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No final do século XIX, despertou-se um grande interesse pela mensuração científica das condutas humanas. A Avaliação Educacional passou a receber as mesmas influências que outras disciplinas pedagógicas relacionadas com o processo de medição. Os testes psicométricos ganham destaque, à medida que aumenta a demanda do acesso à Educação. Acentuou-se a necessidade de verificar os méritos institucionais e individuais, passando-se a utilizar as provas escritas, bem como testes de rendimento, através da mensuração de diferentes atributos de crianças e jovens em idade escolar, ocasionando consequente discriminação individual. Nesse período, a atividade avaliativa passou a ser condicionada pelo florescimento das correntes filosóficas positivistas e empíricas, com

influência de teorias evolutivas e desenvolvimento de métodos estatísticos27 (ESCORZA, 2003; GUBA; LINCOLN, 2011).

Nesse cenário, destaca-se o pedagogo e psicólogo francês Alfred Binet (1857- 1911), por ser um dos idealizadores dos testes psicométricos. Seus trabalhos começaram a ganhar notoriedade quando, procurado por professores que solicitavam alguma solução para fazer a triagem dos jovens com retardo mental28, que não acompanhavam o processo formal

de escolarização. O ministro da Educação francês pediu a Binet que idealizasse um teste para essa finalidade (GUBA; LINCOLN, 2011).

Binet aceitou o desafio adotando uma abordagem “[...] baseada na observação do senso comum de que os jovens com retardamento mental não seriam capazes de lidar com situações simples da vida, como contar dinheiro ou identificar utensílios domésticos, nem seus semelhantes normais” (GUBA; LINCOLN, 2011, p. 29-30). Binet cunhou o termo “nível mental” ao conseguir organizar as tarefas de acordo com a idade dos sujeitos do estudo normalmente capaz de concluí-las.

Para Binet, a DI significava um atraso do desenvolvimento. Logo, através de seus estudos em parceria com colaboradores, Binet (1857-1911), Victor Henri (1872-1940) e publicaram, em 1905, o que se considera o primeiro teste de inteligência prática, a Escala de Inteligência Binet-Simon, criada com o objetivo de identificar as crianças com DI que não conseguiam acompanhar o Ensino Regular. O teste se baseava em comparações, consistindo em avaliar funções complexas do intelecto, comparando o desempenho de crianças tidas como “normais”, em relação à sua faixa etária. Em 1908, o teste foi atualizado, sofrendo algumas alterações, incorporando-se novos testes e excluindo outros, passando as questões a serem organizadas por níveis de idade (ESCORZA, 2003; GARDNER, 2001; MADER, 1996; VIANNA, 2000).

Até então, o teste Binet-Simon havia apresentado duas escalas (1905 e 1908). Em 1911, foi publicada a terceira e última versão da escala de teste, ano do falecimento de Binet. Seu diferencial consistia na agilidade e na precisão de calcular mais rápido o nível mental. Também foram adicionados mais testes, passando a escala a ser aplicada e adaptada para adultos (ESCORZA, 2003; GARDNER, 2001; VIANNA, 2000).

27 Os testes psicométricos fazem uso obrigatório da Estatística, através da utilização de números para descrever

os fenômenos psicológicos, fundamentando-se na teoria da medida, ou seja, na Psicometria. Os sujeitos dessa medida eram os alunos, que passavam por testes escolares, por meio dos testes psicométricos de inteligência, com o intuito de averiguar seu desempenho em habilidades de natureza linguística e lógico-matemática, sendo o resultado determinante para sua classificação - igual, acima ou abaixo da média de desempenho correspondente a uma faixa etária estabelecida (HADJI, 2001).

28Essa era a nomenclatura da época, mas esse termo atualmente encontra-se em desuso. Agora nos utilizamos da

Em 1910, após atravessar o Atlântico, o teste chegou aos EUA, sendo traduzido por Henry Golddard. “Por volta de 1912, já era comum dividir a idade mental obtida pela idade cronológica do sujeito do estudo para determinar o ‘Quociente de Inteligência’ (QI)” (GUBA; LINCOLN, 2011, p. 30).

