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Existem muitos conceitos e definições de turismo. A Organização Mundial do Turismo (OMTUR, 2003) define turismo como um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde. O turismo inclui práticas não ligadas à hotelaria como o chamado turismo residencial, que surgiu a partir da tendência de cidadãos

“em usufruir uma segunda residência relativamente próxima à sua residência principal para fins de lazer durante os fins de semana ou férias prolongadas” (DEMAJOROVIC:

LATERZA; KONDO, 2009). Nesta concepção as pessoas saem de seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações de importância social, econômica e cultural.

As definições acima enfatizam o lazer, não sendo este o único aspecto da vida em sociedade que alimenta a indústria hoteleira. As receitas dos hotéis se formam a partir do turismo de lazer, mas também da hospedagem de indivíduos ou grupos que se deslocam com o propósito de fazer negócios com fins lucrativos e assistir convenções ou apresentações de produtos, entre outras atividades remuneradas. Algumas projeções da World Tourism Organization (UNWTO, 2011) sugerem que em 2030, o número de viajantes pode chegar a 1,8 bilhão de pessoas no mundo todo, beneficiando todos os segmentos do turismo, destacando-se o turismo de negócios, o de aventura e o de incentivo. Esse último é caracterizado pela premiação com viagens para funcionários de organizações que atingem metas ou por bons serviços prestados.

Uma vez feita a distinção entre turismo e hotelaria vale destacar que tanto uma quanto outra são atividades de alto impacto ambiental, nem sempre percebido. A UNWTO (2011) se preocupa cada vez mais com as consequencias do turismo. Há estimativas que consideram o turismo e a hotelaria como geradores de 5% de toda a emissão mundial de CO2. As duas indústrias usam em muitos casos fontes não renováveis de energia e água e produzem altos volumes de resíduos sólidos e líquidos. Também são usadas, geralmente sem preocupação com a renovação sustentável, fontes de gêneros alimentícios de todos os tipos, peixes, carnes e produtos agrícolas (WEF, 2011). Estes e outros dados constam de um estudo publicado em 2010 pelo chamado Tourism and the Millenium Development Goals.

A UNWTO define uma abordagem sustentável para o turismo, se apoiando nas ideias do Relatório Brundtland. Turismo sustentável é aquele que atende as necessidades das gerações de hoje e das regiões receptoras, ao mesmo tempo em que protege e amplia as oportunidades para o futuro. O turismo assim praticado deveria satisfazer necessidades econômicas de proprietários de estabelecimentos e populações do entorno. Além disso, deveria atender as necessidades sociais, garantir o respeito à cultura e à estética local e cuidar da integridade dos processos ecológicos essenciais, como a manutenção da diversidade biológica e dos sistemas que garantem a vida no entorno do emprendimento (OMTUR, 2003).

Desde 1991 a Association Internationale dès Experts Cientifiques em Tourisme prega um turismo responsável, baseado em quatro características: (1) respeito ao meio ambiente; (2) distribuição equitativa dos benefícios econômicos com as comunidades e empresários; (3) harmonia com a cultura e os espaços sociais da comunidade receptora para não agredi-la; (4) formação de um turista mais responsável e atencioso. (MONFORTE, 2007).

Ao se colocar a ênfase na comunidade se delineiam também desafios específicos para os gestores hoteleiros. Estes deveriam supostamente administrar sua atividade em conjunto com os demais atores econômicos locais, públicos e privados “visando o enfrentamento dos problemas sociais e econômicos da localidade” (MERIGUE, 2007, p. 5). Administrar uma atividade econômica de modo que ela gere benefícios para a comunidade envolvida não é uma tarefa simples. Torna-se ainda mais complexa no caso da atividade hoteleira de negócios, devido às peculiaridades do serviço oferecido, em que os visitantes raramente são incentivados a desenvolver algum sentimento de pertencimento à comunidade visitada.

Tanto a World Tourism Organization (UNWTO) quanto o World Economic Forum (WEF) trabalham com números similares quando se trata de geração de emprego e renda.

