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5. Aspectos Éticos da Pesquisa

2.10 Temáticos ou não?

O tema é "uma desculpa” (E4), é um iniciador para a criação grupal (E2). Mesmo com um tema pré-definido, grupo que irá determinar qual será o foco trabalhado naquele momento, podendo desviar a favor de seu interesse a qualquer momento. Mesmo assim, a temática "serve como um condutor, como um farol" (E4). Ele ajuda o foco do encontro, facilitando a interação e identificação das pessoas, tendo em vista a escolha comum de todas por comparecer àquela temática (E6). A especialista afirma que ele colabora com a dramatização, no sentido de qual

assunto será tratado e ajuda na extensão do compartilhar das emoções que estão presentes a respeito do assunto (E6).

Os temas vêm de uma demanda específica e a investigação terapêutica será feita usando o assunto em questão, como foco. Podem ser demandados ou propostos. Um encontro pode ter tema predefinido ou escolhido na hora, mas de forma geral, o encontro sempre tem uma temática principal, sendo ele o tema protagônico, aquele que “está pegando mesmo” (E6). Não pode ser confundido com o tema emergente, que muitas vezes aparece primeiro por ser aquilo que queremos resolver logo, assuntos na superficialidade que possuem uma raiz mais profunda disfarçada.

Frequentemente os temas advém de experiências pessoais. O diretor pode se basear nos próprios incômodos e mobilizações para trazer temas. A organização de determinada época ou povo e seus conflitos também trazem temas para serem trabalhados com o grupo (E2). E2 alerta que a criação de temas demanda sensibilidade, por exemplo, se você fizer um grupo com o tema impotência, é possível que ninguém queira se expor indo a um encontro e, assumindo que possui tal problema. O tema não deve declarar um problema da pessoa, por isso existe uma arte de criar temas que empoderem, contemplem as questões, porém não as denunciem, "porque você não vai discutir impotência e uso do Siales, ou Viagra, porque o cara não vai ter coragem de ir, pelo título já dá dica que ele tá usando" (E2).

O tema chama uma certa população, funciona como uma peneira sociométrica, selecionando as pessoas que compartilham uma determinada questão. Ele é um iniciador, ele convida quem está mobilizado e "convoca para aquilo que agoniza" (E2). Dessa forma, o tema reduz o tempo do aquecimento, eliminando o momento inicial de escolha. As pessoas já sabem de antemão, a temática, portanto, pensam e entram em contato com as questões e sentimentos envolvidos, chegando mais bem preparadas, pré-aquecidas e com mais prontidão para a ação (E6 e E2).

Segundo E2, o tema funciona como um duplo social da angústia da sociedade. Para Toloi e Souza (2015), o sociodrama temático é uma ferramenta valiosa para a investigação social. Ele é um método profundo de ação que favorece a expressão, ampliando a compreensão, identificando a questão comum do co-inconsciente e a trabalhando, terapeuticamente, tanto o indivíduo como o grupo.

"Se não é temático vai ser um pouco mais complexo, quando não é temático porque aí vai trabalhar mais com o aqui agora" (E6), ou seja, demanda buscar pontos de vulnerabilidade a partir da roda inicial de conversa. Segundo a especialista E6, o diretor deve observar emoções, possíveis personagens e o que esteja precisando emergir, deixando o tema brotar do grupo. "Me aquece, especialmente quando o assunto (...) pega, né" (E2). Quanto mais o tema for relacionado com as questões do grupo, maior a disposição das pessoas e o compromisso na cena.

Quando um encontro não possui um tema previamente estipulado, é tarefa do diretor e dos membros do grupo identificarem um tema para ser aprofundado na sessão (E6). Apesar de não ser de fácil leitura, esse tema remete a questões vividas no aqui agora, temas vão surgir no grupo. "Você vai ver como que tá ali a interação e partir dali é... que temas que vão surgir do próprio grupo" (E6). Segundo a especialista, a roda inicial de conversa será o momento para os participantes se expressarem e fazerem emergir uma temática grupal. O diretor deve ficar atento aos fenômenos grupais e "como que os temas estão mexendo com as pessoas" (E6) para trabalhar a questão que surgir dentro do assunto que o grupo traz.

O foco do encontro se mantém no tema e nos sentimentos relacionados a ele, podendo ser exploradas cenas relacionadas. "Focar no tema, na cena, nas emoções que o tema traz, nos personagens possíveis e que surgem ali, mas nas expressões necessárias, (...), dos personagens que são muitas vezes contidas" (E6). Para E3, idealmente, um grupo psicodramático não deve pensar o tema de antemão, o grupo deve trazer a questão latente do aqui agora, ou seja, só se sabe o tema depois de conhecer o grupo e ouvir suas demandas do momento. Para E1,

independente do tema, o ato promove benefícios, como rever as questões pessoais, mesmo que não entre em conteúdos profundos da vida cotidiana. Independente do tema, o foco no trabalho é sempre sobre o papel vivido no aqui e agora.

Os temas pensados para os grupos da pesquisa foram baseados em assuntos recorrentes que entramos em contato na nossa prática clínica. O primeiro tema foi "E essa tal assertividade? e o segundo foi "O que será do amanhã?". O segundo tema foi escolhido devido ao fato de ser em dezembro, momento esse que muitas pessoas realizam planejamentos para o próximo ano. Optamos por fazer o tema em formato de pergunta para iniciar o questionamento do que iremos trabalhar no encontro.

Apesar do tema não ter sido a motivação da maior parte dos nossos participantes que foram para conhecer a proposta, ele conectou os participantes de forma a que, as cenas trazidas, por mais diferentes que fossem em seu cenário e personagens poderiam ser relacionadas entre si em sua essência, de maneira verbal, ao final do encontro. No primeiro grupo, os participantes não foram motivados pelo tema, e tivemos que aquecer o grupo em relação ao tema, olhando a definição de assertividade na internet. Já no segundo, os participantes se conectaram rapidamente com o tema e trouxeram questões relacionadas aos seus futuros próximos e angústias que estavam envolvidas. Não obstante o tema fez o seu papel de fio condutor nos dois encontros.