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CAMPOS DAS POLÍTICAS TOTAL DE POLÍTICAS TOTAL DE ESTRATÉGICAS

Participação 04 16

Criação e memória 10 59

Diálogo cultural 05 25

Fonte: Dados obtidos a partir do documento “Plan Nacional de Cultura 2001 – 2010: hacia una ciudadanía democrática cultural”, Ministério da Cultura da Colômbia, 2001.

Na tabela a abaixo estão descritas as políticas e as estratégias para o campo de Participação:

Par tic ip ão POLÍTICAS ESTRATÉGICAS

1. Promover a participação, a partir das especificidades culturais, no cenário do público.

1. Formação para o exercício da cidadania a partir do cultural. 2. Organização e participação dos agentes culturais.

3. Os meios de comunicação como cenários do público.

4. Espaços públicos como cenários de reconhecimento e encontro entre as culturas.

2. Democratizar os processos de formulação de políticas culturais.

1. Vinculação entre processos de construção participativa de políticas culturais e tomadas de decisão.

2. Avaliação e acompanhamento de processos de participação. 3. Apropriação dos instrumentos de controle cidadão.

4. Redes de serviços e instituições culturais como espaços de participação. 5. Avaliação e reorganização do setor cultural.

3. Situar o cultural em um plano preponderante dos processos de definição de planos de desenvolvimento, setoriais e de outra índole que se combinem às instâncias nacionais e internacionais.

1. Promoção do cultural nos espaços de participação setorial. 2. Combinação entre o Estado e as indústrias culturais.

3. Adoção de posições nacionais em cenários internacionais de política cultural.

4. Gestão de uma agenda intersetorial: educação e cultura; comunicação e cultura; meio ambiente e cultura; economia e cultura.

4. Reconhecer as propostas dos movimentos sociais e outras que se expressam através de cenários informais de participação nos processos de construção de políticas culturais.

1. Combinação entre as políticas culturais do Estado e as que formulam os movimentos sociais e outros agentes informais.

2. Mandatos cidadãos como aporte para a formulação de políticas.

3. Participação através dos meios de comunicação cidadãos e comunitários.

Fonte: Dados obtidos a partir do documento “Plan Nacional de Cultura 2001 – 2010: hacia una ciudadanía democrática cultural”, Ministério da Cultura da Colômbia, 2001.

O campo de participação reforça, mas uma vez, o propósito do plano colombiano que é o de envolver a população na formulação das políticas culturais. O diagnóstico para este campo se apresenta no documento a partir de um Estado pouco aberto às demandas sociais e às realidades do país. Um Estado cujas ações se apresentam de forma pontual e a curto prazo. O Plano Nacional de Cultura colombiano, através das convocatórias à população, é citado como um esforço para reverter este cenário de pouca aproximação entre as políticas do governo e as demandas e realidades sociais.

Ao todo, quatro políticas e dezesseis estratégias foram propostas para o campo da participação. As políticas apresentam objetivos relacionados ao reconhecimento das especificidades culturais; democratização dos processos de formulação de políticas culturais; transversalidade cultural; e reconhecimento das propostas dos movimentos sociais e de outros que se expressam através de cenários informais de participação.

Conforme verificamos, os objetivos das políticas de participação são claros, mas suas estratégias são vagas e pouco elucidativas em termos de execução. Não há metas, setores ou pessoas responsáveis ou formas de acompanhamento. Estes são pontos básicos para a avaliação de resultados de uma política, especialmente quando projetada para longo prazo. Se tomarmos como exemplo a primeira política, que propõe a promoção da participação a partir do reconhecimento das especificidades culturais, as estratégias relacionadas propõem a formulação de processos de formação para a participação cidadã a partir da expressão cultural; estabelecimento de condições para que os agentes culturais adotem e consolidem formas organizativas e de participação; sensibilização dos meios de comunicação massivos para reconhecimento e respeito às especificidades culturais, com a inclusão de programações que atendam a diversidade cultural; e uso de espaços públicos como cenários de criação, memória e celebração da diversidade.

São medidas importantes que, de fato, poderiam ampliar e democratizar a participação social nas políticas culturais, mas que dependeriam de ações mais concretas, menos generalizadas e de diferentes atores sociais. Contudo, devemos reconhecer a introdução de temas importantes e ainda considerados atuais e desafiantes para as políticas culturais de muitos países, inclusive o Brasil. Em termos de participação, o plano colombiano propõe estratégias como a construção de uma agenda intersetorial, envolvendo cultura, educação, economia e meio ambiente; reconhecimento de espaços públicos como praças, parques e diques como áreas culturais; diversificação dos conteúdos dos meios de comunicação; e avaliação e reorganização do setor cultural, incluindo o próprio Estado, através do Sistema Nacional de Cultura.

