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Schumpeter pode ser considerado um dos precursores da idéia de desenvolvimento econômico ligado às mudanças no processo produtivo ao descrever, em sua célebre obra Teoria do Desenvolvimento Econômico, o fenômeno fundamental do desenvolvimento.

O referido autor expõe e descreve no Capítulo I da obra retrocitada, um capitalismo cujo fluxo de produção é perfeitamente estável e imutável, transformando-se em um fluxo circular que nunca altera ou expande sua criação de riqueza, tomando o termo desenvolvimento como fenômeno distinto e estranho ao que se observa nesse fluxo circular ou na tendência para o equilíbrio.

Ocorreria, então, como uma mudança espontânea e descontínua nos canais de fluxo, perturbadora do equilíbrio, que alteraria e deslocaria para sempre o estado previamente existente.

Importante ressaltar que tais mudanças e perturbações apareceriam na esfera da vida industrial e comercial e não das necessidades dos consumidores.

Portanto, considerando-se que produzir corresponde a combinar materiais e forças que se encontram ao nosso alcance, bem como que, se essas tais combinações se originam das antigas, com o passar do tempo, mediante um contínuo ajuste que se mostraria em pequenas etapas, haveria, para Schumpeter, mudança, que possivelmente implicaria crescimento, mas não desenvolvimento como fenômeno novo, em conformidade com o sentido empregado pelo autor.

Para ele, apenas surgiria o fenômeno caracterizado como desenvolvimento, na medida em que, no último caso acima descrito, as mudanças aparecessem descontinuamente.

Podemos identificar cinco momentos englobados por esse conceito:

Introdução de um novo bem (um bem com o qual os consumidores ainda não estivessem familiarizados);

Introdução de um novo método de produção (método esse que ainda não tenha sido testado pela experiência no ramo próprio da indústria de transformação, não implicando, necessariamente uma descoberta cientificamente inédita, podendo consistir também em nova maneira de manejo de certa mercadoria);

Abertura de um novo mercado (no qual o ramo particular da indústria de transformação do país em questão não tenha ainda ingressado, quer tenha ou não existido esse mercado anteriormente);

será suficiente para surpreender os OGMs, em virtude da contaminação não intencional. Canais de escoamento próprios estão sendo criados por empresas capitalistas interessadas em lucrar com o novo nicho de mercado: no preço dos produtos não-transgênicos embutirão os custos de criação e manutenção (segregação) desses canais não contaminados: os alimentos selados como livres de OGM, ou seja, não transgênicos (assim como os ‘orgânicos’) serão sempre mais caros que os convencionais”.

Conquista de uma nova fonte de oferta de matérias-primas ou de bens semifaturados, mais uma vez independentemente de já existir tal fonte ou de haver a necessidade de criá-la;

Estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria (a exemplo da criação de uma posição de monopólio ou fragmentação de uma posição de monopólio).

Schumpeter, ao explicitar o significado dessas novas combinações, adverte para o fato de que a realização de novas combinações significa simplesmente o emprego diferente da oferta de meios produtivos existentes no sistema econômico e que isso pode fornecer uma segunda definição de desenvolvimento, que é exatamente o sentido tomado por ele.

Na explicação do curso da história econômica através dos séculos, Schumpeter entende que o lento e contínuo acréscimo da oferta nacional de meios produtivos e de poupança sejam fatores importantes, mas alude ser completamente eclipsado pelo fato de o desenvolvimento consistir, primariamente, em empregar recursos diferentes de uma maneira diferente, em fazer coisas novas com eles, independentemente de que aqueles recursos cresçam ou não.

Portanto, para o comentado autor, métodos diferentes de emprego, e não a poupança e os aumentos na quantidade disponível de mão-de-obra mudaram a face do mundo econômico, referindo-se aos últimos cinqüenta anos anteriores à elaboração de sua célebre obra.

É, para nós, de extrema relevância a análise elaborada por ele acerca das dificuldades encontradas na vida econômica, evidenciando o que cada passo novo fora da rotina pode acarretar; aliás, a história da ciência é uma grande confirmação do fato de que é difícil para a humanidade adotar um ponto de vista científico ou método novo.

