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O desenvolvimento cognitivo não ocorre independente do contexto social, histórico e cultural, pois se desenvolve a partir da ação de sujeitos ativos e interativos porque esses indivíduos se constituem a partir de relações intra e interpessoais (VYGOTSKY, 1987). Um dos pilares da Teoria da Mediação é que os processos psicológicos superiores6 dos indivíduos têm origem em processos sociais, pois o seu desenvolvimento cognitivo não pode ser entendido sem referência ao meio social (VYGOTSKY, 1987 apud LADEIRA, 2015).

Nesse contexto, os pesquisadores e teóricos têm buscado estratégias alternativas para o desenvolvimento do processo de ensino e a aprendizagem dos alunos. Por exemplo, uma dessas estratégias está relacionada com a mediação que pode ser entendida como uma variável envolvida na construção do conhecimento matemático dos alunos (PELLI, 2014).

De acordo com Vygotsky (1987), esse processo de mediação é desencadeado por meio da interação entre os instrumentos, os sujeitos e os objetos. Então, nesse processo, a ação dos sujeitos sobre os objetos é mediada por um determinado instrumento ou elemento (LADEIRA, 2015).

De maneira semelhante, Berni (2006) afirma que a mediação é o “processo que caracteriza a relação do homem com o mundo e com outros homens” (p. 7), pois é por meio da mediação que ocorre a internalização de atividades e comportamentos sociais, históricos e culturais, que são típicos do domínio humano.

Na mediação está inserida a utilização de instrumentos e signos. Então, nesse contexto, Ladeira (2015) esclarece que os:

5Lev Semionovich Vygotsky nasceu em Orsha, uma pequena povoação da Bielorússia, em 17 de novembro de

1896 e faleceu, em Moscou, em 11 de junho de 1934. Vygotsky foi um pesquisador contemporâneo de Piaget, que preocupava-se em entender a influência da linguagem e da comunicação no desenvolvimento cognitivo dos indivíduos. Esse psicólogo considerava de extrema importância o aprendizado para o qual os indivíduos pudessem compreender e analisar o contexto histórico no qual estavam inseridos.

6Os processos psicológicos superiores “obedecem a uma auto-regulação, pois são mais complexas genética e

funcionalmente. Essas funções ocorrem por meio de processos voluntários e ações conscientes a partir de uma auto-estimulação criada por uma nova situação enfrentada pelos indivíduos, direcionando-os para o desenvolvimento de sua intelectualização por meio da aprendizagem” (PELLI, 2014, p. 49).

(...) instrumentos são elementos mediadores que tem como objetivo agir entre os sujeitos e os objetos a serem trabalhados, estudados, pesquisados ou investigados. A função principal desses instrumentos é ampliação das possibilidades de transformação da natureza, pois são utilizados para que os indivíduos possam alcançar um determinado objetivo (LADEIRA, 2015 p. 48).

Para Ladeira (2015), os signos podem ser considerados como construtos que:

(...) podem ser definidos como elementos que representam os objetos, os eventos ou as situações, sendo também denominados de mediadores psicológicos. A função desses elementos é regular, ativar e controlar as atividades psicológicas dos indivíduos. Os signos estão relacionados com a memória, pois podem representar os objetos ou expressar e descrever os fatos (p. 48).

Existem três tipos de signos: a) os indicadores que tem uma relação de causa e efeito com aquilo que significam, b) os icônicos que são imagens ou desenhos daquilo que significam e c) os simbólicos que tem uma relação abstrata com o que significam (LADEIRA, 2015).

Esse contexto possibilita a evolução das interações que ocorrem entre: os indivíduos e a sociedade e a cultura e a história; além de possibilitar o desenvolvimento das oportunidades e as situações de aprendizagem que promovam esse avanço, considerando a influência das várias representações de signos, a utilização de diferentes instrumentos, a influência da cultura e da história, que possam propiciar o desenvolvimento dos processos psicológicas superiores por meio do processo de mediação (VYGOTSKY, 1987).

Portanto, o reconhecimento da importância dos instrumentos, dos signos e dos símbolos como elementos mediadores das práticas sociais, é uma ação pedagógica necessária nas instituições educacionais porque o desenvolvimento intelectual dos alunos é desencadeado por meio da interação social enquanto que a colaboração entre esses indivíduos é realizada coma utilização de instrumentos mediáticos (LADEIRA, 2015).

É importante enfatizar que existem três tipos distintos de mediação:

 Consciência ou a atividade mental, que é a percepção abrangente dos objetos por meio do processamento ativo das informações.

 Cooperação social ou sociabilidade que é a atividade conjunta e coordenada entre os indivíduos.

 Instrumentos ou tecnologias, que é a mediação entre os indivíduos e o mundo relacionada com a ciência e a sociabilidade por meio de instrumentos tecnológicos (RATNER, 1995 apud LADEIRA, 2015, p. 50).

Por conseguinte, os “instrumentos, a consciência e a sociabilidade são construtos que transcendem o organismo físico para aumentar os seus poderes de atuação por meio da

experiência corporal do movimento no espaço da manipulação de objetos e das interações” (LADEIRA, 2015, p. 50).

Nesse contexto, a relação dos indivíduos com esses ambientes para a realização das atividades diárias não é direta, pois é mediada por meios de instrumentos tecnológicos. Portanto, os sistemas de signos são considerados como mediadores internos e os artefatos tecnológicos são os mediadores externos que funcionam como ferramentas auxiliares para controlar a realização dessas atividades (LADEIRA, 2015).

Assim, o conceito de mediação mostra a importância do funcionamento psicológico para a percepção do desenvolvimento humano, pois pode ser considerado como um processo sócio- histórico. Similarmente, Cruz (2005) argumenta que a:

(...) compreensão da construção do conhecimento num contexto sócio- histórico passa pelo conceito de mediação e esta, por sua vez, pode ser entendida como uma intervenção que conta com o auxílio de um elemento intermediário na relação entre o sujeito e o objeto (p.50).

Para Vygotsky (1978 apud LADEIRA, 2015) a interação não é direta, mas sim mediada, a qual corresponde a um estímulo incorporado ao impulso direto de modo a possibilitar a complementação das ações pedagógicas desencadeadas em sala de aula. Então, a aprendizagem mediada possibilita a aquisição de conhecimentos por meio do elo entre os alunos e o ambiente. Portanto, as interações que ocorrem em diversos ambientes são a base que auxiliam os alunos no entendimento e na compreensão das representações desenvolvidas pelos membros de seu grupo social. Nesse processo, os professores são essenciais para estruturar o aprendizado dos conteúdos propostos em salas de aulas (LADEIRA, 2015).

Por conseguinte, o aprendizado organizado apropriadamente resulta na utilização de signos internos por meio dos quais o desenvolvimento mental é desencadeado com a utilização das representações dos objetos que são abstraídos do mundo real.

Desse modo, é importante considerar que os recursos tecnológicos, como, por exemplo, os dispositivos móveis, estão se tornando cada vez mais acessíveis à população de um modo geral, principalmente por meio dos aparelhos celulares (PELLI 2014).

Dessa maneira, existe a necessidade da inserção desses recursos nas ações humanas, pois Engeström (2001) argumenta que, quando os recursos tecnológicos são inseridos nessas ações, os sujeitos são compreendidos em seu próprio contexto por meio da produção e utilização desses recursos.

1.4. Dispositivos móveis como instrumentos de mediação entre o conteúdo de Função