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A relação entre o acionista e o administrador da empresa é complexa e alvo de diversos estudos que buscam entender e melhorar essa relação. Isso é mais forte em países onde o mercado de capitais é muito desenvolvido, que faz com que o controle da empresa seja pulverizado entre diversos acionistas, e eles escolham um administrador que julguem ser capazes de tomar as melhores decisões para a empresa. Em outros países, como o Brasil, em que o mercado de capitais está em desenvolvimento, ocorrem situações em que os acionistas majoritários são os próprios administradores da empresa, tendo apenas algumas ações nas mãos de poucos acionistas minoritários que não exercem influência no controle da empresa.

Porém, essa relação nem sempre foi assim, pois no passado, as empresas possuíam um único dono, proprietário que era também o administrador da empresa. Pela teoria econômica clássica, as empresas atuavam de forma racional, otimizando o resultado econômico de sua organização, implicando também em minimizar os custos. Este é o modelo da Teoria da Firma que, segundo Holanda (1982), a hipótese desta teoria é que a empresa procura maximizar os seus lucros da mesma forma que o consumidor procura maximizar a sua satisfação. Segundo Jensen e Meckling (1976), a empresa é uma caixa preta, operando para satisfazer as condições pertinentes marginais em relação a entradas e saídas, maximizando lucros, ou mais precisamente, o valor presente. De acordo com esta teoria clássica, não existiam conflitos de interesse já que o administrador era o próprio proprietário da empresa, ou seja, os objetivos da empresa (proprietário) estavam em conformidade com os objetivos do administrador.

Porém, com o desenvolvimento da economia mundial, essa teoria não era mais adequada para explicar as relações que apareceram. Com este desenvolvimento, passaram a surgir empresas em que os proprietários não mais eram os próprios administradores, sendo estes últimos nomeados pelos primeiros para administrar a empresa, pensando sempre na lucratividade e na perenidade da empresa. Com isso, começaram a surgir os conflitos, as diferenças de objetivos, entre a empresa, na figura dos acionistas e proprietários, e os administradores.

Lopes e Martins (2005) explicam que a teoria clássica reza que, na ausência de custos de transação e de insolvência, a empresa irá sempre preferir projetos que tenham maior valor presente líquido, independentemente do risco inerente aos projetos. Porém, na prática, a possibilidade de insolvência e os elevados custos relacionados criam conflitos de interesse entre acionistas e administradores.

Essa relação não harmoniosa, gerando a situações de conflitos entre os interesses dos acionistas e os interesses dos administradores, causa um problema de agência. Ross, Westerfield e Jordan (2000) dizem que o problema de agência ocorre pela possibilidade de haver conflito de interesse entre os proprietários (acionistas) e os administradores da empresa. Para Jensen e Meckling (1976), uma relação de agência é como um contrato pelo qual uma ou mais pessoas (o principal) contratam outra pessoa (o agente) para executar algum serviço em seu nome, que envolve delegar alguma autoridade para a tomada de decisão do agente. Se ambas as partes da relação são maximizadores de utilidade, há boas razões para acreditar que o agente não agirá sempre no melhor interesse do principal.Besanko, Dranove, Shanley e Schaefer (2006) afirmam que o objetivo do principal é maximizar a diferença entre o valor que recebe como resultado das ações do agente e qualquer pagamento que faça ao agente, mas, na ausência de algum mecanismo para alinhar os interesses de ambos, o agente fica propenso a não se importar com o valor gerado para o principal. Pois, segundo Ross, Westerfield e Jordan (2000), os administradores tenderiam a maximizar os recursos sobre os quais eles têm controle, ou, em termos mais amplos, tenderiam a maximizar seu poder ou riqueza na empresa, importando-se também com a manutenção do seu emprego.

Eisenhard (1989) destaca duas contribuições ao pensamento organizacional: a primeira é o tratamento da informação que, na teoria da agência, é considerada como uma mercadoria, tem um custo, e pode ser informação comprada; a segunda contribuição da teoria da agência é a sua implicação de risco, pois as organizações têm um futuro incerto e o futuro pode trazer prosperidade, falência ou algum intermediário resultado, e esse futuro só é parcialmente controlado pelos membros da organização. Os efeitos ambientais como a regulamentação do governo, a emergência de novos competidores e a inovação técnica podem afetar os resultados. À teoria da agência estende-se pensamento organizacional, empurrando ramificações de incerteza, resultado de suas implicações para a criação de risco.

