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A metodologia, de uma maneira geral, é o estudo do(s) método(s) de investigação de diversos domínios do saber. Os métodos empregados nas diferentes ciências, seus fundamentos e validade, sua relação com as teorias científicas, são algumas das questões metodológicas.

Tradicionalmente, instituiu-se como tarefa filosófica revelar o método correto de investigação que conduziria ao conhecimento certo e seguro. É assim que Descartes apresenta o “Discurso do método: para bem conduzir a própria razão e procurar a verdade nas ciências”. Na perspectiva contemporânea tal projeto parece utópico. No entanto, ainda cabem à metodologia tarefas mais modestas como fazer uma genealogia do método, de maneira a propiciar um tratamento sistematizado e contextualizado dos métodos efetivos, bem como daqueles propostos ou possíveis, e de suas implicações. Assim, espera-se identificar quais os passos metodológicos racionais devem ser dados pelo pesquisador a fim de atingir o seu objetivo.

A chamada tese metodológica do realismo científico consiste em asseverar que a metodologia de investigação científica é eficaz. Tanto no contexto prático da atividade científica, como no teórico de análise das teorias, tem-se sucesso: há obtenção de conhecimento verdadeiro (aproximadamente) e confirmação/refutação das teorias científicas como aproximadamente verdadeiras. Assim, o realista científico aposta no sucesso da pesquisa científica e nas consequentes descrições aproximadamente verdadeiras da realidade. Para o realismo científico, segundo Boyd (1973, p. 1),

[...] a evidência experimental para uma teoria que descreve relações causais entre entidades “teóricas” (isto é, inobserváveis) é evidência não apenas para a correção das consequências observacionais da teoria, mas é também evidência de que as relações causais particulares em questão explicam as regularidades preditas no comportamento dos fenômenos observáveis. É claro que isso não significa que, no caso geral, a evidência experimental para uma teoria seja evidência de que as relações causais que ela descreve entre entidades observáveis ou teóricas esgotam aquelas relações causais obteníveis entre elas (embora isso pudesse acontecer no caso das teorias que fossem devidamente “completas”). Mas implica que a evidência experimental para uma teoria seja evidência de que aquelas relações causais que ela descreve, e não outras incompatíveis com elas, operam para produzir as regularidades nos fenômenos observáveis que a teoria prediz.

Não é surpreendente o êxito da ciência porque os seus métodos são confiáveis, porque o que ela diz é verdadeiro ou pelo menos aproximadamente verdadeiro. Para os realistas

científicos, a própria concepção realista é uma teoria científica de grande alcance que procura explicar o êxito científico. As suas teses são afirmações empíricas, passíveis de testes, corroboração e refutação, por meio de procedimentos científicos, tanto quanto as teses da ciência. Como qualquer outra hipótese empírica, o realismo científico teria as suas teses abertas ao teste empírico. Nisso consiste a naturalização da epistemologia, anteriormente mencionada.

Para Boyd ([1983] 1984, p. 64-5),

[d]e acordo com a abordagem distintamente realista do conhecimento científico, a confiabilidade do método científico, como um guia para a verdade (aproximada), é explicada apenas supondo-se que a tradição teórica, que define os nossos princípios metodológicos atuais, reflete uma abordagem aproximadamente verdadeira do mundo natural. Nesta suposição, os métodos científicos conduzirão a teorias sucessivamente mais acuradas e a praticas metodológicas sucessivamente mais confiáveis. [...] O realista, como eu tenho retratado aqui, deve manter que a confiabilidade do método científico se apoia sobre a emergência lógica, epistêmica e historicamente contingente de teorias adequadamente aproximadamente verdadeiras. Como teórico causal da percepção ou outro epistemólogo “naturalista”, o realista científico deve negar que os princípios mais básicos da inferência indutiva ou da justificação são defensáveis a priori. Em poucas palavras, o realista científico deve ver a epistemologia como uma ciência empírica.

[...] então, seria difícil escapar de uma conclusão ainda mais controversa: a própria filosofia é um tipo de ciência empírica. Ela pode muito bem ser uma ciência normativa – a epistemologia, por exemplo, pode almejar entender quais os mecanismos reguladores de crença [belief-regulating] que são guias confiáveis para a verdade – mas não será menos ciência empírica por ser normativa deste modo.

