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do Texto 1 Qual a mais bela?

No documento TEORIAS DO DISCURSO E ENSINO (páginas 128-131)

No mês de dezembro (2003) ocorreram dois concursos de beleza, que elegeram mulheres completamente distintas uma da outra. Um deles ocorreu um Burkina Fasso, na África. As participantes tinham entre 75 e 130 quilos e desfilaram em trajes de banho. A grande vencedora foi Carine Riragendanwa, de 27 anos, 1,80 metros de altura e 117 quilos. O outro foi na China e elegeu a Miss Mundo 2003. A vencedora foi a irlandesa Rosanna Davison, de 19 anos, também de 1, 80 metros de altura e dezena de quilos mais magra. Para o concurso de miss Mundo, o pré-requisito é ter 90 centímetros de quadris, 60 de cintura e 90 de busto. O concurso de Burkina Fasso parte do pressuposto de que, quanto maiores forem as medidas das misses, melhor.

Em várias sociedades da África e de algumas ilhas do Pacífico Sul, o padrão de beleza em voga são as formas arredondadas, valorizadas, no mundo ocidental, até meados do século passado. Na Renascença, as mulheres roliças inspiravam artistas e simbolizavam status, conforto e boa saúde. A magreza estabeleceu-se como sinônimo de elegância no início dos anos 90, transformando-se no padrão de beleza na maior parte dos países.

Casos como o de Burkina Fasso estão se tornando cada vez mais raros, por influência da indústria da moda e por questões de saúde, uma vez que o excesso de gordura tornou-se sinônimo de doenças cardiovasculares e de diabetes. Para Piorar, a obesidade é vista como sinal de desleixo. Nas últimas décadas, a prosperidade, no Arquipélago de Tonga, no Pacífico Sul, permitiu que os pobres engordassem – antes privilégio dos nobres. Em consequência, a obesidade e as doenças cardiovasculares tornaram-se endêmicas. Os gordos passaram de bonitos a feios.

Resumo 2. do Texto 1. Qual a mais bela?

Principalmente no Ocidente, o padrão de beleza em voga é a magreza absoluta. Já, em alguns países, mulher bonita é aquela que “quanto maior, melhor”. Porém, padrões de beleza que cultuam as “cheinhas” estão se tornando cada vez mais raros, por influência da indústria da moda e questões de saúde.

Parece muito claro, nesse caso, que a diferença verificável entre os dois resumos advém da diferença de concepção de resumo que presidiu a elaboração de cada um. Enquanto o Resumo 1 contém as ideias básicas hierarquizadas, mas repetidas por paráfrases e exemplificações, o Resumo 2, reconhecendo a existência de unidades semânticas básicas na organização dos sentidos do texto, contém apenas o essencial, expressão dos encadeamentos argumentativos:

magro DC belo; gordo DC belo; padrão de beleza magro DC mais frequente,

semelhantes poderiam ser feitas a propósito dos resumos 1 e 2 de outros seis alunos, o que reitera a validade do procedimento proposto e, especialmente, da perspectiva teórica que o sustenta.

6 Considerações Finais

A comparação dos resumos 1 e 2 do texto “Qual a mais bela?”, produzidos, respectivamente, antes e depois da interferência feita pelo professor em sala de aula, revela que conceitos da Teoria da Polifonia aliados aos conceitos de bloco semântico, de encadeamento argumentativo recíproco (positivo e negativo) e converso (normativo e transgressivo), aplicados à atividade de produção de resumos parafrásticos, ao mesmo tempo em que garante a presença das ideias essenciais, hierarquizadas, do texto-fonte, reduz significativamente a sua repetição.

Além disso, a observação da facilidade com que a maioria dos alunos identificou as unidades semânticas básicas dos textos sintetizados em aula e, posteriormente, com que reformulou o Resumo 1 indicam que a abordagem de base semântico-argumentativa sintoniza com a competência dos usuários da língua, sendo capaz de ampliá-la. Nessa direção, é possível afirmar que essa competência linguística é argumentativa, visto que os alunos reconheceram, tanto na atividade de leitura do texto-fonte quanto na de produção do resumo, que o sentido é gerado no encadeamento argumentativo o qual, por sua vez, pode se manifestar por meio dos diferentes enunciados, que constituem o texto. Dito de outro modo, eles reconheceram a existência de enunciados que, embora não fossem materialmente aparentados, expressavam uma mesma ideia, isto é, um mesmo bloco e um mesmo aspecto transgressivo ou normativo com que foram apreendidos.

Essas constatações comprovam o poder explicativo da Teoria da Argumentação na Língua e sua possibilidade de aplicação ao ensino, posto que se assiste, nesse caso específico, à ampliação do conceito de resumo subjacente à produção do Resumo 1, na medida em que a sua reformulação (Resumo 2) passa a ser presidida pelo entendimento de que se trata de uma prática

Teorias do Discurso e Ensino 129 discursiva que explicita a(s) unidade(s) semântica(s) básica(s) do texto-fonte, isto é, o(s) encadeamento(s) argumentativo(s) vinculado(s) ao(s) bloco(s) que o constituem, com os quais o locutor, responsável pelo texto, se identifica.

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Anexo: Resumo 2 do Texto 1 Qual a mais bela?

No documento TEORIAS DO DISCURSO E ENSINO (páginas 128-131)