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3 O POVO POTIGUARA E A CULTURA CORPORAL: SUAS VOZES COMO

3.2 SEQUÊNCIA DIDÁTICA INTERATIVA COMO POSSIBILIDADE DE

3.2.3 Terceiro encontro: aplicação do segundo bloco de atividade da SDI

O terceiro encontro com a turma foi realizado no dia 11 de março de 2019. De acordo com Oliveira (2013), este bloco de atividades está relacionado ao embasamento teórico que deve estar alicerçado sobre uma corrente de aprendizagem. Para tanto, os procedimentos metodológicos utilizados se fundamentam na concepção de cultura corporal apresentada por Neira e Nunes (2014) e na pedagogia decolonial74 defendida por Walsh (2009), a escolha destas pedagogias refere-se ao fato delas dialogarem com os conceitos propostos neste trabalho, ou seja, uma educação diferenciada com base na história trazida pelos corpos indígenas em sua existência.

74 Como projeto político, social, epistêmico e ético, a interculturalidade crítica expressa e exige uma pedagogia e

uma aposta e prática pedagógicas que retomam a diferença em termos relacionais, com seu vínculo histórico- político-social e de poder, para construir e afirmar processos, práticas e condições diferentes. Dessa maneira, a pedagogia é entendida além do sistema educativo, do ensino e transmissão do saber, e como processo e prática sóciopolíticos produtivos e transformadores assentados na realidades, subjetividades, histórias e lutas da pessoas, vividas num mundo regido pela estrutura colonial. (WALSH, 1991 apud WALSH, 2009, p. 26).

Fonte: Oliveira, s/a, p.10

Figura 27 – Segundo bloco de atividades da SDI – março de 2019

Fonte: Acervo do pesquisador

O início do encontro partiu do que os alunos tinham elaborado como conceito de cultura corporal, questionando-os como aquela cultura estava presente no cotidiano da vida comunitária e familiar. Depois disso, mostrei-lhes as Figuras (28 e 29) de corpos indígenas que foram feitas no passado, com o objetivo de provocar uma reflexão sobre se havia alguma diferença entre o corpos indígenas de antes e os de hoje, e se aquelas imagens diziam alguma coisa sobre a história daqueles índios.

Dessa atividade, renderam muitas risadas, pois eles nunca haviam entrado em contato com tal reflexão. Passado o impacto, muitas observações foram feitas. “Tio, eles eram muito fortes”, “Eles andava muito a pé”, “Era muito diferente a gente agora”. Perguntei-lhes, então:

Figura 18 – Índio Camacã Mongoio

Fonte: Oliveira, s/a, p.31

Figura 29 – Índios atravessando um riacho (O

“Vocês acham que o povo Potiguara já foi assim?”, tendo como resposta: “Professor, nós é tudo índio de qualquer forma”. A partir desta resposta pude aproximar outras questões, tais como: “Se vocês são todos índios, o que mudou? As brincadeiras são as mesmas? As danças? As comidas?”

A partir de então, os alunos estavam situados nas mudanças ocorridas no tempo e no espaço, atentando para o fato de que a história não é algo estático, mas um contínuo de entrelaçamento, mediado por um contexto socioeconômico. Benjamin (1981, p. 229) recorda que “a história é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de ‘agoras’” (aspas do autor). Ao oferece-lhes uma situação desafiadora, novas respostas apareceram75: “Minha a avó contava que no tempo dela as coisa aqui era diferente, não tinha tanta casa”, “Meu avô diz que ele brincava de bola de gude, que era a castanha”. Neste momento, sinto que o objetivo proposto tinha sido alcançado, os alunos começaram a mergulhar nas memórias que lhes foram passadas pelos seus antecessores.

A aula segue o percurso planejado. Apresento o conceito de Neira e Nunes (2014)76 sobre o que é cultura corporal. E finalizo a aula com uma atividade para ser feita, pedi que eles conversassem com os seus bisavós, avós, pais, tios ou vizinhos sobre suas infâncias e como eram as brincadeiras que eles gostavam. Pedi também que eles escrevessem tudo o que haviam escutado.

No final da aula, após trabalhar todo embasamento teórico, e ter associado o tema em estudo com uma teoria da aprendizagem e/ou proposta pedagógica, ou com outra técnica e metodologia. O professor poderá realizar outra sequência de atividades. A sugestão é que se construa um novo conhecimento ou se produza um novo saber. Concretamente, poderá ser solicitado que os alunos façam pesquisas sobre o conteúdo trabalhado em sala de aula, e construam um pequeno texto sobre o tema estudado e/ou façam um relatório sobre a sequência de atividades, associando com a teoria trabalhada em sala de aula (OLIVEIRA, 2013, p. 60).

As fontes agora buscadas são orais, extraídas das memórias de seus familiares. Meihy e Holanda (2018, p. 13) esclarecem que a “fonte oral é o registro de qualquer recurso que se guarda vestígios de manifestações da oralidade humana”, neste sentido, os alunos buscaram de forma não organizada informações acerca do registro histórico da infância vivenciada e experienciada por seus familiares.

Trabalhar com a história da cultura corporal indígena do povo Potiguara exige um olhar sensível do pesquisador, pois não existem documentos escritos que falem sobre estes

75 Informações verbais (março de 2019) dos alunos do 6º ano da escola pesquisada. 76 Cf. capítulo 2

processos históricos, a oralidade é a principal ferramenta de trabalho na aquisição de informações, por isso, a utilização da história oral se faz presente neste processo. Sendo assim, “[...] a história oral é um conjunto de procedimentos que se inicia com a elaboração de um projeto. A história oral se apresenta como solução moderna disposta a influir no comportamento da cultura e na compreensão de comportamentos e sensibilidade humana” (MEIHY; HOLANDA, 2018, p. 15). Dito de outra forma, Matos e Senna (2011, p. 97) corroboram:

A história oral busca registrar e, portanto, perpetuar impressões, vivências, lembranças daqueles indivíduos que se dispõem a compartilhar sua memória com a coletividade e dessa forma permitir um conhecimento do vivido muito mais rico, dinâmico e colorido de situações que, de outra forma, não conheceríamos.

É nesse arcabouço teórico que se justifica o objetivo da atividade proposta para os alunos como elemento para a construção do encontro 4, que tem como objetivo a vivência oral dos achados pelos alunos em suas diversas realidades.