• Nenhum resultado encontrado

7 SOCIABILIDADE: INTERAÇÃO E VIDA SOCIAL NA

7.3 A teoria da ação social

Apesar de ter sido Simmel a definir e detalhar a especificidade do conceito de sociabilidade, Weber, em sua formulação dos conceitos da teoria sociológica, acredita que esta ciência tem como principal objetivo compreender a ação social. Por esse motivo, é pertinente ressaltar algumas de suas principais definições, as quais contribuem para a discussão ora apresentada.

Observa-se que os parâmetros estabelecidos pela sociologia compreensiva, tal como Weber a definiu, assim como importantes conceitos por ele delimitados, mostram-se como um importante referencial para o processo de interpretação das relações sociais que se efetivam no âmbito da Internet.

Para Weber, a sociologia traz para si o objetivo de compreender a realidade social humana, extremamente complexa e mutável, através da captação do sentido das ações sociais que orientam o sujeito a determinados tipos de conduta. De acordo com a teoria weberiana, a sociologia coloca-se como uma ciência que tem como objeto a captação da conexão de sentido da ação social. A sociologia é a ciência “que pretende entender, interpretándola, la acción social para

de esa manera explicarla causalmente em su desarrollo y efectos”. (WEBER, 1974a, p. 5).

Tendo isso em mente, Weber conceitua a ação social, definindo-a “como uma conduta humana (ato, omissão, permissão) dotada de um significado subjetivo dado por quem o executa, o qual orienta seu próprio comportamento, tendo em vista a ação – passada, presente ou futura – de outro ou de outros [...]”. (QUINTANEIRO et al., 1996, p. 107). Este outro ou outros podem ser conhecidos em sua individualidade, ou tratar-se de uma pluralidade de indivíduos desconhecidos.

Trazendo toda essa conceituação à realidade investigada – a ação do indivíduo em disponibilizar informações de sua personalidade em sites da Internet e, através disso, relacionar-se virtualmente com outras pessoas – nota-se a identidade conceitual entre a ação praticada pelos sujeitos da pesquisa e a ação social concebida por Weber.

O caráter social dessa ação individual é que torna o objeto passível de uma análise sociológica, que busque apreender o significado dessa ação dentro de um todo que se articula numa teia de relações sociais dotadas de sentido. De acordo com o pensamento de Weber o termo relação social é

[...] usado para designar a situação em que duas ou mais pessoas estão empenhadas numa conduta onde cada qual leva em conta o comportamento da outra de uma maneira significativa, estando, portanto, orientada nestes termos. A relação social consiste, assim, inteiramente na

probabilidade de que os indivíduos comportar-se-ão de uma maneira

significativamente determinável. É completamente irrelevante o porquê de tal probabilidade, mas onde ela existe pode-se encontrar uma relação social. (WEBER, 2002, p. 45 – grifos do autor).

Cabe ressaltar que essa conduta plural reciprocamente orientada e dotada de sentido, não necessariamente deve ter correspondência no que se refere ao seu conteúdo, isto é, ao seu significado. Por exemplo, uma cerimônia de casamento realizada sob os princípios do catolicismo nem sempre pode ter o mesmo significado para ambos os noivos. Para o noivo, o sentido religioso pode orientar sua ação, mas pode ser que para a noiva esse sentido não coincida, sendo a ação desta orientada apenas pela satisfação de realizar um desejo de seu noivo.

Assim, tem-se que o motivo que leva uma pessoa a expor suas características na Internet nem sempre coincidirá com aqueles que levaram a(s) pessoa(s) com quem ela se relaciona a tomar a mesma atitude.

Desta forma, também merece destaque a noção de que uma mesma ação pode ter diversos sentidos, os quais não são imediatamente apreendidos, cabendo ao cientista social a captação destes e a observação das regularidades do comportamento do homem em sociedade.

Para além dessas questões, interessa ressaltar aqui a importância do pensamento weberiano no que diz respeito a conceituações da sociologia clássica, as quais oferecem um referencial fundamental à discussão ora apresentada.

Nesse sentido, é essencial destacar o entendimento que Weber deposita acerca da definição do conceito de relação social. Em sua teoria, as relações sociais classificam-se sob duas formas: comunidade e sociedade. Para o autor, uma relação social é chamada de comunidade quando a orientação de seu sentido assenta-se na solidariedade, isto é, quando seus participantes estão ligados por vínculos emocionais ou tradicionais. Já quando a relação social está ligada a um equilíbrio de interesses orientados por motivos racionais, sejam valorativos ou não, tem-se uma relação social de sociedade. (WEBER, 2002).

É válido notar o sentido emocional que Weber atribui quando classifica uma relação social de comunidade. Para ele, a comunidade baseia-se em qualquer espécie de ligação emocional, seja ela afetiva ou tradicional. E para os propósitos deste trabalho, é fundamental compreender essa conceituação, uma vez que as relações sociais firmadas no contexto atual trazem em seu bojo vínculos afetivos, os quais encontram formas de manutenção e propagação por meio das tecnologias de comunicação.

Não é demais apontar que Weber não classifica esses tipos de uma forma rígida, pois considera que a realidade expressa essas características de maneira difusa, fazendo com que os relacionamentos sociais compartilhem ambas as formas de relação social. Para o autor, essas conceituações denominam fenômenos de natureza heterogênea e que podem manifestar nuanças de um ou outro tipo.

O conceito de comunidade passa a ter especial importância no que se refere à análise das relações sociais que se efetivam através dos portais de relacionamento virtual, tendo em vista a predominância da orientação afetiva e emocional na formação desses vínculos. Tendo como referência o pensamento weberiano, sabe-se que “não é de nenhum modo verdadeiro que a participação em qualidades comuns, numa situação comum ou de modos comuns de comportamento implicam na existência de uma comunidade”, contudo, a partir do momento em que o sentimento orienta mutuamente essas relações, a comunidade passa a predominar entre elas. (WEBER, 2002, p. 80).

É nesse sentido que se dá a importância de frisar esses conceitos, a fim de que se possa ter uma interpretação mais nítida acerca da estrutura do fenômeno observado. O conceito de comunidade, vista como uma relação social expressa por demandas emocionais, afetivas e sentimentais passa a ser característica das vinculações sociais formadas sob as redes de comunicação contemporâneas, as quais efetivam contatos de natureza flexível e pautados em condutas que valorizam manifestações de ordem emocional.