Assim é também no mundo econômico, levantando-se as forças do hábito para testemunhar contra o projeto inédito, sendo necessária uma força de vontade imensa, nova e de outra espécie, que seja suficiente para olhar tal projeto como uma possibilidade real e não uma utopia, restando nítido que essa força e liberdade mental pressupõem um grande impacto sobre a demanda cotidiana, sendo, exatamente por isso, algo peculiar e raro, por natureza.

Schumpeter elenca algumas dificuldades que representariam limites ou obstáculos ao desenvolvimento tecnológico, a saber:

 A falta de dados ou informações sobre o novo ou o desconhecido, que dificulta o processo e o torna mais custoso ao indivíduo;

 A natural relutância do indivíduo ao novo (ainda que objetivamente as dificuldades não existissem);

 A resistência do meio social àquele que deseja fazer algo novo (podendo manifestar-se sob a forma de ostracismo social, ataque direto, falta de cooperação ou dificuldade para conquistar os consumidores).

Observando, portanto, o processo econômico pelo lado da produção, Schumpeter percebe a importância do progresso técnico como fator dinâmico da economia capitalista, diferenciando-se, desse modo, dos demais economistas clássicos.

Devemos, então, ressaltar que para ele a tecnologia compõe o próprio conceito de desenvolvimento, não se tratando de um mero aspecto ou elemento do desenvolvimento.

Resta nítido que o conceito levado a efeito por Schumpeter sobre desenvolvimento é restrito, não levando em conta inúmeros outros aspectos e também relevantes, como, por exemplo, aumento de produtividade em decorrência de acumulação de capital, conforme entabulado por Celso Furtado,105 que indica o problema dos rendimentos crescentes em decorrência do aumento na escala de produção, em que se verifica uma redução de custos unitários à medida que os negócios aumentam, e nessa medida ter-se-ia um caso típico de crescimento econômico em que não se exige do empresário nenhum espírito inovador, o que não significaria desenvolvimento para Schumpeter.

Por isso, temos como fato inovador para sua época o conceito elaborado por Schumpeter acerca de desenvolvimento, enfocando a tecnologia como um dos seus principais fatores, tendo inclusive Celso Furtado106 reconhecido as inovações schumpeterianas como um dos elementos motores do processo de desenvolvimento.

Não há dúvida, hodiernamente, a importância que o desenvolvimento tecnológico tem sobre estruturas industriais e crescimento econômico.

Eros Grau,107 por sua vez, afirma que a participação da sociedade nacional, em condições de igualdade, no mercado internacional, depende da possibilidade local de geração de tecnologia.

Associando a tecnologia à própria soberania econômica nacional, Grau entende que a situação de autonomia ou dependência de cada sociedade diante do desafio tecnológico é que determina o seu papel, de sujeito ou objeto, no mercado internacional. Entende, então, que a ciência e a tecnologia muito têm a contribuir para os países em desenvolvimento, para a redução entre as desigualdades sociais e desigualdade entre os próprios países.

Carla Abrantkoski Rister,108 em sua tese de doutorado, elucida que

No Brasil, os empresários nacionais e estrangeiros não assumiram o papel de inovadores, arcando com as responsabilidades disso decorrentes, tendo sido sempre o Estado, paradoxalmente que, entre nós, estimulou, suportando o seu custo, inovações empresariais. Há notícias de que o poder público aqui arca com 80% dos investimentos em ciência, tecnologia e inovação. Nesse sentido o Estado brasileiro ter-se-ia caracterizado como “schumpeteriano”, constituindo exemplos de tal assertiva os movimentos de criação de empresas estatais no governo Getúlio (década de 40) e durante a ditadura militar (segunda metade da década de 60), além do desenvolvimentismo do governo Juscelino Kubitschek e do papel do BNDES e de outras agências e sociedades governamentais, com a Embrapa.

Ocorre que, notadamente a partir do governo Fernando Collor de Mello, posteriormente retomado por Fernando Henrique Cardoso, em que se adotou a proposta neoliberal, pelo que se observa, o Estado tem pretendido afastar-se de funções que tradicionalmente exercera, surgindo, nesse contexto, um verdadeiro “vácuo” não preenchido no espaço de promoção tecnológica.

