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3. Cultura e gentrificação nas cidades

3.8 Suspensões do projeto

O projeto Nova Luz foi diversas vezes suspenso pela Justiça de São Paulo e todas as outras vezes, até o momento de conclusão desta dissertação (entre julho e agosto de 2012), liberado novamente pelo Tribunal de Justiça, como veremos a seguir. Em matéria de 28 de agosto de 2010, observamos que, inicialmente, devido a problemas na licitação pública para a demolição, que é alvo de disputa entre empresas, a Justiça suspende as obras de demolição:

A Justiça de São Paulo suspendeu as obras de demolição de imóveis de uma quadra inteira na região da cracolândia, onde será construído o Complexo Cultural Luz, um projeto de R$ 600 milhões do governo do Estado.

[...]

A licitação para a demolição dos imóveis – que incluem ainda bares, prédios de até 11 andares e uma unidade do Corpo de Bombeiros – terminou em março.

Embora o governo estimasse o contrato em até R$ 7,5 milhões, a empresa Fator levou o serviço por R$ 3,5 milhões no pregão eletrônico.

A Demolidora ABC, segunda colocada na disputa, foi à Justiça alegando que a vencedora não comprovou capacidade técnica e financeira.

Juntou parecer da assessoria de obras e projetos da secretaria, que diz que a Fator "não atende às exigências para a execução do objeto".200

Em 24 de agosto de 2011, o Tribunal de Justiça libera a continuidade do projeto, conforme pequena nota (aqui citada na íntegra) publicada no jornal Estado de São Paulo:

199

FONSECA apud BORJA, 2004.

200

Matéria intitulada "Justiça suspende derrubada de prédios na cracolândia" publicada no jornal Folha de São Paulo em 28 de agosto de 2010.

O Tribunal de Justiça de São Paulo liberou ontem a continuidade do projeto Nova Luz – aposta da Prefeitura para reurbanizar, em 15 anos, 45 quarteirões do centro de São Paulo. Por unanimidade, os desembargadores do TJ negaram o recurso de comerciantes da Santa Ifigênia, que são contrários ao projeto e classificaram a decisão como uma "loucura".201

Em 26 de janeiro de 2012, a Justiça suspende, dessa vez, a aplicação da concessão urbanística (ou terceirização da Nova Luz, como citado anteriormente), conforme matéria publicada no site do Tribunal de Justiça202, no mesmo dia:

A 8ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo concedeu hoje (26) liminar em ação

popular para suspender os efeitos da Lei Municipal 14.918/2009, que trata da aplicação da concessão urbanística na área do projeto Nova Luz. Também suspende o processo administrativo 2009.0.209.264-9, que tramita na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU) e que trata da elaboração do processo urbanístico para a área e seu estudo de viabilidade econômica.

A ação foi proposta por Andre Carlos Livovschi que alegou, entre outras coisas, que o prefeito de São Paulo não teria promovido nenhuma audiência pública no âmbito do Executivo para mostrar o projeto à população, sobretudo a atingida pela intervenção.

De acordo com a decisão do juiz Adriano Marcos Laroca, a Lei Federal 10.257/2011, que fixa diretrizes gerais da política urbana pela Administração Pública, prevê a gestão democrática por meio da participação da população e de

associações representativas dos vários segmentos da comunidade. A decisão

política de aplicar no projeto Nova Luz o instrumento da concessão urbanística, de fato, não contou com a participação popular, sobretudo da comunidade

heterogênea (moradores de baixa renda, pequenos comerciantes de eletrônicos, empresários, etc.) atingida pela intervenção urbanística em tela, afirmou o

magistrado.

O juiz também ressaltou que o motivo preponderante para a utilização da concessão urbanística no projeto Nova Luz era o de que ele propiciaria, com investimentos da iniciativa privada, a execução de obras e serviços públicos sem a necessidade de

grandes investimentos pela Prefeitura. No entanto, estudos elaborados pela FGV

sinalizaram que o projeto só se concretizaria com investimentos públicos em

torno de R$ 600 milhões, fora os já realizados com instrumentos de incentivos

fiscais.

201

Nota intitulada "TJ libera continuidade do projeto Nova Luz" publicada no jornal Estado de São Paulo em 25 de agosto de 2011.

(Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,tj-libera-continuidade-do-projeto-nova- luz,763409,0.ht m>. Acesso em: jul. 2012.)

202

Notícia publicada no site do Tribunal de Justiça – atualmente indisponível – no dia 26 de janeiro de 2012. (Atualmente disponível em: <http://tj-sp.jusbrasil.com.br/noticias/3000657/ justica-suspende-aplicacao-da- concessao-urbanistica-na-area-do-projeto-nova-luz>. Acesso em: julho de 2012.)

