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3 O DIREITO FUNDAMENTAL À DURAÇÃO RAZOÁVEL DA INVESTIGAÇÃO

3.5 TERMO INICIAL E TERMO FINAL DO PRAZO RAZOÁVEL

Definido o alcance e significado da duração razoável do processo, o próximo passo é o balizamento da garantia. A respeito disso, inexiste norma específica.

Para o Tribunal Europeu de Direitos Humanos, o termo a partir do qual surge o direito subjetivo de ser julgado em prazo razoável é o momento em que as suspeitas que pesam sobre uma determinada pessoa começam a ter “repercussões importantes” em sua

265 RHC 16975/PE, Sexta Turma, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, j. 19/04/05, DJ de 09/05/2005, p. 476; HC

38251/RJ, Quinta Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 18/11/2004, DJ de 09/02/05, p. 211; RHC 16819/CE, Quinta Turma, Rel. Min. Luarita Vaz, j. 07/12/2004, DJ de 01/12/2004, p. 583.

266 HC 88676/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 08/11/2007, DJ de 07/02/2008, p.1.

267 RHC 22468/PA, Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 08/05/2008, DJ de 02/06/2008, p. 1; RHC 22419,

Quinta Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 27/03/2008, DJ de 02/06/2008, p. 1; HC 87319/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 22/04/2008, DJ de 19/05/2008, p. 1; HC 95618/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 22/04/2008, DJ de 19/05/2008, p. 1; HC 83537/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 17/12/2007, DJ de 18/02/2008, p. 70; HC 91982/CE, Quinta Turma, Rel. Min. Jane Silva (Desembargadora Convocado do TJ/MG), j. 27/11/2007, DJ de 17/12/2007, p. 285) e de testemunhas (HC 63606/RS, Quinta Turma, Rel. Min. Gilson Dipp, j. 07/11/2006, DJ de 18/12/2006, p. 444.

268 HC 87656/MS, Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 27/03/2008, DJ de 22/04/2008, p. 1; HC 32299/RS,

Quinta Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, j. 01/04/2004, DJ de 24/05/2004, p. 313.

269

HC 83475/RJ, Sexta Turma, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 25/02/2008, DJ de 17/03/2008, p. 1; HC 73905/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Paulo Gallotti, j. 02/10/2007, DJ de 29/10/2007, p. 319; HC 85684/BA, Quinta Turma, Rel. Min. Jane Silva (Desembargadora Convocada do TJ/MG), j. 04/10/2007, DJ de 22/10/2007, p. 340; HC 40019/MS, Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 01/03/2005, DJ de 28/03/2005, p. 301; HC 35462/PA, Quinta Turma, Rel. Min. Gilson Dipp, j. 01/05/2004, DJ de 20/09/2004, p. 317.

270 HC 83475/RJ, Sexta Turma, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 25/02/2008, DJ de 17/03/2008, p. 1;

HC 40416/RJ, Quinta Turma, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 28/06/2005, DJ de 22/08/2005, p. 313.

271

HC 84956/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Felix Fischer, j. 04/09/2007, DJ de 08/10/2007, p. 351.

272

Os processos referentes a delitos mais graves, severamente apenados, podem durar mais tempo do que os processos que tenham por objeto infrações de menor ofensividade. No julgamento do habeas corpus n. 53734/RS, a Quinta Turma entendeu, por unanimidade, que “dada a quantidade de pena prevista para o delito de furto (de um a quatro anos) e de formação de quadrilha (de um a três anos)”, e considerando, ainda, o período de mais de quatro anos em que permaneceu preso o paciente, não se revelava proporcional a manutenção da custódia (Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 18/10/2007, DJ de 05/11/2007).

posição jurídica273, tal qual a adoção concreta de medida constritiva de liberdade ou o início

formal das investigações, como descreve Mario Chiavario.274

Com efeito, eventual prisão cautelar, decretada nos autos de inquérito policial, há de ser tomada como termo a quo para o cômputo do prazo razoável, ainda que não tenha se iniciado formalmente o processo criminal. A hipótese aventada pode ocorrer quando o indiciado deixa de ser incluído no elenco de acusados, no corpo da denúncia, embora permanecendo preso preventivamente, por assim julgar conveniente o órgão ministerial, de

modo a caracterizar constrangimento ilegal por excesso de prazo na prisão275.

Por outro lado, mesmo que inocorra prisão preventiva (em sentido amplo), é possível admitir-se como dies a quo o momento anterior à deflagração da ação penal, a exemplo do que sucede com a simples instauração de inquérito policial. Já a partir desse ato, a liberdade do investigado é iniludivelmente afetada, mercê das restrições a direitos fundamentais a que está, em tese, sujeito.

Quanto ao momento final do prazo (dies ad quem), mais uma vez os autores nacionais buscam respostas no direito alienígena, que aponta três soluções: (1) a abertura do processo perante a jurisdição de primeiro grau; (2) o primeiro julgamento pelo órgão jurisdicional; (3) o julgamento definitivo do processo.

Considerando o direito ao processo no prazo razoável manifestação do direito fundamental a um processo justo e efetivo, o dies ad quem há de ser o momento do

julgamento definitivo, ou seja, a decisão transita em julgado276, o que significa afirmar que o

período para o julgamento dos recursos interpostos pelas partes deve ser considerado para tal

verificação (CADH, art. 8.1, e CEDH, art. 6º, § 1º). 277

273 Como o dia da detenção do suspeito, o dia da notificação oficial de procedimento criminal, o dia da abertura

das investigações preliminares, a data da busca e apreensão na casa do investigado ou, ainda, a data em que o nome do suspeito é revelado pela imprensa. No caso de co-investigados, o prazo deve iniciar-se em momentos distintos, conforme o instante em que a investigação é dirigida contra cada qual.

274 CHIAVARIO, 1982, v. II, apud LOPES JR; BADARÓ, op. cit., p. 88. Michele de Salvia, citada por LOPES

JR. e BADARÓ, relata parecer da Comissão Européia acerca de um suspeito da prática de roubo, tendo sido interrogado pela polícia em 1968. A acusação formal se deu em 1970 e a prisão somente foi decretada em 1971. A Comissão decidiu, contudo, que o dies a quo deveria ser o dia em que um jornal o acusou publicamente de ser ladrão, o que ocorreu em maio de 1968 (SALVIA, 1980, apud LOPES JR.; BADARÓ, op. cit., p. 88).

275 Nesse sentido, reconhecendo a ilegalidade da prisão cautelar durante o inquérito policial, cujo prazo de

duração excedeu o limite do razoável: STJ, HC n. 44.604/RN, 6ª T., Rel. Min. Hamilton Carvalhido, j. 09.12.2005, v.u., DJ 06.02.2006, p. 356; TRF 3ª Região, HC n. 2006.03.00.109101-3, 5ª T., Des. Fed. Suzana Camargo, j. 05.02.2007, v.u.

276

Mario Chiavario ressalta que, se o processo, depois da sentença de primeiro grau, avança para instâncias superiores por força da interposição de recursos, a exigência de tempo razoável se reflete também em relação à decisão definitiva, pois seria inócua a tempestividade da primeira decisão (ainda mais se o ordenamento não permitir execução provisória), quando esse devesse aguardar um longo tempo adicional antes de transitar em julgado (CHIAVARIO apud LOPES JR.; BADARÓ, op. cit., p. 92).

277 Todavia, não se deve ponderar o tempo que medeia entre o arquivamento do inquérito e sua posterior