Consideram que 6 a 8% de todos os empregos no mundo estejam ligados diretamente ao turismo, seja ele de lazer ou ao que hoje é chamado de ‘turismo de negócios’, ambos fontes de

receitas para a hotelaria (UNWTO, 2011; WEF, 2011). Não se pode, porém, falar de uma maneira generalista do trabalho humano e de competências gerenciais, ao se abordar o campo da hotelaria. Os hotéis podem, no entanto ser classificados de diferentes maneiras, o que impõe necessidades diversas de treinamento e desenvolvimento de pessoas. Hotéis podem ser centrais e urbanos ou não centrais e periféricos, econômicos ou de luxo, resorts e spas ou hotéis de negócios. Hoje existem conceitos como os de hotéis-fazenda, apart hotéis e flats, motéis de alta rotatividade, pensões, pousadas etc. Existem também diferentes formas de administração dos hotéis, particular, integrantes de redes de hotelaria, franquias ou hotéis com contratos de administração etc. (MONFORTE, 2007). Todas estas diferentes modalidades de hotéis e públicos exigem gestores com algumas características em comum e outras completamente distintas, dependendo de local, atividade e maneira de administrar. Existe uniformidade no que diz respeito à indústria como um todo e suas necessidades de conhecimento técnico, mas especificidade dependendo do tipo de hotel e de administração.

Pelo seu alto impacto no entorno, o turismo e a hotelaria de diversos tipos, desde o de negócios até o de lazer, deveria ser “concebido, desde o seu planejamento, com a participação de todos os atores envolvidos, principalmente aqueles participantes da comunidade de um determinado local.” (RIBEIRO, 2008, p. 21). Quando mal planejado e gerenciado, o turismo pode ter um efeito devastador no meio natural. Este fato chama mais a atenção e tem sido, portanto, maior alvo de estudos em lugares reconhecidos pelas suas belezas naturais ou culturais. São destinos que dependem do meio ambiente e da cultura local para continuar gerando renda e prosperidade para seus habitantes. Tem sido, no entanto, difícil compreender o impacto do turismo e da hotelaria em áreas urbanas densamente ocupadas por negócios de diversas naturezas. Em grandes cidades o turismo e a hotelaria de certa forma ‘somem na paisagem’. Foram encontrados na literatura recente artigos sobre ‘marketing verde’ para hotéis (DARNALL, 2008) e outros que falam sobre turismo sustentável, mas que analisam principalmente impactos ambientais (AYUSO, 2007). Parece haver uma lacuna na literatura sobre uma sustentabilidade hoteleira mais abrangente, envolvendo os aspectos ligados ao tema em áreas urbanas e relativos à hotelaria de negócios e seus impactos.

Há clareza sobre a necessidade de se conservar o meio-ambiente e culturas locais quando se estudam hotéis que dependem da natureza e da cultura local para sua sobrevivência econômica. Quando se trata de abordar sustentabilidade em uma cidade do porte de São Paulo, onde se desenrola esta pesquisa, este cenário se torna mais crítico, pois é mais difícil explicitar os problemas e necessidades por trás de uma atitude sustentável. Temas globais como redução e otimização de consumo de energia e água, descarte correto de resíduos e

poluição atmosférica se mesclam a outros regionais tão ou mais complexos. Em grandes cidades torna-se importante discutir temas como: políticas de escolha de fornecedores;

políticas de redução de ruídos; políticas de cooperação entre redes hoteleiras e; políticas de atendimento às necessidades locais de redução da miséria, inclusão social e outras (KNOWLES et al., 1999).

Como afirmado por Hunter (1995) o paradigma dominante sobre um turismo sustentável é centrado no desenvolvimento do turismo em si e falho no sentido de proporcionar desenvolvimento sustentável de forma mais abrangente. Esta visão deixa de lado planejamento, gestão e políticas públicas que contribuam para uma postura mais abrangente e de longo prazo. Knowles (1999) afirma que o Managing Tourism Council realizado em Londres em 1995 revelou que a absoluta prioridade dos operadores de turismo é com o lucro financeiro. O autor revela que associações de classe de empresas turísticas chegam a condenar ações que possam ser benéficas para a sociedade global, mas prejudiciais para a indústria do turismo no curto prazo. Aponta também a contradição entre a tendência prática de venda de pacotes cada vez mais baratos para um maior número de turistas e a preocupação discursiva crescente, sobre os impactos ambientais em locais remotos. Torna-se assim um encargo das pessoas que vivem nos locais de destino sacrificar ou não seus ativos naturais para sobreviver em termos econômicos.

