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2 Fundamentação Teórica

2.2 Aprendizagem Organizacional

2.2.2 Teoria da Aprendizagem pela Experiência

Dentro da visão construtivista da aprendizagem encontra-se também a teoria da aprendizagem pela experiência. Aprender por meio da experiência é algo que, segundo Didier e Lucena (2008), acontece no cotidiano.

Do ponto de vista acadêmico, a aprendizagem pela experiência apresenta alguns modelos desenvolvidos por importantes autores que surgem inspirados, em grande parte, pelas indagações feitas pelo filósofo John Dewey que, desde 1938, propunha uma Teoria da Experiência. A partir das proposições feitas pelo autor, alguns estudos e modelos foram sendo desenvolvidos a fim de compreender melhor como se dava o fenômeno da aprendizagem pela experiência.

Dewey (1938) entende que a experiência é a transação contínua e formação mútua do indivíduo e do ambiente e também o produto desta relação. Assim, experiência é ao mesmo tempo processo e produto. Para o autor, não há modelos mentais ou estruturas cognitivas pré-determinadas que possam moldar a experiência humana; o conhecimento sempre se refere diretamente com a experiência individual.

A teoria proposta pelo autor se baseia no princípio da continuidade e no princípio da interação. No primeiro caso, a aprendizagem ocorre por causa dos problemas enfrentados pelos indivíduos nos contextos sociais, o que leva os aprendizes a constantemente refletirem sobre suas experiências e buscarem uma nova situação ou resolução de um problema. No segundo caso, o autor declara que os indivíduos vivem em um mundo social experimentando diversas situações, em um processo de interação constante com objetos e pessoas (DEWEY, 1938).

Vale ressaltar que o autor não rejeita a ideia de que a aprendizagem é fruto da aquisição individual de conhecimentos e habilidades, mas sim defende que o conhecimento anterior age como um instrumento para a ação futura (DEWEY, 1938). A construção de novo conhecimento depende parcialmente da habilidade em refletir sobre a relação entre ações e as suas respectivas conseqüências, assim como sobre as relações que podem ser estabelecidas e relacionadas com experiências prévias (ELKJAER, 2004).

Desta forma, é claro afirmar que este processo de aprendizagem acontece no cotidiano e é por meio dele que os indivíduos decidem sobre as formas de agir em determinadas circunstâncias. Estas experiências estão envolvidas em um processo complexo que envolve comportamento, conhecimento e habilidades das pessoas num determinado ambiente (ELKJAER, 2004).

Segundo Jarvis (1987), o qual realizou vários estudos sobre esta temática, a aprendizagem pela experiência é a transformação da experiência em conhecimento, habilidades e atitudes. Para o

autor, a aprendizagem envolve participação ou vínculo emocional do ator social e relaciona-se com os conhecimentos previamente adquiridos. Nesta definição é importante entender o significado de experiência, sendo compreendida como processo que envolve relacionamento entre pessoas e o contexto sociocultural em que a interação acontece (JARVIS, 1987).

Logo, a experiência é temporal e ocorre num momento sócio-cultural da vida cotidiana. Além disso, “a aprendizagem sempre começa com a experiência, e o processo de transformar esta experiência inicial é o processo de aprendizagem” (JARVIS, 1987, p. 164).

Em seu trabalho sobre experiências significativas e não-significativas, Jarvis (1987) propõe um modelo de processos de aprendizagem que coloca a idéia de reflexão como um elemento central. Esse autor propõe que a aprendizagem é o processo de transformação de experiências em conhecimentos, habilidades e atitudes e que as experiências ocorrem em um contexto sócio- cultural-temporal. Os conhecimentos são adquiridos através da interação entre experimentação e reflexão até que são internalizados na forma de conhecimento habituais e performances rotinizadas (JARVIS, 1987).

Experiências significativas são aquelas em que a resposta aos estímulos é “tomada por certa” (taken-for-granted). A resposta é praticamente automática, não surge necessidade de reflexão e o estoque de conhecimento não é aumentado. Por outro lado, as situações em que o estoque de conhecimento não é suficiente para que o indivíduo consiga lidar com ela de forma automática, “tomada por certa”, são denominadas pelo autor como experiências não-significativas. Nessas situações ocorre o que Jarvis (1987) chama de disjunção, onde a pessoa precisa refletir sobre a situação para tornar a experiência significativa para ela.

Como se pode perceber pela explanação anterior, esta vertente da aprendizagem pela experiência não desconsidera o contexto da prática social. Pelo contrário, assim como a aprendizagem situada, também considera este contexto como inerente ao processo de aprendizagem. Entretanto, enquanto a teoria da aprendizagem situada aborda mais fortemente o contexto social e seu papel crucial para que a aprendizagem ocorra, a aprendizagem pela experiência analisa com mais afinco o indivíduo aprendiz, o estoque de conhecimento deste indivíduo e a sua autonomia para aprender, mesmo que imerso em um dado contexto sociocultural. Didier e Lucena (2008, p. 133) afirmam que a idéia central aqui é a de que “para lidar com uma nova experiência a pessoa faz uso dos conhecimentos que desenvolveu a partir de suas experiências anteriores” e “o processo de aprendizagem de uma pessoa é influenciado pela rede de relacionamentos e pelos recursos materiais e informacionais a que ela tem acesso em seu dia-a-dia”. O fenômeno da aprendizagem pela experiência também foi estudado por Kolb (1976) e Kolb e Kolb (2005), para quem a elaboração de novos conhecimentos acontece a partir da observação e

reflexão que transformam as experiências concretas em conceitos abstratos e generalizações. Estes conceitos e generalizações são submetidos a testes na vivência de ações futuras; processo este que será influenciado pela história de vida do indivíduo e pelo seu estoque de conhecimento. Segundo os autores, o ambiente de trabalho deve ser reconhecido como um espaço onde se pode aprimorar e complementar a educação formal.

A partir destes pontos, Kolb (1976) propôs um modelo vivencial – demonstrado na figura 4 a seguir – em que a aprendizagem era percebida como um processo contínuo inserido num ciclo de quatro estágios: (1) experiência concreta seguida por (2) observação e reflexão que levam a (3) formação de conceitos abstratos e generalizações que levam a (4) hipóteses a serem testadas em ações futuras, as quais, por seu turno, levarão a novas experiências.

Figura 4: Ciclo de Aprendizagem vivencial

Fonte: Kolb et al, 1978.

Fonte: Kolb 1976

Fonte: Adaptado de Kolb (1976)

Este ciclo de aprendizagem, inserido na aprendizagem experiencial e aprofundado nos estudos realizados por Kolb e Kolb (2005), compreende que os indivíduos podem identificar a importância relativa de cada estágio, em que uma aprendizagem eficiente está relacionada à competência para significar a experiência.

Desta maneira, por experiência concreta o autor entende que o indivíduo deve envolver-se inteiramente e abertamente com novas experiências. No caso das observações e reflexões, o aprendiz precisa refletir e observar as experiências por muitas perspectivas. Já a formação de conceitos

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