Denota-se que o motivo preponderante que justificou a aplicação da concessão

urbanística nas áreas do projeto Nova Luz se revelou falso. Em outros termos, a

lei de efeitos concretos, ora atacada, enquanto ato administrativo em sentido material, encontra-se viciada pela falsidade do motivo (ausência de grande investimento público) que levou à sua edição, fundamentou o magistrado. (grifos nossos)

Em matéria de 25 de fevereiro de 2012, podemos observar como o Tribunal de Justiça de São Paulo novamente suspende todas as liminares que de alguma forma impediam a continuidade do projeto Nova Luz em São Paulo, liberando a realização do projeto novamente, conforme excerto da seguinte matéria em que o próprio prefeito declara à imprensa a suspensão das liminares:

O prefeito Gilberto Kassab (PSD) disse neste sábado que o TJ (Tribunal de Justiça) de São Paulo suspendeu todas as decisões de primeira instância (liminares) relativas ao projeto Nova Luz, que prevê a reurbanização da Luz, na região central da cidade. A informação teria sido dada ao prefeito pelo presidente do TJ, na noite de ontem (24).

Com a decisão, segundo Kassab, a cidade tem uma segurança jurídica para dar procedimento à fase de licitação ambiental e, em seguida, publicar o edital para escolher o consórcio que vai fazer a Nova Luz. "A fase de licitação ambiental está quase no fim e essa decisão deve dar agilidade à concretização do projeto", disse o prefeito.

A empresa que ganhar a licitação do projeto pode ter um lucro de R$ 229 milhões -- somente com a venda dos terrenos que serão comprados ou desapropriados.

O projeto Nova Luz prevê que a transformação da região fique a cargo de uma empresa privada, que poderá fazer as desapropriações e vender os terrenos com lucro. A previsão é que cerca de 30% da região da Santa Ifigênia seja desapropriada e demolida.203

Em 6 de junho de 2012, a Justiça suspende novamente o projeto Nova Luz, obrigando a prefeitura a interromper o edital de privatização para o projeto, através de em ação movida pela Defensoria Pública, como podemos observar em matéria de 8 de junho publicada no jornal Folha de São Paulo:

203

Matéria intitulada "Justiça suspendeu liminares e Nova Luz está mantido, diz Kassab" publicada em 25 de fevereiro de 2012 no jornal Folha de São Paulo.

(Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1053493-justica-suspendeu-liminares-e-nova-lu z- esta-mantido-diz-kassab.shtml>. Acesso em: jul. 2012)

A Justiça parou novamente o projeto Nova Luz em São Paulo. Dessa vez, a liminar (decisão provisória) da 6ª Vara da Fazenda Pública obriga a prefeitura a interromper o edital de privatização para o projeto. A ação foi movida pela Defensoria Pública. Na decisão do dia 6 de junho, o juiz afirma que os moradores e comerciantes da região não foram consultados para a deliberação tomada pelo conselho gestor das ZEIs (Zonas Especiais de Interesse Social).

O projeto da prefeitura prevê a desapropriação e a transformação, pela iniciativa privada, de 45 quadras na área central de São Paulo, que incluem parte das lojas da Santa Ifigênia. As empresas que investirem nas obras poderão lucrar com a venda posterior dos imóveis.

O Conselho Gestor das Zeis é formado por oito membros da prefeitura e oito membros da sociedade civil (moradores, comerciantes e integrantes de movimentos sociais). Para a prefeitura, esse órgão garante a democracia. Para os comerciantes e moradores, porém, não existe voz real para os membros da sociedade civil.204

Entretanto, em 21 de junho de 2012, a Justiça de São Paulo suspende outra vez a liminar (decisão provisória) que interrompia o edital de privatização, permitindo, novamente, que a prefeitura continue com o processo já tantas vezes impedido pelas diferentes causas explicitadas anteriormente – por enquanto a última notícia até o momento da conclusão desta dissertação:

O projeto estava parado desde o dia 6 deste mês, quando a 6ª Vara da Fazenda Pública obrigou a prefeitura a parar o edital. À época, o juiz alegou que os moradores e comerciantes da região não foram consultados para a deliberação tomada pelo conselho gestor das ZEIs (Zonas Especiais de Interesse Social). A Prefeitura de São Paulo recorreu e, no julgamento em segunda instância, a liminar perder o seu efeito.205

3.9 MANIFESTAÇÕES CONTRA O PROJETO

204 Matéria intitulada "Justiça de SP suspende mais uma vez projeto Nova Luz" publicada em 8 de junho de 2012

no jornal Folha de São Paulo.

(Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1102082-justica-de-sp-suspende-mais-uma-vez-o- projeto-nova-luz.shtml>. Acesso em: jul. 2012.)

205

Matéria "Justiça suspende liminar que interrompia o projeto Nova Luz" publicada em 28 de junho de 2012 no jornal Folha de São Paulo.

(Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1112066-justica-suspende-liminar-que- interrompia-o-projeto-nova-luz.shtml>. Acesso em: jul. 2012.)