Para esta concepção naturalista do realismo científico, a referência é definida em termos de relações de “acesso epistêmico”. A referência de um termo é estabelecida por interações causais apropriadas entre o uso do termo e os seus referentes, as entidades designadas por ele. A teoria causal da referência, vinculada à teoria correspondencial da verdade realista, é concebida como uma teoria empírica, ou seja, naturalista, fundada na ciência real. Assim, a concepção realista naturalista da referência e da verdade pode ser integrada, e geralmente o é, a uma concepção (mais ampla) naturalista da epistemologia, haja vista que ambas mantêm estreita conexão entre si. Com isso, Boyd (1984) procura explicar por que a metodologia científica é instrumentalmente confiável.

Não se pode avaliar uma metodologia científica sem considerar os objetivos da ciência, pois um método, necessariamente, tem uma finalidade. Para o realista, é finalidade da ciência apresentar uma descrição verdadeira de como o mundo é, e, portanto, o método

científico deve conduzir a uma aproximação da verdade. Por exemplo, segundo Niiniluoto (1999, p. 174), “[...] a axiologia da ciência deveria ser governada por uma regra fundamental: tentar encontrar uma resposta completa e verdadeira para seu problema cognitivo”. Mas, por outro lado, pensadores como Laudan (2004, p.17) salientam valores cognitivos mais moderados como “[...] explicar os fatos conhecidos no domínio (‘salvar os fenômenos’), explicar diferentes tipos de fatos (consiliência das induções), explicar por que as teorias rivais foram bem-sucedidas (a regra de Sellars-Putnam) e capturar suas rivais como casos-limite (regra Boyd-Putnam)”.

Alguns dos principais argumentos que podem ser utilizados contra a tese metodológica do realismo científico são elaborados a partir de teses como as da subdeterminação das teorias pelos dados ou evidências, da dependência teórica da metodologia científica e da incomensurabilidade. A primeira tese pertence à tradição empirista e as demais à tradição construtivista. O argumento da subdeterminação foi analisado no capítulo 1, vejamos agora como alguns argumentos construtivistas podem ser formulados.

Boyd ([1983] 1984) identifica o que considera ser os traços comuns presentes nos argumentos construtivistas contra o realismo científico (já que há muitos e diferenciados argumentos elaborados pelos filósofos construtivistas da ciência).

De acordo com a tese da dependência teórica da metodologia científica, a metodologia atual da ciência é profundamente dependente da tradição teórica. O que os cientistas consideram uma teoria aceitável, uma observação, um experimento bem planejado, um procedimento legítimo, um problema a ser resolvido, um tipo de evidência para se aceitar uma teoria, enfim, os aspectos da metodologia científica em geral, na prática, são determinados pela tradição teórica a qual esses cientistas pertencem.

Com efeito, segundo Thomas S. Kuhn (1962, p.10), a “ciência normal” é justamente a pesquisa baseada em uma ou mais realizações científicas passadas. Essas realizações proporcionam à comunidade científica os fundamentos para sua prática posterior. De modo que é um conjunto de compromissos e adesões – conceituais, teóricos, metodológicos e instrumentais – que permite o reconhecimento de alguém como membro dessa comunidade.

Kuhn (1962, p.41), em um de seus exemplos históricos, relata que depois de 1630, especialmente após a influência de Descartes, a maioria dos físicos já partia do pressuposto de que o Universo era composto por corpúsculos microscópicos e que, sendo assim, todos os fenômenos naturais poderiam ser explicados em termos da forma, do tamanho, do movimento e da interação desses corpúsculos. Além disso, a concepção corpuscular do Universo já indicava ao cientista quais os problemas que deviam ser investigados.