O Estado brasileiro então, de acordo com o texto expresso da norma constitucional, tem o dever de promover o desenvolvimento científico e tecnológico no país, não podendo desincumbir-se de tal tarefa, ainda

105 Furtado, C. Teoria e política do Desenvolvimento Econômico, p. 60-61.

106 Ibid., p. 62. Celso Furtado conclui, na obra citada, que, não obstante ser a teoria das inovações trazida por Schumpeter de enorme importância, conduziria a um equívoco pretender formulá-la independentemente da teoria da acumulação de capital, a qual, por sua vez, não poderia ser explicada mediante categorias abstratas com pretensões à universalidade, já que estaria intimamente ligada ao sistema de organização da produção, às formas de distribuição e utilização de renda, ou seja, a um processo histórico cujos elementos específicos devem ser identificados.

107 Grau, E. R. A ordem econômica na Constituição de 1988. 8. ed., p. 33.

que a evolução tecnológica seja empreendida pelas empresas e indivíduos, cabendo a ele o desenvolvimento na viabilização de tal processo.

Indiscutível que a Constituição Federal privilegiou o mercado; contudo, ao enfatizar que o mercado interno integra o patrimônio nacional, não significa dizer que ele tenha sido incorporado ao domínio público (a exemplo do meio ambiente), mas sim que tal incorporação dar-se-á à medida que a Constituição o toma como expressão pura da soberania econômica nacional e, como se trata de um dever, não está impedida a intervenção estatal, na modalidade de direção, sobre ele, conferindo-se, dessa forma, uma função social ao mercado, à semelhança do conceito de função social da propriedade.

Debruçar-nos-emos agora sobre a contribuição de Amartya Sen, no que pertine ao tema da economia e da ética, conforme ressaltado por Celia Lessa Kerstenetzky. Ao apresentar a obra de Amartya Sen109 intitulada

Pobres e famintos: um ensaio sobre Direito e privação, comenta que, após a conhecida fórmula de Gary Becker (1976), sabe-se que os economistas teóricos são aquelas pessoas que discernem o mundo através das lentes do método de otimização110 e não, como durante anos e talvez séculos se chegou a pensar, aqueles cientistas sociais que estudavam a esfera da produção e da distribuição de bens materiais.

Comenta, ainda, a retrocitada articulista, que o Nobel de 1992 assevera que a economia se caracteriza pelo método e não pelo tema, ele mesmo tendo conduzido a economia assim redefinida a entender o crime, os casamentos e divórcios, a guarda dos filhos, as relações entre pais e filhos e uma variedade infindável de problemas.

Amparados pelas razões fornecidas por Becker, os economistas passaram a aplicar com maior legitimidade, ao menos aparentemente, o mesmo método a vários temas, em virtude do que a Sociologia, a Psicologia, a Política (rebatizada de Economia Política Positiva), o Direito e a Antropologia se transmudam gradualmente em áreas de especialização econômica.

É nessa perspectiva beckeriana de “um método, todos os temas”, em relação à qual Celia Lessa Kerstenetzky nota semelhança com o marxismo, que Amartya Sen se afigura como um economista sui generis em sua insistência quanto às relações íntimas entre a economia e a ética, ao mesmo tempo em que pratica e, por fim, explicita um saudável pluralismo de método (que não o identifica coerentemente nem com a ortodoxia, nem com a heterodoxia na economia).

Um tema de base, vários métodos. Se a análise econômica, na sugestão de Becker, promove o que poderíamos chamar de interdisciplinaridade à força, já que se trata da superimposição de uma visão de mundo a diferentes configurações do mundo, o feito de Sen sugere uma versão relativa de interdisciplinaridade, em que se reconhece a pertinência de cada plano discursivo e se indicam as relações de fertilização recíproca possíveis.

109 Economista indiano (1933-). Prêmio Nobel de Economia de 1998, seus trabalhos teóricos contribuem para uma nova compreensão dos conceitos sobre miséria, fome, pobreza e bem-estar social. Amartya Kumar Sen nasceu na cidade de Shantiniketan, em Bengala Ocidental. Em 1952 vai para a Inglaterra estudar economia na Universidade de Cambridge. De volta à Índia, dá conferências na Universidade de Jadavpur e torna-se professor da Escola de Economia de Delhi.

110 Refere-se Celia Lessa Kerstenetzky, evidentemente, ao comentar isso, aos economistas do mainstream da ciência econômica.

