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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Terminologia, Terminografia: princípios teóricos-metodológicos

2.1.2 Teoria Comunicativa da Terminologia

Ao tratarmos sobre tendências da Terminologia na atualidade, optamos por apresentar, de modo conciso, algumas abordagens terminológicas que discutem, complementam e se contrapõem ao estabelecido pela abordagem tradicional da Terminologia. Dentre essas tendências modernas, selecionamos como suporte teórico-metodológico, para este trabalho, a Teoria Comunicativa da Terminologia, criada por Maria Teresa Cabré (1993). Nossa opção se deve por se tratar de ma teoria q e tem como o jeto de est do o ‘termo’ e s as implicações.

A TCT é uma abordagem de base linguística que zela pelo caráter comunicativo dos termos inseridos na linguagem efetivamente utilizada em ambientes específicos. Nesse sentido, postula que não há termos nem palavras, mas apenas unidades lexicais (CABRÉ, 1999, p. 124), que vão se tornar termo ou palavra dependendo do contexto em que estão inseridos. Para Cabré, o conceito é considerado abstrato no nível do conteúdo. As relações que os conceitos mantêm entre si num mesmo âmbito de especialização constituem a estrutura conceitual de um campo nocional. O valor de cada termo é relativo e depende do lugar que ele ocupa nessa estrutura; tal estrutura (que neste trabalho denominamos árvore de domínio) pode variar de acordo com os critérios de organização desses conceitos (CABRÉ, 1999, p. 124).

A TCT se fundamenta na confluência entre três teorias: i) uma teoria do texto, que explica como se conceitualiza a realidade, ii) uma teoria da comunicação, que descreve os tipos de situações em que se produzem as unidades de conhecimento especializado e iii) uma teoria da linguagem, que dá conta das unidades terminológicas propriamente ditas dentro da linguagem natural, considerando que as unidades terminológicas participam de todas as características dessa linguagem, porém, singularizando seu caráter terminológico e explicando

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como se ativa esse caráter na comunicação (CABRÉ, 1999, p. 122-123). O objetivo da TCT é descrever as características semânticas, gramaticais, textuais e pragmáticas das unidades terminológicas. Essa abordagem teórica busca dar conta de como os especialistas fazem uso dos termos, explicando em que situações são empregados, que valor adquirem em cada caso, como o falante aprende uma especialidade, ou seja, como adquire conhecimento especializado e suas respectivas unidades de expressão e comunicação.

No que se refere aos princípios terminográficos, a orientação onomasiológica considerada predominante na TGT, torna-se questionável. Isso se deve principalmente ao avanço da Linguística de Corpus e Linguística Computacional, as quais propiciam o tratamento lexical de grandes corpora, de forma que se identifique inicialmente o termo para depois se chegar ao conceito (ou significado), favorecendo, portanto, o percurso semasiológico. Os termos podem circular entre áreas de especialidades distintas e o léxico da língua geral, porque não pertencem a um único domínio, mas são usados em determinado domínio. As relações de significação – a sinonímia, a homonímia e a polissemia – são admitidas e tratadas nas obras dicionarísticas. Nesse caso, a TCT prevê processos de banalização de unidades terminológicas especializadas (quando estas passam para a língua geral), bem como de terminologização de unidades lexicais da língua geral (quando estas são usadas nas línguas de especialidade). A TCT contempla, tanto do ponto de vista teórico quanto metodológico, a variação linguística em toda sua dimensão, assumindo a condição de adequação dos termos e a integração dos aspectos psicolinguísticos implicados (juntamente com a perspectiva cognitiva) e os elementos sociolinguísticos relacionados (juntamente com a perspectiva social). Os termos variam de acordo com os níveis de língua e são influenciados pelas situações de comunicação. Assim é o Princípio da Variação estabelecido por Cabré (2005, p. 85):

Todo processo de comunicação comporta, de forma inerente, variação, que é explicitada em formas alternativas de denominação do mesmo significado (sinonímia) ou em abertura significativa de uma mesma forma (polissemia). Esse princípio é universal para as unidades terminológicas, apesar de admitir diferentes graus de acordo com as condições de cada tipo de situação comunicativa4.

4“Todo proceso de comunicación comporta inherentemente variación, explicitada en formas alternativas de denominación del mismo significado (sinonimia) o en apertura significativa de una misma forma (polisemia). Este principio es universal para las unidades terminológicas, si bien admite diferentes grados según las condiciones de cada tipo de situación comunicativa.”

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Em conformidade com os estudos de Cabré, fica assim evidente que a variação é inerente à comunicação tanto geral como especializada em função das características do tema, do emissor, das condições comunicativas e do contexto sociocultural, linguístico ou científico em que se situa.

Por meio dos estudos por nós desenvolvidos, é possível afirmar que a TCT assume foco descritivo em relação ao estudo das terminologias, ou seja, ocupa-se em descrever os fenômenos que ocorrem no léxico especializado de diferentes áreas de conhecimento. Essa visão se opõe à da TGT, que tem um caráter normativo, ou seja, de impor regras rígidas para o funcionamento da terminologia em favor de uma comunicação unívoca.

Em razão da alteração do ponto de vista sobre o funcionamento dos termos, os estudos terminológicos de caráter descritivo, vale dizer, linguísticos, abrem novas perspectivas de investigação.

Podemos concluir que a TCT, de base linguístico-comunicativo-comunicacional, com uma forte ascendência das relações mente/linguagem, trata do termo em seu espectro dos traços distintivos para estudo do significado. A concepção de termo como um objeto poliédrico permite, de certa forma, a associação de disciplinas diferentes para a realização da análise dos termos.

Cabré (2002), referência da TCT, propõe a Teoria das Portas (TP) para dar conta do caráter poliédrico dos termos. Nessa teoria, os termos são descritos como unidades de forma e conteúdo (signos linguísticos) que podem adquirir valor especializado dependendo do uso. Cabré (2002) argumenta que são os termos (e não a terminologia) que configuram os espaços disciplinares e as perspectivas de análise. Também são os termos que constituem o objeto de teorização. Como tal, segundo a autora, só uma teoria dos termos tem sentido. A TP explicita também, de uma forma mais clara do que a TCT, não só a poliedricidade dos termos como a legitimidade da análise dos mesmos por meio de variadas perspectivas (portas) – a saber – cognitiva, linguística, semiótica e comunicativa. A TCT e sobretudo a TP teorizam de uma forma muito clara a interdependência das várias faces (linguística, cognitiva, comunicativa) da unidade lexical especializada assumindo todavia que a análise do termo deverá seguir “caminhos diferentes”5

consoante à perspectiva (linguística ou cognitiva ou comunicativa). Em síntese, a TP agrega o princípio de integração de várias teorias para a análise dos diferentes aspectos de um termo e postula que a comunicação especializada não é distinta da

5 “Esta triple vertiente integra los términos en tres teorías distintas que, aunque todas ellas permiten llegar a la complejidad de las unidades terminológicas, siguen caminos distintos para abordarlas [...]” (CABRÉ, ,

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comunicação geral, o conhecimento específico não é uniforme nem independente de situações de comunicação; destaca que os termos são unidades recursivas e dinâmicas, podendo transitar entre o léxico comum e o especializado. Na perspectiva dessa teoria, o tratamento dado aos termos deve ser multidimensional, uma vez que a Terminologia pertence a um domínio interdisciplinar em que interagem os aspectos cognitivos, linguísticos, semióticos e comunicativos.

Nosso estudo se insere nessa abordagem comunicativa que analisa os termos em seu real contexto de ocorrência, ou seja, nos textos.