• Nenhum resultado encontrado

2.2 Sustentabilidade

2.2.2 Sustentabilidade sob a ótica social e responsabilidade social corporativa

Com a divulgação das ideias de Howard Bowen nos anos 50 (ASHLEY, 2003) se inicia a discussão sobre Responsabilidade Social Corporativa (RSC). Já nesta época formulava-se a questão de que as ações de “homens de negócios” deveriam ser norteadas por aquilo que fosse desejável para a sociedade como um todo, em termos de seus objetivos e valores. Alguns autores passaram a incluir ao longo do tempo a sustentabilidade e a iniciativas para atuar de forma ambientalmente correta abaixo do chapéu da RSC. Devido à enorme pressão exercida hoje pelas questões ligadas ao aquecimento global e à deterioração do meio ambiente físico nos arredores de grandes conglomerados industriais há inclusive trabalhos atuais que focam na prática ambiental como o tema principal da RSC (BABIAK;

TRENDFILOVA, 2011)

Outros estudiosos separam claramente os temas, realçando elementos como as demandas normativas de justiça social, dignidade humana e participação em tomada de decisões como necessários para que se fale de uma sustentabilidade social. (LITTIG;

GRIESLER, 2005). Uma visão de sustentabilidade social deveria segundo estes últimos autores ir além de qualquer posição reducionista e suprir a carência de teorias sociológicas na discussão sobre o tema. Eles propõem então um conceito baseado também nas necessidades do trabalho humano como uma atividade mediadora nos principais processos de intercâmbio entre a natureza e a sociedade.

Uma definição para uma sustentabilidade social entende esta como forma de desenvolvimento compatível com a evolução harmoniosa da sociedade civil. Trata-se de fomentar ações ambientais que conduzam ao convívio entre grupos social e culturalmente diversos e de encorajar a integração social com melhorias na qualidade de vida de todos os segmentos da população. Esta definição enfatiza as dimensões econômicas (desenvolvimento e crescimento) e sociais (sociedade civil, diversidade cultural e integração social), reconhecendo os aspectos ambientais como moradia, arquitetura e uso de espaços públicos como vitais no debate sobre sustentabilidade (COLANTONIO, 2007).

Há ainda autores que optam por definir sustentabilidade social de forma pragmática pelos principais temas a serem colocados em marcha pelo conceito, que seriam: (1) o dever da sociedade de prover necessidades básicas dos seus membros; (2) o apoio à superação de desvantagens causadas por necessidades especiais; (3) uma educação para uma responsabilidade pessoal, incluindo a noção de necessidades de gerações futuras; (4) a manutenção e aumento do estoque de capital social em termos de confiança, harmonia e comportamento cooperativo como base para a sociedade civil (5) a distribuição de forma equitativa de oportunidades de crescimento e desenvolvimento pessoal no presente e futuro;

(6) o reconhecimento da diversidade cultural e da necessidade de tolerância; e o (7) o empoderamento de pessoas para participar em debates e influenciar a tomada de decisões e o desenvolvimento da sociedade civil (BAINES; MORGAN, 2004).

Estes trabalhos identificam, portanto as áreas temáticas para uma sustentabilidade social, que podem ser traduzidas em necessidades sociais, bem estar social, equidade e dinamismo sociocultural. Estão subordinados a duas lógicas, uma de equidade social, ligada à noção de justiça social, distribuição de recursos como moradia e serviços básicos e acesso a postos de trabalho. Outra lógica, a da sustentabilidade da comunidade trata de um funcionamento viável e contínuo da sociedade como um todo, da qual fariam parte temas

como as interações e redes da sociedade civil, participação comunitária, senso de pertencimento.

As principais áreas temáticas de uma sustentabilidade social estão resumidas no quadro abaixo, a partir de uma divisão em quatro principais dimensões: (1) social; (2) sustentabilidade social. Isto pode ser atribuído a três lógicas que se aproximam muito e que devem ser entendidas tanto no plano organizacional quanto estatal. A primeira fala da

necessidade de participação das comunidades na expressão de necessidades e aspirações. Uma segunda lógica foca nos direitos democráticos de estar envolvido em processos de formação das políticas. A terceira lógica está associada a uma maior ‘eficiência de políticas que sejam realizadas de forma afinada com os valores e preferências das comunidades.