Se a economia é o saber sobre as relações humanas voltadas para a produção e distribuição da riqueza material, a riqueza, entretanto, interessa-nos principalmente como instrumento de bem-estar, por sua vez parte de uma visão mais ampla dos propósitos humanos.111

Trata-se aqui de uma hierarquia em que a dimensão ética tem clara precedência, ou melhor, é a dimensão envoltória: Sen nos propõe uma visão dos propósitos humanos que não se detenha no espaço do “ter”, abrangendo o “fazer” (doings) e o “ser” (beings)

algo que corresponde à idéia de “funcionamentos” (functionings).

Entretanto, teres, fazeres e seres são importantes não tanto em si mesmos, mas como indicadores da liberdade efetiva dos indivíduos

que corresponde à noção de “capacidades” (capabilities).

Sen é um leitor atento da tradição liberal clássica, tanto da economia política quanto da filosofia política; mas também é especialmente sensível às peculiares formas de destituição e exclusão e às profundas desigualdades que comprimem, quando não anulam, as liberdades efetivas em um mundo onde enormes progressos materiais foram alcançados.

Exatamente porque a dimensão ética projeta uma sombra sobre a economia, sugerindo uma reflexão sobre os fins últimos da atividade econômica em uma sociedade, ela interrompe qualquer automatismo que se possa atribuir a essa esfera.

Como distribuir a riqueza gerada de modo a se alcançar o objetivo de ampliação das liberdades efetivas?

Como conciliar os imperativos da justiça (não apenas como eqüidade, mas como ampliação de liberdades) com os da eficiência econômica?

É justamente no não reconhecimento dessa autonomia do econômico em seu próprio terreno, na percepção de uma constante necessidade de avaliação dos processos de geração e divisão da riqueza que reside o mais forte apelo à cooperação interdiscursiva entre o raciocínio ético e o raciocínio econômico.

Mas, também no interior mesmo da Economia descritiva e preditiva, Sen acredita na proficuidade do intercâmbio com a ética.

Qual o papel de supostos dos comportamentos alternativos ao auto-interesse na teoria econômica? Certamente produtivo, uma vez que a Economia teria muito a ganhar em relevância se suplementasse o suposto do comportamento auto-interessado com outras motivações, como o comportamento não voltado estritamente para o bem-estar pessoal, ou se incorporasse uma noção de bem-estar mais abrangente que o consumo pessoal ou mesmo o comportamento não estritamente orientado por objetivos, como o guiado por regras convencionais.

O suposto restritivo de comportamento auto-interessado estaria afetando não apenas a relevância da teoria econômica positiva como também a de seu afluente normativo, a economia do bem-estar.

Em seu On ethics and economics, de 1988, Sen estende-se sobre as relações naturais e separações forçadas entre economia e ética, sugerindo que ambos os campos discursivos teriam muito a ganhar se reconhecessem os rendimentos óbvios da cooperação.

Entretanto, o argumento concentra-se mais nas perdas para a economia decorrentes de sua incapacidade de reconhecer esses ganhos.

111 O aristotelismo ético que pode ser aqui pressentido é presença constante na cosmologia de Sen, e vem freqüentemente associado ao trabalho de Martha Nussbaum.

Por um lado, observa-se o empobrecimento da economia do bem-estar quando expulsa as comparações interpessoais de vantagens para o terreno da ética e quando reduz a avaliação de Estados sociais alternativos ao bem-estar dos indivíduos e o confina à satisfação de suas preferências.

Por outro, percebe-se o baixo índice de relevância da economia positiva decorrente da imaginação rarefeita no desenho de hipóteses comportamentais, usualmente mais servis ao critério de consistência (de um modo geral, sobressai o tratamento meramente instrumental e caricato das motivações possivelmente éticas).

Perdas para a ética também são mencionadas, porém com ligeireza, sendo a mais importante o reconhecimento da importância do raciocínio conseqüencialista em questões típicas do campo da ética, tais como o tratamento interativo dos direitos e das liberdades, que emerge da igualmente significativa, e fartamente analisada pelos economistas, interdependência social e cuja representação analítica se pode encontrar nos modelos de equilíbrio geral.