A própria democratização do processo de formulação é algo que deve ser destacado. O histórico das políticas culturais de muitos países revela um maior interesse do Estado no setor cultural em períodos autoritários, cujos objetivos se associam a uma intenção de controle e manipulação social. A Colômbia dá o exemplo de, há dez anos, ter proposto um processo de convocação nacional para discutir políticas para o setor cultural do país e ainda pensar em um plano a longo prazo. Isso em um período sociopolítico difícil, caracterizado por altos índices de desigualdade, violência e um Estado elitista, conforme descrito no próprio plano. E a cultura é pensada como uma forma de reverter e melhorar a situação vivida pelo país.

O segundo campo definido no plano é o de criação e memória. É o campo que possui maior destaque dentro do plano, apresentando dez políticas e cinquenta e nove estratégias. Relaciona-se com a riqueza cultural do país e a necessidade de estimular a criação, sem esquecer a memória coletiva. Uma das preocupações apontadas neste campo refere-se à possibilidade de se excluir grupos e manifestações representativos da memória coletiva do país:

Este diálogo das memórias possui profundas implicações políticas na medida em que ali se define o que merece ser recordado ou deveria ser esquecido; se estabelece a relevância que possuem para a memória coletiva os diferentes atores sociais e seus suportes patrimoniais e se qualificam relações de continuidade ou descontinuidade entre o passado, as situações presentes e os projetos de futuro. (PNC, COLOMBIA, 2001, p.46, tradução nossa).

Neste quesito, o plano demonstra novamente uma Colômbia muitas vezes voltada para o reconhecimento de poucos grupos. As memórias de alguns setores sociais “são relegadas, deturpadas, quando não submetidas ao esquecimento, (…), enquanto se impõem memórias hegemônicas que exaltam determinadas visões sobre o passado, assim como certas formas de criação artística e de repertórios patrimoniais que as consagram” (PNC, COLÔMBIA, 2001, p. 46, tradução nossa). A partir do diálogo entre criação e memória, o campo se apresenta enquanto uma proposta de valorização da diversidade cultural do país, reconhecendo a dinâmica cultural:

Em uma perspectiva afim, a criação e a produção cultural não devem compreender- se desligadas dos processos históricos que fazem parte e dos contextos sociais que se fazem possíveis. Umas vezes expressando continuidade e outras estabelecendo rupturas frente às tradições e os valores de seu entorno, os criadores culturais sempre renovam, reordenam e enriquecem os repertórios simbólicos dos processos culturais em que se encontram. Na atividade criativa reside o potencial de mudança da cultura, sua perpétua renovação, mas também os diversos diálogos entre as gerações. Tanto as memórias coletivas quanto as criações culturais são ferramentas poderosas na tarefa de gerar projetos de futuro que ajude a restaurar os tecidos sociais vulnerados pelo conflito, a exclusão política e a entrada na dinâmica da globalização sem maiores referentes locais. (PNC, COLÔMBIA, 2001, p 47, tradução nossa).

No diagnóstico para o campo de criação e memória, tem-se a priorização do patrimônio material, em detrimento do imaterial, e a falta de planejamento, resultando em políticas desarticuladas e de curto prazo. O conflito armado é outro problema apresentado no documento do plano:

Por último, o conflito armado limita sensivelmente as possibilidades de conservação da memória e da expressão através da criação, ao desconfigurar os tecidos sociais das comunidades e ameaçar e colocar em risco produções e práticas coletivas de encontro, celebração e reconhecimento. (PNC, COLÔMBIA, 2001, p. 48, tradução nossa).

São milhares o número de pessoas que tiveram que fugir por conta dos conflitos armados na Colômbia e este valor continua crescendo. Segundo a ONG Consultoría para los

Derechos Humanos y el Desplazamiento (CODHES), o país teve 259.146 mil fugitivos (cerca

de 70.039 famílias) no ano de 2011 por conta do conflito armado. Entre primeiro de janeiro de 1985 até 31 de dezembro 2011 os números chegaram a 5.445.406 milhões de migrantes, uma média de 710 pessoas por dia chegando a 805 municípios dos 32 departamentos do país. Os cinco departamentos que mais receberam refugiados dos conflitos foram Antioquia (64.043), Nariño (28.694), Cauca (19.549), Valle del Cauca (17.489) e Córdoba (10.561). Os cinco municípios que mais receberam refugiados foram Bogotá (41.246), Medellín (29.560), Tumaco (15.296), Turbo (8.935) e Cali (7.750) (CODHES, 2012). As ilustrações abaixo demonstram os índices de refugiados no país:

Gráfico 41 - Departamentos mais afetados pela recepção de fugitivos em 2011