No nível organizacional, como antes mencionado, a sustentabilidade social veio crescendo em importância. A assim chamada Responsabilidade Social Corporativa (RSC) passou a incluir temas ‘sociais’ e ‘culturais’ e ‘éticos’ a partir de eventos como as disputas da Shell com a população Ogoni sobre o uso de recursos, cultivos agrícolas e poluição na Nigéria (SARO-WIWA, 1991). Também podem ser lembradas neste contexto as acusações de uso de trabalho infantil pela NIKE no Paquistão na produção de bolas de futebol feitas pela organização Wikileaks. Ou ainda, mais recentemente e em solo brasileiro, as acusações de uso de mão de obra escrava por empresas terceirizadas da empresa espanhola de vestuário Zara, no Brasil. Os impactos a serem minimizados pelas empresas deixaram de ser apenas ambientais passando a abranger a sociedade de outras formas.

Colantonio (2007) identifica a partir da obra de diferentes autores, seis temas comuns para a chamada RSC: (i) Ir além dos requerimentos legais e da obrigação com acionistas; (ii) praticar ações voluntárias; (iii) ir ao encontro de necessidades de diferentes stakeholders; (iv) integração de necessidades sociais e ambientais nas operações; (v) otimizar os aspectos positivos e minimizar os negativos das ações da empresa; e (vi) preocupação objetiva com as preocupações da sociedade.

Anteriormente se falou neste trabalho da tendência chamada de greenwashing, ou seja, a tentativa de convencer o público de que o impacto ambiental de determinadas é anulado ou mesmo sua atuação benéfica para o meio ambiente. Esta tendência que surge como resposta falaciosa às pressões de movimentos ambientalistas é acompanhada no plano social por discursos similares. Esta ação discursiva poderia ser alcunhada de social cleansing e seria apenas uma fachada para a ausência de preocupações sociais das grandes corporações. Podem ser ações meramente de comunicação voltadas para a ‘qualidade de vida’ dos funcionários, para o apoio às comunidades do entorno ou ainda sobre benefícios para funcionários ou seus familiares. São no fundo voltadas para aumentar a produtividade das empresas. As causas destas ambiguidades, às vezes irreconciliáveis, são os enfrentamentos entre as regras do sistema neoliberal de acumulação de capital e as demandas progressivas dos movimentos sociais e de direitos civis ligados à sustentabilidade. Estes passaram exigir que não só uma dimensão ambiental fosse incluída na agenda gerencial, mas também uma dimensão social e sua prática no âmbito de um projeto societal (PICOLOTTO, 2007).

Esta dimensão social da sustentabilidade está relacionada a duas forças. Uma mais sutil, diz respeito a aceitar as diferentes construções sociais da realidade que são feitas pelos seres humanos nas organizações e como estas impactam práticas sustentáveis, aceitando os saberes locais e individuais que surgem nas comunidades ao redor das empresas e nas próprias empresas (MURDOCH; CLARK, 1994). Gestores precisam aprender a entender todos os colaboradores “[...] como atores sociais com capacidade não só para desenvolver experimentos criativamente, mas também como tendo a habilidade para absorver continuamente e transformar ideias e tecnologias que recebem” (GUIVANT, 1997). Outra força presente na ideia da dimensão social da sustentabilidade inclui não apenas o respeito a saberes, mas também aos poderes dos atores sociais. Vai, portanto, além do respeito às habilidades individuais, dedicação e experiência. Incorpora elementos, como a acomodação dos conflitos causados por progressivas exigências no ambiente interno e na relação com fornecedores, por compensação justa, horas de trabalho razoáveis, ambiente de trabalho seguro e saudável, proibição de mão de obra infantil e de trabalho forçado e o respeito aos direitos humanos (CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2005).