Porém, sabe-se que a análise conseqüencialista não é invenção da Economia, e tampouco a idéia de interdependência social, podendo-se, portanto, compreender as razões da brevidade na argumentação quanto aos ganhos da mão inversa.112

Evidentemente, Sen não ignora uma certa concepção, freqüente na Economia, de que toda e qualquer motivação pode ser incorporada no auto-interesse dos indivíduos, inclusive suas motivações morais e o seguir regras.

Qualquer uma dessas coisas poderia ser compreendida como o objetivo que o indivíduo quer maximizar. Analisando uma possível racionalidade alternativa, não voltada para objetivos individuais e que poderia dar conta de comportamentos cooperativos em jogos não-cooperativos, Sen observa que o comportamento cooperativo poderia emergir como efeito do reconhecimento, por parte dos indivíduos, da interdependência de seus ganhos.

Nesse caso, seguir certas regras de comportamento (como a de reciprocidade) pode ser a estratégia a adotar em razão de sua importância instrumental para a promoção dos objetivos de cada um.

Dizer, então, que seguir regras foi o objetivo dos indivíduos é no mínimo ambíguo:

Se a reciprocidade não é considerada importante intrinsecamente e sim instrumentalmente, e esse reconhecimento se expressa de fato em comportamento recíproco para melhor atingir os objetivos de cada pessoa, é difícil argumentar que o objetivo real da pessoa é seguir a reciprocidade em vez de seus respectivos objetivos reais. (Sen, 1999, p. 102).

Em sua crítica à dieta auto-imposta à economia por seu afastamento da ética, Sen queixa-se da noção excessivamente restritiva de racionalidade utilizada pela disciplina.

De um modo geral, a racionalidade economista impõe consistência interna às escolhas sem se pronunciar sobre o conteúdo dessas escolhas ou se manifesta como a busca pela maximização do auto-interesse, adotando nesse caso uma posição demasiado simplificadora em relação às motivações dos indivíduos.

É necessário, diz ele, reconhecer a existência tanto de outras motivações quanto de outras definições de racionalidade que ultrapassem a exigência de consistência interna da escolha. Essa necessidade adviria do imperativo da relevância de nossas explicações, bem como da praticidade das prescrições de políticas públicas.

112 Devemos recordar que Sen dirige essas suas conferências Royer — que proferiu na Universidade da Califórnia em Berkeley e reuniu e publicou em 1988 sob o título On ethics and economics — a uma platéia composta também por economistas.

O resultado dessas objeções seria a incorporação de motivações, por exemplo, morais na economia e de um modo mais amplo implicariam a investigação do conjunto de valores que os indivíduos procuram realizar, bem como a admissão da possibilidade de “inconsistências” na escolha, na forma de incompletude ou ao menos de completude parcial das ordenações de valores por parte dos indivíduos. Pluralismo de valores e um racionalismo formal mitigado são as idéias centrais que orientam as relações entre ética e racionalidade, gerando implicações importantes no campo da ética.

Celia Lessa Kerstenetzky chama a atenção para alguns aspectos significativos das relações entre essa proposta e as principais correntes contemporâneas de teoria normativa, o utilitarismo e o rawlsianismo,113 adiantando que a maior dificuldade com esses sistemas de filosofia moral encontra-se em sua excessiva ambição universalista.

A objeção maior de Sen ao utilitarismo deve-se à ênfase deste último no bem-estar, no que ele chama de aspecto welfarista do utilitarismo,114 que padeceria de injustificado reducionismo de valor.

Adicionalmente, ao se apoiar na utilidade e nas preferências dos indivíduos, o utilitarismo não faria justiça às óbvias assimetrias de informação e de condição existentes entre eles, as quais permitem que alguns tenham preferências “caras” enquanto outros formem, resignadamente, preferências “baratas”.

Na economia do bem-estar, o welfarismo do utilitarismo encontraria expressão no critério de ótimo de Pareto que, justamente por se basear em utilidades e conseqüentemente em preferências, revelar-se-ia um critério, além de insuficiente, informacionalmente inadequado para a avaliação de estados sociais alternativos.

O utilitarismo distorceria a avaliação dos estados sociais possíveis, sobretudo ao sancionar, de um lado, o conformismo daqueles que sofrem opressão e discriminação sociais continuadas e que ajustariam suas