Em 1916, Louis Terman (1877-1956) reformou e renormalizou o teste de Binet, passando a denominá-lo Stanford-Binet. O teste tinha por objetivo verificar os níveis de habilidades acadêmicas dos alunos através de testes de inteligência, em especial no que concerne a conteúdos de natureza lógico-matemática e não-verbal, relacionados às suas normas de idade, passando a ser aplicado em crianças norte-americanas, tornando-se o teste de QI parte permanente do sistema americano (ANASTASI; URBINA, 2000; ESCORZA, 2003; GUBA; LINCOLN, 2011)

A receptividade dos testes de QI para propósitos escolares foi bem recebida pelos profissionais na área de liderança. Provavelmente, o que impulsionou a aceitação tão imediata desses testes mentais foi a necessidade de fazer a triagem de pessoal para o alistamento nas forças armadas na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O primeiro teste de inteligência aplicado a grupos foi denominado Army Alpha, ministrado em mais de dois milhões de homens, com êxito em sua execução. Posteriormente a esse sucesso, a American Pssycological Association (ASA), criou um comitê que se comprometeu a alterar e adaptar um instrumento apropriado para ser aplicado nas escolas, baseado nos testes de QI (GUBA; LINCOLN, 2011).

Entre 1920 e 1930, houve uma notável proliferação dos testes. Esses anos assistiram a um desenvolvimento considerável dos testes padronizados de escolaridade (ESCORZA, 2003; VIANNA, 2000). “A publicação em 1922 do Stanford achievement [...] ofereceu um instrumento que, pela primeira vez, possibilitou a avaliação simultânea da situação relativa de um aluno em relação a várias disciplinas escolares” (GUBA; LINCOLN, 2011, p. 32).

No início do século XX, o Stanford-Binet foi um dos testes mais conhecidos da história da Psicometria. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), esses testes foram usados para medir a inteligência de um grande número de estudantes. Os testes psicológicos colocaram-se, então, a serviço de fins sociais, alcançando seu ápice entre 1920 e 1930 (ESCORZA, 2003; GUBA; LINCOLN, 2011; VIANNA, 2000).

Os estudos de Binet iniciaram em 1905, dominando a área da Avaliação Psicológica até meados dos anos 1960. Seu modelo era reducionista, baseado exclusivamente nas capacidades cognitivas das crianças. Na metade da década de 1960, Binet viu seu modelo

sendo colocado sob questionamento, quando teóricos da Avaliação Educacional, como Crombach e Bloom, “[...] começaram a contestar a ideia de que o fracasso do aluno era responsabilidade exclusivamente sua, sem participação do sistema, da escola e do próprio professor” (VIANNA, 2000, p. 48).

Como podemos observar, Alfred Binet influenciou a medida da inteligência em países como EUA, Inglaterra e França, especialmente em relação às medidas educacionais, com repercussão significativa na avaliação dos alunos e seu rendimento. “Os resultados dos chamados testes de inteligência eram utilizados na interpretação do desempenho dos estudantes nos testes de escolaridade, sobretudo quando se tratava de um baixo rendimento” (VIANNA, 2000, p. 48). O desempenho do aluno passou a ser comparado à média do seu grupo e os testes, a serem referenciados por normas, pondo à prova a ideia de que qualquer pessoa teria condições aprender, tendo, como consequência, uma mudança nos testes de rendimento (VIANNA, 2000).

Os anos finais do século XIX testemunharam um interesse peculiar pelas medições científicas das condutas humanas, observando o nascimento e o desenvolvimento da Psicometria, com seus anos áureos nas décadas de 1920 e 1930, com Alfred Binet como um dos precursores dos testes psicométricos. Tais testes possibilitaram uma discriminação individual, pois, ao avaliar crianças e jovens em idade escolar, baseavam-se exclusivamente em suas capacidades cognitivas (ESCORZA, 2003; GUBA; LINCOLN, 2011; VIANNA, 2000).

Cumpre mencionar que os testes psicométricos e os estudos de Binet foram desenvolvidos com base nas características dos alunos com DI que não conseguiam acompanhar o Ensino Regular. Esses alunos estavam inseridos nas escolas, entretanto, os professores atestavam que os mesmos inviabilizavam o ensino para as demais crianças sem deficiência (GUBA; LINCOLN, 2011). Durante esse período, poder-se-ia dizer que os alunos estavam integrados, mas que os professores não eram muito favoráveis a esse processo. Tais eventos caminham paralelamente com os paradigmas da Educação Inclusiva, variando de um modelo clínico-médico da deficiência à inclusão em sala de aula no Ensino Regular.