Outro fator que tende a ocasionar o problema de agência é a assimetria de informação. Assim, Lopes e Martins (2005) definem assimetria de informação: “[...] os agentes envolvidos no mercado possuem informações diferentes sobre as características dos ativos em

negociação, sejam eles empresas, ações ou carros”. Ou seja, assimetria de informação é a diferença de conhecimento sobre as informações de uma empresa entre os agentes, ou seja, o administrador por estar sempre presente dentro da empresa possui informações que o acionista (proprietário) não possui. Hendriksen e Van Breda (2009) exemplificam o conceito de assimetria como sendo o proprietário que é incapaz de observar todas as ações do administrador. As ações deste administrador podem ser diferentes daquelas que o proprietário teria preferido, seja pelo motivo de que o administrador tenha um conjunto diferente de preferências ou porque o administrador está procurando enganar o proprietário. Também se pode exemplificar esta teoria pelos acontecimentos recentes com as empresas que utilizaram inadequadamente derivativos, pois os acionistas não possuíam informação sobre os riscos assumidos pela empresa.

Na firma da teoria clássica, não havia essa assimetria já que o proprietário (acionista) era também o administrador da empresa, ou seja, ele possuía todas as informações sobre a empresa e, possuía também o conhecimento sobre todas as operações que a empresa realiza. Porém, atualmente, com empresas que possuem seu controle pulverizado, nem sempre os acionistas controladores têm as mesmas informações que os administradores que estão presentes no dia a dia da empresa. Todos os agentes podem ter acesso às informações necessárias que precisa, porém, muitas vezes, os custos para ter o acesso a essa informação é muito elevado, portanto, inviabilizando este acesso.

Isso pode ser reduzido por meio do disclosure, da evidenciação das informações pelos comunicados ao mercado, pela publicação de demonstrações financeiras, etc. De acordo com Iudícibus e Lopes (2008), a contabilidade surge para resolver problemas econômicos que não foram adequadamente atendidos pela teoria clássica da firma. Lopes e Martins (2005) avaliam que a existência da contabilidade está ligada à existência de problemas de assimetria de informação.

Entretanto, nos últimos anos, tem-se o surgimento de uma nova teoria que se preocupa não somente com o conflito entre o proprietário e os administrados, mas com todas as relações que a empresa possui com o seu ambiente interno e externo. Em 1984, Freeman apresenta o conceito mais conhecido de stakeholders, que é qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou é afetado pela realização dos objetivos da organização. Para Schneider (2002), stakeholders são compostos por membros internos da organização, incluindo funcionários, gerentes e membros da diretoria; membros externos, como os proprietários, clientes, fornecedores, e concorrentes e membros engajados em atividades inter-organizacionais de

cooperação com a empresa. Jones e Wicks (1999) citam outra premissa para a teoria dos stakeholders de que esta se preocupa com a natureza destas relações em termos de ambos os processos e resultados para a empresa e para as suas partes interessadas.

Para Sundaram e Inkpen (2004), a teoria dos stakeholders tenta abordar a questão de que os grupos de stakeholders merecem ou exigem atenção da administração. Jensen (2001) afirma que a teoria dos stakeholders diz que os gestores devem fazer decisões que levem em conta os interesses de todos os interessados em uma empresa.

Mitchell, Agle e Wood (1997) argumentam que a teoria dos stakeholders deve levar em conta a urgência, bem como a legitimidade, não importando quão desagradável ou perturbadora possam ser os resultados das decisões. Os gerentes devem saber sobre as entidades de seu ambiente que possuem poder e tem a intenção de impor sua vontade sobre a empresa. Poder e urgência devem ser atendidos, se os gestores estão a servir legalmente e moralmente os interesses legítimos dos stakeholders.

Para Donaldson e Preston (1995), a teoria dos stakeholders difere de outras teorias da empresa de forma fundamental já que essa teoria visa não só a explicar e a orientar a estrutura e o funcionamento da corporação estabelecida, como e, para este fim, também considera a empresa como uma entidade organizacional, por meio da qual os participantes numerosos e diversificados realizam múltiplos e, nem sempre, totalmente congruente, efeitos. A figura 6 exemplifica os relacionamentos da empresa dentro da teoria dos stakeholders.

Ainda, de acordo com Donaldson e Preston (1995), a teoria dos stakeholders é geral e abrangente, mas ela não está vazia, vai muito além da descritiva observação de que as organizações têm as partes interessadas.

3. Procedimentos Metodológicos

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