De fato, como observa Boyd ([1983] 1984), o tipo de mundo que deve haver para ajustar-se a essa metodologia dependente da teoria, segundo os construtivistas neokantianos, é aquele que a comunidade científica estuda: um mundo que é construído pela tradição teórica da qual o cientista é membro. Se o mundo que o cientista estuda não fosse constituído por sua tradição teórica, então, não haveria como explicar por que os métodos dependentes da teoria que os cientistas usam funcionam tão bem, são um modo de revelar o que é verdadeiro desse mundo. Os métodos dependentes da teoria são capazes de revelar o mundo que também depende da tradição teórica. Para se revelar um mundo completamente independente da teoria seria necessário um método objetivo. Assim, os construtivistas concluem que, uma vez que a metodologia científica depende da teoria e, dessa forma, não pode constituir um procedimento de descoberta, em oposição a um de construção, o realismo deve ser abandonado.

Contra esse argumento, o realista científico replica, segundo Boyd ([1983] 1984), que para quaisquer duas teorias rivais é sempre possível encontrar uma metodologia para testá-las que é neutra com respeito às teorias em questão, ou seja, que é neutra em relação às questões a respeito das quais elas diferem. Desse modo, a escolha entre teorias científicas rivais, baseada em evidência experimental, pode ser racional e objetiva, apesar de a metodologia experimental ser dependente de teoria. Tal experimento pode ser conduzido por uma metodologia que, embora seja dependente da teoria, não é comprometida com nenhuma das teorias conflitantes em questão. Assim, não haveria razões para as conclusões antirrealistas.

Mas como reconhece o próprio Boyd ([1983] 1984, p. 53-4), o construtivista não teria problema em aceitar que nas fases de ciência normal existem metodologias “neutras” para o teste de teorias rivais. O fato de poder haver metodologias “neutras”, dentro da tradição teórica e metodológica, não fornece razões para que as conclusões antirrealistas do construtivista sejam rejeitadas. Isso porque esses procedimentos metodológicos são “neutros” apenas em relação a uma disputa entre teorias particulares, não em relação à própria tradição. O realista não sugere um procedimento pelo qual a metodologia científica possa escapar das pressuposições da tradição e examinar objetivamente a estrutura de um mundo independente da teoria, ou seja, não oferece uma resposta adequada à ameaça antirrealista.

A ameaça antirrealista provém da impossibilidade de haver procedimentos metodológicos neutros em relação à própria tradição a que eles e as teorias competidoras estão sujeitos. Conforme explica Kuhn (1962), com as revoluções científicas, temos uma transição sucessiva de um paradigma a outro. O que muda é a tradição à qual os procedimentos metodológicos estão sujeitos e não a sua sujeição a uma tradição.

Um realista poderia contra-argumentar que, partindo de uma análise histórica, é possível constatarmos que, em algumas ocasiões, as teorias até então vigentes são abandonadas em favor de teorias radicalmente novas. Essa substituição é geralmente forçada por dados novos. De acordo com Boyd ([1983] 1984), esse fenômeno parece corroborar a posição realista, que propõe uma visão de mundo independente da teoria, em oposição à visão construtivista segundo a qual o mundo é construído sob a égide de uma tradição teórica. Não obstante, os filósofos da ciência construtivistas procuram explicar esse fenômeno de modo a adequar-se a ele ou até mesmo a favorecer a sua doutrina. Segundo Kuhn (1962), a descoberta científica se inicia com a consciência de uma anomalia, isto é, com o reconhecimento da violação por parte da natureza das expectativas paradigmáticas da ciência normal. Mas até que o anômalo possa ser convertido no esperado, o novo “fato” é olhado com suspeita, não sendo considerado plenamente científico. As teorias geralmente são ajustadas ao novo tipo de fato. É preciso uma situação de crise, ou seja, que o paradigma em questão fracasse constantemente em oferecer os resultados esperados na resolução de quebra-cabeças para que ocorra uma mudança paradigmática revolucionária. Uma revolução científica, a despeito de sua possível “invisibilidade”, pode ser entendida como uma mudança na concepção de mundo do cientista.

Além disso, como resposta à réplica realista, soma-se ao argumento da dependência teórica acima citado a tese da incomensurabilidade. De acordo com a tese da incomensurabilidade, as teorias científicas pertencentes a diferentes paradigmas são incomensuráveis, ou seja, as asserções de uma não podem ser traduzidas na linguagem da outra. Assim, essas teorias não têm uma medida comum para serem avaliadas, não existe um ponto de vista neutro a partir do qual se consiga uma avaliação objetiva dos méritos de uma teoria em comparação com os da outra, como sugere Kuhn (1962).

