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2 CIBERESPAÇO, TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO E GOVERNO

2.3 AS TICS NAS ADMINISTRAÇÕES MUNICIPAIS

A partir da fundamentação teórica já descrita acerca das Tecnologias da Informação e comunicação (TICs) e de governo eletrônico na esfera pública brasileira, é possível afirmar que a mesma corrobora para a construção de uma democracia que faça valer a soberania popular, mediante transparência das informações e das ações governamentais, prestação dos gastos e investimentos públicos, oferta de serviços online, dentre outras aplicações, e proporcionando participação, acompanhamento, controle das decisões e ações do poder público.

Para tanto, na visão de Sant’Ana (2009, p. 37) é fundamental que o cidadão possua condições de “acompanhar as ações e decisões de seus governos, por meio de acesso amplo e transparente às informações e serviços públicos, permitindo e incentivando, assim, ampla discussão sobre o dia a dia da gestão da coisa pública”.

De fato, “os governos têm utilizado esta tecnologia para prestação de contas, divulgação de relatórios financeiros, acompanhamento de obras e projetos e divulgação das ações de políticas públicas” caracterizando-se uma nova estrutura social acessível aos anseios da sociedade (VAZ, 2002, p. 19).

Pinho (2008, p. 475), amplia o conceito de governo eletrônico incorporando a variável política, pois o governo eletrônico não pode se restringir apenas pelo uso das TICs como um meio de disponibilização de serviços online,

mas, também, pela vasta gama de possibilidades de interação e participação entre governo e sociedade e pelo compromisso de transparência por parte dos governos. Em outras palavras, as TICs contêm um enorme potencial democrático, desde que haja definição política no sentido da participação popular e da transparência.

Nesta perspectiva, o governo eletrônico não é um produto da tecnologia, mas sim da sociedade, da cultura e da política. No instante em que a sociedade se apropria do conhecimento e atinge um nível de maturidade civil, capaz de tornar o cidadão formador de opinião, interessado e engajado nas questões públicas, participando ativamente nos processos democráticos que lhes são de direito, emerge um elemento importante neste contexto de participação à democracia eletrônica.

Gronlund (2002) refere-se à democracia eletrônica como o uso das TICs para aumento da participação pública nos processos democráticos. Para Watson et al. (1999), citado por Santos (2012), a democracia eletrônica deve envolver o compartilhamento de informações políticas e de opiniões entre o governo e os cidadãos, tendo em vista a melhoria de tais processos.

Santos et al. (2012) suscita a ideia de um terceiro conceito, que soma as atividades de governo eletrônico, associadas à melhoria dos processos governamentais e dos serviços internos dos órgãos públicos, e a democracia eletrônica que reflete o uso das TICs para permitir maior participação do cidadão nas tomadas de decisão, convergindo para o então conceito de governança eletrônica.

Na perspectiva da administração municipal, o uso destes instrumentos intensifica a valorização cidadã e o diálogo aberto onde o espaço democrático é visto literalmente para servir a sociedade. Teixeira (2004) também apresenta dois pontos importantes a respeito das TICs no âmbito municipal. O primeiro é a e-governança, que se refere à utilização da internet para aumentar à eficácia, a eficiência, a qualidade, a transparência e a fiscalização das ações e serviços governamentais. O segundo ponto trata dos instrumentos de comunicação que viabilizam maior interação entre os governos, os cidadãos, as instituições públicas e privadas, de modo a assegurar a participação cidadã de forma igualitária no processo de planejamento, elaboração e avaliação das políticas públicas.

Prado (2009) destaca que o governo eletrônico atua na eminência de tornar mais eficiente a gestão dos recursos públicos e de aumentar a participação da sociedade na sua gestão e na supervisão dos serviços.

Bandeira (1999) destaca dois aspectos importantes da participação. O primeiro é o seu caráter de elemento essencial da própria ideia de democracia, o outro é o seu importante papel instrumental, derivado da funcionalidade da participação para a articulação de atores sociais e para a viabilização de processos de capacitação e de aprendizado coletivo, extremamente relevante para a promoção do desenvolvimento.

A discussão de políticas para melhorar a gestão pública merece uma posição de prioridade, pois com as Leis de Responsabilidade Fiscal, e de Acesso à Informação, ocorre a transferência de responsabilidades para a esfera municipal, ocasionando desafios aos gestores, como a ampliação do controle dos gastos públicos, através da inserção das informações na internet. A internet torna-se um instrumento indispensável para o controle das verbas públicas e das ações governamentais, pois, na esfera local o cidadão, em tese, está mais próximo do poder público.

Também Peruzzo (2010) destaca que a participação da sociedade nos espaços públicos é decorrente das novas estruturas sociais que as organizações populares vêm construindo. Conforme a autora, estes arranjos que a sociedade está legitimando são da maior relevância para a práxis democrática, pois representam um movimento endógeno, ou seja, a mudança vem a partir da participação da sociedade no Estado. “A pressão dos movimentos populares e as evidências da deterioração das condições de vida, acrescida, às vezes, de interesses político-eleitorais, provocam mudanças no interior do Estado, que vai se abrindo às reivindicações” (PERUZZO, 2010, p. 58).

Segundo o entendimento de Peruzzo (2010) a participação nas decisões políticas por parte da sociedade, não é tão percebida no Brasil contemporâneo, pois este modelo deliberativo habermasiano implica no exercício do poder em conjunto, de forma solidária e compartilhada a todos os atores que participam em um dado processo.

Prado (2009) reafirma a dificuldade de legitimar a participação da sociedade, na esfera pública municipal, talvez, porque a participação pode depender de fatores complexos, tais como, o interesse de aproximar o poder público do cidadão.

A disseminação da informação pública constitui-se numa das condições essenciais para a conquista deste processo, pois os cidadãos obtêm informações muitas vezes incompletas acerca das ações do poder público, logo, tendem a enfrentar dificuldades na avaliação das ações do mesmo (PRADO, 2009).

Ao tempo que se abre um enorme leque de possibilidades, também se coloca um rol, não menor, de preocupações com as novas configurações societais. Todo esse ambiente de novas tecnologias suscita um conjunto de questões para o qual certamente ainda não existem respostas assertivas (PINHO, 2008).

No âmbito do setor público, tais ferramentas permitem a melhoria dos processos internos e a interação entre a administração pública e a sociedade, interação que oportuniza que a sociedade participe efetivamente das discussões políticas, legitimando a cidadania deliberativa e a gestão social.

3 DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E GESTÃO SOCIAL DOS ESPAÇOS PÚBLICOS