De especial interesse aqui é o artigo de Halme (2001) que estuda a aprendizagem em redes de múltiplos atores na indústria do turismo. Esta autora sugere a importância do processo e não da estrutura na criação de resultados considerados sustentáveis. A autora investiga redes em que atores públicos assumem uma posição de ‘ensino’ e adverte para a

‘armadilha’ que pode ser a atitude destes atores ao se comunicar de forma unilateral. O estudo aponta também para a importância que aprendizagem com laços recíprocos e entre os atores públicos e privados pode ter no desenvolvimento sustentável de redes formais e informais dentro do setor turístico e hoteleiro. Parece ser a ação coletiva e uma governança em rede apoiada pela ação e intervenção estatal que promove a regulação e a mediação entre interesses sociopolíticos e econômicos específicos de determinadas comunidades bem como entre atores e estruturas locais específicas (BRAMWELL, 2011).

A importância da ação e influência do Estado pode se dar em vários âmbitos. A procura por destinos e as receitas turísticas, podem ser influenciadas segundo Cooper et al.

(2001, p. 272) por sete métodos: planeamento e controlo do uso da terra; regulamentação das construções; regulamentação do mercado; pesquisa e planeamento de mercado; impostos;

direitos de propriedade; e incentivos ao investimento.

Existe para a criação de uma atividade turística e hoteleira sustentável a necessidade de articulação de ao menos três subsistemas: a indústria turística, o governo e os recursos socioculturais e naturais. A indústria turística compreende um grande número de atores interconectados, como operadores e agentes de viagens, hotéis, restaurantes, centros de congressos, convenções e exposições, arenas esportivas, organizadores de eventos e festivais, fabricantes de souvenirs e empresas de promoção e publicidade (FIRMINO, 2008).

É nestes ricos contextos locais que se revela importante a questão do treinamento e desenvolvimento dos gestores, dentro e fora do local de trabalho. Estudo feito na Costa Rica com gestores hoteleiros aponta para relações entre os níveis de educação formal e de educação socioambiental com a participação de gestores em programas que vão além da compliance com indicadores e metas ambientais (RIVERA; DE LEON, 2005). O mesmo estudo não mostra que esta tendência é maior em países industrializados do que naqueles em desenvolvimento. As crenças manifestadas pelos gestores que atuam além do exigido pelas empresas e pelo que é mandatório no ambiente político e legal são motivadas por um

‘altruísmo ecológico’. São gestores que entendem que vale à pena ser verde, mesmo exigindo maior esforço no dia a dia.

O estudo acima conclui então que gestores com maior nível de educação formal e expertise ambiental parecem mais cientes do valor intrínseco da natureza e tem maior senso ético de seu dever de protegê-la. Além disso, pode-se esperar deles “maior consciência sobre tecnologias inovadoras que levam a custos menores na forma de redução do lixo, do consumo de energia e da reciclagem de materiais” (RIVERA; DE LEON, 2005, p. 122-123). Nota-se também uma maior conscientização sobre as vantagens econômico-financeiras que uma reputação ‘verde’ pode trazer. Vale observar que este estudo acima trata apenas de aspectos ambientais, deixando de lado outros temas considerados importantes para a sustentabilidade, como o social, o cultural e o político.

Trabalhos que consideram outros aspectos além do ambiental são realizados principalmente em áreas altamente dependentes da atividade hoteleira e nas quais esta atividade é também, no sentido inverso, mais dependente da cultura e da natureza local. Isto acaba exigindo articulação política com estes interesses culturais e sociais locais, bem como com grupos ambientalistas e trabalhistas. Estes estudos são então realizados em ambientes em que predominam resorts e hotéis focados em públicos de lazer ou aventura (RICHINS, 2007, HAWKES; KWORTNIK, 2006).

Aborda-se aqui um tema ainda mais específico, que é do trabalho humano dentro de um determinado setor e de um contexto específico. Antes, porém de apresentar resultados de

campo é preciso situar a maneira de pensar do autor sobre as questões ligadas ao objeto de estudo, o desenvolvimento de competências gerenciais.