Desse modo, como observa Boyd ([1983] 1984), um argumento antirrealista é formulado: as teorias científicas precedentes e as suas sucessoras, que representam essa ruptura drástica com a tradição de pesquisa, são incomensuráveis. Isso significa que os padrões de evidência, interpretação e entendimento, ditados pela velha teoria, são muito diferente daqueles ditados pela nova teoria. Desse modo, a transição de uma a outra não pode ser orientada por um padrão comum de racionalidade. Como o cientista não é guiado por um padrão de racionalidade atemporal e a-histórico, mas por padrões mutáveis que sofrem das mesmas contingências de que as tradições de pesquisa, segue-se que o processo de transição não é algo tão racional como pode parecer. Uma vez que não há padrões de racionalidade independentes da teoria, segue-se que a transição em questão não é uma questão de se adotar

racionalmente uma nova concepção de realidade (independente da teoria) à luz de uma nova evidência. O que está envolvido nessa transição é a adoção de uma concepção de mundo totalmente nova, com os seus próprios padrões de racionalidade. Em uma de suas versões, este argumento da incomensurabilidade cognitiva, segundo o qual não há padrões de racionalidade comuns e não há maneira absoluta de julgar qual é o padrão mais adequado, incorpora a afirmação de que as semânticas das duas teorias consecutivas mudam de tal modo que os termos que elas têm em comum não deveriam ser pensados como tendo os mesmos referentes nas duas teorias. De acordo com a tese da incomensurabilidade semântica, uma nova grade conceitual é forjada na mudança de paradigmas. Sendo assim, a transição envolve uma mudança total do corpo metodológico e teórico, ou seja, uma mudança revolucionária de teorias, de paradigmas, de visões de mundo. Isso contrariaria diretamente as teses realistas da continuidade semântica e metodológica e do conhecimento progressivo, cumulativo e uniforme.

Contra o argumento da incomensurabilidade, o realista científico, de acordo com Boyd ([1983] 1984), replica que pode ser defensável uma abordagem segundo a qual nas revoluções científicas pelo menos parte da grade teórica do paradigma anterior é preservada na estrutura do novo paradigma, os termos teóricos comuns a ambas tradições podem ser mantidos. Assumindo tal continuidade referencial, assume-se também um tipo de continuidade metodológica.

Segundo Kuhn (1962), dado que os novos paradigmas nascem dos antigos, é comum que incorporem parte do vocabulário e dos aparatos conceituais e de manipulação desses. Mas esses elementos “emprestados” não são empregados de uma maneira tradicional: “[...] dentro do novo paradigma, termos, conceitos e experiências antigos estabelecem novas relações entre si” (p. 149). O resultado é a incomensurabilidade entre esses paradigmas competidores.

De acordo com Boyd ([1983] 1984), a fraqueza da réplica realista consiste em não demonstrar efetivamente que os paradigmas sucessivos são comensuráveis. A dependência que a metodologia tem da teoria provoca dúvida quanto a se a investigação científica possui o tipo certo de objetividade para o estudo de um mundo independente da teoria. A continuidade referencial durante as revoluções científicas, alegada pelo realista, não elimina essa dúvida. Suponhamos que o construtivista esteja equivocado em relação à história da ciência: os cientistas pós-revolucionários fazem as suas construções com base nas realizações teóricas de seus predecessores pré-revolucionários; a adoção de novos “paradigmas” é um processo cientificamente racional; e a adoção de novos “paradigmas” não envolve uma mudança de gestalt no modo de a comunidade científica entender o mundo, embora possa ser o caso para

alguns cientistas particulares. Mas, se esse fosse o caso, ainda assim a objeção epistemológica construtivista básica para o realismo científico não seria refutada. A dependência teórica da metodologia parece fornecer razão para se duvidar de que a investigação científica possui o tipo certo de objetividade para o estudo de um mundo independente da teoria. O tipo de continuidade histórica ao longo das revoluções científicas, alegada pelo realista, não é capaz de eliminar essa dúvida.

