Os requisitos subjetivos, por sua vez, estão descritos nos dois incisos do art. 84,

verbis:

I - o sentenciado não haja sofrido no País ou no estrangeiro, condenação irrecorrível por outro crime a pena privativa da liberdade, salvo o disposto no §1º do art. 71; (Redação dada pela Lei nº 6.544, de 30.6.1978).

II - os seus antecedentes e personalidade, os motivos e as circunstâncias do crime, bem como sua conduta posterior, autorizem a presunção de que não tornará a delinquir. (Redação dada pela Lei nº 6.544, de 30.6.1978).

O §único do art. 84 apresenta restrições à concessão do sursis: ela não se estende às penas de reforma, suspensão do exercício do posto, graduação ou função ou à pena acessória, nem exclui a aplicação de medida de segurança não detentiva.

O art. 85 do Código, por sua vez, assevera, em dicção semelhante à do CP comum, que a sentença deve especificar as condições a que fica subordinada a suspensão.

O art. 86, a seu turno, traz três hipóteses de revogação obrigatória do sursis:

I - é condenado, por sentença irrecorrível, na Justiça Militar ou na comum, em razão de crime, ou de contravenção reveladora de má índole ou a que tenha sido imposta pena privativa de liberdade;

II - não efetua, sem motivo justificado, a reparação do dano;

III - sendo militar, é punido por infração disciplinar considerada grave.

A suspensão pode ser também revogada se o condenado deixa de cumprir qualquer das condições impostas na sentença.

O §2° do mesmo artigo estabelece que o juiz pode, quando facultativa a revogação, ao invés de decretá-la, prorrogar o período de prova até o máximo, se este não foi o fixado.

O §3°, por sua vez, aduz que, em caso de condenação, se o beneficiário está respondendo a processo que pode acarretar a revogação, considera-se prorrogado o prazo da suspensão até julgamento definitivo.

O art. 87 traz disposição idêntica ao CP comum: se o prazo expira sem que tenha sido revogada a suspensão, fica extinta a pena privativa de liberdade.

Já o art. 88 traz situações nas quais não se admite a suspensão condicional da pena: a qualquer delito cometido em tempo de guerra e, em tempo de paz, por crime contra a segurança nacional, de aliciação e incitamento, de violência contra superior, oficial de dia, de serviço ou de quarto, sentinela, vigia ou plantão, de desrespeito a superior, de insubordinação ou de deserção.

Ademais, o sursis é vedado, por igual, aos crimes previstos nos arts. 160, 161, 162, 235, 291 e seu parágrafo único, ns. I a IV, os quais tipificam, respectivamente, os crimes de desrespeito a superior, desrespeito a símbolo nacional, despojamento desprezível, pederastia ou outro ato de libidinagem e receita ilegal.