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PARTE II – INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

4.2. TIPO DE ESTUDO

A investigação neste estudo situa-se num paradigma predominantemente qualitativo, com características de estudo de caso, em que utilizamos uma combinação de métodos qualitativos e quantitativos. Existem razões justificativas da nossa opção que passamos a apresentar.

Optámos pela abordagem da investigação qualitativa, porque pretendíamos compreender o fenómeno em estudo, ou seja, os elementos que constituem a consulta telefónica, no seu contexto específico (Miguélez, 1999). A contextualização da prática clínica proporciona a descrição de contextos culturais, situações e interrelações entre as pessoas, pertinentes na área da saúde, que os estudos qualitativos possibilitam (Benjumes, 1999). Assim esta abordagem faz sentido, pois a consulta telefónica insere-se na Unidade Dor, do Hospital Garcia de Orta e as acções inerentes à consulta telefónica são melhor entendidas, quando existe a compreensão do local de estudo, no contexto histórico da instituição, o que lhe confere uma amplitude de pertença à realidade global da instituição e do país, com uma história passada e presente (Bogdan & Biklen, 1994). Ferreira (1998) denomina esta característica do método qualitativo como holística.

A opção pela abordagem qualitativa impôs-se também, pois pretendíamos a compreensão dos problemas e dificuldades dos doentes/famílias e enfermeiros no fenómeno concreto de intervenção telefónica, onde a comunicação tem subtilezas e exigências ainda pouco valorizadas e compreendidas. Quanto aos doentes procurávamos saber o que os

impulsionava a utilizar a consulta telefónica, a partir da sua realidade e quadro de referência. Já no que dizia respeito aos profissionais de saúde que lidavam com os doentes e familiares através da consulta telefónica, procurávamos saber, a partir da sua própria experiência e perspectiva, as dificuldades e expectativas de evolução sobre esta intervenção.

O presente estudo tem ainda as características de estudo de caso. Duarte (2008) refere, o que reconhecemos no estudo realizado, que o estudo de caso permite uma visão em profundidade de processos e situações, na sua complexidade contextual, nos quais estão simultaneamente envolvidos diferentes factores. Verificámos, tal como Ponte (1994) refere para o estudo de caso, que a investigação realizada se debruçou sobre uma situação específica que se supõe como única ou especial, pelo menos em certos aspectos, e procurámos nela descobrir o que existe de particular e característico, de forma a contribuir para a compreensão global do fenómeno.

Assim este estudo tem as características básicas de um estudo de caso, porque a investigação decorre no seu ambiente natural, é balizado por um sistema limitado em termos de processo e tempo e a investigadora recorreu a múltiplas fontes de dados. Os métodos de recolha foram por isso diversificados: entrevistas, análise documental, observações (Yin citado por Carmo & Ferreira, 1998), que mais à frente serão referidos nos seus objectivos e modo de uso.

Tendo algumas características de estudo de caso, existem no entanto outras características, cujo enquadramento não se adequada completamente neste método, nomeadamente, no que se refere aos objectivos de incrementar um processo de mudança na prática da consulta telefónica, através da investigação desenvolvida. No estudo de caso, o investigador pretende unicamente a compreensão da dinâmica e os processos inerentes, sem intervir. Contudo, Ponte (1994) não exclui o potencial analítico e interrogativo do estudo de caso no desenvolvimento de novas questões para outras investigações.

Também não tem os pressupostos de uma investigação-acção, pois a complexidade dos procedimentos operatórios e formalização da gestão de mudança de um colectivo não

se ajustavam ao tempo disponível e competências do investigador. Alguns dos requisitos da investigação-acção foram, porém, mobilizados, nomeadamente a participação conjunta e a aprendizagem social permitida pelo estudo (Esteves, 1999).

Esta investigação teve como finalidade não somente a compreensão da realidade dinâmica existente na consulta telefónica na Unidade de Dor do Hospital Garcia de Orta, mas também potenciar a adopção de estratégias de resolução para as dificuldades e problemas (Benjumes, 1999), sentidos pelos doentes/familiares e pelos profissionais de saúde que integram a equipa da Unidade Dor, no incrementar o atendimento telefónico em moldes de uma prática científica e reflexiva.

Consideramos ainda, que a investigação apresentada neste estudo tem ainda características de um estudo descritivo e histórico. Considera-se investigação histórica, uma vez que se pretendeu compreender a evolução histórica da Unidade Dor, para contextualizar a prática actual. Tem características de investigação descritiva, pois implicou estudar, compreender e explicar a situação actual da consulta telefónica na Unidade Dor, bem como os problemas dos doentes e familiares com dor crónica que os levaram a solicitar ajuda à equipa da Unidade Dor, através da consulta telefónica (Carmo & Ferreira, 1998).

Devido à singularidade inerente à prática da consulta telefónica da Unidade Dor, a generalização dos achados deste estudo não foram preocupações nossas, nem dos estudos qualitativos. Todavia, poderemos considerar que alguns resultados poderão fazer sentido se aplicados em outras unidades de dor, onde a consulta telefónica seja uma prática, desde que sejam salvaguardadas as diferenças institucionais e contextuais.

A tarefa de pensar em que medida determinados aspectos se aplicam a outros casos fica a cargo dos leitores, que deles têm um conhecimento mais directo. Fica assim já dada uma justificação da decisão do investigador acerca da extensão e pormenor das descrições do contexto e dos achados. Uma forma de dar credibilidade aos estudos qualitativos é apresentar descrições confiáveis, de tal modo que quando o leitor ou os co-investigadores são confrontados com a descrição dessa experiência/fenómeno, a conseguem reconhecer

como verdadeira/verosímil. Também será através dos pormenores e informações contextualizadas que se poderão fazer juízos similares, assegurando assim um outro critério de rigor dos estudos qualitativos que consiste no critério da transferabilidade (Koch, 1994). O contributo dos estudos de casos resulta sobretudo das questões que ajudam a levantar e não apenas com as respostas que formulam (Ponte, 1994; Duarte, 2008).