A continuidade semântica e metodológica entre revoluções forneceria, por si só, uma refutação ao antirrealista construtivista apenas se a metodologia “transacional” fosse em grande medida neutra em relação à teoria. Mas tal independência da teoria não é demonstrada pelo tipo de resposta à incomensurabilidade aqui considerada. Mesmo havendo tal método neutro em relação à teoria, não haveria razão para pressupormos a sua prevalência sempre.

Como as teorias científicas, para os realistas científicos, descrevem a realidade de forma cada vez mais acurada, ou seja, suas descrições aproximam-se cada vez mais da verdade, não pode haver uma ruptura brusca ou descontinuidade na passagem de uma teoria T para uma teoria T’ mais desenvolvida. Havendo tal ruptura, se considerarmos as teorias passadas como (aproximadamente) verdadeiras, não poderemos considerar as atuais como verdadeiras também. Por outro lado, se considerarmos as teorias vigentes como verdadeiras, não poderemos considerar as suas precedentes como tal. Isso mostraria que as teorias científicas não acumulam as “verdades” presentes nas teorias que as precederam. Ademais, não teríamos uma explicação, justificada racionalmente, para a confiabilidade atribuída à metodologia científica como um guia para a verdade. Além disso, não poderíamos atribuir às teorias científicas a propriedade de serem pelo menos aproximadamente verdadeiras. Seria possível também inferir que se T, anteriormente considerada (aproximadamente) verdadeira, revelou-se totalmente falsa, então, não temos garantia de que T’, que agora acreditamos ser verdadeira, não seja posteriormente considerada falsa à luz de novas teorias desenvolvidas.

Assim, o realista científico procura uma comprovação histórica da aparente continuidade semântica e metodológica (desenvolvimento cumulativo do conhecimento) da ciência. A constatação de alguns casos históricos particulares (que ocorreram em período que a ciência não estava madura) em que efetivamente ocorra uma ruptura na passagem de T para T’, no entanto, não serve para refutar o realismo científico. Por exemplo, o fato de Lavoisier ter refutado definitivamente a teoria do flogisto (revolução química do século XVIII) não põe em xeque o realismo científico, mas mostra que a química pneumática da época não era uma ciência madura, digna da confiança realista. Esses casos servem apenas para mostrar a falibilidade da ciência, o que não é problemático para o realista científico. Seria problemático

para o realista científico a comprovação de que após momentos de crise a ciência assume paradigmas totalmente novos que revelariam uma drástica descontinuidade entre as teorias pré e pós-revolucionárias. Por outro lado, comprovar a continuidade semântica (continuidade referencial dos termos teóricos das teorias científicas) e metodológica da ciência serviria de evidência para a maior plausibilidade ou veracidade do realismo científico, como a explicação do fenômeno do conhecimento científico, a apreensão teórica da realidade. E o realista científico, nesse sentido, apoia-se em casos como o do elétron que, apesar da diferença de sua descrição por Bohr-Rutherford e pela mecânica quântica, se ajusta aproximadamente a elas, provando certa continuidade na ciência.

Kuhn (1962), em sua análise histórica sublinhou que não é esse o caso: a história da ciência não é a de acumulações progressivas e uniforme de dados e teorias bem-sucedidas, mas a de verdadeiras revoluções científicas.

Esse é o ponto a partir do qual Putnam ([1976b] 1978) examina e Laudan ([1981] 1984) desenvolve uma das principais críticas contra a perspectiva realista científica: a meta- indução histórica ou indução pessimista, que será discutida posteriormente.

Boyd ([1983] 1984) reconhece que os argumentos realistas, apresentados acima, contra o antirrealismo construtivista, não constituem uma resposta completamente adequada à ameaça relativista, ou seja, eles não fornecem uma razão suficiente para que as conclusões antirrealistas do construtivista sejam rejeitadas efetivamente.

Para que a tarefa de rejeitar efetivamente o antirrealismo construtivista seja completada é necessária uma nova proposta de defesa do realismo científico. Essa proposta é apresentada por Boyd ([1983] 1984, p. 58-80). Ao contrário do que afirma o antirrealista construtivista, do fato de a metodologia científica depender da teoria não se segue que o mundo teria que ser em grande medida construído pela tradição teórica que define essa metodologia. O mundo pode ser aquele em que as leis e as teorias incorporadas em nossa